segunda-feira, janeiro 23, 2006

Especial de sábado

O atendimento mais interessante do sábado merece um post à parte. Dois pacientes de famílias distintas, acima de 50 anos, que moram próximos, haviam sido atendidos no serviço na sexta-feira, com cirve hiperttensiva, e um deles ainda tinha diarréia.
Retornaram 24 horas depois com confusão mental e agitação. Um deles sequer sabia o próprio nome. Nas fichas do dia anterior, havia algumas medicações em comum: um comprimido e duas injeções. Depois soubemos que uma das injeções não havia sido feita porque estava em falta.
Minha primeira suspeita foi contaminação da medicação, com uma consequente encefalite (uma infecção dentro do cérebro) ou meningite. Fiz um relatório e encaminhei imediatamente ambos à capital pra avaliação de um neurologista. Antes, eu precisei sedar um deles, de tão ruim que estava, tentando até fugir.
Separei a medicação suspeita e enviei pra Vigilância Sanitária do município. Pois dá pra acreditar que a acompanhante de um deles não queria permanecer no hospital da capital porque não tinha uma cama pra ela dormir? E o pai/avô naquele estado?
No domingo, a família estava no serviço exigindo um carro pra buscar os dois porque estavam de alta. Eu duvido que estivessem. Devem ter assinado um termo de responsabilidade, isso sim.

Só se envia um paciente do interior pra capital quando o caso é grave. Ninguém desfalca a equipe (auxiliar, motorista) pra uma viagem de mais de duas horas pra ouvir do outro médico um pitaco apenas. Geralmente a gente sabe o que fazer mas não tem recursos (exames, equipamento), daí a transferência.
O hospital pra onde enviei os dois é o melhor em urgência neurológica do Estado. Quando a madrasta da minha mãe teve um derrame, foi pra lá que eu a levei, embora seja público. E a minha mãe dormia numa cadeira lá. no entanto, em uma hora de atendimento ela estava sendo levada pra uma tomografia. No mesmo ano, meu irmão sofreu um acidente e precisou de uma tomografia de urgência, com suspeita de uma fratura de vértebra, num hospital particular. Precisamos deixar uma caução, pedir autorização pro convêncio, o maior rolo. É preciso saber ceder de vez em quando, pensar no melhor tratamento pro paciente.

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