segunda-feira, janeiro 16, 2006

Plantão de domingo

Começou bem, examinado um RN que havia nascido na noite anterior. Gosto de ver recém-nascidos com a luz do dia, pra avaliar se estão amarelinhos. É um menino lindo, bem gordinho. A mãe estava bem.

Aí pegou fogo. Um senhor enorme, bem forte, chegou dizendo que havia quebrado o braço, na verdade havia deslocado o ombro. Normalmente eu coloco no lugar,mas ele era muito forte e a cadeira não tinha um espaldar alto que permitisse um bom apoio pra manobra. Então, fiz um antiinflamatório pra aliviar a dor e o encaminhei pro hospital regional na cidade vizinha, onde tem ortopedista de plantão.

Pois não é que só fizeram enfaixar o homem pra imobilizar o ombro e o mandaram pro ambulatório? E sem nada pra tomar em casa por causa da dor?! Foi a primeira vez em todos esses anos que não consegui reduzir um ombro sozinha. Fiquei pensando que estava inflingindo dor desnecessariamente porque não tinha força suficiente, mas que havia um especialista tão perto, com colegas que poderiam fazer força junto...

Uma porção de gente com vômitos e/ou diarréia. Adultos e crianças, de diferentes locais. Pedi que notificassem à vigilância sanitária. Sei que é época de rotavírus, mas de hepatite também. Falando em doença contagiosa, mãe e filho com catapora (o garotinho adorou o nome ‘catapora” e ficou repetindo). Em adultos, catapora (ou varicela, ou bexiga, como chamam por aqui) é muito pior, mais agressivo. Orientei pra transmissão, prescrevi medicação anti-séptica pra evitar infecção secundária e um anti-histamínico pra coceira, proibi sair de casa. E notifiquei pra vigilância. catapora pode causar aborto.

Entre as crianças com vômitos, estava uma menina de uns cinco anos que já havia vindo na emergência há uns dois meses e sabia meu nome! Tá, é um sobrenome incomum (ou vcs pensam que eu me chamo valadares?). Memória de criança é fogo. O nome dela é T.

Outro pequenino (M.) caiu e cortou o queixo, a ferida corto-contusa preferida de 9 entre 10 crianças. Eu expliquei tudo que ia fazer, inclusive a injeção de anestésico. O pai só fazia atrapalhar: “não tem injeção, não vai dor, homem não chora”. O garoto foi dez, chorou um pouquinho, mas não se debateu, depois que viu que estava anestesiado, conversou enquanto eu suturava. “Quando você for maior, diz pras meninas que foi um grave acidente e não vai faltar namorada”. Ele saiu de lá rindo com a seringa de injeção na mão. Sem agulha, claro.

Um senhor acidentado de moto. Fratura de tíbia e ossos do antebraço. Pedi que não o retirasse do carro onde estava porque não dava pra resolver ali, além de poder piorar a fratura movendo-o pra ambulância, já que eu não tinha uma tala. O motorista entendeu que não era má vontade (graças a Deus, porque tem gente que acha que não quero ceder a ambulância, que está lá pra isso mesmo). Fiz um analgésico e ele seguiu pro hospital regional.

A moça da urticária voltou, toda inchada, em uso de anti-histamínico e comendo uns salgadinhos numa festa de aniversário! Chocolate e corantes raramente causam alergia, eles exacerbam o problema. Nova dose de corticóide, nova bronca.

Uma mãe trouxe o filho com febre, mas antes de sair de casa deu dipirona. Eu não podia medicar de novo. O jeito foi embrulhar o menino num lençol molhado e esperar o efeito da dipirona que a mãe havia dado em casa!

Pra coroar, um rapaz de 18 anos, às cinco da manhã com uma cólica nefrética. Ele já expeliu diversos cálculos renais, faz uma dieta com restrição severa de cálcio, mas sempre forma mais pedras. Ainda bem que ele já sabe com o que melhora, e a dor passou logo. Tem paciente que faz todos os analgésicos do hospital até a gente acertar.

Ainda bem que só faltam dois plantões de 48 horas este mês!

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