domingo, junho 22, 2014

Sem sair do lugar

De novo. Não posso nunca, nunca, deixar as medicações compradas na capital acabarem. Aqui sempre faltam os originais. Similares e genéricos não fazem o mesmo efeito, não importa o que digam o Governo e os laboratórios. Eu sei como meu organismo reage. Fica faltando aquele raiozinho de sol e eu recomeço a chorar. Fiz uma cena vergonhosa há dois dias no meio do posto por causa de uma besteira, briguei com uma comunitária. Já pedi desculpas, mas estou péssima por causa do acontecido desde então. Já estava mal, mas depois da discussão fiquei muito pior. Disse à mulher que era TPM e ela foi supercompreensiva, toda mulher entende TPM e a irritação da depressão é muito semelhante mesmo. Eu já disse, certa vez, que ter depressão é como ter TPM os trinta dias do mês.

Por isso, tudo está parado de novo. As enxaquecas voltaram. A labirintite está rondando. Ainda não fiz os ácidos pros peelings. Preciso mandar uma proposta, URGENTE, pro trabalho de conclusão de curso em Saúde Pública. Estive pensando em algo como a geração espontânea de louça na pia da cozinha ou sugestões para a auto-organização de habitações humanas. Isso porque não consigo manter nada organizado. Tenho vontade de comprar tudo que vejo, algo totalmente anormal pra mim. Só não compro o que está na minha lista há meses.

Não termino nunca de pintar a sala de estar, não compro a tinta pra sala de jantar, não coloco a prateleira pro telefone, a estante continua sem puxadores, o sofá do escritório continua sem cobrir e as janelas estão sem cortinas. Dei as antigas estantes do corredor e não chamei o gesseiro pra fazer a estante nova. Todo dia, eu faço uma lista do que fazer, e não faço nada, ou quase nada. Se as pessoas tivessem noção do que faz a depressão, haveria bem menos seres humanos classificados como preguiçosos neste planeta. Inclusive, eu me pergunto como consigo me manter trabalhando.

Não consigo emagrecer. Não é só comer menos e certo, é o estresse que mantém o peso extra. Há semanas que quero começar um exercício físico. Até consegui ir à academia, encomendei as roupas, mas não consigo começar. O mal estar físico ou emocional sempre atrapalha. De dez objetivos para um dia, eu consigo alcançar um. E dou-me por satisfeita porque geralmente é algo relativo a algum paciente.

Do que consegui recentemente, eu comemoro mais de duas semanas sem comer sorvete, voltar a consumir suco de frutas e verduras regularmente, reorganizar o guarda-roupa de trabalho e fazer as sobrancelhas. Finalmente encontrei o adesivo que procurava para colocar no hall (eu sempre quis um hall, um lugar pra largar as coisas quando chegasse). Também encontrei os ladrilhos adesivos adequados ao banheiro. O visual que está lá agora é temporário, fruto da necessidade. Foi uma reforma feita às pressas: revestimento das paredes com cimento queimado, pintura com tinta acrílica e cinco faixas de adesivos de conchas comprados na loja de R$ 1,99.

Quero retomar meus projetos e percebo que, para isso, o primeiro objetivo a alcançar é comprar as medicações originais. O problema é que detesto ir à capital. Especialmente quando estou descompensada.

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