terça-feira, setembro 23, 2014

Alívio

Às vezes, quando há boa vontade de todas as partes, o SUS funciona e no tempo devido. Minha paciente pediátrica veio há uns dez dias com perda de peso, duas infecções respiratórias em menos de um mês e equimoses sem trauma. Tem uma meia-irmã que teve leucemia. O IMIP, centro de referência pediátrica no estado, mandou uma equipe de oncologia, de cidade em cidade, no início do ano, orientando as equipes dos postos como proceder em casos assim, pra não perder tempo. Telefonei pra lá, falei com uma oncologista e a menina só não foi no dia seguinte porque era fim de semana. Passou a semana por lá, fazendo exames e voltou hoje. Não é câncer.

Preciso encontrar um serviço com essa boa vontade pros adultos também.

Antes e Depois: entrada

sábado, setembro 13, 2014

Vida fora de prumo

Minha casa nunca foi impecável, mas era quase. Há muito, muito tempo não é assim. Estou em uma fase em que lavo louça uma vez por semana. Arrumo a cama todo dia, mas é só. Também consigo colocar a roupa pra lavar uma vez por semana, mas só passo o mínimo, já que procuro comprar peças que não precisam passar. Quando consigo arrumar o quarto, não restam forças pra varrer a casa. A área de serviço está um pesadelo e as plantas sobrevivem graças à chuva. No meio desse caos, prazos da pós, incluindo um TCC para 'defesa de título de especialista em saúde pública'. A simples perspectiva de eu ter um título de especialista nisto, num curso à distância, quando não li quase nada do material sugerido e tirei um monte de notas altas, já mostra a qualidade da pós.

Faltando colocar no lugar

Para a varanda




Para a sala de jantar






Para a sala de estar




Para a porta

Pensando seriamente em fazer o mesmo

sexta-feira, setembro 12, 2014

Ser pediatra

Não quis fazer pediatria porque tenho pena de ver criança doente. Hoje, tive que dizer a alguém de 13 anos que nunca mais ela vai poder comer açúcar e que ela vai ser furada todos os dias. Depois, atendi alguém que mal aprendeu a andar e que está com suspeita de leucemia. Saí do trabalho e encontrei outra que ainda nem anda e que quase morreu de desidratação por diarréia e pneumonia, com mãe negligente, e que já teve outra pneumonia depois da alta e não está ganhando peso como deveria.

Em todos esses anos de prática médica, perdi uma paciente com 16 anos, que já estava em estado terminal quando a conheci, com câncer de ovário e um recém-nascido, que já estava com septicemia quando me pediram para socorrer. Uma vez, tive que dar a notícia da morte de uma menina pra mãe. Eu era só a clínica do plantão e ela ficou tão agressiva que precisamos chamar a polícia. Eu entendi, de verdade. A menina havia sido levada várias vezes à emergência da cidade em que vivia e não fizeram nada. Agora estava morta e a mãe estava revoltada, chutando as portas. Eu tive vontade de me juntar a ela, pra ser sincera.

Não, eu não nasci pra ver crianças doentes. E, definitivamente, não consigo vê-las mortas.

22 anos depois

Só mesmo gente assim pra me arrancar de casa...