segunda-feira, agosto 25, 2014

Ultimato

Um fim de semana inteiro organizando todas as referências bibliográficas. Sabe aquelas regrinhas insuportáveis da ABNT? Autor vírgula inicial ponto título do artigo em itálico etc, etc. Vinte e quatro referências, a maioria em inglês. O programa deu pau, a suposta orientadora não respondeu até uma hora dessas e o prazo é até hoje, meia-noite. Pra mim, é perfeito. Eu nunca quis essa pós. Desde que eu possa continuar no emprego, ótimo. Se não puder, tudo bem também. Contanto que alguma coisa se resolva, pra mim está tudo bem.

É difícil explicar como eu consigo levantar quase todos os dias. Por enquanto, é um idoso que lembra muito meu avô e que tem sido negligenciado pela família. Ele tem um monte de problemas graves que só fazem piorar porque a família não se mexe. Hoje, confirmei que uma idosa alcoolista, que está sem beber há mais de meio ano, está com câncer, mas tem tudo pra ficar curada. Fui eu quem viu a lesão e encaminhei-a para o especialista.

Só quem trabalha na saúde pública entende o que é amar e odiar em partes iguais esse trabalho. Ter que prescrever benzetacil para uma criança porque não tem cefalexina, que a mãe não tem condições de comprar. Convencer uma gestante a fazer um sumário de urina particular porque ela pode ter um abortamento se esperar pelo exame 'urgente' do SUS. Só quem trabalha na saúde pública entende por que eu vivo descompensando e não consigo emagrecer, por que precisei de mais de dez anos pra começar uma pós e não tenho nenhum estímulo para terminar algo em saúde pública, por que todo dia eu chego em casa e não consigo fazer mais nada além de fugir pra outra realidade que não essa.

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