Não são só as crianças que têm amigos imaginários. A essa altura, eu tenho uma multidão imaginária, cuidadosamente dividida em vários mundos, onde habito simultaneamente. Alguns eu não criei, mas fui convidada a conhecer. Hogwarts é um deles, e pelo visto não sou só eu a única adulta a passear por lá.
Laugh! (@Laughbook): 'Voldemort is like a teenage girl. He has a diary, a tiara, a special cup, a pet he adores, and an obsession with a famous teenage boy.'
(Obrigada Vicky, que me apresentou Virág, que adora o Harry também)
quarta-feira, maio 30, 2012
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Vicky
sexta-feira, maio 25, 2012
Há 35 anos, numa galáxia distante...
..George Lucas que mudou o mundo pra sempre com 'Luke, eu sou seu pai', a cena mais dramática do cinema.
Dia da Toalha
Em homenagem a Douglas Adams, autor de 'O Guia do Mochileiro da Galáxia', que recomenda que você tenha sempre uma toalha à mão, mas nunca explica o porquê. O livro (e seus subsequentes) é uma verdadeira referência no universo geek/nerd, e por causa disso o Dia do Nerd também é comemorado hoje.
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domingo, maio 20, 2012
Esqueci de contar
Pouco depois que me mudei pra essa cidade, fiquei responsável pela evolução da ala de Pediatria do (então) único hospital daqui. Isso incluía os recém-nascidos da ala de Obstetrícia, que (teoricamente) haviam sido avaliados ao nascer pelo pediatra do plantão, e os que permaneciam internados por alguma complicação. Que eu me lembre, fazia isso pelo menos três vezes por semana, porque não havia pediatra na cidade além do plantonista (e esse só deve ser responsável pelas urgências).
Com toda a correria daquela época, nunca registrei esse caso clínico aqui, mas lembro dele tão perfeitamente que até o nome de uma das crianças permanece em minha memória. Até 2008, ano do bug, tinha várias fotos desse caso no meu HD. Enfim, duas gêmeas nasceram, prematuras. É comum que gêmeos sejam prematuros porque não há espaço pra mais de um no útero, principalmente quando vão chegando a termo. Nesse caso, eram bem prematuras e com indicação de transferência pra capital, mas nunca houve vaga pra nenhuma das duas.
Quis o destino que eu fizesse meu estágio de Pediatria num hospital com UTI de Neonatologia, onde passei um mês. Hoje em dia, não me lembro de quase nada, por falta de prática, mas na época dessas gêmeas, eu lembrava de muita coisa. Houve dia de eu ir pela manhã e à tarde, pra reavaliar. Deu trabalho pra tirar da incubadora, do oxigênio suplementar, do soro, além de alimentar por sonda porque se mamassem direto no seio, o esforço poderia matá-las.
Permaneceram internadas mais de um mês, em parte porque moravam muito longe. Se fossem de um município mais perto, poderiam ser acompanhadas no ambulatório, mas não era o caso. Ainda assim, só tiveram alta mais cedo porque uma das enfermeiras-chefe do hospital era a enfermeira do PSF onde moravam. Claro, toda vez que eu encontrava a enfermeira, perguntava pelas gêmeas, temendo alguma sequela por causa da prematuridade. Não houve nenhuma.
Os anos passaram, eu saí do hospital, adoeci, me afastei, perdi contato. Há dez dias, fui ao hospital pra entregar uns cartões a uma das técnicas de enfermagem que mais me deu força em todos esses anos. Então eu reencontrei a enfermeira-chefe e perguntei por 'minhas gêmeas'. A lembrança dessas crianças me segurou em alguns momentos difíceis, era um desses casos em que eu pensava 'pelo menos isso eu fiz certo'. Então a enfermeira me contou que elas morreram recentemente, num incêndio.
Se as notícias continuarem assim, vai ser difícil de me convencer do meu papel nesse mundo.
Com toda a correria daquela época, nunca registrei esse caso clínico aqui, mas lembro dele tão perfeitamente que até o nome de uma das crianças permanece em minha memória. Até 2008, ano do bug, tinha várias fotos desse caso no meu HD. Enfim, duas gêmeas nasceram, prematuras. É comum que gêmeos sejam prematuros porque não há espaço pra mais de um no útero, principalmente quando vão chegando a termo. Nesse caso, eram bem prematuras e com indicação de transferência pra capital, mas nunca houve vaga pra nenhuma das duas.
Quis o destino que eu fizesse meu estágio de Pediatria num hospital com UTI de Neonatologia, onde passei um mês. Hoje em dia, não me lembro de quase nada, por falta de prática, mas na época dessas gêmeas, eu lembrava de muita coisa. Houve dia de eu ir pela manhã e à tarde, pra reavaliar. Deu trabalho pra tirar da incubadora, do oxigênio suplementar, do soro, além de alimentar por sonda porque se mamassem direto no seio, o esforço poderia matá-las.
Permaneceram internadas mais de um mês, em parte porque moravam muito longe. Se fossem de um município mais perto, poderiam ser acompanhadas no ambulatório, mas não era o caso. Ainda assim, só tiveram alta mais cedo porque uma das enfermeiras-chefe do hospital era a enfermeira do PSF onde moravam. Claro, toda vez que eu encontrava a enfermeira, perguntava pelas gêmeas, temendo alguma sequela por causa da prematuridade. Não houve nenhuma.
Os anos passaram, eu saí do hospital, adoeci, me afastei, perdi contato. Há dez dias, fui ao hospital pra entregar uns cartões a uma das técnicas de enfermagem que mais me deu força em todos esses anos. Então eu reencontrei a enfermeira-chefe e perguntei por 'minhas gêmeas'. A lembrança dessas crianças me segurou em alguns momentos difíceis, era um desses casos em que eu pensava 'pelo menos isso eu fiz certo'. Então a enfermeira me contou que elas morreram recentemente, num incêndio.
Se as notícias continuarem assim, vai ser difícil de me convencer do meu papel nesse mundo.
quarta-feira, maio 16, 2012
Ser ou não ser?
'Calma João que sozinho
é mais fácil desistir
e João não foi pra isso
que a gente chegou até aqui.'
(Do lado do bandido, Bruna Lombardi)
O que resta fazer quando uma pessoa se recusa a permanecer no hospital, tendo uma anemia tão grave que tem falta de ar quando começa a andar, vomita tudo que come ou bebe há três semanas, e perdeu 12 quilos em seis meses? A anemia pode ser corrigida com uma transfusão e os vômitos parariam se a pessoa esperasse tempo suficiente pra fazer uma cirurgia. Possivelmente parte desse peso seria recuperado e a pessoa teria mais tempo de vida. Eu me recuso a aceitar que alguém assina um termo de responsabilidade pra ir morrer em casa, de sede e fome.
Pra recomeçar logo assim, fica difícil.
é mais fácil desistir
e João não foi pra isso
que a gente chegou até aqui.'
(Do lado do bandido, Bruna Lombardi)
O que resta fazer quando uma pessoa se recusa a permanecer no hospital, tendo uma anemia tão grave que tem falta de ar quando começa a andar, vomita tudo que come ou bebe há três semanas, e perdeu 12 quilos em seis meses? A anemia pode ser corrigida com uma transfusão e os vômitos parariam se a pessoa esperasse tempo suficiente pra fazer uma cirurgia. Possivelmente parte desse peso seria recuperado e a pessoa teria mais tempo de vida. Eu me recuso a aceitar que alguém assina um termo de responsabilidade pra ir morrer em casa, de sede e fome.
Pra recomeçar logo assim, fica difícil.
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sexta-feira, maio 04, 2012
No consultório
Toalhas e mão e lençóis, cartões de visita e papel para impressão, luvas e bata, uma balança... Quanto custa ter um consultório, especialmente quando ainda não se tem clientela? Todo dia eu me lembro de mais alguma coisa e espero pelo primeiro paciente. Enquanto isso, estudo. Fiz meus próprios receituários, exceto aqueles azuis, para medicamentos controlados. Elaborei meu próprio cartão. Anos de prática com o Word tinham que servir pra algo realmente útil. Levei minha impressora para a sala que aluguei, a apenas duas casas de onde estou morando agora. Puxei uma extensão pra internet, pra consultas rápidas sobre as muitas coisas que ignoro, enquanto ainda não possuo um smartphone.
Ontem devolvi a casa onde morava, toda pintada, algo que a maioria dos locatários daqui não faz, sabe-se lá por quê, uma vez que está no contrato que deve ser assim. Vejo as contas se acumularem e tento parecer muito despreocupada lá na clínica, enquanto encontro velhos conhecidos e torço por pacientes. Se meus antigos pacientes souberem onde estou, virão até mim?
Eu torço e espero.
Ontem devolvi a casa onde morava, toda pintada, algo que a maioria dos locatários daqui não faz, sabe-se lá por quê, uma vez que está no contrato que deve ser assim. Vejo as contas se acumularem e tento parecer muito despreocupada lá na clínica, enquanto encontro velhos conhecidos e torço por pacientes. Se meus antigos pacientes souberem onde estou, virão até mim?
Eu torço e espero.
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