quinta-feira, dezembro 29, 2005

Tudo bem, eu sei que era Natal, mas depois do bêbado querer me ensinar a validade da vacina antitetânica, a posição correta pra examinar e suturar o estrago que ele fez no pé ao cair da moto, a necessidade de anestesia e seu efeito em alguém que havia bebido "mas não estava bêbado" e como dar os pontos, sugeri que ele mesmo suturasse. Paciência tem limite, ainda mais com TPM.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Faxina de Natal

Apartamentos deveriam ser auto-limpantes, como fornos e geladeiras.
Depois de farinha de osso, fertilizante químico, húmus de minhoca, outro fertilizante químico e uma emulsão de sabão e óleo mineral, meu pé de romã parou de cair as folhas e resolveu criar nova vida.
Mais de 100 filmes em VHS e contando.
Eu podia jurar que tinha recebido "A cor púrpura de volta".
O computador não aceita o mouse e apita igualzinho aos respiradores de UTI.
Nem pelo falecido papa eu enfrentaria o supermercado hoje!

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Ontem eu fiquei pensando: o quanto mudaria a minha vida se eu morasse em uma cidade onde eu não tivesse medo de andar na rua?

Depois que eu li esse post da Ana Paula eu estou cada vez mais decidida a fazer de Recife ponto de apoio e me mudar pro interior. É, eu, a louca por cinema e que sentia falta da civilização quando mudei de Boa viagem pra Cidade Universitária por não ter um supermercado pra comprar sorvete à meia-noite se desse vontade. Que já fiz feira às duas da manhã, que vivo através do computador. E daí?

Meu canto

Meu primeiro apartamento não tinha luz no quarto, só um buraco com fios. Minha física de segundo grau deu pra instalar uma luminária, mas não pra descobrir que a mesma viera com defeito de fábrica. O cano da cozinha tinha cimento dentro, o tanque estava mal-assentado.
O segundo não tinha varal e tinha uma goteira no escritório ainda que houvessem mais dois andares acima dele, o que estragou alguns bons livros.
Passei um ano usando o banheiro da dependência de empregada no terceiro, porque primeiro tinha que consertar o registro geral, depois a torneira do chuveiro, o cano da pia e um vazamento do andar de cima que destruiu o teto. Quando finalmente terminei tudo, o dono pediu que eu saísse.
Agora eu fiquei sem guarda-roupa e as paredes desse última não vêem tinta há um bom tempo.
Eu PRECISO ter minha casa, em definitivo.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Gostinho de infância

Torta de farinha láctea

Ingredientes:
5 colheres de sopa de açúcar
3 colheres de sopa de manteiga
5 colheres de sopa bem cheias de farinha láctea
1 lata de creme de leite
2 ovos
1 copo de leite
2 colheres de sopa de nescau

Misturar bem o açúcar com a manteiga, as gemas, o leite, a farinha láctea e o creme de leite. Dividir a massa em duas. Acrescentar em uma das partes, as 2 colheres de nescau. Em um pirex colocar uma camada amarela e outra marrom.
Bater 2 claras em neve com 2 colheres de açúcar e cobrir a torta. Levar ao forno quente para escurecer o suspiro. Colocar no congelador.

terça-feira, dezembro 20, 2005

Wouldn’t it be nice

Descobri The Beach Boys graças a Love Actually e apaixonei de vez em Como se fosse a primeira vez.

Wouldn’t it be nice if we were older
Then we wouldn’t have to wait so long
And wouldn’t it be nice to live together
In the kind of world where we belong

You know it’s gonna make it that much better
When we can say goodnight and stay together

Wouldn’t it be nice if we could wake up
In the morning when the day is new
And after having spent the day together
Hold each other close the whole night through

Happy times together we’ve been spending
I wish that every kiss was neverending
Wouldn’t it be nice

Maybe if we think and wish and hope and pray it might come true
Baby then there wouldn’t be a single thing we couldn’t do
We could be married
And then we’d be happy

Wouldn’t it be nice

You know it seems the more we talk about it
It only makes it worse to live without it
But lets talk about it
Wouldn’t it be nice

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Plantão

Então restou-me só esse plantão do domingo. Natal e Ano-Novo de plantão, fazer o quê? não serão os últimos com certeza.Tranquilo, tranquilo, exceto pelo paciente internado que tentou fugir pra comprar dipirona, quando já tinha tomado um comprimido da mesmo há uma hora, pela dondoca que esperou menos de dois minutos pelo atendimento e criou confusão, recusou o voltaren injetável e acabou indo pra cidade vizinha porque não tinha mais técnico pra fazer o raio-x do nariz quebrado dela (disse ela que foi uma queda, sei lá se foi alguém menos educado que eu que lhe deu um murro?). Acordei às cinco e meia com uma moça aos gritos com uma cólica biliar, coitada.
Uma vozinha veio com erisipela às 11 e meia da noite, que a incomodava há dois dias. Diga-me: por que não veio de dia? Aliás, po que a moça que deu uma topada no dedão e deixou inflamar, criar pus, veio às nove da noite também? Em um domingo? Por que a asmática grave, que cansou de manhãzinha só apareceu às sete e meia, na hora que ia começar "Onze homens e um segredo" (única opção da noite porque a TV só estava pegando o SBT)?
E principalmente: por que eu não jogo na senna, lotomania, baú da felicidade ou coisa que o valha pra sair dessa vida?

sábado, dezembro 17, 2005

Falta de educação

Então depois de uma noite pra lá de divertida eu sigo pro meu segundo plantão em outra cidade. Ainda fui de carona com uma colega, que fez cinco dos sete gols da partida, relembrando os tempos da faculdade, de ex-namorados e professores. Ou seja, eu estava com um humor excelente. Cheguei, troquei de roupa e cadê a auxiliar de enfermagem da emergência? tinha paciente pra atender? O vigia, que não tem nada a ver com isso, foi ver. Tinha paciente esperando mas não tinham feito a ficha. Eu fiquei esperando enquanto a ficha vinha. Cadê a pressão? A auxiliar não tinha verificado. O vigia foi chamar a auxiliar. Ela veio, com cara de poucos amigos. "É pra ver a pressão lá no posto, não aqui na sala do médico, os pacientes sabem disso", e arrancou a ficha do primeiro paciente que não havia entrado no consultório porque a cadeira de rodas era muito grande. Eu esperei, esperei, conversei com o paciente, vi os exames dele e nada da auxiliar e nem da ficha pra eu escrever. Fui até o posto de enfermagem. "O paciente é deficiente, está numa cadeira de rodas, não pode vir até aqui sozinho. Dá pra verificar a pressão lá? E você ficou com a ficha, eu preciso escrever". "Então o vigia que carregue o paciente até aqui. Mal acabou de chegar e já está mudando tudo". "Eu não vim pro plantão pra ser mal-tratada, eu devia é ir embora" "Pois vá".
Agora me diga: é mais fácil carregar uma pessoa até o aparelho de verificar pressão ou o contrário? Sem falar que o paciente estava doente?
Era meu segundo plantão e a segunda auxiliar que me deixava esperando com alguém doente. Nas duas vezes eu tive que ir atrás da auxiliar e me responderam com quatro pedras na mão. Dez minutos depois eu estava saindo, não sem antes avisar às pessoas que esperavam porque estava fazendo isso.
Eu sou médica, não sou saco de pancada. Que um paciente me trate mal de vez em quando, eu não admito mas aceito, mas ser destratada pela equipe, seja médico, enfermeiro, auiliar de enfermagem, sistematicamente, não. Foi a segunda vez ali, não haverá uma terceira. O pior é que eu precisava do dinheiro, mas preciso mais ainda de amor-próprio (não estou falando de orgulho).

Depois o diretor me telefonou e soube que a mesma estava suspensa, porque isso vive acontecendo por lá, com diversas auxiliares e á única maneira de educá-las é fazendo perder parte do salário.

Uma noite maravilhosa

Depois de alguns dias bons, a semana seguiu maravilhosa.
Começou com a visita de uma amiga de 25 anos. Sim, senhoras e senhores, temos 25 anos de amizade! Mesmo com diferenças de personalidade e a distância -voltei pra Recife há 13 anos, depois de morar 17 em Natal, enquanto ela está há oito anos em SP-nos vemos pelo menos uma vez por ano e a família dela é mais próxima que a minha própria. 24 horas de uma companhia assim fazem milagres. Ainda mais com a receita de uma sobremesa de infância...
Ainda veio a maravilhosa notícia que meu irmão querido vai noivar, e ainda trocou a data do noivado porque eu tinha plantão. Consideração é tudo. Finalmente encontrei "Uma mente brilhante" pra vender em VHS na locadora. Esse filme sempre arruma minha cabeça. Se Nash conseguiu um Nobel tendo esquizofrenia, porque eu não posso viver com minh depressão endógena?
Então...eu fui trabalhar na quinta e descobri que o pessoal do hospital onde trabalho há um ano bolou uma confraternização pra lá de diferente: um jogo de futebol. Organizaram um jogo pros homens e outro pras mulheres, e era na quinta mesmo. Eu é que não sabia de nada, tinha plantão no dia seguinte em outra cidade. Quer saber? Vou ficar!
A mais sábia decisão da minha vida. Nunca ri tanto. Você já ficou com o queixo doendo de tanto rir? E continuou rindo? Porque perna-de-pau não faltava. Teve gol contra, gente comemorando porque ganhou cartão amarelo, gente correndo do gol com medo de levar bolada, jogador chamando o juiz (que é médico) de ladrão, médico bêbado jogando, míope jogando sem os óculos... A câmera fez falta. Não pude jogar porque uma hora antes havia me consultado com o ortopedista do hospital e meu joelho está cheio de problemas. Lá se foi minha aula de dança (que eu ia começar ainda).
Depois a turma seguiu prum barzinho só pra tomar umas poucas cervejas ou refrigerantes.
Já estamos marcando o próximo jogo.

Obrigada pelo apoio

Acho que todo mundo tem dias difíceis. Eu tenho muitos, com essa depressão que me acompanha há dez anos. Quem sabe um dia eu fale aqui sobre isso. Agora, eu só gostaria de agradecer pelas mensagens de apoio. Eu tinha desistido de tudo, mas ainda é tempo de voltar atrás na decisão.
Vamos em frente! Menina Nina, obrigada, mesmo sem te conhecer. Raquel, I want to believe.

sábado, dezembro 10, 2005

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Duvida?

Este post é de abril. Tirando Ado e Nikita, está tudo igual.

Sei lá que dia é hoje

Enjôo persistente. Não, não estou grávida. Esse enjôo me acompanha há uns quinze anos. Voltou há uns tempos. Vem me perseguindo nos últimos dias
E lá vem Niki, arrastando o pano de chão. Já pegou os sapatos de Ado, tirou as meias. Tão meiga ela é. Adora Tic-tac de menta. Está ficando grisalha. Interessante, ela que vive me enlouquecendo e é quem fica com os cabelos brancos. EU quem devia estar grisalha.
O apartamento tá uma zona. Cansei de arrumar e viver tudo bagunçado mesmo. Tem tanta coisa pra ler, pra estudar, tem tábuas do guarda-roupa por todo canto, serragem, desenhos de projetos do escritório, do quarto de Niki, do quarto de dormir. Roupas pra passar, roupa lavada estendida na corda, mais roupa pra lavar. Finalmente o chão do banheiro está limpo, mas foi preciso limpar com ácido muriático (blearg). Meu pé de jibóia parece que se foi mesmo. O pé de pimenta quase ia morrendo, de novo. É muito sensível à falta de água.
Domingo eu consertei o ferro de passar enquanto ouvia a corrida de F1. É duro reconhecer, mas aquele s.o.b. do alemão é mesmo um piloto incrível. Largar de 13º e chegar em segundo, deve ter algum pacto com Lilith ou o próprio Lu. Ontem foi dia de consertar o ventilador. Pois não é que essa cachorra maluca bateu nele enquanto corria e voou pedacinho de plástico pra todo lado? E isso depois de ter desmontado e montado o motor, pra descobrir que tinha uns parafusos faltando (como é que esses parafusos caíram e eu não vi?).
Agora Niki está roendo o osso em cima do meu tapete de estrelinhas! Nada contra quando ela cochila nesse tapete, aquele calorzinho aos meus pés de madrugada. Mas agora ela não me deixa escrever. Tem hora que parece um bicho-carpinteiro (alguém sabe afinal como é esse tal bicho?)
Certamente eu tenho uma visão alterada da realidade. Depois de assistir “Antes do pôr do sol”, um roteiro maravilhoso, eu desabei de vez e não fui trabalhar ontem, nem sei se vou amanhã.
“Tanto a fazer, tão pouco feito”. Acho que foi Churchil quem disse isso.
Ando pensando em pintar as paredes, uma de cada cor. A minha impressão é que está tudo cheio de manchas, de marcas. Vontade de tomar um porre, de quebrar tudo, apagar os arquivos do HD, de me apagar. (O que será que acontece se um cachorro come todos os tic-tacs da embalagem?). Tenho que comprar massa para madeira, tinta branca fosca, massa corrida, buchas (No 8 ou 10?) , parafusos, suportes pra prateleiras (o guarda-roupa desmontado rendeu tanta tábua que finalmente meu serrote arranjou o que fazer), comprar tempo, paciência, coragem e uma roupa que caiba em mim sem parecer que foi da minha mãe.
(Hum! Cachorro com hálito de menta). Jogar metade dessa papelada fora, desses posts, jogar tudo pro alto- emprego, idéias, cachorro, plantas- jogar contra a parede, entregar o apartamento e jogar fora a coleção de canecas de cerâmica, doar os livros de poesia e rifar a coleção de AX, recolher os livros que emprestei e devolver os que peguei emprestado. Jogar minha vida fora, numa lata de lixo não-orgânico e não-reciclável.

Meios de morte lenta

Há muitas maneiras de se cometer suicídio, não é apenas se jogar da varanda.
Seguir uma rotina, sentir-se inútil, se debater sem sair do lugar, faltar com a palavra, sentir culpa eternamente, são algumas maneiras.
Ter sonhos vívidos de como poderia ter sido se..., reconhecer que não se chegou a coisa alguma, não conseguir manter a agenda, as contas, os compromissos, os planos, os estudos, nada em dia, são maneiras ainda mais requintadas.
Não é preciso beber, fumar ou se drogas para cometer suicídio lento. Sei de tantas maneiras que encheria um livro.

Ando pensando seriamente em apressar as coisas.E ninguém percebe.
De todos os colegas no jantar de confraternização (5 anos de formados) eu era a única sem residência. Umas das poucas sem acompanhante, sem filho. A única sem carro.

O que eu fiz comigo?

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Pra Fal

Já que a Fal está colecionando exemplos de meninos mal-educados, resolvi postar novamente essa história, que aconteceu no início deste ano.

Silêncio. Eu quero rezar!

Fomos à missa depois. Pois dá pra acreditar que havia um menino sentado no chão e jogando videogame, com som, durante a missa? E esse era o mais educado, porque não fazia muito barulho. Havia mais dois, de uns quatro ou cinco anos que não pararam durante toda a cerimônia. A Igraja lotada. Eu não via o padre, só ouvia, e tentava me concentrar com as crianças aos gritos, correndo na minha frente. E era um sermão tão lindo! O cúmulo foi durante o Pai-Nosso. O padre, acho que ele é da Carismática, resolveu fazer algo diferente e iniciou a Oração de São Francisco. Eu não escutava nada. Fiz “psiu” bem alto. E os meninos nem aí. ”Silêncio”. Nada. Eu já não cantava, berrava, tentando ouvir minha voz, porque a do padre já tinha sumido. Parei, olhei pros meninos e disse “meninos, vamos rezar?”. Parecia que eu tinha falado aramaico. Acho que ninguém explicou que aquilo era uma Igreja, pobrezinhos. Imagina pedir pra “comprender mais que ser compreendido” quando queria dar uns tapas naquelas pestes. Até que perdi a paciência e me ajoelhei pra falar com eles. Expliquei que era preciso silêncio pra rezar e perguntei pela mãe deles. Não souberam responder. Eu falava mesmo aramaico e não tinha tecla SAP. Depois disso eles continuaram conversando enquanto eu tentava rezar e de repente sumiram. Acho que a mãe chamou-os.
Pra quê alguém leva crianças para a missa se não é pra ensinar a rezar? Se ainda fossem muito pequenos! Mas não eram. Se conseguiam estabelecer uma conversa sem fim, eram capazes de entender o que era uma missa. Naquele dia lembrei de uma amiga que adora declarar “eu chutaria criancinhas”. Eu adoro crianças. Crianças bem educadas, ressalte-se. O resto da missa perdeu a graça, eu não fiquei cheia de energia pra semana e sim tremendo de raiva.

terça-feira, dezembro 06, 2005

A vingança

Então me mandaram uma pilha de prontuários onde faltavam as evoluções dos domingos (meu plantão). Copiei, de novo, a resolução do Conselho Regional de Medicina e o artigo 33 do Código de Ética Médica.

É de responsabilidade do Gestor, Diretor Técnico e/ou administrador dos serviços de saúde, o provimento dos profissionais médicos para assegurar a devida evolução dos pacientes em finais de semanas e feriados garantindo a qualidade do atendimento, sendo função do plantonista apenas o atendimento de intercorrências.

É vedado ao médico assumir responsabilidade por ato médico que não praticou ou do qual não participou efetivamente.

Ou seja, se eu nem vi esses pacientes, como posso escrever que examinei e prescrevi medicação para os mesmos?

Cara de tia boazinha

Então eu fui fazer o segundo corte de cabelo do ano, porque eu não tenho saco pra salão e meu cabelo é bonito porque quer, eu só faço lavar com o xampu da promoção e já é favor. Está fazendo um calor dos infernos aqui, então, tesoura nele.



E aí? Não pareço uma doutora boazinha, dessas que não assusta crianças?
Se eles soubessem...

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Vc descobre que depois de três doses de Teachers não digita muito bem.


* * *
Plantão FPD e a mulher me acorda às três da manhã porque não faz cocô há 4 dias. "SOUBE QUE UMA VIZINHA FICOU IMPANZINADA E MORREU!". ISSO É UMA EMERGÊNCIA DESDE QUANDO, PORRA?

Detalhe: ela estava com uma dor de coluna FPD mas estava preocupada com prisão de ventre.

* * *
Eu vou ali tomar mais uma dose.

* * *
Vou ali me agarrar com o Harry (Potter).

* * *
O que eu fiz com a minha vida?

terça-feira, novembro 29, 2005

Vida de Médico

Médico dorme. Pode parecer mentira, mas médico precisa dormir como qualquer outra pessoa. Não o acorde sem necessidade!
Médico come. Inacreditável, não? Mas é verdade. Médico também se alimenta, e tem hora para isso.
Médico pode ter família.
Essa é a mais incrível de todas: mesmo sendo Médico a pessoa precisa descansar no final de semana e precisa de um tempo com a família.

Pergunta: Nas situações acima o médico atende? Resposta: Sim. Pode atender, desde que seja pago por isso. Desnecessário dizer que nesses casos o atendimento tem custo adicional. Por favor não pechinche.
Ah. E cara feia na hora de assinar cheque não diminui o que você tem que pagar. O combinado não é caro. Médico precisa de dinheiro.

Por essa você não esperava, né? É surpreendente, mas Médico também paga impostos, alimentação, combustível, vestuário, etc. E uma coisa bizarra: Os livros, o consultório e as coisas que ele tem, não chegam até ele gratuitamente. Impressionante, não? Entendeu agora o motivo dele cobrar uma consulta? Ler, estudar é trabalho. E trabalho sério. Pode parar de rir. Não é piada.
Não é possível examinar pessoas pelo telefone. Essa nem vou comentar. De uma vez por todas, para reforçar: Médico não é vidente. Ele precisa examinar a pessoa e muitas vezes precisa reexaminá-lo. Quer-se milagre, tente uma macumba e deixe o Médico em paz.

Diante desses tópicos inconcebíveis a uma boa parte da população, algumas dicas para tornar a vida do Médico mais suportável:
O uso do celular: Celular é ferramenta de trabalho. Por favor, ligue apenas quando necessário. Fora do horário de trabalho, mesmo que você ainda não tenha acreditado, o Médico pode estar faze ndo alguma daquelas coisas que você pensou que ele não fazia como dormir, por exemplo.
Antes da consulta: Por favor, marque hora. Se não marcar, não fique andando de um lado para o outro na sala de espera e nem pressionando a secretária. Ela não tem culpa do seu estado de espírito. Ah! E não espere que o Médico vá te colocar no horário de quem já marcou. Se tiver fila, você vai ficar por último. Na próxima vez ligue antes. Só venha sem marcar em caso de emergência (que seja realmente emergência).
Se quer ser reconhecido no telefone, diga alguma coisa consistente. Um "oi, lembra de mim?" está na cara que o Médico reconhece a voz de cada uma das milhares de pessoas que já passaram por ele, se já faz mais de um ano que você não aparece, fica ainda mais difícil. Ah! E existe mais de uma "Maria" no mundo.
Repetir a mesma pergunta mais de cinco vezes não vai mudar a resposta. Por favor, repita no máximo três. O Médico não está sob investigação policial .
Quando se diz que o horário de atendimento é até meio dia, não significa que você pode chegar 11h55min. Se chegar, volte depois do almoço. O mesmo vale na hora do fim do expediente. Emergência? Claro que o Médico atende, mas se estiver fora do horário normal, está fora do preço normal.
Na hora da consulta: Basta um membro da família para acompanhar o cliente e responder às perguntas do Médico. Por favor, deixe os amigos do cunhado e seus vizinhos com os respectivos filhos nas casas deles.
Não fique bombardeando o Médico com milhares de perguntas durante o atendimento. Isso tira a concentração, além de torrar a paciência.
Evite perguntas que não tenham relação com o caso. Não é pq vc está pagando uma consulta que pode resolver todas as dúvidas de seus familiares, amigos e vizinhos...
Paciência você já sabia que Médico tem, não é? Mas aposto que foi uma surpresa descobrir que ela tem limites. Falando em limite... uma conversinha pessoal pode até dar um tempero ao atendimento, mas a vida sexual da sua amiga definitivamente não interessa ao Médico. Principalmente se você resolver confidenciar isso na hora em que ele estiver estudando o seu caso.
Dificilmente um exame se altera em menos de cinco minutos, portanto, Não adianta ficar ligando a todo instante para saber do resultado deste.
Se o seu Médico examinou voce, estudou o caso e te disse que é necessário fazer um exame, não tente dissuadi-lo disso só porque o seu amigo também tinha um problema e não fez. Cada caso é um caso, e não existe só um motivo para que ações sejam idênticas.

O Médico não deixará de cobrar honorários só porque você já gastou demais nos exames e hospital. Não foram os Médicos que inventaram o ditado "O barato sai caro".

Fonte: Luiz C. Salama (drocio.multiply.com)

A maldição de Eva

Deus amaldiçou Eva com uma cólica menstrual, eu tenho certeza. Ele disse "sangrarás todos os meses com dor", porque parir é só a cada nove, dez meses.
Cólica mentstrual é um saco. Não, é uma tortura. Hoje em dia, minhas cólicas melhoraram muito, mas já cheguei a ser socorrida, fazer ultra-som de urgência porque o médico acreditava que era um abortamento. Toda mulher que vem pra mim com cólica é tratada como a rainha da Inglaterra. Tive crises tão fortes que implorava pra minha ginecologista tirar meu útero. Infelizmente, histerectomia não é jamais indicada, segundo o tratado de Medicina Interna. Claro, quem escreveu foi um homem.
Cá estou eu com o dia perdido. Minhas faltas na escola começaram aos 12 anos, quando minha menstruação chegou. Daí em diante, uma falta por mês. Pra fazer vestibular tive que tomar pílula pra atrasar a data da menstruação. Para o cúmulo do meu azar, não posso tomar essas medicações para interromper a menstruação porque meu colesterol é alto, mais uma herança familiar.

Trinta anos

Eu tinha cinco metas na vida: casa, cachorro, computador, carro e carreira. Aos 30 anos deveria tê-las alcançado. Continuo vivendo de aluguel, mas consegui sair da casa da minha mãe. Meu carro foi roubado. Não tenho mais cachorro. Não chamaria isso de carreira, sem especialidade. O computador está aí.
Aos 30, eu não costuro nada além de gente, faço uma peça de crochê a cada cinco anos, tenho 20 quilos acima de meu peso ideal e parei de me exercitar há muito. Continuo sem entender nada de música internacional, continuo achando que não nasci pra ser casada, nem ser mãe. Ainda sonho em ter (e saber tocar) um teclado, sou apaixonada por violão e Kid Abelha. Não aprendi a cuidar de plantas, sei tirar manchas de quase tudo em roupas, acho que arear panelas é uma perda de tempo e que lavar roupa é a melhor terapia já inventada. Aos trinta, eu fiz dois cursos de línguas e mal sei se estão me xingando, continuo esperando que as cólicas menstruais desapareçam e as espinhas também (quem disse que acne é coisa de adolescente?). Com trinta eu devia estar belíssima como minha mãe era nessa idade, mas estou a cara e o corpo dela agora aos 59. Leio os livros que gostaria de ter escrito e fujo dos encontros com antigos conhecidos para não mostrar o quanto falhei.
E eu era a melhor aluna de minha turma.
O diretor do hospital onde trabalho aos domingos me ligou há três semanas:
"Por que você não evoluiu os paciente internos?".
"Porque cabe ao hospital (na verdade ao diretor, mas eu não ia dizer isso)providenciar alguém pra evoluir os internos. Eu não posso sair da emergência".
"Mas um plantão tão calmo como esse".
"Eu não tenho como adivinhar se vai ser calmo ou não. No meu primeiro plantão aqui, tive uns cinco acidentes, dois mortos e diversas transferências. Se houver qualquer intercorrência com os internos, eu vejo, mas não vou evoluir de qualquer jeito, sem mal ver o paciente."

No último plantão, me mandam a ficha de uma paciente que teve alta por óbito, pra preencher a evolução do domingo anterior. Eu anexei a primeira (e única, até o momento) resolução do Conselho Regional de Medicina que trouxe algum benefício para mim, detacando o seguinte artigo:
É de responsabilidade do Gestor, Diretor Técnico e/ou administrador dos serviços de saúde, o provimento dos profissionais médicos para assegurar a devida evolução dos pacientes em finais de semanas e feriados garantindo a qualidade do atendimento, sendo função do plantonista apenas o atendimento de intercorrências.

Devo ter perdido o emprego, mas não vou perder o direito de não ser explorada.

sexta-feira, novembro 25, 2005

Fim da cena de auto-piedade

Tudo bem que a música é bonita, mas ando mais interessada em trabalhar, ganhar dinheiro e estudar. Ponto final.

Adoro ficar em casa. Não se trata de preguiça, entenda bem, não é ficar sem fazer nada. Sou capaz de passar o dia em casa ocupada. Sei que tem gente que adora sair, eu não sairia de casa se pudesse, ainda mais agora com internet, filme em casa, telefone, pizza, farmácia, com entrega em casa, etc. Por mim, eu só saía pra trabalhar. Aliás, ultimamente, eu só tenho saído pra trabalhar e aproveito pra resolver o que tiver pra fazer na rua.

E quem disse que seria?

Não é Fácil

Não é fácil
Não pensar em você
Não é fácil
É estranho...
Não te contar meus planos
Não te encontrar
Todo dia de manhã
Enquanto eu
tomo meu café amargo
É ainda boto fé
De um dia
te ter ao meu lado
Na verdade
Eu preciso aprender
Não é fácil, não é fácil
Onde você anda
Onde está você
Toda vez que saio
Me preparo
Para talvez te ver
Na verdade
Eu preciso esquecer
Não é fácil, não é fácil
Todo dia de manhã
Enquanto eu tomo
Meu café amargo
Eu ainda boto fé
De um dia
Ter você ao meu lado
O que eu faço
O que posso fazer?
Não é fácil, Não é fácil
Se você quisesse
ia ser tão legal
Acho que eu seria mais feliz
Do que qualquer mortal
Na verdade
Não consigo esquecer
Não é fácil
É estranho...!!!

quinta-feira, novembro 24, 2005

De volta

Depois de 21 dias sem internet, voltei ao mundo (virtual). Vá confiar na Telemar, que promete fazer a transferência em até 3 dias úteis! Em meio à mudança, fiquei sem TV e sem o blog da Fal. Ou seja: alguém me conte como acabou a novela!

Com o acúmulo de e-mails, descobri uma maneira eficiente de ler tudo rapidamente: não baixo mais os aquivos de powerpoint com aquelas mensagens melosas que entulham minha caixa postal. Tem gente que repassa tudo que recebe. E nada de clicar naqueles animaizinhos e figurinhas do scrapbook do Orkut. Sabe o que me dei conta? Que andava basicamente lendo esse tipo de coisa e deixando de ler literatura de qualidade. Desde que comecei a fazer isso, li cinco livros novos, e faz apenas uma semana.

A saber, foram dois livros de Raymond Chandler, "Sete anos no Tibet", "Tomates Verdes Fritos" e "Detetives por acaso", de novo. Aliás, vc também lê o mesmo livro dezenas de vezes? Eu sim.

sexta-feira, outubro 28, 2005

Meu final pra Saga da Mulé Apito

Pessoalmente, acho que a Creuza-cuidado-senão-quebra devia ir pra maiâme pra boate de las hermanitas, a May-vada DEVIA se apaixonar por um daqueles peões de berradeiros(porque paixão não se escolhe e ela ia pagar a língua, morando no interior do Brasil, de preferência bem pobrezinha e achando tudo lindo porque está apaixonada) , Chatobá ia ser descobrir a cura pro câncer (já que faz mais coisa que nós tudinho juntas), a Nega que grita ia ter um infarto quando descobrisse a nora que tem e ia prum convento pra pagar penitência pela língua (ou então virava repórter dessa programas de fofoca e barraco que passam à tarde), iam descobrir que o Alex/Roberto/Sinval é o pai da Flor, Carninha de Sol seria pega por uma corrente e parava em Cuba (onde ficaria presa pelo regime de Castro) e chorava, chorava... O resto do elenco se dividiria entre uma festa em berradeiros e o batidão (chamado pelo meu ex-idolatrado-marido de “pancadão”).
Isso é tudo, pessoal!

quarta-feira, outubro 26, 2005

Do Uh, baby!

Em tempos de dor é conveniente evitar certas (ou quase todas) músicas, alguns filmes, lugares, certos cheiros, ler estritamente o necessário, evitar os melhores amigos que tem as melhores intenções e que sempre te levam para afogar as mágoas, é conveniente não beber, não usar substâncias alucinógenas e nem ouvir rádio, ir dormir cedo, mudar itinerários, pois tudo faz doer mais, tudo provoca aquela náusea que te derruba no chão de joelhos, tudo faz embaçar seus olhos, tudo descompassa seu coração, feito isso é contar com o tempo, o senhor da razão, o melhor remédio.
Ontem, por exemplo, estava ouvindo rádio, coisa que ando fazendo muito ultimamente, quando toca “aquela” música, deu uma dorzinha lááááá no fundo do coração e do estômago, um nó na garganta e senti os olhos molhados e a gente suspira pra ver se expurga todos esses sintomas, mas não muda de estação mesmo porque não adianta, seu dia acabou ali, naqueles acordes, naquelas notas. A gente até pode ouvir “aquela” música, quando acha que melhorou um pouquinho baque, mas propositadamente, pois de surpresa é cruel, é como uma punhalada pelas costas ou um machucado mesmo, quando você faz curativo pode até doer um pouco, mas é você que está mexendo, cuidando, sabe onde tocar e como tocar, mas se você leva um esbarrão no machucado ou dá uma topada em algum lugar, aí não, aí dói demais.
Em suma, ainda não estou de alta, ainda estou em observação e todo cuidado é pouco...

domingo, outubro 23, 2005

Eu queria ser pipoqueira

Então, depois de um dia ruim, continuando a me sentir mal de tão doente que ando, meu ex-namorido-pode-ser-que-volte-a-ser-namorado me leva pra casa da irmã porque está preocupado comigo, resolve que eu preciso sair um pouco, ver o mar.
Menos de meia hora de brisa marinha e conversa ininteligível sobre RPG com a turma dele, escutamos pneus guinchando e vimos um acidente acontecer há vinte metros de onde estávamos. Quer dizer, ver mesmo, eu só vi a batida. Foi tão automático que enquanto o povo chegava pra ver o que estava acontecendo eu já estava lá. Ainda bem. Tinha um homem debaixo do carro.
Calma, ele não morreu, não estava cheio de sangue nem nada. Mas foi preciso uma turma pra suspender o carro e puxar. O interessante era ver eu tentando chegar perto pra socorrer e o povo não deixava. Eu falava "eu sou médica, eu sou médica" e aquela barulheira tamanha não deixava ninguém ouvir. Depois que eu vi o trauma, que identifiquei a fratura, no meio da gritaria "não mexe, moça", "ela é médica", outra luta pra convencer o povo, gritando,(mania que todo mundo tem de falar ao mesmo tempo nessas horas) que eu TINHA que mover o rapaz senão ele ia perder a perna ou a vida porque o fêmur quebrado estava comprimindo a artéria, o pé estava sem circulação. Foram minutos de agonia, até eu perder a paciência e berrar também, no meio de um bando de macho "eu sou médica, porra!" Aí eles escutaram.
Meia hora entre ligar pro SAMU e o homem seguir pro hospital (o SAMU é rápido, mas demorou pra imobilizar a perna, de tão feia a fratura) e eu voltei pra conversa da turma.
Repouso? Passeio pra espairecer?
Às vezes tudo que eu queria era uma profissão normal. Uma colega acaba de me mandar um e-mail onde declara que está aceitando qualquer emprego concursado, "Qualquer vaga para pipoqueira na praça, de segunda a sexta, com direito a 13o e férias, tá valendo!"
Eu pensava que o problema era comigo, que depois de cinco anos de formada, não tenho carro (roubado, o seguro só deu pra quitar o financiamento), nem casa própria, nem DVD (só compro se for à vista, criei horror a cartão de crédito). Eu não sou consumista, nem descontrolada com dinheiro, mas trabalho prestando serviços pra prefeituras, que não pagam em dia ou nem pagam. Uma prefeitura chegou a ficar com as primeiras férias e décimo terceiro que eu teria na vida. Apegou-se a uma tecnicalidade no contrato e adeus dinheiro. Entre isso, doença de mãe, de sogro, não consegui fazer Residência ou especialização, e sempre achei que estava nessa situação por minha culpa. E essa colega? Ela fez Residência, é especialista, tem emprego fixo e anda pra lá de desiludida com a profissão.
Pra você que não é da área, deixa explicar que plano de saúde não paga em dia. Trabalhei numa clínica administrada por um médico com especialização em Administração hospitalar e ex-secretário de saúde. O plano resolve quando e SE vai pagar. Decide se aquela consulta era ou não uma urgência. Vá você dizer ao usuário que não vai atendê-lo por que aquela coceira que não o deixa dormir não é uma urgência! Diga a ele que emergência não é lugar de pedir exames de rotina! Caberia ao plano educar o usuário, que não quer esperar um mês por uma consulta ambulatorial e vai à emergência porque é mais rápido, sem saber que aquela consulta de urgência é mais cara. E pagam pouco, muito pouco ao médico.
O SUS paga, por consulta ambulatorial R$ 1,47, por emergência R$ 4,00. Isso mesmo, quatro reais. Independente do paciente gastar uma dipirona em comprimido ou fizer uma porção de exames de urgência, além de gastar metade da farmácia do hospital. Em média, pagam aqui em Pernambuco, 400 reais por 24 horas de plantão.
Agora me diga: é ou não pra desiludir? Depois de seis anos de faculdade, mais dois de Residência, ganhar quatro reais pra atender um politraumatizado entre a vida e a morte, em muitos locais sem estrutura e ainda ouvir toda sorte de desaforo tanto dos pacientes quanto dos acompanhantes quando você é o único médico da única emergência da cidade e tem que dar prioridade pro mais grave, mesmo que tenha chegado depois?

sexta-feira, outubro 21, 2005

Relembrando o antigo blog

Cinema

Antes que eu virasse mais uma dos muitos brasileiros que andam falando maravilhas de "Dois filhos de Francisco" sem ter visto, fui assistir, né?
Sem querer entrar na discussão se o filme está fazendo sucesso por causa da dupla, eu gostei. E muito. Cinema pra mim é saber contar uma boa história, já vi muitas boas histórias sendo mal-contadas, e vice-versa. Gosto de cinema nacional, sim. Gosto de cinema, ponto. Seja pra ver animação digital, curtas, longas, propaganda e trailers. Até certo tempo, eu curtia mais os trailers que o filme. Quer capacidade maior que contar uma história em menos de um minuto? Só a vinheta dos intervalos da Globo. Aliás, nada como desenho animado na grande tela. Fui assistir Pocahontas sozinha porque ninguém quis ir e fui premiada com uma das mais belas canções já compostas pra um filme. Um dos melhores curtas que já assisti foi de graça, naquele projeto da Petrobrás, "Curta às seis". Chamava-se "O chifre do camaleão", hilário. Sem falar que tem filme que SÓ na grande tela. Jurassic Park perdeu metade do pavor que senti quando passou na TV. Até hoje lamento não ter visto "O resgate do soldado Ryan" na telona.
Vc deve estar se perguntando se eu não vou falar de "Dois filhos...". Não, eu não vou. Pessoas melhores já resenharam o filme. Só vou comentar uma coisa: dá vontade de ter um pai daquele. Só não queria trocar com o meu porque a história dele é tão bonita e sofrida, ou mais, que a deles. Dava um senhor filme.

Do All things

Ciclo da Vida

Nossas vidas são uma caixa de surpresas,
ora amargas, ora amenas,
mas nem tudo se acabou.

Continua havendo um respeito, um carinho,
um sorriso mesmo que triste
e um brilho no olhar que só se acaba com o morrer.

Então, que se siga em frente,
que deixe chorar lágrimas num filme triste,
que caia na gargalhada, se tiveres vontade.

E assim, a vida continua
como num jardim florido,
que um dia nasce uma bela rosa,
noutra um espinho, um broto, outra rosa.
No fim, uma morre, outra ao lado nasce.
E assim renasce o ciclo,
renasce o viver.

E cada um de nós, todos os dias está renascendo,
sobrepondo momentos,
sendo infeliz ou imensamente feliz.
Mas aprendendo com cada erro,
pra no final, conseguir apenas sorrir e ser feliz.

RL., 2:46 am, 06 outubro 2005.

Sobre pacientes e plantões

Inspirada numa comunidade do Orkut, resolvi escrever esse manual para orientar os leigos a se comportarem num hospital, tratar humanamente os médicos (e a equipe em geral) de uma emergência.

Vale salientar que as respostas não expressam minha opinião, mas evidenciam que os médicos não são bonzinhos e podem ser vingativos. Minha opinião está nos comentários, ok?

Capítulo I- Paciente chato

Sobre a pergunta “Para vocês o que mais faz um paciente ser chato?”, as respostas de médicos e outros profissionais de saúde foram pouco variadas, o que me faz pensar que chatice de paciente é mais falta de educação que outra coisa. Claro que existe gente antipática. Em geral o que o médico considera chato é a falta de consideração com o profissional e seu tempo disponível.

Uma das respostas
“Vão me desculpar mas Paciente Chato é Pleonasmo.”

Sinceramente, esse não devia estar exercendo Medicina.

Atestado
“Duas síndromes caracterizam 90% dos pacientes chatos:
- Atestadite, seja crônica ou aguda, associada ou não a encostadite, são síndromes que fazem qualquer paciente irritar qualquer médico, sendo que ela passa após o médico escrever uma palavra em uma folha branca carimbada: ATESTADO.
- Poliqueixosismo, característica de hipocondríacos, é caracterizada pelo paciente conseguir referir cada aspecto de sua sintomatologia e até relacioná-la com eventos do cotidiano, com frases como: "me dói o peito quando eu cheiro flores" ou "me dá dor de cabeça quando eu vou aos pés". A única cura é ser extremamente gentil com o paciente e fingir que está escutando. Se for paciente do SUS, a principal conduta é receitar anti-depressivo em doses baixas”

“Paciente que pergunta do atestado enquanto a gente faz a anamnese (história da doença).”

"Será que o senhor podia me dar um atestado de 15 dias atras quando eu tive que viajar e perdi aulas na faculdade? Eu não tava sentindo nada não e só pra eu não perder a frequencia"

“Sem contar o que pede atestado, você dá uns 2 dias e ele responde: "Mas, é desde a semana passada"... "E porque não veio antes, quando ficou doente?"... "Ah... é porque eu achei que fosse melhorar"

“Bem, uma vez um paciente pediu um atestado médico DURANTE A CIRURGIA!!!!!!!!!! Ele estava sob sedação apenas é claro!
Mas vocês já viram alguém tão rápido assim?”

O atestado explicita a incapacidade do paciente em exercer sua atividade habitual. O que varia de acordo com a atividade. Pé torcido não atesta falta de operador de telemarketing, por exemplo, exceto no dia da entorse, quando ele foi ao hospital pra ser socorrido.
Atestado quem decide se precisa é o médico, não cabe ao paciente pedir, insistir ou ameaçar. É suspeito aquele paciente que ainda está no balcão fazendo a ficha e já pergunta “esse doutor dá atestado?”. Sugere que o mesmo não quer saber o que tem ou como ficar bom, ele quer é o atestado pra não trabalhar. Plantões de sábado e domingo são conhecidos por pacientes que chegam cedo muito limpos, arrumados e bem acompanhados com queixas vagas como vômitos (que já pararam), diarréia, dor de cabeça, que recusam a medicação, mas pedem atestado.
O plantão de segunda-feira é notório em qualquer parte do Brasil pela grande quantidade de atestados solicitados, com queixas de há pelo menos dois dias (suspeita-se de grandes farras e ressacas). Claro que o final de semana facilita adoecer devido às comidas de rua, às peladas etc. Mas sabe-se que há um exagero de solicitações.
Dependendo do caso, eu mesma ofereço o atestado. A gente VÊ quando a pessoa está mal e pergunta se precisa de justificativa no trabalho.
Atestado falso é crime. Se você tem um amigo médico não o constranja pedindo um. Como trabalho numa cidade diferente da que moro, me livro fácil. Médico também não pode dar atestado dos dias anteriores que o paciente faltou.


Só mais uma coisa
“É quando você faz a anamnese (história da doença), faz as perguntas necessárias e pra tirar dúvida, ainda pergunta: "mais alguma coisa que, por acaso, eu esqueci de perguntar?”. ele responde que não. Depois de ter examinado, discuto com o preceptor e ter feito a receita, o paciente vira e diz: só mais uma coisinha que eu deixei pra falar no final..."

”Ou então aquele que quando você já tá liberando, que você acabou de entregar a receita e ele pede uma vitaminazinha”

“Tem aquele paciente que relata dor abdominal e que, depois de uma anamnese, exame físico, prescrição... na hora em que você acaba de bater o carimbo, ele pergunta: "Doutor, mas, e minha dor de cabeça?"

Quando o médico pergunta ‘ Mais alguma coisa?’ é hora de dizer, mesmo se você acha que a queixa não se relaciona com a doença. Nada de deixar para o final da consulta. Quando você conta o que sente o médico já está pensando no que pode ser. Muitas vezes ele já pensou, escreveu, solicitou os exames pra investigar, quando o paciente fala: "só mais uma coisinha que eu deixei pra falar no final..." uma coisinha QUE MUDA TODO O RACIOCÍNIO DO MÉDICO!
Sem falar que TEMPO é algo muito valioso pro médico numa emergência.
Quando a consulta é ambulatorial, oriento meus pacientes a anotarem tudo que precisam falar comigo na próxima vez, inclusive curiosidades, exames a pedir, efeitos do tratamento, pra não esquecerem.


Medicação controlada
“Paciente que aparece somente para pedir receita de controlado e nem quer falar nada, e vai embora sem dar tchau.”
“Pedir receita de remédio controlado.”

Evite, com todas as suas forças, ir a uma emergência, pública ou particular, pra pedir uma receita de medicação controlada. O termo ‘controlado’ significa que alguém deve ter um controle de por que o paciente usa a medicação, se está funcionando, há quanto tempo usa. Muitas dessas medicações causam dependência física e/ou psicológica. Medicação controlada é para ser prescrita pelo médico que indicou a medicação. Tenha cuidado pra não deixar faltar.

Exames
“Paciente que leva aquele catatau de exames da prima/irmã/vizinha/colega para você dar uma "olhadinha".

Entenda bem: médicos NÃO gostam de ver exames de gente que eles nunca consultaram. O que as pessoas chamam de exames apenas, são chamados pelos médicos de ‘exames complementares’. O que significa que eles complementam a história da doença e o exame físico do paciente. Um exame com resultado normal NÃO significa que pessoa não tem problema. Se você pediu um exame de sangue pra investigar anemia e ele deu normal, você não tem anemia. Você pode ter até um tumor no cérebro que isso não vai aparecer no exame de sangue.
A única exceção a essa regra são exames de casos clínicos muito interessantes. Um raio X muito diferente como um coração do lado direito do tórax é um exemplo. Se você tem algo assim, comente com o médico, se ele der um pulo de interesse e PEDIR que você traga o exame é porque ele está interessado.
Aqueles seus exames feitos há vários meses geralmente não têm valor nenhum na emergência. Na dúvida, leve tudo que tiver e diga que os trouxe caso seja necessário. Se o médico não quiser ver não fique ofendido, embora eu, pessoalmente, sempre dê uma vista (nunca se sabe). Só não vou explicar os resultados antigos, né?


Opinião da vizinha, da comadre, da avó...
“Outro grande chato é aquele que não aceita indicação cirúrgica porque a comadre disse que “é perigoso operar isso.”

Sua vizinha/comadre/avó não fez faculdade de Medicina, mas tem experiência de vida. Ouviu falar de um caso que parece parecido e acha que é a mesma coisa. Tudo bem. O que não se pode aceitar é já chegar com a opinião fechada baseado no palpite de um leigo. Se você não entendeu o tratamento, a cirurgia recomendada, tem medo de complicações ou chances de sobrevivência tem TODO DIREITO de perguntar ao médico e de receber respostas compreensíveis.
É comum receber pacientes que iniciaram o uso de antibióticos errados e intoxicados com medicações diversas indicadas pelos conhecidos, crianças que abandonaram o aleitamento materno porque a avó começou a dar um “chazinho” achando o leite da mãe muito ralo. Auto-medicação se confunde com crendices populares e é espinhoso pro médico separar as duas coisas. Falarei mais sobre crendices depois, mas entenda que medicação não é pra ser prescrita por quem não é médico. Tenho um bom caso sobre isso.
A paciente veio ao posto, vermelha da cabeça aos pés, como uma queimadura. Tinha tido uma forte dor nas costas e a vizinha ensinou um remédio “muito bom”. Por isso o vermelho. Seria por causa do remédio? Ela ainda me perguntou. Uma reação alérgica séria que a levara à emergência no dia anterior e que, se complicasse a levaria à morte, chamada Steven-Jonhson. Dei um carão pela auto-medicação (‘sua vizinha é médica? Eu tinha colega aqui e não sabia!’), suspendi o antiinflamatório, passei outro analgésico pras costas e um antialérgico. Recomendei expressamente que não usasse nada sem falar comigo e não tomasse sol de jeito nenhum. Não seria difícil me encontrar já que eu estava todo dia no posto e ela morava na mesma rua. Voltou dois dias depois, melhor. Reforcei as orientações. Voltou no dia seguinte toda vermelha. A mesma vizinha indicara “uma pomadinha” pra coceira que sentia. Novo carão. Dois dias depois, nova piora. Varrendo a frente da casa de manhã cedo (tomando sol) e conversando com a vizinha! Ou seja, a vizinha colocou-a em risco de vida três vezes em dez dias. Três vezes! Pense nisso.


Pressão
“Depois de você terminar toda a consulta de uma odinofagia (dor de garganta), ele levanta e pede pra você "tirar" a pressão...”

Pressão não se tira, se verifica. Você não está errado que querer saber a sua pressão, embora o médico que está atendendo esteja achando que a pressão arterial (provavelmente) não tem nada a ver com sua dor de garganta. Ele pode achar uma perda de tempo se tem muita gente pra atender, mas não é errado pedir. Como muita gente nunca vai ao médico sem estar doente pode ser a chance de se descobrir hipertenso. Deixe que ele faça cara feia, mas verifique a pressão.
Se o plantão estiver pegando fogo (epidemia, acidente, pacientes graves) e você não tem diabetes ou pressão alta, seja compreeensivo e peça à auxiliar de enfermagem ou marque uma consulta ambulatorial.
Na consulta ambulatorial, verificar a pressão faz parte do exame físico. Exija.


Sintomas
“o melhor são os pacientes que dizem uma coisa pra ti e dizem outra pro teu professor.”

”O especial é a melena (fezes pretas devido a sangramento). Tu aponta pra uma borracha, pede se o coco é preto que nem carvão, o paciente diz que sim, e chega o professor e o paciente diz: "não é tão escuro assim não dotô..."

Falta de atenção e falta de paciência
“perguntar mais de três vezes o que tinha acabado de explicar há minutos atrás...”

É certo que termos médicos são difíceis, que muitas pessoas têm pouco estudo, dificuldade de compreensão. Não estou falando disso. Estou falando de falta de atenção. Também existe falta de paciência, tanto do médico quanto do paciente.
Se você não entendeu, pergunte. Se for muito difícil, peça pra explicar de outro jeito. Pacientes idosos, quase surdos costumam fingir convincentemente que entenderam instruções de tratamento. Eu costumo pegá-los pedindo que repitam o que eu acabei de dizer. Um detalhe pode inutilizar o tratamento. O uso de remédio pra pressão alta sem seguir a dieta com pouco sal não funciona. E por aí vai.


“besteiras”
“só aqueles que vão ao PS lotado com dor no dedo do pé há 3 semanas e xingam a equipe porque passam um infartado na frente... É pra acabar!!!!!”

Eu pretendo escrever muito mais sobre esse tema, mas só pra esclarecer. Salas de emergências não seguem ordem de chegada, atendem primeiro quem estiver pior. E nem tudo que incomoda o paciente significa uma emergência. Mais esclarecimentos nos próximos capítulos.

No ambulatório
“Como Irritar Seu Médico em 12 Passos:
1.Comece a consulta reclamando da demora, mesmo que tenha sido atendido rapidamente. Depois, diga ao médico que ele é o terceiro que você procura pelo mesmo motivo, e que você só quer mais uma opinião, pois não confia muito em médico. Diga também aquela frase clássica:Cada médico fala uma coisa!
2. Nunca responda diretamente às perguntas. Se ele perguntar se você teve febre, diga que teve tosse. Conte tudo detalhadamente, começando, se possível, desde quando você ainda era criança ...
3. Leve sempre 3 crianças com você (nem precisam ser seus filhos), especialmente aquelas que mexem em tudo, sobem nos móveis e ficam fazendo perguntas no meio da consulta. Combine, previamente, com uma delas, para quebrar o termômetro do médico.
4. Peça receita de um medicamento controlado. Diga que não é para você, mas para uma vizinha muito amiga sua. Não esqueça de dizer que ela toma esses remédios há anos e que não fica sem eles, e que você quer retribuir um favor dela.
5. Quando o médico estiver se despedindo de você, já na sala de espera, diga bem alto, para os outros ouvirem também: "Vamos ver se agora o senhor acerta!"
6. No retorno da consulta, inicie com: "Estou pior que antes". Aproveite para incluir, no relato, novas queixas. Diga que você passou por um farmacêutico, muito antigo e muito conceituado no bairro que a sua tia mora, e ele resolveu trocar os remédios.
7. Insista para que o médico tente descobrir a causa daquela cólica que você teve há seis meses, e que desapareceu misteriosamente. Insista em contar os sintomas com riqueza de detalhes.
8. Traga os exames solicitados por médicos de outras especialidades. Se ele for clínico geral, consiga um eletroencefalograma para ele dar o laudo. Pergunte se ele faria o favor de ver a mamografia da sua vizinha (outra).
9. Descubra onde seu médico dá plantão à noite, e só passe a procurá-lo lá. Dê preferência a hospitais públicos, onde ele não ganha por ficha de cliente.
10. No final da consulta, pergunte se ele não faria o favor de dar um atestado, pois você não "teve condições de trabalhar hoje", ou, então, diga que você tinha que resolver uns probleminhas pessoais e não deu prá ir trabalhar.
11-Ao sair da consulta avise-lhe que seu cheque só deverá ser depositado quinze ou vinte dias após a mesma pois no momento sua conta está sem fundos. Ah! Não esqueça de telefonar no prazo marcado para pedir que adie o depósito...
12-Finalmente, complete a irritação dele, mandando-lhe este pequeno manual...”

Um único comentário: procurar vários médicos pra um mesmo problema não significa necessariamente que os médicos são ruins. É bem possível que o paciente seja ruim. Um mau paciente, que não seguiu o tratamento, não fez todos os exames solicitamos ou simplesmente, um impaciente. Algumas doenças são difíceis de diagnosticar e outras muitas são dificílimas de tratar. Se o primeiro tratamento não deu certo, é comum o paciente procurar outro médico e mais outro, ao invés de voltar pro primeiro. Se for conveniado de um plano de saúde, vai seguir a lista de especialistas por ordem alfabética. Insista algumas vezes com o mesmo médico, dê uma chance.

Acompanhantes
“às vezes não é o paciente, é o parente”

“Existem 3 tipos de acompanhantes em um hospital, a saber:
a) O ACOMPANHANTE GENUINO= Aquele q fornece as informações necessárias, sempre disposto a ajudar o paciente e a equipe. Nunca perturba o médico e a enfermagem. São 2% dos casos.
b) O ATRAPALHANTE= Aquele que responde qdo não lhé é perguntado nada. Que gosta de pressionar o médico. A toda hora fica dizendo: "ta acabando o soro". São 95% dos casos.
c) O ABELHUDANTE= É o acompanhante de um OUTRO paciente,que quer saber porque aquele paciente que a ambulância trouxe está sangrando pela cabeça.
Ao fazer isso, abelhudante largou o seu parente e o mesmo caiu da maca, batendo a cabeça. Os estudos mostram uma variação de 3 a 5%, dependendo do hospital.”

Cuide do SEU paciente. Ajude mais alguém se preciso, mas NUNCA abandone SEU paciente. Simples assim.

Colega
“Paciente chato é aquele que é da área da saúde....ninguém merece”

Pelos mais diversos motivos, médicos não gostam de tratar de outros profissionais de saúde. Falarei mais depois sobre isso. Só pra saber, geralmente o conhecimento na área acaba atrapalhando mais que ajudando. Provavelmente o que esse comentário quer dizer é: paciente da área de saúde tem mais facilidade de acesso ao médico e quase sempre abusa disso.

Sobrecarga médica
“vários pais ao mesmo tempo querendo saber se as crianças tiveram alta ou não e você tendo que atender mais 100 crianças lá fora...além das revisoes q você tem de fazer, ver exames, isso tudo ao mesmo tempo, é claro...”

Pra um profissional sobrecarregado, todo paciente é chato.

quinta-feira, outubro 20, 2005

Pelo direito de adoecer

Talvez você não saiba, mas médico adoece. Tem gente que ainda pensa no médico com um semi-deus. Semi-deus era Asclépio. Eu sou humana e muito. A saber, a própria rotina médica é considerada um risco para a saúde.
Eu sou médica e adoeço. Eu sou médica e tenho sobrepeso. Eu sou médica e tomo remédios diariamente para depressão. Preciso sair do trabalho pra me consultar com meu médico como todo mundo. Eu tenho gastroenterologista e clínico geral, psiquiatra, oftalmologista e ginecologista. Ou por acaso você pensou que eu seria capaz de fazer minha própria endoscopia, meu exame anual de visão e minha colposcopia? Não tenho obrigação de saber de tudo que há de mais moderno em todas as especialidades médicas.
Tenho adoecido com freqüência nos últimos tempos. O fato de não tirar férias há uns seis anos ajuda. Esse ano tive inúmeras crises de labirintite, duas ou três gastroenterites, gripei pela primeira vez em dois anos, tive uma sinusite pela primeira vez na vida, uma pneumonia atípica pela segunda vez . Só este ano e estamos em outubro.
Estou doente há uns 10 dias. Faltei ao trabalho no domingo, fui me arrastando essa semana pra ser destratada pelo chefe que disse hoje, pela segunda vez essa semana, que “desse um jeito e atendesse”. Um jeito eu dei há dois dias, prestando assistência a um recém-nascido enquanto respirava fundo pra não vomitar em cima dele. E era Dia do Médico. Hoje não deu. Eu não abandonei os pacientes sem assistência: havia um clínico e uma pediatra no plantão. Eu ainda atendi três crianças que estavam piores pra não esperarem pela colega. Ainda levei dois pacientes numa transferência pra cidade vizinha, um dos quais tão grave que chegou morto. Então fui socorrer a mulher dele antes que os médicos (da outra emergência onde estávamos) chegassem. Ou seja, eu trabalho até cair. E ainda escuto por isso.
Sabe o interessante disso? Quando eu atendi o telefonema do chefe, havia uma mãe com o filho comigo no consultório. Um filho que estava tão doente que mesmo me sentindo muito mal, achei que ele estava pior que eu e não dava pra esperar. Ela ouviu o meu lado da conversa, esperou eu desligar e disse, como que se desculpando por se intrometer: “A gente que precisa do emprego...”

É, eu não tenho férias. Por que? Porque médico não tem carteira assinada. Nem férias, nem décimo terceiro. Quem tem é porque prestou concurso. Trabalho por prestação de serviço, por contrato, como quase todos os médicos. É ilegal? Devia ser.

"Campanha da Mamografia Digital Gratuita".

O seu clique solidário não custará nada.
Digam a 10 amigos para dizerem a outras 10 pessoas ainda hoje!

O Site de câncer de mama e o Instituto Neo Mama de Prevenção e Combate ao Câncer de Mama estão iniciando uma campanha que necessita de cliques para alcançar quotas que lhes permitam oferecer mamografias gratuitas a mulheres brasileiras necessitadas.

Demora menos de 5 segundos, mas fará uma grande diferença acessar o site e clicar no botão cor de rosa que diz:
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Acesse agora e sempre o Website:

http://www.cancerdemama.com.br

Não demora e não custa nada, ajudem a detectar precocemente o câncer de mama. Ele tem cura.

Observação:
Caso você ainda não saiba, 1% dos casos de câncer de mama acontece com os homens.

Obrigada.

Memória

Isso é meu. Só porque mudei de blog, não significa que não sou mais. Nem porque mudei de nome, deixei de assinar meus textos. Se eu descobrir que alguém publicou sem me pedir licença, tá ferrado!
A memória é um desses mistérios da fisiologia humana que a ciência ainda não conseguiu explicar. Tanta coisa importante que eu precisava saber, e já li, li e não aprendi, e tanta informação inútil que se enfiou cabeça adentro e não consigo tirar. Só Deus sabe por que não gravo os critérios maiores e menores da febre reumática, mas não esqueço da primeira vez que provei sorvete de nata-goiaba, por que sempre me atrapalho pra dizer meu CPF, mas sei a ordem dos pecados capitais em Seven, por que sempre tenho que anotar a data da última menstruação, mas lembro que o Tom Cruise foi casado com a Mimi rogers (e não com a Minnie Driver).
A gente devia poder fazer faxina da mente de vez em quando, organizar a informação por pastas igual a um HD, deletar antigos namorados, salvar com cópia aquele truque pra tirar mancha de batom da camisa branca de seda, ter um arquivo-morto, poder atualizar os dados.
Cada dia que vivo e envelheço, esqueço mais. E são sempre os fatos novos, os mais importantes. Lembro do meu primeiro sorvete de pistache, da primeira dose de uísque e de um remédio de gosto horrível que tomei há mais de 20 anos.
Não lembro da dose máxima de AAS indicada pra crianças, sempre tenho que conferir. Talvez eu precise ser reciclada, talvez meu modelo tenha passado da validade. Talvez a memória só sirva pra isso mesmo, relembrar o que se viveu, e o que ninguém mais lembraria porque não está nos livros. Porque é importante demais só pra nós mesmos.

terça-feira, outubro 18, 2005

Declaração de Genebra

Na hora de ser admitido como um membro na profissão médica:
Eu, solenemente, juro consagrar minha vida a serviço da humanidade.
Darei como reconhecimento a meus mestres, meu respeito e minha gratidão.
Praticarei minha profissão com consciência e dignidade.
A saúde dos meus pacientes será a minha primeira preocupação.
Respeitarei os segredos a mim confiados.
Manterei, a todo custo, no máximo possível, a honra e a tradição da profissão médica.
Meus colegas serão meus irmãos.
Não permitirei que concepções religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou sociais, intervenham entre meu dever e meus pacientes.
Manterei o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção. Mesmo sob ameaça, não usarei meu conhecimento médico em princípios contrários à leis da natureza.

Faço essas promessas, solene e livremente, pela minha própria honra.

JURAMENTO DE HIPÓCRATES

Juro, por Apolo, o médico e Asclépio e Higéia e Panacéia e todos os deuses e deusas que, segundo minha capacidade e julgamento cumprirei este juramento e o estipulado:
Respeitarei quem me ensinou esta arte como se fossem meus pais; repartirei com ele meus bens e atenderei as suas necessidades, se for preciso; considerarei seus descendentes como se fossem meus irmãos, e ensinar-lhe-ei esta arte se quiserem aprende-la,sem pagamento e sem condições e por preceito, lição ou qualquer outro modo de instrução; transmitirei o conhecimento da arte a meus filhos e aos meus mestres, e a discípulos ligados por um compromisso e juramento, conforme a lei de medicina, mas a ninguém mais.
Seguirei o método de tratamento que, de acordo com a minha capacidade e julgamento, considerar benéfico a meus pacientes, e abster-me-ei de tudo mais que seja deletério ou daninho. Não me deixarei induzir por súplicas de quem quer que seja a propinar veneno ou ensinar como se envenena. Na vagina de nenhuma mulher jamais introduzirei qualquer aparelho para impedir a concepção ou interromper a gravidez.
Passarei a vida e praticarei a minha arte com pureza e santidade. Não farei incisão em quem sofra de pedra, mas deixarei que o operem os que sejam práticos no ofício.
Seja qual for a casa em que entre, fá-lo-ei em beneficio do enfermo e me absterei de qualquer ato voluntário de maldade e corrupção, e, ademais, de sedução de mulheres ou homens, escravos ou libertos.
Tudo o que, relacionado ou não com a minha prática profissional, veja ou ouça nas vidas dos homens e que não deve ser contado alhures, não divulgarei, por considerar que tais coisas devem ser mantidas em segredo.
Enquanto mantiver inviolado este juramento, que me seja concedido gozar a vida e exercer a arte, respeitado por todos os homens em todos os tempos, mas que se eu transgredir e violar este juramento, que outro seja o meu destino.

Feliz Dia do Médico

Você também jurou “ por Apolo, o médico e Asclépio e Higéia e Panacéia e todos os deuses” ou quando se formou já lhe disseram que o famoso juramento era considerado politicamente incorreto? Não me permitiram fazer o Juramento de Hipócrates, me fizeram ler a Declaração de Genebra na minha colação de grau.

Nunca entendi muito bem qual a diferença entre o sentido de ambos. Sei que é mais lógico manter “o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção” que prometer não interromper a gravidez, não impedir a concepção ou ensinar como se envenena. Mas pessoalmente acho que Hipócrates não era nada vago e gosto das coisas às claras. Embora os tempos tenham mudado, as escolhas não mudaram tanto assim.

A bem da verdade, sempre achei aquela última parte (Enquanto mantiver inviolado este juramento, que me seja concedido gozar a vida e exercer a arte, respeitado por todos os homens em todos os tempos, mas que se eu transgredir e violar este juramento, que outro seja o meu destino.) com cara de praga. Tipo, faça ou te danarás pela eternidade. Quem sabe por isso os médicos de antigamente fossem mais éticos. Com medo da maldição.

Ainda considero poética a expressão “passarei a vida e praticarei a minha arte com pureza e santidade”, embora nem sempre o tenha feito e que o arrependimento que me sobreveio a cada vez, um castigo pouco para o tamanho do mal praticado. A maior parte das vezes foi perder a paciência e elevar a voz para alguém que viera pedir minha ajuda. O fato de estar cansada quando isso aconteceu não abona a falta.

Aos meus verdadeiros mestres-e não são muitos, apesar da imensa quantidade de professores que tive- continuo respeitando-os como meus pais (talvez até mais) e disponho-me a atender qualquer pedido honesto deles. Acredite ou não, costumo rezar por eles com certa freqüência.

A mais bela das promessas é não se aproveitar da posição que se tem. Nisso, o Juramento é perfeito (Seja qual for a casa em que entre, fá-lo-ei em beneficio do enfermo e me absterei de qualquer ato voluntário de maldade e corrupção, e, ademais, de sedução de mulheres ou homens, escravos ou libertos). Cada vez que entrei na casa de um paciente em minha vida lembrei dessa frase. Todas as vezes.

Não sou cirurgiã, portanto jamais realizarei a operação da pedra, mas sei que se o autor do Juramento vivesse nestes tempos a faria sem hesitar, graças ao advento da assepsia e dos antibióticos. Também não sou ginecologista-obstetra, o que me livra do dilema de “na vagina de nenhuma mulher jamais introduzirei qualquer aparelho para impedir a concepção ou interromper a gravidez”. Pessoalmente, se eu gerasse um anencéfalo, levaria a gravidez a termo e doaria seus órgãos para alívio do sofrimento de outras crianças. Mas nunca, nunca, critiquei uma mulher que provocou um aborto. Em desespero o ser humano é capaz de tudo.

Já ofereci, sim, a opção de abortamento para uma vítima de estupro e depois fui me aconselhar com um padre. Hoje entendo que a decisão era da paciente. Naquela época, eu era estudante e não sabia que um dia prometeria não permitir “que concepções religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou sociais” interviessem “entre meu dever e meus pacientes”. Sinceramente, espero que Deus me perdoe e entenda.


Mas a mais difícil das promessas ainda é guardar segredo. Não os grandes segredos, mas aqueles detalhes tão pequenos que você poderia comentar a outrem sem saber do mal que faz. Espero que meu bom-senso se mantenha nos anos vindouros e que uma eventual senilidade não me faça descumprir essa parte. Sim, porque é impressionante o quanto me contam de segredos não relacionados com as doenças. Costumo dizer que me acham com cara de padre pra me contarem tanta coisa só porque confiam em mim.

Hoje mesmo, depois de 48 horas de trabalho, eu ainda entrei numa cesárea de emergência e lamentei não ser duas para socorrer um recém-nascido prematuro que nascia ao mesmo tempo na sala de parto. Não, eu não sou viciada em trabalho. Eu estava exausta, com dor de cabeça e nauseada. Eu estou doente. Mas eu prometi.
A todo custo, no máximo possível. Pela minha própria honra.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Nada pessoal. Só negócios.