quinta-feira, janeiro 31, 2013

Doce Espera


Quando eu estava no internato de Medicina, prestes a me formar, comprei meu primeiro livro médico. Foi uma compra esperta àquela altura: um manual de clínica médica para médicos recém-formados, com dicas valiosíssimas, úteis até hoje. Uma delas era ‘quando estiver chegando a sua vez de pegar uma parte ruim da escala de serviço, planeje uma diversão para quando estiver desocupado, para poder aguardar por algo ansiosamente durante as longas noites’. Em suma, o melhor de alguma coisa pode ser a espera.

A maioria das pessoas tem alguma lembrança assim de sua infância: um evento marcante, um passeio, algo que foi aguardado e que, quase sempre, correspondeu às expectativas. É preciso entender que parte do que tornou tudo tão bom foram justamente as expectativas. Você imagina como vai ser, você sonha, você passa um filme em sua cabeça. Espere, não é assim que deve ser. Você recria a cena, surgem inúmeras variações, até uma ser escolhida. Tudo está perfeito em sua mente.

Estou falando disso porque uma amiga que nunca viu nem brincou Carnaval resolveu vir a Pernambuco nessa época do ano em que as pessoas parecem mudar ou assumir a verdadeira personalidade. Talvez por eu ter crescido sem ver Carnaval também, exceto na TV, só arrisquei uns passos na adolescência tardia, admiti que como manifestação cultural é ímpar e resolvi aproveitar o feriado pra ler. Dessa vez, eu não poderei fazer isso e vi-me contagiada com a idéia de mostrar ‘o melhor carnaval do mundo’ a alguém que alcançou os 30 anos sem ter visto a festa ao vivo.

‘Vamos fazer isso a sério!’ tem sido meu lema na vida e a ‘Missão Carnaval’ não poderia ser diferente. Pra começar, um roteiro porque Pernambuco tem tanto a se ver que um Carnaval apenas não é suficiente. Uma fantasia me pareceu essencial. Considerando que tomo lítio em altas doses e que, por causa disso, tenho tremores e dificuldade de acomodação visual, cortar e costurar tudo à mão – além de pintar o tecido – foi um desafio que levei com um bom humor que me surpreeendeu. Foram tarefas executadas com lentidão e de forma imprecisa, mas que me ajudaram a passar o tempo que pareceu se arrastar desde que essa aventura foi acertada. Também tem sido maravilhoso planejar um roteiro turístico da cidade onde nasci, mas onde só passei a residir quando vim fazer faculdade. Nunca fiz turismo antes e, pelo visto, essa pode ser a primeira de outras viagens para mim, que viajei muito, mas a trabalho.

Faltam oito dias e está quase tudo pronto: a programação, o cardápio, as sugestões de passeio, as fantasias, as reservas, os telefones de emergência, até a lista de episódios pra ver no dia que vamos ficar à toa. Se pode não dar certo? Claro! Eu não estou me importando muito com o que vai acontecer. Para quê? O perfeito, o impecável, o filme de Hollywood já aconteceu. Os ensaios fazem parte do espetáculo. Agora é pra valer. É hora do show!

quarta-feira, janeiro 09, 2013

Ser especialista em saúde mental e bipolar!


Não chegamos ao décimo dia de Janeiro e já encontrei o livro do ano. Vai ser muito difícil superar esse. Obrigada, Will (do Bipolar Brasil), pela indicação!

Tive minhas dúvidas quanto a escrever um livro que descreve de modo tão explícito minhas próprias crises de mania, depressão e psicose, além da minha dificuldade para admitir a necessidade de medicação contínua. Por motivos óbvios relacionados à obtenção de licença para clinicar e do direito a fazer parte da equipe de hospitais, os profissionais relutam em levar ao conhecimento público seus problemas psiquiátricos. Essas preocupações costumam ser justificadas. Não faço a menor idéia de quais possam vir a ser os efeitos que essa minha decisão de debater tais questões com tanta franqueza trará a longo prazo à minha vida pessoal e profissional; mas, não importa quais sejam as conseqüências, é provável que sejam melhores do que se eu mantivesse o silêncio. Estou cansada de me esconder, cansada de energias desperdiçadas e emaranhadas, cansada da hipocrisia e cansada de agir como se eu tivesse algo a esconder. Cada um é o que é, e a desonestidade de se esconder atrás de um diploma, de um título ou de qualquer forma e reunião de palavras ainda é exatamente isso: desonesta. Necessária, talvez, mas desonesta.

terça-feira, janeiro 08, 2013

30 dias e contando.


Quem lê este blog, sabe que eu não faço questão de Carnaval. Mas este ano eu tenho um bom motivo pra esperar pelo feriado: ter a ilustre presença de Grissom's Girl aqui. Este ano, pelo menos, eu tenho companhia pra assistir filmes e séries durante a folia de Momo!

And we're back again!


Eu sei, eu sei. Já tivemos um episódio de 'Chicago Fire' esse ano (e parece que Severide agora toma jeito), mas agora podemos dizer que a magia está de volta. :D

quinta-feira, janeiro 03, 2013

Feliz Ano Novo!

Agora sim, com a gentilíssima indicação de Vicky, que repassou a primeira coluna de Veríssimo depois da alta. Balanço total de vida pra resoluções de Ano Novo.

Desmoronando

Luiz Fernando Veríssimo
Publicado: 3/01/13 - 9h06

O prédio de lata estava desmoronando e eu estava dentro dele, desmoronando também. Caía de bruços como um super-herói que esqueceu como voar, com a cara virada para o chão, ou para o saguão do prédio, que se aproximava rapidamente. Se eu me espatifasse no saguão, certamente morreria, pois seria soterrado pela lataria em decomposição que acompanhava meu voo. O fim do sonho seria o meu fim também. Mas a queda era interrompida, a intervalos, como naquelas “lojas de departamento” em que o elevador parava, o ascensorista abria a porta e anunciava: “Lingerie”, “adereços femininos” etc. Levei algum tempo para me dar conta que aquelas paradas não eram só para interromper o terror da queda. Eram oportunidades de fuga. O sonho me oferecia alternativas para a morte, se eu fizesse a escolha certa. Ou então me dava um minuto para pensar em todas as escolhas erradas que tinham me levado àquele momento e à morte certa: os exageros, os caminhos não tomados e as bebidas tomadas, as decisões equivocadas e as indecisões fatais, o excesso de açúcar e de sal, a falta de juízo e de moderação. Não posso afirmar com certeza, mas acho que ouvi o ascensorista fantasma dizer, em vez de “lingerie” e “adereços femininos”: “Desce aqui e salva a tua alma” ou “Pense no que poderia ter sido, pense no que poderia ter sido...” As paradas não eram para diminuir o terror, as paradas eram parte do terror! Eu não tinha tempo nem para a fuga nem para a contrição. E o saguão se aproximava. Decidi me resignar. É uma das maneiras que a morte nos pega, pensei: pela resignação, pela desistência. Meu corpo não me pertencia mais, era parte de uma representação da minha morte, o protagonista de um sonho, absurdo como todos os sonhos. Talvez a morte fosse sempre precedida de um sonho como aquele, uma súmula de entrega e renúncia à vida, mais ou menos dramática conforme a personalidade do morto. Um sonho com anjos e nuvens rosas ou um sonho de destruição, como eu merecia. Eu nunca saberia por que meu sonho terminal fora aquele, eu desmoronando junto com um prédio de lata. Mas nossas explicações morrem com a gente.

No fim do sonho me espatifei no chão do saguão e esperei que o prédio caísse nas minha costas. Em vez disso, ouvi a voz do dr. Alberto Augusto Rosa me perguntando se eu sabia onde estava. “Hospital Moinhos de Vento”, arrisquei. Acertei. Lá juntaram as minhas partes, me espanaram e me mandaram para casa. E eu não disse para ninguém que deveria estar morto.

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quarta-feira, janeiro 02, 2013

Quem é você?


Li isso e sorri, porque se eu tiver que partir nesse instante deste plano/mundo/existência, terei sido a mesma pessoa, diante dos outros e do espelho, dentro e fora de casa, sozinha ou acompanhada. Porque viver como um só já é complicado o suficiente, imagine interpretar mais de um papel ao mesmo tempo. É coisa pra artista!

:)

Você percebe que está com saudade de 'Arquivo X' quando se flagra torrando sementes de girassol na própria cozinha. Porque só eXcers, papagaios e Mulder comem isso. :D