quinta-feira, dezembro 01, 2011

Hoje é...


Para quem acompanhou a luta dos portadores do vírus ao longo de quase 30 anos desde a identificação do HIV, é impressionante constatar a reviravolta científica e os avanços alcançados até então. Quando entrei na faculdade, há quase 20 anos, a sobrevida após o diagnóstico às vezes não chegava a uma semana.

Não que hoje tudo sejam flores, que todos estejam educados a respeito da transmissão, mas a aceitação dos portadores do HIV se tornou mais fácil que no meu tempo de estudante, quando muitos dos colegas de turma não pisavam na calçada da ala de infectologia, onde trabalhei voluntariamente por quatro anos, até na UTI, e nunca peguei nem piolho. Lembro que meu primeiro paciente com AIDS (e hepatite B e C, e tuberculose ganglionar) passou mais de um mês pra conseguir um ultrassom porque uma das duas únicas ultrassonografistas do hospital não atendia pacientes da infectologia e nosso hospital era, na época, referência pra AIDS! E o que dizer do professor doutor cirurgião que se recusou a fazer a biópsia na lesão de outro paciente nosso, alegando 'Ele é contaminado, vai contaminar a sala, tem que ficar pro final'? Possivelmente, esperava que o paciente desistisse, devido ao horário pra voltar pra casa, no interior. E esses eram os estudantes de Medicina e médicos.

O HIV mudou todo o modo de pensar de uma sociedade, ou pelo menos expôs um mundo que a maioria ignorava totalmente ou não queria ver. Hoje, pais e mães entendem a importância do uso do preservativo para filhos e filhas (mesmo que não queiram tocar no assunto), homens e mulheres vão aos postos de saúde e pedem preservativos pra recepcionista ou enfermeira (em pleno sítio! e sabem usar!), adolescentes (nem todas) procuram o posto para pegar preservativo escondido antes da primeira relação, e eu cheguei a atender uma senhora dos seus sessenta e tantos anos, indignada com o esposo, porque encontrou um preservativo na carteira dele. Minha resposta: 'Isso é a prova que ele se importa com a senhora pra não lhe passar doença. Mas quer fazer o exame pra AIDS?'. Não existe mais aquele ar de horror quando se sugere o exame, virou rotina.

Posso dizer que nesses quase 20 anos, as coisas melhoraram um pouco, que cuidar de pacientes com HIV virou rotina em todos os centros de saúde, mas agradeço aos profissionais de saúde que sempre cuidaram dos doentes de AIDS e portadores de HIV, numa época em que não havia qualquer droga profilática, em caso de contaminação acidental. Num tempo em que era preciso oferecer um extra no salário pra conseguir auxiliares de enfermagem e isso contava como adicional de periculosidade; que a roupa das enfermarias de AIDS era lavada em separado e com água sanitária (apesar de se saber que água e sabão matam o vírus, que é pouco resistente fora do organismo); em que tudo, tudo era separado. Esses médicos e enfermeiras conscientes formaram uma verdadeira equipe multidisciplinar, porque era preciso aposentar aquelas pessoas (ninguém queria empregá-los, e muitos não podiam trabalhar), conseguir casa (porque tinham sido expulsos), impedir que se matassem de desespero, etc.

Poucos da família ou amigos apareciam. Às vezes, uma mãe, o companheiro ou companheira. E eu precisei de muitos anos pra entender por que uma esposa continua com o marido depois de descobrir que está contaminada por ele, independente se a pulada de cerca foi com um homem ou uma mulher. Lembro que ela me disse algo como 'ir embora agora? Os dois já estão doentes, ele não fez por mal porque nem sabia dessa doença. Melhor junto, um cuida do outro'. Talvez seja disso que se trata o amor.


Faça sua parte: use preservativo, eduque e não confie. Como dizia um antigo slogan do Ministério da Saúde: 'Quem vê cara não vê AIDS'.

Leia também: Índices de HIV em tribos indígenas no Amazonas preocupa pesquisadores e Veja lista dos estados com maior incidência de Aids em 2010(Fonte: G1)

JN sem Fátima Bernardes

Atenção! O G1 acaba de anunciar que 'Fátima Bernardes comandará novo programa e Patrícia Poeta assume o JN'. Quem for fã de ver Fátima e William Bonner na bancada do JN, tem até o dia 05 desse mês pra se despedir, mesmo porque Fátima passará um tempo afastada, organizando o novo programa.

Confira a trajetória de Fátima Bernardes e a reportagem completa no link no início do post.

Fonte: G1