segunda-feira, dezembro 07, 2009

Distanásia ou eutanásia? Conheça a ortotanásia

SENADO APROVA PROJETO QUE LEGALIZA ORTOTANÁSIA
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou em 02/12,em caráter terminativo um projeto que estabelece limites para o tratamento de pacientes terminais, tornando lícita a ortotanásia. O termo significa deixar de realizar procedimentos que prolongariam a vida de pacientes com doenças graves e incuráveis, evitando sofrimento desnecessário. É preciso haver consentimento do paciente – ou de sua família, se ele estiver impossibilitado – e diagnóstico de dois médicos. A prática não é uma novidade nos hospitais, mas falta respaldo legal. Em 2006, o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou uma resolução que dizia que o médico poderia limitar ou suspender tratamentos, respeitando a vontade do paciente, mas a resolução foi cassada pela Justiça no ano seguinte. O novo Código de Ética Médico, que passa a valer em abril, permite que os profissionais não adotem ações terapêuticas inúteis a pacientes terminais sem chance de cura – ou seja, libera a ortotanásia. * Fonte: Jornal do Commercio (03.12.2009).

Li isso hoje, mas escrevi sobre o assunto recentemente, naquela que tem sido minha história predileta nos últimos meses. Eu não conhecia o termo 'ortotanásia', mas era exatamente isso que o cara defendia. Ou não?

Minha esposa morreu três semanas depois. Não foi súbito, nem inesperado, pra usar a definição que médicos usam pra explicar quando o coração de alguém pára de bater e eles tentam reanimar. ‘Essa parada cardíaca foi um evento súbito e inesperado?’, eles pensam em frações de segundos. Se o coração de alguém pára durante uma cirurgia, eles reanimam. A pessoa está na mesa de cirurgia porque ainda tem alguma coisa a fazer na vida que não seja vegetar, certo? Corações são como carros que às vezes só precisam de um empurrão ou um guincho, ou ambos, até que um mecânico ou um médico dê um jeito na causa da parada. Se você tem um carro velho, as chances que ele te deixe na mão aumentam. Se o carro é velho e o problema é resolvido com um empurrão, é fácil. Se você precisa trocar algumas peças e uma revisão na oficina resolve, sem problema; mas mesmo um carro bonito e elegante pode ter um problema tão sério que só trocando todo o motor. Você não troca muitas peças nas pessoas, carros não sentem dor e não adianta um coração batendo se você está tão doente que não consegue nem respirar sozinho. Quando o coração de alguém com câncer em fase terminal pára, na verdade não foi uma parada cardíaca. Não foi súbito, nem inesperado. Foi o fim da linha. Ah, esqueci de dizer: a condição do ‘carro’ tem que ser reversível para ser considerado ‘só uma parada’. A condição dela não era nem remotamente reversível.

Era sobre isso que ela e a amiga conversavam naquela manhã, aquela em que eu cheguei mais cedo da pescaria por causa da chuva. Distanásia ou eutanásia. Prolongar desnecessariamente o sofrimento de um paciente ou apressar o inevitável. É uma linha complicada de se definir, e no fim fica mais difícil pra família saber se quer encerrar o próprio sofrimento ou o do doente. Quero dizer, a gente morre um pouquinho todo dia também e chega uma hora que você só quer que aquilo acabe. Ela decidiu por todos nós: sem eutanásia, sem distanásia. Pra evitar a discussão sobre desligar aparelhos, ela pediu para não ser colocada em nenhum. ‘Nada de medidas heróicas’, ela me disse com os olhos cheios de dor e lágrimas. Repetiu isso pra mãe e pros irmãos. Minha cunhada ainda abriu a boca pra falar algo, mas viu o olhar da mãe e calou-se. Eles haviam perdido o pai recentemente (ele era cardíaco) e já bastava de sofrimento para a mãe dela também. Então, ela usava cada vez mais o botão que liberava a morfina e eu mal dormia.

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Por que eu adoro CSI

'I love you without knowing how, or when, or from where. I love you straightforwardly, without complexities or pride; so I love you because I know no other way than this: where 'I' does not exist, nor 'you', so close that your hand on my chest is my hand, so close that your eyes close as I fall asleep'

Não, isso não é Shakespeare. É Pablo Neruda. E não, Grissom nunca declamou isso. Sara Sidle sim, mas não na TV. Desde que as séries de TV foram criadas, há fãs das mesmas. Os fãs de Star Treck não apenas fazem convenções. Há verdadeiros livros, ensinando a linguagem de outras raças, mostrando a arquitetura a Enterprise e por aí vai. Da mesma forma, os fãs começaram a criar suas próprias histórias com seus personagens prediletos, as chamadas fanfictions.

Não, eu não adoro CSI por causa das fanfictions. Desse modo, eu amaria AX pelo mesmo motivo. Não é isso. CSI abriu-me as portas pra muito, muito conhecimento mesmo. Começou com a própria série, tendo a ciência como ponto principal, mas à medida que o tempo foi passando, eu estudava sobre tudo que era comentado na série e depois nas fanfictions. Uma vez que o pessoal do lab é um bando de geeks (uns nerds e tanto), os fãs são geeks também, ou pelo menos entendem o que é ser geek. Grissom e Sara são a máxima expressão disso e os autores e autoras de fics não sentem pudor em nos entupir de conhecimento sem parecer esnobes.

Foi assim que eu cheguei a esse poema de Neruda (e saí lendo Neruda), conheci Tennyson (e incumbi Vicky de rezar no túmulo do poeta, já que ela está em Westminster), estudei a Síndrome e o Transtorno de Asperge, o que é Crise de Identidade, e tanta coisa mais que não está diretamente relacionada a perícia. Porque geeks amam saber sempre mais, pelo prazer de saber, não pra se exibirem. CSI me fez estudar os sonetos de Shakespeare pelo puro prazer de identificar quais combinavam com Grissom e Sara, provou que um médico pode abandonar sua carreira e continuar sendo ele mesmo (obrigada por isso, Dr Langston), que você pode mudar suas escolhas e continuar fiel aos seus princípios (ver Grissom fora do lab foi TUDO).

Eu adoro CSI porque a série me mantém alerta. Se AX me fez entender que ninguém está acima de qualquer suspeita, CSI me mostrou que preciso conhecer a mim mesma, se eu quiser confiar nos meus instintos. AX é sobre fé e verdade, CSI encontra a verdade através da ciência. Não, eu não vivo, durmo e respiro essas séries. Bem disse Grissom: 'Não confunda fantasia com realidade'. Eu acrescentaria, 'mas se a realidade for muito dura, ou muito insípida, a fantasia pode nos manter mentalmente sãos'.