Dia de Monteiro Lobato
"Tentei arrancar de mim o carnegão da literatura. Impossível. Só consegui uma coisa: adiar para depois dos 30 o meu aparecimento. Literatura é cachaça. Vicia."
Abril é o mês do livro, a meu ver. O dia 23 de abril é o 'Dia Mundial do Livro e dos direitos do autor' e, embora o 'Dia Nacional do Livro' seja em 29 de outubro - por ser a data da Fundação da Biblioteca Nacional - o dia 18 de abril é o 'Dia Nacional do Livro Infantil' e porque Monteiro Lobato nasceu num 18 de abril, é 'Dia de Monteiro Lobato'.
Eu não sei quanto ao resto dos verdadeiros leitores - aqueles que leem porque amam e não porque precisam ler - mas eu comecei com Monteiro Lobato. Lembro da primeira vez que li 'Reinações de Narizinho'. 'O Sítio do Pica-Pau Amarelo' foi o primeiro dos meus mundos paralelos. Há uns dez anos, eu comecei a reler 'Reinações' e fiquei impressionada como o livro é 'politicamente incorreto' e por isso mesmo delicioso. Aliás,como a Emília é atrevida e desbocada! Como a censura da época não percebia que Lobato estava fazendo subversão pras crianças? E quando percebeu, como ele conseguiu ficar tanto tempo escrevendo até ser finalmente preso?
Lobato foi meu herói infantil, tanto por sua obra, quanto por sua história. Também foi o primeiro autor que eu soube que traduzia obras de outros autores. A tradução dele de 'Pollyana' supera à de Luiz Fernando Martins, ou minha admiração turva meu julgamento? Nunca soube a resposta, mas li 'Hans Staden' inúmeras vezes por causa da tradução de Lobato. Eu não imaginaria, naquela época, que teria meus personagens e concordaria que 'traduzo como o bêbado bebe: para esquecer, para atordoar', exatamente como ele.
Tenho certeza que Lobato se sentiria muito feliz em saber que me estimulou a aprender por prazer. Ele soube, como ninguém, transformar História, Geografia, Gramática Portuguesa, Matemática em assuntos tão curiosos que continuo fã de Mitologia Grega e fico rindo de mim mesma quando percebo que sou tão apaixonada por álgebra quanto o Visconde de Sabugosa. Nessas horas, tenho medo de acabar tão entupida de conhecimento quanto o sabuguinho e acabar precisando de uma intervenção cirúrgica, pra extrair metade das letrinhas que me entopem. De certa forma, Lobato era um geek, embora o termo não existisse na época dele: ele gostava de saber de tudo, de partilhar esse conhecimento e aplicá-lo no dia a dia. Não angariou muita simpatia ao longo da vida com essa atitude, mas parece que é assim com a maioria dos geeks.
Relendo sobre a vida de Lobato, percebo que continuo tão fã quanto no dia que peguei aquele livrão das mãos da minha mãe, achando que nunca ia conseguir lê-lo todo, de tão grande. Não imaginava que devoraria outros 11 volumes que reuniam toda a obra infantil do autor. Ao saber como e por que muitos deles haviam sido escritos, nunca me animei a procurar um título 'adulto' da obra dele. Nem mesmo 'Urupês'. O próprio Lobato reconheceu que perdeu muito tempo escrevendo para adultos até encontrar o público certo pra propagar suas idéias.
Se esse país teve um nacionalista, esse foi José Bento Renato Monteiro Lobato. É lamentável que eu não tenha sequer uma de suas obras, mas quando finalmente pude comprar toda a coleção em capa-dura, já rolava o litígio que perdura até hoje entre os herdeiros e a Editora Brasiliense, e não estavam mais disponíveis. Também não encontro as traduções, nem mesmo a de ‘Pollyana’, que era popular em minha infância, provavelmente pelo mesmo motivo. Conto os dias até 2018, quando todas as obras cairão em domínio público e eu terei as obras de arte do grande homem por aqui. É nessa hora que 'Harry Potter', 'O Senhor dos Anéis' e 'As Crônicas de Nárnia' vão mofar na estante. Porque eu estarei finalmente em casa.
"Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar." [Monteiro Lobato]
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