terça-feira, janeiro 27, 2009

Adivinha?

O salário do povo saiu e o meu cheque... ainda não foi assinado. E uma alma caridosa avisou à minha enfermeira que ela seria demitida por telefone. Por telefone! Não será a primeira. Essa moça trabalhou por quatro anos no mesmo posto, foi coordenadora dos PSFs, entre tantos outros serviços prestados, mas... Qualquer motivo que aleguem (algum apadrinhado vai terminar seu curso de enfermagem e precisam da vaga, tecnicalidades sobre vínculos empregatícios ou coisa que o valha), não é assim que se demite alguém.

Então: 'Vamos levar logo Dra Odessa Valadares de volta pro posto *** porque a população vai sentir menos a falta da enfermeira porque também gostam muito dela'. Por isso fizeram tanta questão de me devolver meu posto original!

Anônimo leitor, eu poderia sair dessa prefeitura e amanhã estaria empregada em algum município vizinho (essa semana, já tive duas propostas, com salário melhor). O motivo pra continuar ali: em todo lugar é do mesmo jeito. Não tem remédio, não tem transporte, não tem pra onde referenciar os casos mais graves, não tem um superior que saiba o real significado de termos como 'atenção básica', 'estratégia de saúde de família e comunidade', 'conselho municipal de saúde', 'contrapartida' e por aí vai. Cada palavra dessas pra eles, é representada por um valor em dinheiro, apenas isso.

Quem entende sobre isso está sempre num nível abaixo de quem autoriza tudo. Então, deixa eu continuar lá no meu sitiozinho, que é tão distante que não ficam aparecendo pra dar pitaco. Eu só queria conseguir ir e vir, só queria atender meus comunitários dignamente. Eles saem de casa às 4, 5 da manhã pra conseguir uma ficha e eu estou chegando às 10, 10 e meia pra atender o primeiro da fila! Hoje era dia de atendimento-satélite, numa unidade que fica a 8 quilômetros do posto principal. Obviamente, não houve atendimento. Sem falar que eu estava atrás de descobrir se estou mesmo sem enfermeira e sem pagamento esse mês.

Esse ano eu faço minha pós em dermato. Vou continuar amando Saúde de Família e Comunidade pro resto da vida, mas chegará o dia quando exercerei tal especialidade apenas para pacientes particulares. Infelizmente, não com o mesmo amor e dedicação a que os usuários do SUS tiveram durante a última década.

Aquela 'Odessa' morreu.

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Falaram que vai ter concurso por aqui...

Detesto estudar pra prova. Sempre detestei. Gosto de estudar pra aprender coisas novas. Pode ser o assunto mais indigesto do mundo, se tiver utilidade prática ou atiçar minha curiosidade, vamos em frente.

(Eu só aprendi regra de três simples porque precisava ampliar um brinquedo que criei, mantendo as proporções. Não houve professor de matemática que enfiasse aquilo à força na minha cabeça sem mostrar a razão prática. E uso até hoje, a cada cálculo de dose de medicação pra pediatria. Mas não tente me explicar regra de três composta, não tem aplicação prática pra mim, não consigo aprender. Deu pra entender?)

Tive um paciente com Doença de Tay-Sachs. Algo parecido com aquela doença do 'Óleo de Lourenzo': genética, incurável e raríssima. Devorei tudo que encontrei. Nunca fui fã de cardiologia até descobrir que 25% da população tem hipertensão arterial: estudo até hoje. Não entendia nada de transplantes, mas tive uma paciente com um rim transplantado; vamos abrir os livros. Uma criança nasceu sem os olhos por causa de rubéola congênita: sites e mais sites sobre o assunto.

Mas estudar pra concurso é UM SACO! O último foi o Vestibular. As provas da faculdade avaliavam o grau de aprendizado da disciplina (ou não), e eram inevitáveis. Se eu sei as leis do SUS? Sei, sim. Só não sei o palavreado bonito. Lendo o 'Estatudo do Idoso' quando foi lançado, descobri que eu já havia detectado tudo que eles orgulhosamente declaravam ter descoberto como erros no modo que os profissionais de saúde lidam com os pacientes de terceira idade. O mesmo pro 'Estatudo da Criança e do adolescente'. Sem falar que você estuda como diagnosticar e tratar patologias corriqueiras na população, mas não faz como manda o livro porque não tem a) recursos para exames complementares, b) medicação disponível na rede de atenção básica, c) o paciente não dispõe de recursos para adquirir o tratamento, d) as múltiplas patologias de algumas pessoas dificultam a orientação do tratamento, especialmente pra quem não sabe ler; mas o concurso quer a resposta do livro, não o que eu faço no dia-a-dia.

Então, eu adoro estudar. Pra saber que remédio vai funcionar praquela pressão de seu Fulano que não controla com o esquema habitual, por que a sra Sicrana persiste com corrimento genital depois do tratamento para infecção, coisas assim. Mas concurso é dose!

'Dinheiro? Pra quê dinheiro?'

Antes que eu me esqueça: tive um estalo e fui conferir. Dito e feito, meu nome não estava na folha de pagamento porque a secretaria de saúde (aquela que esqueceu que eu ainda trabalhava pra eles) não avisou ao departamento de contas.

'Não, doutora, a senhora não vai perder seu dinheiro. Ele vem junto com o salário de fevereiro'. Esse povo vive de brisa, é? Eu é que vivo em dezenas de realidades ao mesmo tempo, nunca confundi meus personagens, minhas histórias, nunca chamei um de vocês com o nome deles, nem esqueço que tenho aluguel, comida, conta de luz, coisas assim. Vai que o secretário de administração não paga aluguel e se nutre com luz solar. 'E como eu pago meu aluguel e faço a feira, doutor? O último pagamento do benefício do INSS foi no início de dezembro'.

Não sei quem fez o quê, mas só saí de lá com o acordo que meu salário será pago esse mês através de 'empenho' (um termo chique pra pagamento de serviços a terceiros que não prestam serviços habituais à instituição pública) e na mesma época dos meus colegas. 'O erro não foi meu, porque foi com vocês mesmos que eu falei pra assinar logo meu contrato, estava com xerox dos documentos e foto no primeiro dia útil de janeiro'. Pura verdade e eles não podiam mesmo negar.

Se o tribunal de contas suspendeu os contratos, se o funcionário da secretaria de saúde esqueceu de passar a CI pra quem faz a folha de pagamento, problema dele, porque foi pra ele mesmo que deixei a papelada necessária. 'A senhora entende, início de ano, nova gestão'. Entendo, claro. Meu dinheiro, por favor.

Já dizia Fox William Mulder: 'Não confie em ninguém'.

'Nada de novo sob o sol'

Meu avô já dizia: 'amigo em ambiente de trabalho não existe'. O velhinho já se foi há 16 anos e a frase continua valendo. Seus colegas adoram você? Eles também adoram seu antecessor e adorarão o sucessor, exceto se forem insuportáveis. Seus clientes/pacientes/comunitários estão felizes com seu retorno? Tenha certeza que eles tratam bem qualquer um que não dê patada neles.

Não, eu não briguei com ninguém, anônimo leitor, mas é só voltar pro batente que tudo reaparece. A versão oficial: o tribunal de contas do município intimou o gestor a fazer concurso público urgente até março. Então, contrato nenhum foi renovado, nem mesmo os nossos. Como somos serviço essencial, continuamos trabalhando, recebendo (isso é outro tópico) e esperando o concurso (que já foi anunciado há dois anos e nada). Motoristas não são serviço essencial, então, todos os carros que nos transportavam, exatamente pros sítios mais distantes... não estão prestando serviço!

Diariamente, desde que eu voltei da licença, as equipes destes sítios distantes, ficam correndo atrás de um transporte pra conseguir chegar no trabalho. Se fossem postos em área urbana, nem tinha conversa: a gente pegava uma moto, ia a pé, em carro próprio (quem tem), ou algo do tipo. Mas 20 quilômetros? Existem lotações para os sítios, sem horário fixo e que não voltam para a cidade à tarde (quando encerramos o atendimento). Então, eu poderia ir por conta própria e ficar sem voltar pra casa, simples assim.

Resultado: eu estou impecavelmente pronta às 8 horas da manhã e só chego no trabalho às 10, 10 e meia, 11 horas! Danada da vida pelo tempo perdido, pra atender um público danado da vida por estar esperando desde 6, 7 da manhã (porque chegam cedo pra pegar uma ficha) e que está se lixando pros motivos do atraso da equipe. Todo dia eu perco tempo explicando por que me atrasei.

O lado bom: quando eu tinha carro próprio, eu chegava às oito em ponto no posto e visitava qualquer casa, com poeira, lama ou ladeira, sem nunca pedir uma ajuda de custo da secretaria. Portanto posso lembrar à população disso pra convencer que não é má vontade. O lado ruim: o carro da prefeitura tem hora pra me resgatar, então não posso atender com calma, nem acrescentar pacientes extras. Hoje, eu atendi 18 pacientes e mandei outros sem atender porque eram 10:30h quando cheguei. Terminei às 13:30h, preeenchi a papelada (mais meia hora) e às 14 em ponto comecei a esperar o carro. Ele apareceu às 15 horas, depois de inúmeros telefonemas (existe ainda a possibilidade de esquecerem de me resgatar) e meu estômago roncando ('não, dona fulana, não faça almoço porque hoje sou só eu e o carro vem cedo, almoço em casa').

Quando tínhamos um motorista fixo pro posto, eu atendia de 30 a 40 pacientes até às 14 horas. Eu atendo tantos pacientes quanto meu tempo permitir. Só não sei atender como certos 'colegas' que não deixam o paciente sequer sentar. Houve dia de sair seis horas da noite do sítio porque havia gente demais e eu não mandei nenhum de volta. Não é má vontade minha estar me recusando a atender agora.

Agora me explique, anônimo leitor: como um 'serviço essencial' num sítio funciona sem carro? Nem perca seu tempo comentando que eu devo falar com meus superiores, com coordenador de PSF, secretário de saúde, responsável pela secretaria de transportes. Você, obviamente, não trabalha com política.

Em tempo: eu nunca me dignei a ir à secretaria de saúde pra mendigar um carro desde que essa confusão começou, telefono ocasionalmente e comunico que estou à espera (aquela 'Odessa' morreu, vivo repetindo pros pacientes). Fazendo o quê? Escrevendo, estudando pro concurso e escrevendo ainda mais. Quinta passada, a enfermeira do meu posto perdeu a paciência e foi no carro novo dela (tudo bem um dia ou dois, mas sempre? E numa zona cujas estradas exigem um Toyota Bandeirante?). Quando ela veio me buscar, eu sorri e me desculpei pela demora ao abrir a porta: 'Desculpa, eu estava em Vegas'.

Ela entende.

sábado, janeiro 17, 2009

Writing for CSI

Eu não sou louca, longe disso. Dezenas de fãs da série têm uma lista de músicas que se parecem com CSI, ou com alguns personagens de lá. A minha lista se chama 'Writing for CSI' e inclui outros temas além do GSR. Essa aqui, está perfeita pra saída de Grissom.

Everything I Own

You sheltered me from harm/ You kept me warm, you kept me warm/ You gave my life to me
You set me free, you set me free/ The finest years I ever knew/ Were all the ones I’ve spent with you/ And...

(Chorus:)
I would give anything I own/ Give up my life, and my heart, my home/ I would give ev'rything I own/ Just to have you back again/ You taught me how to love/ What it's of, what it's of/ You never said too much/ But still you showed the way/ So I knew from watching you/ Nobody else could ever know/ The part of me that can't let go/ And...

(Repeat chorus)
Just to touch you once again

(Bridge:)
Is there someone you know/ You're loving them so/ But taking them all for granted?/ You may lose them one day/ Someone takes them away/ And they’ll never hear/ The words you have to say

(Repeat chorus)
ev'rything I own/ my life, and my heart, my home/ I give ev'rything I own/ my life, and my heart, my home/ every little thing/ Only have you back again/ Just to have you

Eu gosto muito da versão de Rod Stewart, mas depois das trilhas de Smallville, 'Jude' é o que mais toca por aqui. Vale conferir.

'Se você pode ler isto, agradeça a um professor de inglês'

Vicky tem esse adesivo no vidro do carro, em inglês, evidentemente.

Eu aprendi francês como segunda língua (ainda que a falta de prática tenha enferrujado a pronúncia) porque detestava inglês. Meu primeiro professor de inglês era antipático e eu transferi a antipatia pra matéria. Todos os professores seguintes eram legais, mas não adiantou. Conheci espanhol na faculdade de Veterinária. Na faculdade de Medicina, eu conheci uma enfermeira britânica e descobri que inglês tem um som legal e é fácil de pronunciar. Inglês britânico, bem entendido.

Então, eu terminei a faculdade e tive dinheiro pra fazer um curso sério, pra ler literatura médica. Aí, Vicky me mostrou um modo mais interessante de aprender inglês. Quando você tem uma história inédita com os personagens da sua série predileta, qualquer língua se torna um desafio válido. Arquivo X, com os episódios legendados e fanfictions me tornou uma estudante dedicada. Meu ouvido acostumou-se de vez com o idioma.

A primeira fanfiction que Vicky me indicou tem mais de 50 páginas. Cinquenta! Eu não traduzia nem letra de música. E nem todos os termos estão no dicionário (Mulder xinga Scully mentalmente de coisas impublicáveis). Eu ficava telefonando: 'Vicky, o que é ****?', 'E ****?', e ela pacientemente traduzia. Até eu saber exatamente o que os agentes do FBI estavam fazendo fora do porão do Edifício J. Edgar Hoover.

Arquivo X acabou, eu fiquei sem acesso à internet, me desliguei um pouco do inglês, mas continuei assistindo filmes legendados. Então... meu ex me apresentou CSI e novamente Vicky, me deu acesso às temporadas da série. E eu comecei a corrigir as legendas. Eu, corrigindo legendas! E traduzindo fanfictions, fazendo parte de grupo de tradução de legendas, me correspondendo com as autoras das fics, um dos autores da série! Com dicionário, bem entendido.

(Interessante é que eu não procuro outras publicações em inglês, acho que falta interesse. Quer dizer, os sonetos de Shakespeare eu leio. E é inglês do século 18)

Quinta-feira, foi o último episódio com meu personagem predileto. As legendas em português só estão disponíveis no sábado. Pela primeira vez, eu assisti um episódio inédito com legendas em inglês. E entendi praticamente tudo! Não parei um vez pra abrir o dicionário. Nem umazinha.

Se eu pude saber o final da saga de Grissom mais cedo, agradeço aos meus professores de inglês. Eles sabem quem são.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Letra Legível

Será que agora vai? A Câmara dos Deputados aprovou essa lei.

Eu era menina (e queria ser Veterinária, nada com medicina de gente) e ainda lembro de um caso em que a criança morreu por causa da letra da médica (a mãe leu '15' onde estava escrito '1g', significando 'uma gota'). Faço caderno de caligrafia, tenho receita-padrão para antihipertensivos e hipoglicemiantes (já imaginou fazer receita pra mais de 200 pacientes hipertensos e diabéticos semianalfabetos?) e... a auditora do SUS veio perguntar pro diretor do hospital se eu examinava mesmo as crianças ou apenas levava os prontuários pra casa e escrevia porque a letra 'era certinha demais'. E eu evoluía no próprio hospital!

Ninguém entende esse povo.

Angustiante espera


Hoje é o último dia de CSI com o Dr Grissom. O episódio será exibido em algumas horas nos EUA e será imediatamente postado na rede (A CBS disponibiliza gratuitamente os episódios, meeeeeeses depois). Quem tem uma conexão como a minha, só assiste no sábado. Tudo bem. A legenda não fica pronta antes disso mesmo.

Lembro de Arquivo X, com contagem regressiva. É completamente diferente. Quando a ficha cair, eu aviso. Talvez na semana que vem, quando Cath ocupar a sala dele, quando o Dr Langston for CSI nível 1, quando eu esperar, esperar e esperar até o nome de Brukenheimer aparecer e nada daquela sobrancelha inquisitiva, daquele andar único, da sala com os 'bugs' e espécimes em formol. Nada das discussões com o Dr Robbins, da cara feia pro Greg, da impaciência com Hodges, da implicância com Willows, da gentileza ou aspereza com os outros, dependendo da preocupação com o caso ou do tamanho da enxaqueca.

Ou talvez a ficha caia no episódio 200 (estamos no 192), com a participação especial de William Petersen, que só continua como produtor-executivo.

(De que me serve ele trazer os melhores autores e diretores se ele não está lá? Droga, droga, droga!)

Fim do surto. Eu continuo afirmando que estou muito feliz pela saída do ator, que adora teatro e se recusa a perder os verões com a família pra fazer cinema. Ele passou a vida sem ganhar dinheiro e fazendo o que gostava. Depois de ser o maior cachê da TV nos últimos anos, tem mais é que voltar pra cidade que gosta e viver como quiser. Os fãs de décadas estão delirando de felicidade por tê-lo de volta no Steppenwolf.

E vale avisar. Segundo um 'jornalista' (com respeito aos jornalistas que conheço, não incluo esse cara na categoria), há uma cena extra após os créditos do episódio de hoje (virou moda cena extra pós-crédito). Deve ser Grissom com Sara em Galápagos. Ou eu vou pessoalmente matar Petersen.

(Nem precisa. A esposa dele mata, porque ela é GSR também. Adivinha como aquele cachorro apareceu na série?)

Saudade

Eu me desliguei do mundo nos últimos meses. Nem sei se William Bonner ainda apresenta o Jornal Nacional. Só soube da guerra com Israel por causa do Yahoo! Então, quando eu comprei 'Assédio Sexual' essa semana e mostrei pra Fernanda, quase caio dura ao descobrir que um de meus autores prediletos morreu há dois meses. E eu nem sabia que 'Assédio Sexual' era de Michael Crichton!

Tenho 'Cinco Casos' dele, e todos o conhecem por 'Parque dos Dinossauros', mas adorava o trabalho dele desde a criação de ER (Plantão Médico). Tudo que aparecia com o nome dele, eu assistia. Mais ou menos como faço com Julia Roberts e Jerry Brukenheimer.

Eis uma lista dos trabalhos dele e o site oficial. A vida é assim mesmo, Chicago chora a perda de um de seus filhos, se alegra pelo retorno de outro. William Petersen está de volta à sua cidade amada, pra ficar.

Truque novo

'Cachorro velho não aprende truque novo'. Não é verdade, viu? Só precisa mais tempo e paciência, mas o cachorro aprende. O mesmo raciocínio se aplica às novas regras da ortografia.

Desde que assisti uma entrevista com um autor português (acho que foi Saramago, mas não confiem na minha memória, eu esqueci até de nascer) que defendo a mudança. Anônimo leitor, você já leu um livro 'no português de Portugal'? Eu já. 'O Códico DaVinci' ficou pior do que já é, e eu tenho uma boa cultura. Boa o suficiente pra saber que 'telemóvel' é 'celular' e adoro Camilo Castelo Branco, mas quando um livro atual parece tão indigesto quanto 'Os Lusíadas', escrito há séculos, há algo de errado com a língua.

Você lê autores ingleses e americanos e não se atrapalha, lê autores franceses e canadenses sem confusão, por que eu sou brasileira e não me entendo com a literatura portuguesa? A reforma é necessária, mas chata. Eu nunca aprendi as regrinhas de acentuação, de conjugação, etc, etc (é agora que Fal me corta do caderninho dela, desculpa professora). Falo e escrevo certinho porque devoro livros e outras publicações de manhã à madrugada, com literatura de boa qualidade.

Mas... até o novo word chegar por aqui com o revisor ortográfico, eu continuarei escorregando nas novas regras. Como você, raro e anônimo leitor, deve ter aprendido as mesmas regras que eu, nós nos entendemos. Tá, eu nunca tive paciência pro trema (agora os puristas me excomungam) e nunca soube o que tinha hífen (quando aprendi, mudaram a regra), mas 'veem' é esquisito demais. O que será que pega dessas regras? A população segue o que lhe convém e não porque está nos livros. Se a regra for sensata, eu aceito, senão, fico com Luis Fernando Verissimo: "A gramática tem que apanhar todos os dias para saber quem manda"

P.S.: Reconheço a qualidade do enredo de 'O Código DaVinci', mas o autor não sabe prender o leitor. Demorei UM MÊS lendo aquilo. UM MÊS! 'A Ordem da Fênix', com tamanho similiar, foi lido em nove horas. Por isso, Rowling está mais rica que Brown.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

"E então doutora, de volta por posto ***?". Meu posto! MEU posto. Aquele que eu encontrei uma zona e deixei um brinco. 18 meses de trabalho duro pra ensinar o povo até como aproveitar melhor o espaço físico da unidade, só pra adoecer e entregar tudo na mão de um médico recém-formado que nunca estagiou num PSF. Aquele onde eu cadastrei quase 100% dos diabéticos e hipertensos pra não faltar remédio, onde eu preenchi cada ficha de notificação, de acompanhamento, de alimentação do sistema informatizado do SUS (ocupa mais tempo que o atendimento e os habitantes acham que a gente 'não está fazendo nada'). Aquele que eu prometi que seria o último onde eu tentaria fazer tudo certo.
O prefeito (e médico) da cidade nem pestanejou quando me viu à espera dele. E fez questão de deixar bem claro que minha dedicação não passou despercebida. "Você tem perfil". Esse povo diz isso desde que eu estagiava no Programa de Saúde da Família no município-modelo do país. A essa altura devo ter mesmo.

(Mais tarde o Secretário de Saúde liga pra mim. 'Olhe, o posto Tal está sem médico há três meses e está tudo uma bagunça por lá. A senhora não pode ficar uns dois meses por lá? E eu vou falando com o médico que está no posto ***'. 'Vamos fazer assim: eu vou conhecer o posto Tal. Se a situação for tão ruim que eu sinta que vou piorar da minha enxaqueca, nem pensar. SE o posto Tal tiver condições de organizar em um mês, até um mês e meio, eu vou e depois eu troco com o médico que está no Posto ***. Agora ele já viu um modelo de PSF e aproveita pra aplicar a experiência'.
Flexível, tudo bem. Besta? Espero que nunca mais!)

Empreeeeego! Emprego decente, salário que cobre meus gastos, rotina conhecida, cidade com população educada, tempo pra um consultório particular E PRA ESCREVER!

(Sem falar que o secretário comentou que até a Secretaria Estadual de Saúde elogiou a organização do meu posto.)

Feliz 2009 pra você, anônimo leitor. O meu está óóóóóótemo.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

'Se meu mundo caiu, eu que aprenda a levantar'.

Pois é, já dizia Maysa. A gente liga a televisão e descobre que a Globo tem minissérie nova. Adoro minissérie 'de época'. E que moça linda encontraram para o papel principal.

Insigths, insigths...

Deixa eu voltar pra minha escrita, sabe por quê? Voltei ao trabalho hoje e depois sete meses de licença-médica... achavam que eu nem morava mais aqui! Ficaram me sacudindo de um lado pro outro, uma vez que em cidade pequena quem decide tudo mesmo é o prefeito. Nada do prefeito hoje. Bom, bom, se uma cidade de interior pode se dar ao luxo de desistir de médico, deve estar ótima de saúde, ora pois!

'Amanhã', 'depois de amanhã'. Esse povo não sabe que as contas vencem?

(como eu sempre disse: 'Emprego pra médico não falta. Emprego ruim, bem entendido'. Nem pro falecido Papa eu dou plantão.)

E quero a trilha sonora da minissérie, ora pois! Por que essas músicas da Maysa dão vontade de beber? Não que eu seja de beber, é só o estado de espírito, se você me entende.

Já disse que AMO a Fal?

Querido, querido leitor, obrigada por ter estado aqui em 2008. E que venha 2009, nóis guenta.

***
(Porque quem a gente ama, não precisa estar junto 24 horas por dia. Não é o Jack Bauer, 'né mesmo'?)
Fal,
Minha filha! Eu não lembro a última vez que liguei a TV sem ser pra assistir CSI. Então, hoje eu por acaso comecei a ver 'O Homem bicentenário' e... eis que entra o comercial com a propaganda da nova novela das oito. Em 10 segundos eu sabia que era da Glória Perez! Não é que é mesmo? Só lembrei da 'Saga da Mulé Apito'. Saudade de ti,

(Só Fal pra me fazer voltar a acompanhar novela. Bom de série de TV é que é só uma vez na semana. E tá bom demais! Acompanhei umas novelas do começo ao fim, todas 'de época'. Mas Fal me fez assistir incontáveis capítulos de 'América', só pra entender as piadas.)

'Nenhum homem é uma ilha'

E-mail pra Vicky.
25.12.08
Tive alguns convites para esta noite, Vicky, mas decidi me dar um presente. Natal pra mim sempre foi sinônimo de gente agoniada querendo fazer tudo em cima da hora e essa agitação me deixou com horror à essa época do ano. Só depois que saí da casa de minha mãe, comecei a entender que o problema não é bem o Natal, mas como as pessoas passam o Natal.

Seu desejo foi: “Espero que a noite de hoje seja passada ao lado daqueles a quem vocês querem bem”, e foi exatamente o que fiz, minha querida.

Pela primeira vez, passei o Natal na minha casa (era sempre na casa de alguém da minha família, da família do ex ou de algum amigo nosso). E não houve ansiedade porque o tempo era pouco pra muita coisa pra fazer, porque a roupa não estava pronta, porque... A casa está toda limpa e arrumada, a ceia ficou pronta às oito da noite, o vestido vermelho (aquele!) coube perfeitamente e o único porém foi a máquina fotográfica: acho que o CD de instalação ficou com Paulo. Portanto, as fotos foram às cegas. Adoraria uma foto com o tal vestido, mas tudo que tenho são cenas da ‘ceia para um’ e closes meus.

(aliás, foi o ex quem me mostrou que Natal tem um lado legal)

Comigo estavam os que eu quero bem e me fazem bem. Os que podem estar comigo, claro, porque você e outros têm família. Só? Não. A lista de convidados foi menor que a multidão habitual que passeia por aqui, mas as figurinhas de sempre mandam lembrança.

No momento, estou dançando uma das músicas de ‘Flashdance’. Cozinhei a ceia ao som da trilha sonora de Smallville (1ª Temporada) e tenho uma seleção de 80’s hits pra mais tarde.

Na verdade, Vi, 2008 foi um parto: inevitável um vez iniciado, geralmente doloroso e com excelente resultado em sua maioria. Mas eu não engravidaria novamente. Aliás, continua sem entender por que as pessoas engravidam. Como você também não sabe, fica a dúvida.

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Presentes de Ano-Novo

Procurando uma coisa, você acha outra. À cata de uma tradução decente deste soneto:

SONNET 18
(William Shakespeare)
Shall I compare thee to a summer's day?
Thou art more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer's lease hath all too short a date:
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimm'd;
And every fair from fair sometime declines,
By chance or nature's changing course untrimm'd;
But thy eternal summer shall not fade
Nor lose possession of that fair thou owest;
Nor shall Death brag thou wander'st in his shade,
When in eternal lines to time thou growest:
So long as men can breathe or eyes can see,
So long lives this and this gives life to thee.


(Melhor no original. Mutilar o poema provavelmente mais famoso da Língua Inglesa pode ser mau-agouro de Ano Novo)

... descobri Prince Cristal, em sua própria descrição:


Este blog é uma mistura de arte, poesia, espiritualidade, amor, música, filmes, vídeos, viagens, literatura Portuguesa e sensualidade.


E mais um William pra minha coleção:



'Psiquê e Eros', de William Bouguereau.