O salário do povo saiu e o meu cheque... ainda não foi assinado. E uma alma caridosa avisou à minha enfermeira que ela seria demitida por telefone. Por telefone! Não será a primeira. Essa moça trabalhou por quatro anos no mesmo posto, foi coordenadora dos PSFs, entre tantos outros serviços prestados, mas... Qualquer motivo que aleguem (algum apadrinhado vai terminar seu curso de enfermagem e precisam da vaga, tecnicalidades sobre vínculos empregatícios ou coisa que o valha), não é assim que se demite alguém.
Então: 'Vamos levar logo Dra Odessa Valadares de volta pro posto *** porque a população vai sentir menos a falta da enfermeira porque também gostam muito dela'. Por isso fizeram tanta questão de me devolver meu posto original!
Anônimo leitor, eu poderia sair dessa prefeitura e amanhã estaria empregada em algum município vizinho (essa semana, já tive duas propostas, com salário melhor). O motivo pra continuar ali: em todo lugar é do mesmo jeito. Não tem remédio, não tem transporte, não tem pra onde referenciar os casos mais graves, não tem um superior que saiba o real significado de termos como 'atenção básica', 'estratégia de saúde de família e comunidade', 'conselho municipal de saúde', 'contrapartida' e por aí vai. Cada palavra dessas pra eles, é representada por um valor em dinheiro, apenas isso.
Quem entende sobre isso está sempre num nível abaixo de quem autoriza tudo. Então, deixa eu continuar lá no meu sitiozinho, que é tão distante que não ficam aparecendo pra dar pitaco. Eu só queria conseguir ir e vir, só queria atender meus comunitários dignamente. Eles saem de casa às 4, 5 da manhã pra conseguir uma ficha e eu estou chegando às 10, 10 e meia pra atender o primeiro da fila! Hoje era dia de atendimento-satélite, numa unidade que fica a 8 quilômetros do posto principal. Obviamente, não houve atendimento. Sem falar que eu estava atrás de descobrir se estou mesmo sem enfermeira e sem pagamento esse mês.
Esse ano eu faço minha pós em dermato. Vou continuar amando Saúde de Família e Comunidade pro resto da vida, mas chegará o dia quando exercerei tal especialidade apenas para pacientes particulares. Infelizmente, não com o mesmo amor e dedicação a que os usuários do SUS tiveram durante a última década.
Aquela 'Odessa' morreu.
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