Eu, por muito tempo, fui uma andarilha. Deixava de pegar ônibus pra andar a pé. Economizava o suficiente pra comprar minha maquiagem e meus brincos (e estudante é uma criatura sem dinheeeeiro!) e era bem magrinha. Quase desnutrida (segundo os cálculos do Índice de Massa Corpórea).
Então, eu comecei a ganhar dinheiro e engordar. Terminei a faculdade com exatos 10 quilos acima do peso que tinha quando passei no Vestibular (é certo que eu parecia uma morta-viva depois daquela maratona), mas ainda dentro do peso indicado pra minha altura.
Tudo descambou de vez 'por causa do carro'. Eu tive três carros ao longo de 10 anos e ganhei... 37 quilos desde o Vestibular. Isso mesmo, anônimo leitor: trinta e sete. Claro que não foi só 'o carro'. A auto-disciplina de 25 anos que minha consciente e paciente mãe incutiu na minha cabecinha teimosa desapareceu quando fui morar sozinha. Some erro alimentar com sedentarismo e você terá os 37 quilos.
Eu tentei, de verdade. E nada dessas dietas ridículas onde a pessoa segue os passos religiosamente e depois de perder o peso desejado, volta a fazer tudo errado. Como profissional da área, sempre tive consciência que é preciso comer certo e pronto. Sem falar que minha família sofre de obesidade, diabetes, hipertensão arterial e outras tantas doenças que colocaram minha mãe de sobreaviso desde meus 4 meses de idade.
Passei 25 anos comendo certo (não era ' fazer dieta', mas alimentação saudável) com direito a todas essas porcarias de refrigerante, chocolate, sorvete, pizza, frituras... O problema foi quando eu transformei 'as porcarias' em hábito ao invés de exceção. Nunca parei de comer os ditos 'alimentos saudáveis' porque minha mãe conseguiu me fazer uma apaixonada por verduras e frutas (com uma ou duas exceções). Se é resultado da persistência dela, gosto herdado (ela é outra viciada em folhas e correlatos) ou do meu olho grande pra tudo que é comida, nunca saberei. O fato é: eu não parei de comer o que era certo, só aumentei a quantidade dos alimentos errados na minha dieta.
Imagine a situação de uma médica que fazia palestras pra hipertensos e diabéticos, orientando hábitos saudáveis e sem praticar um único exercício físico! Eu comecei academia mais de uma vez, natação, mas vivia me mudando de uma cidade pra outra por causa dos empregos e até me reorganizar, havia recuperado o peso anterior e mais alguns quilos. A real prova é que quando passei quase um ano no mesmo emprego, perdi 12 quilos (devidamente recuperados quando a emergência da tal clínica fechou).
Quem está de fora não imagina o estresse vivido pelos profissionais de saúde. Entre a remuneração indigna do SUS e dos planos de saúde que transformaram 'a nobre arte' num negócio, médicos, enfermeiras, fisioterapeutas, psicólogos e outros colegas vivem na incerteza do emprego. Não conheço nenhum médico com carteira assinada. Trabalhamos por 'contrato de excepcional interesse público'. Ou seja, no dia que o interesse do gestor (prefeito, governador ou secretário de saúde) acabar, rua. Sem direito a ter 'direitos' como férias e 13o salário. Não é que eu ficasse escolhendo emprego, simplesmente as condições de trabalho eram insustentáveis. Quem lê esses textos desde o antigo blog conhece a situação. Acrescente a tal 'Psicose Maníaco-Depressiva' (e justamente os anti-depressivos que ajudam no ganho de peso são os que dão certo comigo) e uma tendência familiar a obesidade e você terá a trágica dimensão dos fatos.
Então... a tal enxaqueca veio com tudo há um ano e quem vive com enxaqueca não quer saber de comida por causa do enjôo. Como eu fui afastada, não pude manter a prestação do carro e comecei a andar pela cidadezinha onde estou morando há quase três anos. Só então me dei conta que com o carro à disposição, tudo é motivo pra tirá-lo da garagem. E a ida à locadora, à padaria, à casa de um colega se tornou motivo pra passeio! Eu nunca fui preguiçosa pra fazer exercício desde que seja algo que eu goste, ainda que eu deteste sair de casa. Nenhuma atividade onde a pessoa fica parada entra em minha cabeça como exercício físico (musculação e ioga). Nada com som nas alturas ou de ficar pulando (aeróbica, hidroginástica, etc). Exercício físico regular tem que ser algo associado a prazer e não a sacrifício. E eu gosto de 'curtir' o tempo que gasto me exercitando.
Se meu labirinto permitisse, eu teria uma bicicleta. Uma de verdade. A tal que fica parada quase enferrujou aqui em casa porque, a meu ver, a graça de uma bicicleta está em ver a paisagem ( o mesmo raciocínio vale pra essas 'esteiras'). Se a grana desse, eu teria uma piscina em casa. Garanto que só sairia dela pra trabalhar e olhe lá. Poderia até inaugurar uma moda nova: atendimento pediátrico dentro d'água. Como nem tudo é possível, eu fico andando pela cidade ao invés de pegar táxi e... dançando dentro de casa!
Eu me achava (e me condenava) como uma total sedentária até que percebi que no último ano, morando em outra casa e sem vizinhos justamente do lado do escritório, eu aumentei a frequência com que fico dançando dentro de casa e madrugada adentro. E cantando. Não é nada que incomode o resto da vizinhança (me dei ao trabalho de perguntar antes que a polícia viesse me autuar por pertubação da ordem pública) e acredite-me: eu danço! Que o Carlinhos de Jesus não me veja ou Patrick Swaze (dançarino profissional, filho de uma professora de dança e com ex-esposa dançarina) sequer sonhe com os crimes que cometos com as coreografias de 'Dirty Dancing' maaaas, não é um desses concursos de dança e ninguém vê mesmo. Dá uma saudade enorme do tempo em que eu fiz um ano de dança na Escola pra melhorar minha coordenação motora (todo adolescente é desajeitado, não é? Dança ajuda). Sem falar que é melhor que academia com todo mundo olhando. Eu sei a postura e os movimentos corretos para evitar lesões musculares e articulares, por que não aproveitar?
Eu retomei meus hábitos corretos de alimentação. Continuo comendo de tudo, só mudei a proporção dos alimentos. Aquela conversinha dos professores de Ciências funciona, viu? Alimentação equilibrada deve ter alimentos construtores, reguladores E energéticos. Nada de cortar todas as gorduras e carboidratos. Ou você se esqueceu que algumas vitaminas são lipossolúveis? Que a gordura melhora o sabor dos alimentos? Que os 10 aminoácidos essenciais (não fabricados pelo organismo) aumentam a resistência física? É por isso que essas dietas malucas não dão certo. Eu nunca fiz nenhuma assim. Diminuía a quantidade de comida, mas nunca cortei totalmente algo.
Portanto, indicação: Trilha sonora de 'Dirty Dancing' (incluindo o álbum 'More Dirty Dancing'), 'Pulp Fiction', 'Coyote Ugly' e 'Chicago', flamenco e música cigana ('The Best of Gipsy Kings' é irretocável) e o que mais der vontade. Sem carro, seis meses sem Medicina (por causa da licença-médica) e com música: 21 quilos a menos e contando.
Eu sei, eu estou voltando a trabalhar esse mês. Mas, ei! Tem um clube com uma piscina enooorme literalmente aqui na esquina.
3 comentários:
Amar também emagrece e faz um bem danado.....hehehe
Será? Engordei 25 quilos desde que casei.
...please where can I buy a unicorn?
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