terça-feira, janeiro 31, 2006

Palavra de honra

Andam aconteendo coisas comigo sobre gente que falta com a palavra. Primeiro meu carro, agora a casa que eu ia alugar. Conto detalhes depois, mas vão logo sabendo. Se eu digo uma coisa, é aquilo e pronto. Nada de ficar enrolando!

Plantão de domingo

Um rapaz deu uma facada no próprio dedo no sábado mas não veio à emergência. Uma senhora facada, atravessando o dedo indicador da mão direita que estava vermelho e inchado. Só se pode suturar uma lesão até seis horas depois do acidente, devido à contaminação. A vacina antitetânica dele estava atrasada, pra variar (homem raramente mantém as vacinas em dia e, quando estão em dia, é porque sofreu algum acidente e o obrigaram a tomar). Seguiu pra cidade vizinha, pra tomar soro antitetânico. Vai tomar antibiótico pra infecção e terá que esperar que o dedo cicatrize sozinho.
Eu deveria dizer “bem feito”, mas não é certo uma médica dizer isso, né? Dane-se, bem feito, quem mandou ficar com medo?
A auxiliar me chamou pra ver uma recém-nascida de 22 dias, internada com diarréia e vômitos, que havia perdido a veia. Nem sinal da mãe. Uma tia estava cuidando da menina, muito desidratada. Depois de muita luta, conseguimos um acesso venoso na cabeça. O peso que constava era o do nascimento. Pesei-a novamente (eles perdem 10% do peso na primeira semana de vida, sem falar na própria diarréia) e calculei a reposição de líquido.
Uma menininha de uns quatro anos cortou o dedo no arame. Ficou danada da vida porque a imobilizamos pra suturá-la. Seu comentário, muito sensato, foi : “eu quero crescer logo, aí não deixo mais fazerem isso”. Eu ri até não poder mais.
Um rapazinho de 9 anos chegou com um espinho no pé. Eu não sei que sorte é essa que tenho: sempre tem um espinho ou dois no meu plantão. Ainda bem que esse era imenso, fácil de tirar. O garoto, além de não dar um pio, fez questão de ver tudo. Deve ser um futuro colega na área.
O rapaz que assinou o termo de irresponsabilidade voltou. Dor de cabeça, vômitos, tontura: um possível TCE com hemorragia subdural. A mãe não sabia que ele havia se mandado na noite anterior, claro. Seguiu pro neurologista na cidade vizinha e ainda deu sorte. Se não houvesse especialista naquele dia, teria ido pra capital. 18 anos e irresponsável.
A recém-nascida voltou a urinar (excelente sinal) mas ainda estava desidratada. Pelo menos não havia mais vomitado. Pedi à tia que oferecesse água com frequência.
Uma senhora com dor ao urinar foi à farmácia e comprou uma medicação que aliviou a dor, mas ela continuava urinando com frequência e alaranjado. Por que as pessoas vão à farmácia e não vão ao médico, ainda mais numa emergência tão tranqüila, é coisa que vou morrer sem entender. Expliquei que era uma infecção urinária. Ela sabia, já tivera uma há alguns anos (PQP, então por que não procurou o médico?). Prescrevi um antibiótico decente, muito líquido e sucos com vitamina C. Dá vontade de bater nesse povo, juro que dá.
Uma das amigdalites do dia anterior voltou. Eu havia explicado pra moça que no começo não dá pra saber se vai haver pus, então é melhor esperar uns dias, tomar analgésico, não usar antiinflamatório, e, se não há melhorar, voltar ao médico. Agora havia pus, então prescrevi antibiótico. Só uma das que eu atendi no sábado voltou no domingo. O resto era de origem viral. Agora imagina se eu saísse fazendo benzetacil em todas as dores de garganta que aparecem!
Dois rapazes que vinham ver o bloco de carnaval caíram da moto antes mesmo de chegar na cidade.Puro azar, nem tinham bebido. Vinham só ver a festa. Escoriações, uma sutura no joelho e a vida segue.
Um bêbado levou uma mordida do cachorro da irmã. Eu adorei. O cachorro deve ter se vingado da chatice dele. Notifiquei o caso e avisei que deveria procurar o posto no dia seguinte pra tomar uma dose de anti-rábica porque a mordida foi na mão. E que não matasse o cachorro pelo amor de Deus, senão teria que tomar um monte de injeções. Não sei se entendeu. Por via das dúvidas, a vigilância sanitária vai procurá-lo.
Um senhor com Doença de Chagas, que encaminhei para a capital há umas duas semanas, retornou, com insuficiência cardíaca descompensada. É um velho conhecido e fiz o que pude pra melhorar seu conforto. Ele toma os remédios corretamente, mas já tem um marcapasso e sabe que vai morrar assim. Não fiz diurético porque sua pressão já estava baixa e continuamos esperando o laudo sobre a contaminação da furosemida que havia no hospital. Como o fornecedor só tem esse lote, estamos sem furosemida injetável na cidade.
Uma mocinha com tontura e vômitos depois de andar em diversos brinquedos do parquinho: labirintite. Permaneceu umas 18 hora em observação até estar reidratada e poder voltar pra casa.
Eu, com cólica menstrual, fui suturar o dedo de uma mulher, cortado numa lata de cerveja. Enquanto isso, me informaram que um rapaz com o braço quebrado esperava. Uma sutura grande e complicada. Quando terminei, pedi um comprimido pra dor e saí da sala pra tomar.
Estava um pandemônio lá fora, um rapaz com varicela (catapora) queria entrar na sala de sutura, o irmão do rapaz com o braço machucado queria ser atendido primeiro. Eu tive que gritar pra ser ouvida. Primeiro eu ia tomar meu remédio, senão não tinha condições de atender ninguém.
O ombro do rapaz havia sido luxado. Fiz um antiinflamatório pra aliviar a dor e pedi que esperasse um pouco, pra dar tempo do músculo relaxar. Atendi o rapaz com varicela, orientei sobre contágio e dispensei-o. Com uma manobra simples, recoloquei o braço do outro no lugar, que ficou impressionado com o súbito desaparecimento da dor.
Finalmente, a festa terminou. Dormi de meia-noite às seis, quando fui acordada pra ver uma senhora com uma lesão no pé, que há meses a incomoda. Desde quando psoríase é emergência?

Plantão de sábado

Festa de novo na cidadezinha de 6 mil habitantes. A maior festa do ano, com direito a corrida a pé, festa do padroeiro e bloco de Carnaval, parque de diversões, etc, etc. Fui preparada espiritualmente pra enfrentar 48 horas de plantão, com direito a bêbado, acidente, muitas suturas. Eu não sei por que, mas eu não tenho paciência com bêbado. É direito do “serumano” (como diz a Fal) tomar um porre, mas impor sua presença nesse estado deveria ser proibido por lei. Principalmente porque só que faz isso é bêbado chato.
Logo quando fui pagar a passagem do ônibus, um rapaz disse pro cobrador “Tem festa hoje em ..., né?”. E eu: “Infelizmente pra mim, sim”. Se você é a única médica na cidade, como pode ser felizmente, me diga?

O dono do parque de diversões trouxe o filhinho com uma bronquite, tratada a cada dia por um médico diferente há três semanas, uma vez que ele vive viajando. Pra variar, os habituais pacientes com dor de garganta, gastrite, criança vomitando. Finalmente conheci o diretor do hospital. A gente só se fala por telefone porque ele trabalha durante a semana. Ele me avisou que conseguiu um médico pro sábado (Aleluia!) e acabaram-se as 48 horas seguidas.
Na conversa, o diretor me garantiu que minha eterna paciente que vem diariamente à emergência tomar Diazepam finalmente vai ser consultada por um psiquiatra essa semana. A paciente tem depressão (o diretor segredou-me que ela apanha do marido, que parece tão bonzinho) mas é psicologicamente viciada na medicação. Em geral, a gente faz água destilada e ela melhora. Eu não sabia da agressão doméstica.
Um homem esfaqueou a própria mão. Embora muito pequeno, o corte era profundo, atravessando a palma da mão. Um pontinho resolveu o problema.
Uma senhora com diabetes deixou uma panela de barro cair no pé e esperou oito dias pra procurar um médico. Uma superinfecção e uma glicemia de quase 400. Expliquei que não iria confiar mais nela, medicando-a e mandando pra casa. Sabe-se lá quando ela iria de novo ao médico? Sem falar que mora sozinha. Internei-a. Velhinhos são os mais rebeldes pacientes que existem, excetuando-se os próprios médicos.
Um homem com crise de coluna tomou um comprimido de diclofenaco em casa e não melhorou. Veio tomar uma injeção porque não agüentava mais de dor. Expliquei que tinha o mesmo diclofenaco injetável, numa concentração maior e geralmente resolve. Antes, quis examiná-lo, poderia ser uma crise renal. Qual não foi nossa surpresa, as costas dele estavam vermelhas, o abdome também: alergia ao comprimido. Imagina se eu tivesse feito a injeção sem examiná-lo! Proibi Voltaren, Cataflan, etc, fiz outro antiinflamatório e encaminhei-o ao ortopedista.
Sinceramente, eu esperava que a tal corrida trouxesse um monte de gente com o pé torcido, mas não houve nenhum. Aliás, ninguém caiu e se machucou na corrida. O que movimentou a noite foi a festa.
Um rapaz, com dor de dente há dez dias(!) afinal procurou o serviço. Parecia aqueles desenhos animados: um lado do rosto superinchado.Era um abscesso dentário imenso, não dava pra resolver ali, nem dava pra esperar pra segunda-feira. Fiz um antiinflamatório pra aliviar a dor e encaminhei-o pro hospital da cidade vizinha, que tem um bucomaxilofacial de plantão. Foi a única transferência da noite.
Não se engane, o plantão foi um porre só. Vi o dia amanhecer, literalmente. Vi quando a roda-gigante do parque parou de funcionar. As brigas da festa sobraram todas pra mim. Eu havia pedido mais um auxiliar de enfermagem, o que deu uma folga pra equipe e eles puderam tirar um cochilo, mas eu era a única médica, então já viu. Interessante é que as pessoas não queriam que eu suturasse os cortes. Um rapaz levou uma garrafada na testa, ficou cheio de pequenos cortes e muito mal-educadamente, quis me dizer o que fazer. Como nenhuma das lesões dava pra suturar, deixei que ele se entendesse com a auxiliar de enfermagem.
Um rapaz foi agredido por outros sete (segundo ele). Claro, estava embriagado. Tinha um galo enorme na cabeça, o nariz sangrando e o rosto inchado, e muita manha. Aparentemente não era nada grave, um traumatismo crânio-encefálico (TCE) leve , mas toda pancada na cabeça exige observação e expliquei isso pra ele. Coloquei-o num soro glicosado devido à embriaguez e anotei o exame neurológico inicial. Uma hora depois fui examiná-lo e ele havia assinado um termo de responsabilidade (como alguém desacompanhado e embriagado pode ser responsável por si mesmo é coisa que não entendo).
Enquanto eu atendia esse rapaz, informaram que estava chegando uma facada. Era uma facada no nariz, depois de uma tentativa de assalto. Dava pra ver o osso do nariz, lascado. Pra variar, o homem não queria que suturasse. Fiz com que ele assinasse, com testemunha, o risco de infecção, incluindo uma meningite (devido à vascularização da área).
Dois rapazes, já voltando da festa, sóbrios, tiveram a má sorte de estourar um pneu da moto. Muitas escoriações e uma sutura, se não me engano. A essa altura eu estava dormindo em pé.
Não lembro qual o último paciente do plantão, sinceramente.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Diversão da tarde


Com direito a trilha sonora impecável
Mrs. Robinson

And here’s to you, Mrs. Robinson
Jesus loves you more than you will know
(Wo wo wo)
God bless you, please Mrs. Robinson
Heaven holds a place for those who pray
(Hey hey hey – hey hey hey)

We’d like to know a little bit about you for our files
We’d like to help you learn to help yourself
Look around you, all you see are sympathetic eyes
Stroll around the grounds until you feel at home

And here’ to you, Mrs. Robinson
Jesus loves you more than you will know
(Wo wo wo)
God bless you, please Mrs. Robinson
Heaven holds a place for those who pray
(Hey hey hey – hey hey hey)

Hide it in a hiding place where no one ever goes
Put it in your pantry with your cupcakes
It’s a little secret, just the Robinson’s affair
Most of all you’ve got to hide it from the kids

Coo coo ca choo, Mrs. Robinson
Jesus loves you more than you will know
(Wo wo wo)
God bless you, please Mrs. Robinson
Heaven holds a place for those who pray
(Hey hey hey – hey hey hey)

Sitting on a sofa on a Sunday afternoon
Going to the candidates’ depate
Laugh about it, shout about it
When you’ve got to choose
Ev’ry way you look at it you lose

Where have you gone, Joe DiMaggio?
A nation turns its lonely eyes to you
(Woo woo woo)
What’s that you say, Mrs. Robinson
‘Joltin Joe’ has left and gone away?
(Hey hey hey – hey hey hey)

A cristã acorda às cinco da manhã com medo que o despertador toque e acorde alguém na casa onde ela dorme como convidada e fica cochilando e acordado a cada cinco minutos porque dava pra dormir mais, mas ela pode perder a hora. Sai ainda com o dia amanhecendo, descobre que não nasceu nenhum menino em 12 horas na cidade. Segue pra enfermaria de Pediatria onde sempre tira gente da cama pra examinar, crianças ainda com remela nos olhos, dormindo de olho aberto. Claro que sempre tem umas pimentinhas que nem devem dormir, de tão alertas num horário desumano daquele.
A católica que não pisa na Igreja há meses vai perguntando sobre xixi, cocô, tosse, febre, catarro, etc, etc. Deveria perder a fome, mas quando termina vai tomar café, porque almoço só depois do último paciente, o que pode ser às duas da tarde. Descobre no caminho pro refeitório que um técnico de enfermagem muito querido passou no vestibular e que outros funcionários estão na lista pra serem remanejados. Avisa pra todo munundo rezar, porque ela já esteve numa lista de espera assim pra Medicina e entrou, no segundo remanejamento, na segunda entrada. Pra quem havia estudado seis meses, em Medicina, tá bom demais. No final, o diploma é o mesmo.
Ela atende um atrás do outro, crianças, adultos, velhinhas. As velhinhas e crianças adoram ela. Sei lá por quê.
Então um paciente novo entra e diz que tem AIDS. Já abriu o exame, que fez por conta própria. Dá um aperto no coração alguém ainda tão jovem com a vida comprometida assim. Ela se solidariza e abre o exame. Não reagente. NÃO REAGENTE. Ele não entendeu o que leu, não acredita nela. É difícil acreditar numa boa notícia. Dez anos com uma dúvida que virou certeza nos últimos dias, sem coragem pra mostrar prum médico, pra contar pra companheira há dez anos. É preciso mostrar que o REAGENTE que ele leu é a explicação de valores anormais, que ele entendeu errado, que a médica trabalhou seis anos na enfermaria de infectologia da capital e sabe do que fala. Ele não acredita, ela é muito nova. Ele não quer acreditar, depois não consegue chorar de alívio. O pesadelo acabou.
Hoje ela vai ter mais oração de agradecimento na hora de dormir. A Igreja? Deus entende.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Alguém me explica como se paga pra levar choque?

Pois então, eu estou com uma tendinite no punho esquerdo, que não dá pra imobilizar porque médico não pára nunca de escrever. Então, o remédio é colocar gelo e fazer fisioterapia, que consiste em ultra-som e TENS. Ultra-som é bem parecido com o exame: coloca aquele gel melequento e fica passando aquele transdutor, o que muda é a intensidade das ondas, o aparelho, etc. O TENS (que tem um nome em inglês bonito) não passa de um aparelho chique de dar choques no local pra, pra... esqueci. E o fisioterapeuta explicou bem direitinho, viu? O pior é que ele vai ler isso aqui.
Ah, meia hora de choques a cada sessão. Na verdade, quem paga é a UNIMED, mas eu pago a UNIMED, então...

terça-feira, janeiro 24, 2006

Plantão de domingo

Maravilhosa madrugada, às cinco da manhã com uma mulher vomitando sem parar, com uma crise de labirintite.
Às três da tarde, um tradicional bloco de carnaval da oposição política começou a tocar. Como a cidade é imensa (4 mil habitantes) dava pra ouvir tudo. Então começaram a chegar os acidentes e gente que não sabe beber. Uma moça sem comer há 24 horas bebeu duas cervejas e estava tonta. Claro, né?
Os imbecis do bloco, não contentes com o barulho, passaram com o trio em frente ao hospital, onde a paciente com labirintite continuava, com náuseas (se o labirinto fica dentro do ouvido e tem um trio elétrico tocando, não tem como melhorar). E ainda tentaram invadir a emergência. Parece que é tradição, todo ano é a mesma coisa. Ainda bem que alguém pensou este ano e colocou cinco seguranças na entrada. Ainda chegou gente que apanhou da briga dos outros. Mais tarde, dois rapazes cheios de escoriações, um deles com o braço machucado, que estavam voltando da festa numa moto e o pneu dianteiro estourou. Podia ser pior.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Então eu soltei os cachorros com o filho da puta que por acaso é meu irmão (eu tenho dois irmãos, um deles é maravilhoso, o outro...). E tinha prometido telefonar pro meu pai pra dar notícias sobre o tal irmão inútil, que está doente há dias, internado e tudo o mais. Depois de garantir que não pago o enterro dele, disse pro meu pai (com quem mantenho relações tipo, de sobrinha pra tio) que vou mesmo me mudar pro interior, e dane-se especialização, residência médica e outras imbecilidades que inventaram nessa profissão de merda que temos em comum. Cansei de agradar ao mundo.
Deu pra sentir a desilusão na voz do velhinho. Alguém que aprendeu a ler aos 18 e aos 36 tava formado em Medicina, que fez residência, especialização, prova pra título de especialista e acaba de concluir mais uma reciclagem aos 63 anos.
Eu nem devia ter nascido, pra falar a verdade.
Tá bom, podem jogar pedras. Eu não conheço Damien Rice. Acabo de procurar alguma coisa no e-mule pra escutar e dizer se gosto. Nunca fui muito ligada em cantor estrangeiro. Pode me chamar de desinformada. Eu vou adorar. Depois de anos querendo saber tudo que acontecia no mundo eu resolvi ser ignorante: é óoooooooooootemo.

Soneca da tarde

Quando vc sonha com o Bonner, vítima de sequestro junto com você, e bichando como tática pra escapar, tá bom de mudar de emprego e dormir melhor.

Plantão de Domingo?

Quando aparecer coragem, eu conto o resto.

Do Drops da Fal

quatro empregos que você já teve:
1. vendedora de pastel (e com isso paguei minha inscrição do vestibular)
2. vendedora de maquiagem (e pagava minha condução com isso)
3. cantora de coral (e paguei a faculdade assim)
4. vendedora de lingerie (pra pagar as contas mesmo)
quem sabe um dia: 5. Cantora de bar

quatro filmes que você poderia assistir infinitamente:
1. O casamento do meu melhor amigo
2. Erin Brockovichy
3. Até o limite da honra
4. 28 dias
(E vamos parando por aqui senão eu não acabo nunca)

quatro lugares em que você morou:
1. Na rua das Algas, 2179 (depois de seis ou sete aniversários, cada um em uma casa diferente. Até parece que o cigano era meu pai)
2. Na rua Conde de Vila Flor (minha mãe insiste que 'o tal conde era viado')
3. Na Barão de Souza Leão
4. Na Conselheiro Aguiar (e nunca ia à praia)

quatro programas de TV que você adora assistir:
1. Jornal Nacional (e não é por causa do Bonner)
2. Programa do Jô
3. Arquivo X (é, ainda)
4. 24 horas

quatro lugares em que você já esteve de férias:
1. Natal
2. Mossoró
3. Maceió
4. Fortaleza
(e daí que é só Nordeste? Preciso conhecer minha casa primiero)

quatro blogs que você visita diariamente:
1. Drops da Fal
2. All things
3. Naked if i want to
4. Alta fidelidade

quatro de suas comidas favoritas:
1. Sopa de aveia, lógico
2. O bolo gelado da minha mãe
3. A farofa de Doda
4. Pizza

quatro lugares em que você preferiria estar agora:
1. minha cama (depois de 48 horas de plantão?)
2. Na casa de praia de Doda, em Santa Rita-RN
3. No meu sofá, reassistindo “o sorriso de Monalisa”
4. Nos braços de um certo homem que não é o ex

quatro discos sem os quais você não pode viver:
1. Qualquer um do Kid Abelha
2. Perfil, da Ana Carolina
3. o programa do e-mule, né?
4. A trilha sonora de “o casamento do meu melhor amigo”

quatro carros que você já teve:
1. um passat verde
2. um Uno Prata
3. um Uno Prata zero (recebo amanhã!)
4. um dia, um doblô, quem sabe...

quatro livros que você relê de vez em quando:
1. A ilha do tesouro, de R. L. Stevenson
2. Qualquer um do Monteiro Lobato
3. Médico de Homens e de Almas
4. A cidadela, de A. J. Cronin
5. O fantasma de Canterville
(tá, eu vivo relendo tudo que já li)

Especial de sábado

O atendimento mais interessante do sábado merece um post à parte. Dois pacientes de famílias distintas, acima de 50 anos, que moram próximos, haviam sido atendidos no serviço na sexta-feira, com cirve hiperttensiva, e um deles ainda tinha diarréia.
Retornaram 24 horas depois com confusão mental e agitação. Um deles sequer sabia o próprio nome. Nas fichas do dia anterior, havia algumas medicações em comum: um comprimido e duas injeções. Depois soubemos que uma das injeções não havia sido feita porque estava em falta.
Minha primeira suspeita foi contaminação da medicação, com uma consequente encefalite (uma infecção dentro do cérebro) ou meningite. Fiz um relatório e encaminhei imediatamente ambos à capital pra avaliação de um neurologista. Antes, eu precisei sedar um deles, de tão ruim que estava, tentando até fugir.
Separei a medicação suspeita e enviei pra Vigilância Sanitária do município. Pois dá pra acreditar que a acompanhante de um deles não queria permanecer no hospital da capital porque não tinha uma cama pra ela dormir? E o pai/avô naquele estado?
No domingo, a família estava no serviço exigindo um carro pra buscar os dois porque estavam de alta. Eu duvido que estivessem. Devem ter assinado um termo de responsabilidade, isso sim.

Só se envia um paciente do interior pra capital quando o caso é grave. Ninguém desfalca a equipe (auxiliar, motorista) pra uma viagem de mais de duas horas pra ouvir do outro médico um pitaco apenas. Geralmente a gente sabe o que fazer mas não tem recursos (exames, equipamento), daí a transferência.
O hospital pra onde enviei os dois é o melhor em urgência neurológica do Estado. Quando a madrasta da minha mãe teve um derrame, foi pra lá que eu a levei, embora seja público. E a minha mãe dormia numa cadeira lá. no entanto, em uma hora de atendimento ela estava sendo levada pra uma tomografia. No mesmo ano, meu irmão sofreu um acidente e precisou de uma tomografia de urgência, com suspeita de uma fratura de vértebra, num hospital particular. Precisamos deixar uma caução, pedir autorização pro convêncio, o maior rolo. É preciso saber ceder de vez em quando, pensar no melhor tratamento pro paciente.

Plantão de Sábado

A boa notícia é que aquela recém-nascida da semana passada teve alta. Sobreviveu, sim, e não deve ter tido infecção ou ainda estaria no hospital. Só não sei quando ao dano cerebral. Tenho consciência de ter feito o que pude. Aliás, eu aprendi a tal manobra que o médico metido criticou por eu não ter feito, mas não fez o favor de ensinar. Crítica sem sugestão é mesmo que nada.

A mãe me traz um filho cheio de feridas (perebas mesmo), que passou a consulta inteira se coçando, coitado. Será que essa mãe é cega, que não vê o filho se coçando? O coitado cheio de sarna, tão machucado que não dava pra colocar remédio local. resultado: uma benzetacil, um anti-histamínico pra aliviar a coceira e a criança poder dormir. tratar a sarna? Só semana que vem, porque ia arder demais.

Uma moça com histórico de tentativa de suicídio há um ano, perdeu a voz de repente. Minha primeira pergunta:" Você teve alguma raiva?". Claro que sim. Histeria dá afonia, senhoras e senhores. Não havia nada de errado na garganta dela. tem gente que grita quando tem raiva, tem gente que cala.

Uma senhora com diabetes se queixando de tontura quando acorda. Toma o remédio (que baixa o açúcar do sangue) mas não come pela manhã. Um custo fazê-la entender que DIABÉTICO TEM QUE COMER NA HORA CERTA, mesmo sem ter fome. Que precisa fazer exame de sangue toda vez que sentir qualquer coisa, e que o exame do mês passado me mostra a situação do mês passado, não serve pra tontura dessa semana, quando a dose do remédio aumentou.

Mais um habitual caso de diarréia, sem uso de soro caseiro. Será que esse povo não assiste televisão? Talvez se colocar a receita na novela...

Uma senhora com uma broncopneumonia, sem tomar bastante líquido. Depois de um litro e meio de soro, nebulização e iniciar antibiótico, a secreção começou a sair. A nebulização só melhorou a falta de ar. E duas doses de antibiótico não curam ninguém.Não se engane: SORO É ÁGUA COM SAL OU COM AÇÚCAR. Faltava era água pra 'afinar' o catarro. TOSSE COM SECREÇÃO MELHORA MESMO É COM BASTANTE LÍQUIDO(lambedor e xarope dão sede, daí porque funcionam), se a secreção está 'fina', sai mais fácil e a criatura pára de tossir.

Mais um paciente com pressão alta que só vai ao médico quando passa mal. Nada de tomar medicação, fazer acompanhamento médico ou dieta. Por favor: se em três verificações de pressão arterial, em ocasiões distintas, dão elevadas, você tem hipertensão e precisa tratar, seja só com dieta e mudanças de hábito de vida (perder peso, fazer exercício) seja com medicação. Procure um médico. MESMO QUE A PRESSÃO SÓ SUBA QUANDO VOCÊ SE EMOCIONA, ISSO É HIPERTENSÃO!

Um bêbado (chato, pra variar) com uma facada na coxa. Deve ter enchido o saco de alguém, e veio encher a minha paciência. Por que bêbado ou é cheio de direito ou é cheio de manha? Parecia que tinha quebrado qualquer coisa de tanto que gemia. Não parava quieto pra eu fazer a anestesia, a limpeza e a sutura. E estava em delírio de megalomania, comum em bêbado. Queria me dar uma vaca de presente (se eu não tenho onde botar um galinha, avalie uma vaca), me prometeu um monte de laranjas-cravo (tangerina ou mexerica) e não tinha dinheiro nem pra voltar pra casa.

A noite fechou que uma daminha de honra linda, parecia a noiva de tão chique, toda de branco, de vestido com calda, todo bordado, de colar, coroa e brincos, com dor de cabeça. Coitada. Deve ter passado horas sem comer depois de arrumada, na cerimônia, com aquelas luzes de filmagem.

Oxente?

Acabo de acessar o blog e descobri que o template tá pretinho, pretinho. Não fui eu, viu?

sábado, janeiro 21, 2006

E a garotinha que voltou na semana seguinte só pra ver a "doutora bonita"? Criança tem cada idéia...

Melhor que isso, só a mãe que trouxe o filho com uns panos brancos, uma anemia leve e com um nome de diretor de cinema. Eu conversei tanto com eles que esqueci de passar o remédio da micose. Sim, gente, médico também esquece das coisas. Lembrei quando cheguei em casa. No dia seguinte, eu telefonei pra mãe, morta de vergonha. Ela aceitou numa boa, pensou que nem precisava de remédio, já que eu não tinha passado nada. Que mico.

E a mãe que me trouxe a criança com dores abdominais, me fez examinar, solicitar exames, etc, me voltou com os resultados e tinha uma anemia bem discreta. Alguma coisa me deu um estalo: "Olha, eu vou pedir mais exames, tem uma doença chamada anemia falciforme...", "Ah, eu tenho, sou acompanhada no HEMOPE". Ela achava que toda anemia era a mesma coisa e que era besteira. E a menina passou uma semana com uma dor fortíssima, digna de tomar um derivado de morfina, soro, ficar internada, porque a mãe não me disse nada. E eu sempre pergunto se tem alguma doença na família, viu?

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Presente pra médico

Então, a paciente agradecida me trouxe um presente por curar a tosse de um mês, que não era tuberculose, nem nada. O presente tinha sido prometido, mas eu não imaginei que fosse tanto: uma galinha. Viva.
Já ganhei uma galinha antes, mas aquela veio mortinha e limpa. Até temperada estava, mas essa... Essa veio viva, com aquele ar inocente, botando a cabeça pra fora da sacola. Quando a mulher saiu, depois de eu agradecer muito (pois eu me derreto toda com essas gentilezas), eu tive uma crise de riso. O que é que eu ia fazer com uma galinha dentro de um apartamento? As recepcionistas deram a idéia de levar pra cozinha do hospital, que lá as cozinheiras matavam.
Mais tarde, lá vem a cozinheira me dizer que não podia matar a galinha, porque ela estava choca. E comer galinha choca faz cair o cabelo. Pessoalmente, eu não acredito nessas coisas, mas é preciso respeitar a crença alheia quando se é médico.
Então, a cozinheira levou a Cremilda (ela tem mesmo cara de Cremilda, a tal galinha) pra casa, pra botar os ovos e só então matar. Ela que fique com os pintinhos. já pensou? Galinha e pintinhos num apê?

I want to belive

PROJETO FIXA MÁXIMO DE 12 HORAS PARA PLANTÃO MÉDICO
A Câmara analisa o Projeto de Lei 6172/05, do deputado Marcos Abramo (PP-SP), que proíbe o trabalho ininterrupto de médicos em regime de plantão presencial por mais de 12 horas. A proposta altera a Lei 3999/61, que fixa a jornada diária normal de trabalho dos médicos em no mínimo duas horas e no máximo de quatro horas. Aos médicos que tiverem mais de um empregador, a lei proíbe o trabalho além de seis horas diárias. Mediante acordo escrito ou por motivo de força maior, a lei permite acréscimo de até duas horas suplementares. Não há referência a plantões, que normalmente são de 12 horas, não havendo proibição legal para que se estendam além disso.Marcos Abramo destaca que é freqüente médicos trabalharem por mais de 30 horas seguidas, especialmente nos dias em que acumulam um plantão noturno intercalado entre dois períodos diurnos de trabalho. (Agência Câmara)

terça-feira, janeiro 17, 2006

Eu sou um gênio!

Tá certo, eu consegui o template num site, mas...e recuperar todos os comentários do template antigo? E ajustar tudo? Sem saber html! Foi uma hora e meia de sufoco. Primeiro não tinha coments, depois não tinha título, nem previous posts, arquivos, e eu consegui. Sozinha!

Mas por alguma misteriosa razão, quando se coloca a caixa de comentários, a acentuação desaparece, por isso, vou manter o layout anterior até descobrir como resolver o problema. É muito chato ficar adivinhando o que deveria estar escrito!

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Balanço Gil de Ano-Novo

1) Melhor coisa que fiz para mim
encerrar meu namoro/casamento/carma.

2)Melhor coisa que fiz para alguém
encerrar meu namoro/casamento/carma e voltar a falar com minha mãe

3) Melhor coisa que fizeram para mim
Reconhecer que eu estava mesmo doente e não conseguia trabalhar

3)Pior coisa que fiz para mim
Não assumir logo o PSF em outubro.

5) Pior coisa que fiz para alguém
Adotar uma cachorra

6) Pior coisa que me fizeram
Duvidar da minha responsabilidade profissional

7) O que eu queria ter dito e disse
Vão se danar

8) O que eu queria ter dito e não disse
Larga essa chata e fica comigo! (Não era pro ex, bem entendido)

9) O que eu queria ouvir e me disseram
“Ou você pára de trabalhar agora e vai pra casa ou eu interno você”

10) O que eu queria ouvir e não disseram
"Vamos tentar de novo."

11) O que disse que ia fazer e fiz
Um projeto do escritório, com direito a desmontar o antigo guarda-roupa pra fazer as prateleiras, tudo sozinha!

12) O que disse que ia fazer e não fiz
Emagrecer

13) O que disseram que iam fazer por/para mim e não fizeram
renovar o contrato do aluguel do meu apartamento (perdi o projeto do escritório)

14) Momento mais feliz
E se eu disser que não lembro?

15) Momento mais angustiante
Eduardo saindo de casa.

16) Momento inesquecível
comunicar a uma mãe que sua filha nasceu cega.

17) A música ressuscitada do ano
"Garganta"

18) A música que me guiou durante o ano
“começar de novo“

19) O meu lema foi...
Eu consigo!

20) A nota para este ano
Seis. E tá de bom tamanho.
E as passagens de ônibus que iam ser diminuídas em janeiro, cadê?

Perfeito, perfeito!

É Isso Aí
Ana Carolina
Composição: Ana Carolina

É isso aí
Como a gente achou que ia ser
A vida tão simples é boa
Quase sempre
É isso aí
Os passos vão pelas ruas
Ninguém reparou na lua
A vida sempre continua

Eu não sei parar de te olhar
Eu não sei parar de te olhar
Não vou parar de te olhar
Eu não me canso de olhar
Não sei parar
De te olhar

É isso aí
Há quem acredite em milagres
Há quem cometa maldades
Há quem não saiba dizer a verdade

É isso aí
Um vendedor de flores
Ensinar seus filhos a escolher seus amores

Eu não sei parar de te olhar
Não sei parar de te olhar
Não vou parar de te olhar
Eu não me canso de olhar
Não vou parar de te olhar

Do Drops da Fal

"..tem de um tudo, mas sejam bons e pacientes comigo, foi uma lenha de dia, entrei em casa nesse segundo, eu preciso duma secretária, dum boy e de uma mãe de santo de plantão."

Só você?

Atenção!

Com a última reforma no PC (mouse óptico, gabinete, super woofer, módulo isolador e troca de placa) eu perdi todos os meus favoritos. Como só sei o nome de uns poucos blogs de cor... sem falar nos endereços de sites médicos. PQP.

Agradeço se me enviarem novamente seus endereços. Sei o da Ju (Naked if I want to), da Fal, de Vicky (claro) e da Raquel. Por favor, Gil, Lylian Porto, Beth, Meg, Ana Paula e outras, help!
Alguém já viu hepatite sem icterícia (a cor amarela nos olhos)? Eu já. Não se engane, nem toda hepatite amarela os olhos. Por isso, a maioria dos casos passa desapercebida.

Plantão de domingo

Começou bem, examinado um RN que havia nascido na noite anterior. Gosto de ver recém-nascidos com a luz do dia, pra avaliar se estão amarelinhos. É um menino lindo, bem gordinho. A mãe estava bem.

Aí pegou fogo. Um senhor enorme, bem forte, chegou dizendo que havia quebrado o braço, na verdade havia deslocado o ombro. Normalmente eu coloco no lugar,mas ele era muito forte e a cadeira não tinha um espaldar alto que permitisse um bom apoio pra manobra. Então, fiz um antiinflamatório pra aliviar a dor e o encaminhei pro hospital regional na cidade vizinha, onde tem ortopedista de plantão.

Pois não é que só fizeram enfaixar o homem pra imobilizar o ombro e o mandaram pro ambulatório? E sem nada pra tomar em casa por causa da dor?! Foi a primeira vez em todos esses anos que não consegui reduzir um ombro sozinha. Fiquei pensando que estava inflingindo dor desnecessariamente porque não tinha força suficiente, mas que havia um especialista tão perto, com colegas que poderiam fazer força junto...

Uma porção de gente com vômitos e/ou diarréia. Adultos e crianças, de diferentes locais. Pedi que notificassem à vigilância sanitária. Sei que é época de rotavírus, mas de hepatite também. Falando em doença contagiosa, mãe e filho com catapora (o garotinho adorou o nome ‘catapora” e ficou repetindo). Em adultos, catapora (ou varicela, ou bexiga, como chamam por aqui) é muito pior, mais agressivo. Orientei pra transmissão, prescrevi medicação anti-séptica pra evitar infecção secundária e um anti-histamínico pra coceira, proibi sair de casa. E notifiquei pra vigilância. catapora pode causar aborto.

Entre as crianças com vômitos, estava uma menina de uns cinco anos que já havia vindo na emergência há uns dois meses e sabia meu nome! Tá, é um sobrenome incomum (ou vcs pensam que eu me chamo valadares?). Memória de criança é fogo. O nome dela é T.

Outro pequenino (M.) caiu e cortou o queixo, a ferida corto-contusa preferida de 9 entre 10 crianças. Eu expliquei tudo que ia fazer, inclusive a injeção de anestésico. O pai só fazia atrapalhar: “não tem injeção, não vai dor, homem não chora”. O garoto foi dez, chorou um pouquinho, mas não se debateu, depois que viu que estava anestesiado, conversou enquanto eu suturava. “Quando você for maior, diz pras meninas que foi um grave acidente e não vai faltar namorada”. Ele saiu de lá rindo com a seringa de injeção na mão. Sem agulha, claro.

Um senhor acidentado de moto. Fratura de tíbia e ossos do antebraço. Pedi que não o retirasse do carro onde estava porque não dava pra resolver ali, além de poder piorar a fratura movendo-o pra ambulância, já que eu não tinha uma tala. O motorista entendeu que não era má vontade (graças a Deus, porque tem gente que acha que não quero ceder a ambulância, que está lá pra isso mesmo). Fiz um analgésico e ele seguiu pro hospital regional.

A moça da urticária voltou, toda inchada, em uso de anti-histamínico e comendo uns salgadinhos numa festa de aniversário! Chocolate e corantes raramente causam alergia, eles exacerbam o problema. Nova dose de corticóide, nova bronca.

Uma mãe trouxe o filho com febre, mas antes de sair de casa deu dipirona. Eu não podia medicar de novo. O jeito foi embrulhar o menino num lençol molhado e esperar o efeito da dipirona que a mãe havia dado em casa!

Pra coroar, um rapaz de 18 anos, às cinco da manhã com uma cólica nefrética. Ele já expeliu diversos cálculos renais, faz uma dieta com restrição severa de cálcio, mas sempre forma mais pedras. Ainda bem que ele já sabe com o que melhora, e a dor passou logo. Tem paciente que faz todos os analgésicos do hospital até a gente acertar.

Ainda bem que só faltam dois plantões de 48 horas este mês!

Plantão de sábado

Claro que um sábado tão especial não deixaria de ter outras emergências.

Por volta das onze, chegou uma velhinha com diabetes, hipertensa, se queixando de falta de ar e tosse com expectoração amarela. Justo neste dia, eu não tinha um técnico de radiologia. Pelo exame físico, me convenci que ela estava com pneumonia e uma provável insuficiência cardíaca. Fiz o internamento, solicitei um parecer cardiológico, raio X, etc. Ela nem estava muito a fim de ficar, mas expliquei que podia piorar. Uma dificuldade pra pegar uma veia. “É melhor ter um acesso pro caso dela piorar, imagina pegar uma veia tão difícil no meio de uma emergência”.

Expliquei pro filho dela que aquele soro devia ser bem lento, só pra manter a veia permeável, pra fazer as medicações (pacientes cardíacos não podem recebem muito volume porque o coração não agüenta bombear, mas as pessoas ficam impacientes com a lentidão das gotas e abrem o soro, podendo matar a pessoa). Quinze pra meio-dia me chamaram, já na enfermaria, a paciente estava morrendo. Não adiantou medicação, massagem. A pressão havia subido, piorado o trabalho do coração e o pulmão se encheu de líquido. Morreu afogada no seco.

Logo a seguir, outro paciente internado vomitou escuro, em borra de café. Já é um conhecido meu. Tem esofagite e um aspecto de doente grave. Parece anêmico, mas o hemograma é normal. Nada me convence que seja só a esofagite. Pedi uma ultrassonografia. Mas naquele momento, o vômito indicava sangramento. Como ele estava estável, não tem anemia, o vômito foi pouco, resolvi observar. Se o sangramento se repetisse, eu o transferiria. Não se repetiu. Registrei no prontuário, claro.

Uma moça, 24 horas depois de começar a inchar e ter placas vermelhas pelo corpo, resolveu aparecer. Uma urticária séria, provavelmente por medicação. Enquanto fazíamos a medicação, a garganta dela começou a fechar e a opção foi fazer adrenalina. Um sufoco. Essa foi antes do parto pélvico.

Enquanto isso, chegou uma mulher que havia bebido (pouco) com uma acompanhante que havia bebido também (bastante). Você não sabia quem socorrer. Mas a paciente havia desmaiado. Tinha tido uma briga com o marido e começou a beber de estômago vazio: hipoglicemia e histeria. Quando essa estava melhorando, chegou o parto pélvico. Corre pra tirar a moça da maca, eu carregando a mulher e precisando socorrer a parturiente. Ninguém vinha me ajudar a carregar a mulher, que, ainda embriagada e dopada de tranqüilizante não andava sozinha. A filha dela veio ajudar. E acabei conseguindo entrar no carro onde a outra havia dado à luz pela metade. E segui pra cidade vizinha.

Enfim, noite. Outro banho, depois do parto. Pedi que lavassem minha bata (uma mistura de secreção de parto, sangue, fezes e graxa da maca, onde eu sentei a cavaleiro). Então chegou um rapaz com uma queimadura. A churrasqueira caíra por cima dele. Costuma beber, mas dessa vez estava sóbrio. A família negou veementemente epilepsia (depois eu soube que ele costuma ter uns desmaios). Queimaduras de 2º e 3º graus, o rapaz nem sentia dor, porque os terminais nervosos haviam sido destruídos. Peito, pescoço, parte das costas e couro cabeludo. E ainda tinha gente querendo me convencer que dava pra resolver ali, sem nem uma pomada pra queimadura! Instalei um soro em cada braço (queimado desidrata num minuto), pedi pra técnica em enfermagem levar uns dez tubos de soro (500 ml cada) pra colocar à medida que fossem secando e o mandei pra cidade vizinha, que tem um hospital regional. Ele acabou seguindo pra capital e ainda está lá.

Vida de médico

Sem melhora da RN (recém-nascida) de sábado. Um parto pélvico, na estrada, dentro de uma ambulância, às seis da noite. A mãe já chegou com a criança do lado de fora, com a cabeça do RN presa, dentro de um carro. Uma luta pra eu retirá-la de lá e colocá-la na ambulância, eu (com uma tendinite no punho) e o motorista (com uma hérnia de disco). Mais de dez minutos pra desprender o pólo cefálico, Apgar 0 (nota dada quando a criança nasce pra avaliar condições de vitalidade, Apagar 0 é nota 0), não sei quando e se o coração começou a bater porque o balanço do carro não me permitia avaliar.

Massagem cardíaca e respiração boca-a-boca porque não tinha um ambu. Aquecimento com campos não estéreis, aspiração com uma sonda uretral e uma seringa de 20 ml, O2 pela mesma sonda, uma clavícula quebrada. Depois de uns 15 minutos chegamos na maternidade de referência. Desci da ambulância certa que carregava um cadaverzinho nas mãos, mas por via das dúvidas, só cortei o cordão quando chegamos. Eu sabia que era a via de acesso mais fácil pra infundir soro e drogas.

Entrei sala de parto adentro “com licença, com licença” e pedindo um monte de coisas, inclusive uma pediatra. Não acreditei nas minhas mãos, que tremiam, quando senti o batimento daquele coração. Pedi pra uma auxiliar confirmar. Estava batendo. Fiquei lá, ajudando a ventilar com o ambu, pedindo desculpa por não ter feito mais pois não tinha material pra isso, e a pediatra me agradecendo, dizendo que eu tinha feito o possível. Nem sei se outro médico teria feito boca-a-boca, naquela mistura de secreção de vias respiratórias, sangue e as fezes da mãe na cabeça da criança.

Eis que chega um homem, médico ou enfermeiro, todo cheio de pose, dizendo que eu devia ter ficado com a paciente lá naquela cidadezinha com uma emergência que é um postinho melhorado. Disse que dava pra ter retirado a criança com a manobra tal, que era muito fácil, e só então trazer a criança. “Doutor, eu não entendo tanto de obstetrícia, eu entendo mesmo é de neonatologia. O último parto pélvico que vi, a cabeça da criança ficou encravada, foi preciso cortar o corpo, quebrar o crânio e retirar os pedaços. E isso era um prematuro (bem menor), numa maternidade cheia de residentes e staffs. Eu não quero ver isso nunca mais”. O que mais eu ia dizer?

A RN não respirou, foi intubada e está num respirador desde antes de ontem. Continua grave. Se sobreviver, vai ter algum dano neurológico porque faltou oxigênio enquanto estava presa e o cordão umbilical não passava sangue porque estava comprimido pela cabeça. Será que a mãe vai entender ou vai passar o resto da vida desta criança dizendo que era melhor ter morrido logo?

Em tempo: após os testes, hoje foi confirmado que a RN não tem sífilis e é HIV negativo.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Em Recife, ser seguida por uma bicicleta às sete da noite pode ser motivo pra pânico. Na verdade, a bicicleta estava emparelhada comigo e manteve a mesma velocidade que eu, a pé. Pensei: "Vai que o cara tava só dando uma olhada", então encarei. Era um senhor, de uns 60 anos, magrinho, que olhou de volta e manteve a velocidade. Não tive dúvida: parei na primeira casa que tinha gente. Umas mulheres estavam no portão, uma delas se despedindo. Ficamos ali, conversando e de olho na bicicleta, que seguiu, devagarzinho, até a altura de um bar bem movimentado, ao lado de onde moro. Se ele estivesse me esperando dava pra gritar por socorro ou entrar no residencial onde moro.
Vai ver que era só um velhinho com artrite ou (muito improvável) que gosta de admirar mulheres gordinhas, mas a gente anda vendo chifre em cabeça de cavalo, por via das dúvidas.

Amanhã eu vou começar a procurar um carro.

Falando em PSF...

Sabe aquela história de "espremer" os atendimentos? Um médico do interior do estado tem PSF e plantão no mesmo dia! Ou seja, ele vai pro posto, dá uma enrolada, e vai pro plantão em outra cidade, onde (obviamente) chega atrasado. Então a supervisão do Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual de Saúde chegou na hora que ele estava se mandando. E o plantão ficou sem médico!

Agora, será que ele não aprendeu em Física, no segundo grau, que um corpo não ocupa dois espaços ao mesmo tempo?

terça-feira, janeiro 10, 2006

Indubitavelmente, esta é a música-tema de minha vida profissional:
“Vim parar nesta cidade
Por força das circunstâncias
Sou assim desde criança
Me criei meio sem lar”

Trabalho novo

Um PSF! Quem acompanha a história desde o outro blog, sabe que eu adoro o Programa de Saúde da Família. O problema é que sou uma chata incorrigível, gosto das coisas bem feitas, e o programa é atrelado a política, o que não combina muito comigo. Uma carreira que eu jamais seguiria seria a de diplomata, mesmo porque seria despedida na primeira semana. Claro que a idade me deu alguma maturidade e a experiência de vida mostra que não adianta dar murro em ponta de faca, mas ainda sou esquentada, sim.
Estudei Saúde Pública na cidade-modelo do país na época para o PSF, então já viu. Quanto mais longe da capital, mais o programa é deturpado. Sim, eu sei que cada população tem seu perfil e suas necessidades, mas um programa que promove a saúde através da prevenção (ao invés de ser apenas curativo) não pode funcionar por livre demanda.
Se tudo funcionasse como se deve, a porta de entrada ao sistema de saúde de todo morador do município seria o PSF, exceto em caso de urgência, quando ele procuraria o pronto-socorro.
Adivinhe! Não é assim. Nos municípios pequenos há uma forçada na barra, no sentido de não deixar ninguém voltar do posto sem ser atendido, pro prefeito "ficar bem" com a população. Não se pode esperar pra amanhã pra pedir exames de rotina.Ora, se você quer um atendimento de qualidade, como pode atender 30, 40, 50 pessoas num dia? Como você pode atender direito aquele diabético que toma o remédio quando quer, vai na emergência da cidade quando se sente mal mas não faz o acompanhamento sempre com o mesmo médico? A emergência se transforma num outro ambulatório e, enquanto você está tentando convencer o diabético que açúcar faz mal, que precisa perder peso, etc, tem outro paciente infartando no corredor, esse sim precisando da estrutura da emergência.
Sem falar que a maioria dos colegas médicos não quer ficar oito horas no posto, cinco dias por semana. Pessoalmente, acho que é essa a principal razão do programa não funcionar. Eles espremem os atendimentos necessários em três, quatro dias com turnos de quatro a seis horas. Isso se chama "tocar serviço". Claro que sobram dias sem médico no posto e a população vai pra emergência, óbvio. Mesmo que não seja emergência.
Taí porque a saúde está como está. Independente do Governo, a própria população não faz por onde melhorar.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Eu quero dormir!

48 horas de plantão, duas horas de viagem, uma trouxa de roupa lavada e uma superfaxina no banheiro ao som de "kid abelha". Não consigo dormir, e estou exausta. Não, não sugira Lexotan, diazepan e outras porcarias do gênero. não funcionam comigo. Roypinol não funciona (tomei há uns anos, prescrito por minha psiquiatra, depois de três dias sem dormir mesmo). Nem na veia, uma vez que cansei de fazer endoscopia e sair dirigindo (não recomendo pra ninguém, sob nenhuma hipótese) pra desespero do meu gastroenterologista e professor. Aliás, uma vez fizeram um sossega-leão, pré-anestésico, quando retirei os quatro 3os molares de uma vez. Eu bem que avisei pro anestesista que não funcionava: conversei a cirurgia inteira, completamente consciente, apesar de ficar meio tonta.
Será que uma paulada funcionaria? Sugestões, please!

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Torta do Super-homem

O nome verdadeiro é Torta de Legumes, mas mãe sempre inventauma historinha pra convencer filho a comer verdura. Lembro claramente da primeira vez que ela apareceu com essa torta (que parece um suflê) e declarou "Essa é a comida que o Super-homem come pra ficar forte". E eu: "A Mulher-Maravilha também?". Desde então eu adoro verdura.

2 ovos
2 colheres de sopa de farinha de trigo
2 colheres de sopa de queijo ralado
1/2 colher de sopa de fermento em pó
1 colher de chá de sal
1 xícara de chá de leite
1/2 xícara de chá de óleo

Bater tudo no liquidificador e colocar numa forma untada e enfarinhada. Distribuir por cima, 3 xícaras de legumes (cenoura, chuchu, batatinha) cozidos e cortados em cubinhos. Levar ao forno em temperatura média por uns 30 minutos.

Variações:
-Acrescentar uma lata de sardinha misturada aos legumes e azeitonas picadas. O molho de tomate da sardinha pode ser batido com a massa pra ficar mais colorido.
-Também fica uma delícia com carne moída, proteína de soja, carne de charque picada.
-Bater um dente de alho com a massa ou meia cebola .
-Não aconselho colocar beterraba porque fica tudo cor-de-rosa.
-Não aprovei o resultado com beringela porque fica muito escuro.

Começo de Ano

Nenhuma novidade nas consultas pediátricas das quartas-feiras. Destaque pra receita (vide próximo post) de torta de legumes pra menino que não come verdura e que é sucesso até hoje aqui em casa.

Toda quinta-feira, eu fico esperando aparecer paciente na clínica particular, porque as consultas pediátricas no SUS têm sido poucas e minha colega dá conta sozinha. (Trata-se de um acordo com o diretor do hospital, uma vez que nem a pediatra, nem o clínico do plantão gostam de atendimento particular, eu só atendo as crianças do SUS se houver gente demais). Ontem foi uma enxurrada de gente, e chegando mais. Até um colega veio se consultar. Pra completar, ainda evoluí o berçário e a enfermaria de pediatria. Eram nove da noite quando terminei. O último ônibus pra casa era às cinco.
Dinheiro!

E hoje me ligam pra avisar que não há mais plantonista no sábado, lá naquele interior onde eu trabalho no domingo. Entre deixar a cidade sem médico 24 horas (e ter que atender os pacientes do sábado E do domingo) e trabalhar 48 horas (recebendo dobrado), melhor curtir o final de semana inteiro logo dentro do hospital, pelo menos esse mês. Já lembrei ao pessoal que não evoluo pacientes internados, como é de meu direito. Ou você acha que vou trabalhar 48 horas na emergência (ainda mais num final de semana), fazendo partos e ainda vou assumir todos os pacientes internos (quando é obrigação do hospital providenciar alguém pra isso)?

Grande possibilidade de voltar pro Programa de Saúde da Família este ano! E no interior. galinha, ovo de capoeira, muda de planta, pano de prato, feijão verde... Adoro PSF no interior. A população é muito agradecida e educada.

Finalmente consegui o material sobre Suporte de Vida Avançado no Trauma. Estudo pra mais de mês. Muito obrigada, colega ortopedista! Meus pacientes acidentados agradecem.

Falando em ortopedista, a Unimed não autorizou a ressonância magnética do meu joelho. Mais de dez anos de plano e não tenho direito! Pelo visto, minhas aulas de danças foram pro espaço. O colega já avisou que uma tomografia pode não visualizar o tal menisco. E eu que pensava que só jogador de futebol tinha problema no menisco...

Livros maravilhosos

Chovendo no molhado, claro: "Harry Potter e o príncipe mestiço". A autora merece cada centavo da fortuna que acumulou (é a mulher mais rica da Inglaterra atualmente, ganhou da rainha). É o melhor dos seis livros da série. Toca a esperar mais um ano pra saber do final da história. Muito obrigada a minha amiga Nádia (sensatos 14 anos) que me cedeu o livro algumas horas sem ter terminado de ler ainda. Exatas oito horas de empréstimo. Há anos que eu não pegava um livro pra ler e simplesmente não conseguia parar até terminar! E isso depois de sete horas de viagem, uma gripe pesada e um plantão de Natal horroroso. Eram três e meia da manhã quando terminei e não me arrependi nem um pouco.
Pra quem curte: a autora conseguiu amadurecer os personagens (afinal, a turminha já tem 16 anos), envelhecer (com as boas e más consequências da velhice) Dumbledore, tornar Snape ainda mais dúbio, os gêmeos mais sensatos e a escola cada vez mais desejável pra nós, simples mortais. Destaque pra atualíssima e plausível cena do primeiro-ministro inglês. Só faltou dizer que aqueles ataques terroristas no metrô foram obra de Voldermort. Quem sabe?

Minha amiga Kátia, aquela de 25 anos de amizade (e tia de Nádia), deve ter cansado de me emprestar "Le Fantôme de Canterville", de Oscar Wilde, que lhe dei de presente
há alguns anos, ou simplesmente reconheceu que amo a história e conseguiu encontrar um exemplar bilíngue! Entre o original em inglês e a tradução francesa, vou curtindo esse e outros contos. Sem falar na vantagem do livro durar mais, uma vez que leio mais devagar (ou na velocidade das pessoas normais) em outra língua. Devo ter sido uma traça em alguma encarnação anterior pra devorar livros dessa maneira.

Na verdade, o presente foi de Doda (irmã de Kati). O presente de Kátia foi "A mesa voadora", do inimitável Veríssimo, que era do meu ex e estava me fazendo uma falta visceral. Uma coletânea de crônicas sobre comida, com destaque pra insuperável "De ressaca", uma das preferidas do ex e a quem agradeço a descoberta.

1o lugar, com mérito, para "Me leva Brasil", do Maurício Kubrusly, presente do irmão querido. Se você, como eu, curte sentar num alpendre de interior e tomar café ouvindo 'causos', vai amar as histórias. Desde que vi a entrevista do Maurício no Jô que fiquei louca pelo livro, talvez pela história de confundirem-no com o ...Pedro Bial! É, de fato, uma gente extraordinária essa dos confins do país. Melhor que essa foi pedirem o autógrafo pro mesmíssimo Kubrusly, chamando-o de Cid Moreira. Só lendo pra aproveitar e curtir.

Como meu irmão me conhece mesmo, só me deu o presente de Natal no Ano-Novo. Primeiro o aperitivo: um bloquinho de notas do Harry Potter, um chocolate e o aviso que o presente só vinha na semana seguinte. Meu irmão, sem dúvida.

Pra ficar beliscando entre esses, "Madame Bovary". Boa descrição de costumes e a prova que o consumismo desenfreado não precisa de cartão de crédito. Além de falta de amor-próprio e consideração ao marido, a moça também sofria de megalomania. Não admira o escândalo que causou quando foi publicado.

Uma vez que só tem Natal uma vez por ano, reconheço que preciso trabalhar mais pra manter meu vício.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Nua
(Ana carolina)

Olho a cidade ao redor
E nada me interessa
Eu finjo ter calma
A solidão me apressa

Tantos caminhos sem fim de onde você não vem
Meu coração na curva
Batendo a mais de cem

Eu vou sair nessas horas de confusão
Gritando seu nome entre os carros que vêm e vão
Quem sabe então assim
Você repara em mim

Corro de te esperar
De nunca te esquecer
As estrelas me encontram
Antes de anoitecer

Olho a cidade ao redor
eu nunca volto atrás
Já não escondo a pressa
Já me escondi demais

Eu vou contar pra todo mundo
Eu vou pichar sua rua
Vou bater na sua porta de noite
Completamente nua
Quem sabe então assim
Você repara em mim
Atenção! Meu computador, sabe-se lá por que, resolveu desconhecer o mouse. Portanto, estou vivendo a grande aventura de navegar sem o prático clique-clique do ratinho. Haja atalhos no teclado. Por isso, ando meio sumida, sem responder e-mails, etc. Perdoem.

Feliz Ano Novo

Contrariando minhas pessimistas previsões não chegou nenhum bêbado no plantão do domingo. Inesperado, uma vez que no Natal chegaram nada menos que sete acidentes de moto ao mesmo tempo. Saldo: uma fratura de dedo mindinho.

Um senhor com uma super crise de asma. Essa novidade tem quatro anos. Ele usa a bombinha de Salbutamol bem direitinho, mas é motorista e baixou um pneu. Estava chuviscando, não ia pagar cinco reais pra alguém trocar, né?

Depois chega uma mãe, com o filho de quatro anos, que teve "uma crise". Vida sofrida. O filho tem epilepsia, ela fez todas essas simpatias que o povo ensina: trocar o nome da criança, queimar uma roupa do mesmo e por aí vai. Então levou pro neurologista, que encaminhou pra capital, mas ela perdeu o cartão do hospital na capital e não voltou mais. Não falta interesse, falta dinheiro. Às vezes, o menino chora por um pedaço de cuscuz que não tem, a comida vem dos vizinhos. Agora o pai está trabalhando, mas há seis anos que ela se inscreveu no Fome Zero, Bolsa-escola, Vale-Gás, e nada. Constrangedor, mas necesário perguntar se tem comida agora em casa. Será que a crise foi por isso? Não. E ele está tomando o remédio direito, a dose máxima pra idade. Fisicamente ele estava OK, não precisava tomar nada na emergência. Fiz um encaminhamento pra secretaria de saúde no dia seguinte, urgente, pra fazerem um novo cartão e marcarem consulta com o neurologista. Ajudar custa muito pouco, orientar já é muito.

Orientação pode ser tudo. À tarde, chega um senhor com história de uma queda há três meses. Desde então, vem todos os dias tomar uma injeção de Voltaren porque não aguenta a dor. "E o que o senhor está tomando em casa?". Nada. Todo mundo que atendeu na emergência aplicou a medicação e não passou nada pra dor, quando existe o mesmo Voltaren em comprimido, até genérico da medicação tem nos postos da Prefeitura! E tem ortopedista toda semana na cidade...

Básico, básico. A noite seguiu com uma senhora desidratada por vômitos, que permaneceu em observação até de manhã e uma paciente com dor de cabeça, aos gritos, tomando (errado) a medicação pra depressão e enxaqueca. Insistiu em não tomar dipirona, mesmo por via oral, porque "baixava a pressão". Detalhe: a pressão dela estava alta. Deu-se por satisfeita com um diazepam. Que dor é essa?

Mais tarde, chegou um pequenininho de um mês, com febre. Determina o protocolo que todo menor de três meses com febre faça exame pra descartar meningite. Naquela hora, em pleno feriado, só na Capital, umas duas horas de viagem. Cadê a mãe da criança? Tinha ficado em casa. E ele não mama? Não, senhora. Cadê a mamadeira? Ah, era só até o hospital daqui... O menino inicia uma diarréia, cadê as fraldas? Ah, eu não trouxe. De avó é essa?! Ainda foram no tal sítio, pegar a bolsa da criança. E pra pegar uma veia naquela criatura desidratada e desnutrida? Acabei passando uma sonda nasogástrica pra ir hidratando por via enteral mesmo. Fazer o quê?