quarta-feira, fevereiro 25, 2009
Silvana diz:
Solidão é não ter nenhum nome pra colocar na agenda, naquele ítem: "Em caso de emergência avisar..."
quinta-feira, fevereiro 26, 2009
segunda-feira, fevereiro 23, 2009
Há 13 anos...
Eu não perdia uma cerimõnia de entrega do Oscar. Eu só soube que o Oscar era esses mês por causa de um e-mail de Fernanda. Claro, meu irmão me convidou, mas eu não estava com espírito para me arrancar do meu canto para a capital em pleno Carnaval. Ontem à noite, eu pensei se valia a pena assistir a entrega de prêmios para filmes aos quais eu não havia visto nem o trailer.
Da última vez que perdi o Oscar, minha mãe havia me colocado de castigo. É, anônimo leitor, eu, no terceiro período de Medicina e de castigo! E nem me dei ao trabalho de argumentar 'Mas é noite de Oscar!', isso não cola com minha mãe (Claro que num ano seguinte, eu acordei a casa inteira por causa de 'A lista de Shindler'. Minha mãe é fã de carteirinha de Spilberg, não foi vingança não). Se eu merecia o castigo de perder o Oscar, tudo bem, mas eu me prometi que daquele ano em diante só passaria a noite do Oscar com quem entendesse de cinema.
Fernanda estava na primeira vez que tive verdadeira companhia pra festa, assim como o ex (que ainda era namorado dela!) e meu irmão. Foi uma das melhores noites de minha vida!
Então, eu perdi meu amado Heath Leadger ganhando Oscar póstumo. Considerando que eu, fã de Leadger e leitora do 'Batman', não tive coragem nem de assistir a esse
o filme, dá pra entender meu desligamento temporário das novidades do mundo. 'Cavaleiro das Trevas', 'Wall-e' e 'A duquesa' estão há meses aqui, enviados por meu irmão e eu sem me animar muito pra assistir...
De qualquer forma, eis a lista dos principais prêmios:
Melhor Filme
Quem Quer Ser um Milionário?
Melhor Diretor
Danny Boyle, de Quem Quer Ser um Milionário?
Melhor Ator
Sean Penn, de Milk - A Voz da Igualdade
Melhor Atriz
Kate Winslet, de O Leitor
Melhor Ator Coadjuvante
Heath Ledger, de Batman - O Cavaleiro das Trevas
Melhor Roteiro Original
Dustin Lance Black, de Milk - A Voz da Igualdade
Melhor Roteiro Adaptado
Simon Beaufoy, de Quem Quer Ser um Milionário?
Melhor Filme Estrangeiro
Departures, de Kundo Koyama
Melhor Animação
Wall-E, de Andrew Stanton
Melhor Fotografia
Anthony Dod Mantle, de Quem Quer Ser um Milionário?
Melhor Direção de Arte
O Curioso Caso de Benjamin Button
Melhor Figurino
A Duquesa
Melhor Som
Batman - O Cavaleiro das Trevas
Melhor Efeitos Sonoros
Quem Quer Ser um Milionário?
Melhor Montagem
Quem Quer Ser um Milionário?
Melhor Efeitos Visuais
O Curioso Caso de Benjamin Button
Melhor Maquiagem
O Curioso Caso de Benjamin Button
Melhor Trilha Sonora
Quem Quer Ser um Milionário?
Melhor Canção
Jai Ho, de Quem Quer Ser um Milionário?
Melhor Curtametragem (animação)
La Maison em Petits, de Kunio Kato
Melhor Curtametragem
Toyland, de Jochen Alexander
Melhor Curtametragem (documentário)
Smile Pinki
Melhor Documentário em Longametragem
O Equilibrista, de James Marsh
Da última vez que perdi o Oscar, minha mãe havia me colocado de castigo. É, anônimo leitor, eu, no terceiro período de Medicina e de castigo! E nem me dei ao trabalho de argumentar 'Mas é noite de Oscar!', isso não cola com minha mãe (Claro que num ano seguinte, eu acordei a casa inteira por causa de 'A lista de Shindler'. Minha mãe é fã de carteirinha de Spilberg, não foi vingança não). Se eu merecia o castigo de perder o Oscar, tudo bem, mas eu me prometi que daquele ano em diante só passaria a noite do Oscar com quem entendesse de cinema.
Fernanda estava na primeira vez que tive verdadeira companhia pra festa, assim como o ex (que ainda era namorado dela!) e meu irmão. Foi uma das melhores noites de minha vida!
Então, eu perdi meu amado Heath Leadger ganhando Oscar póstumo. Considerando que eu, fã de Leadger e leitora do 'Batman', não tive coragem nem de assistir a esse
o filme, dá pra entender meu desligamento temporário das novidades do mundo. 'Cavaleiro das Trevas', 'Wall-e' e 'A duquesa' estão há meses aqui, enviados por meu irmão e eu sem me animar muito pra assistir...
De qualquer forma, eis a lista dos principais prêmios:
Melhor Filme
Quem Quer Ser um Milionário?
Melhor Diretor
Danny Boyle, de Quem Quer Ser um Milionário?
Melhor Ator
Sean Penn, de Milk - A Voz da Igualdade
Melhor Atriz
Kate Winslet, de O Leitor
Melhor Ator Coadjuvante
Heath Ledger, de Batman - O Cavaleiro das Trevas
Melhor Roteiro Original
Dustin Lance Black, de Milk - A Voz da Igualdade
Melhor Roteiro Adaptado
Simon Beaufoy, de Quem Quer Ser um Milionário?
Melhor Filme Estrangeiro
Departures, de Kundo Koyama
Melhor Animação
Wall-E, de Andrew Stanton
Melhor Fotografia
Anthony Dod Mantle, de Quem Quer Ser um Milionário?
Melhor Direção de Arte
O Curioso Caso de Benjamin Button
Melhor Figurino
A Duquesa
Melhor Som
Batman - O Cavaleiro das Trevas
Melhor Efeitos Sonoros
Quem Quer Ser um Milionário?
Melhor Montagem
Quem Quer Ser um Milionário?
Melhor Efeitos Visuais
O Curioso Caso de Benjamin Button
Melhor Maquiagem
O Curioso Caso de Benjamin Button
Melhor Trilha Sonora
Quem Quer Ser um Milionário?
Melhor Canção
Jai Ho, de Quem Quer Ser um Milionário?
Melhor Curtametragem (animação)
La Maison em Petits, de Kunio Kato
Melhor Curtametragem
Toyland, de Jochen Alexander
Melhor Curtametragem (documentário)
Smile Pinki
Melhor Documentário em Longametragem
O Equilibrista, de James Marsh
domingo, fevereiro 22, 2009
Indicação de Vicky, 'No line on the horizon' (novo álbum do U2) está soberbo. As letras maravilhosas, o ritmo. Ah, eu não entendo de música internacional. Aqui está uma crítica decente.
U2 disponibiliza na internet música pesada e moderna
Folha Online
A banda irlandesa U2 disponibilizou na internet "Get Your Boots On", o primeiro single de seu 12º álbum de inéditas, "No Line on the Horizon". A música segue a tendência do último álbum da banda, "How to Dismantle an Atomic Bomb" (2004), ao soar moderno sem abandonar as características do velho U2.
"No Line on the Horizon" soa moderno sem abandonar as características do velho U2
"Get Your Boots On" surpreende os fãs da banda logo no primeiro acorde. Um riff de guitarra pesado e moderno é a base de toda a música.
Com boa vontade, dá para perceber a influência de Jack White --do White Stripes-- na música, como declarou recentemente o guitarrista do U2, The Edge.
De acordo com ele, o disco recebeu essa influência depois que a banda passou um tempo ao lado de Jack para o recente documentário "It Might Get Loud".
"Get Your Boots On" também conta com pitadas eletrônicas, mas está longe do desastre de "Pop", lançamento de 1997. A canção termina 3'21'' depois com uma manjada distorção de guitarra. Manjada se não se tratasse do U2.
Apesar das novidades, a faixa tem muito do velho U2, especialmente na melodia --bem parecida com as do último disco-- e na inconfundível voz de Bono.
A primeira faixa de trabalho do novo disco tem todos os elementos para estourar nas rádios. Ela funciona bem tanto nas pistas de dança como no Ipod.
"No Line on the Horizon" --com 11 faixas-- está previsto para ser lançado no dia 27 de fevereiro na Irlanda e no dia 3 de março no resto do mundo.
'Moment of Surrender' já está na lista das 'músicas GSR'. E 'Stand up Comedy', lembra: 'We’re made of stars'.
Isso é Carnaval. Carnaval com Oscar! Que idéia maravilhosa. Alternativa decente aos desfiles de escola de samba (como espetáculo, tudo bem, mas quem gosta de carnaval vai pular, sambar, não ficar numa arquibancada vendo os outros brincando). Será que vão manter o Oscar em fevereiro? Era sempre no final de março, não sei o que aconteceu.
Aliás, se não fosse por Fernanda, eu nem saberia do Oscar. E eu era tão informada sobre as notícias do mundo...
U2 disponibiliza na internet música pesada e moderna
Folha Online
A banda irlandesa U2 disponibilizou na internet "Get Your Boots On", o primeiro single de seu 12º álbum de inéditas, "No Line on the Horizon". A música segue a tendência do último álbum da banda, "How to Dismantle an Atomic Bomb" (2004), ao soar moderno sem abandonar as características do velho U2.
"No Line on the Horizon" soa moderno sem abandonar as características do velho U2
"Get Your Boots On" surpreende os fãs da banda logo no primeiro acorde. Um riff de guitarra pesado e moderno é a base de toda a música.
Com boa vontade, dá para perceber a influência de Jack White --do White Stripes-- na música, como declarou recentemente o guitarrista do U2, The Edge.
De acordo com ele, o disco recebeu essa influência depois que a banda passou um tempo ao lado de Jack para o recente documentário "It Might Get Loud".
"Get Your Boots On" também conta com pitadas eletrônicas, mas está longe do desastre de "Pop", lançamento de 1997. A canção termina 3'21'' depois com uma manjada distorção de guitarra. Manjada se não se tratasse do U2.
Apesar das novidades, a faixa tem muito do velho U2, especialmente na melodia --bem parecida com as do último disco-- e na inconfundível voz de Bono.
A primeira faixa de trabalho do novo disco tem todos os elementos para estourar nas rádios. Ela funciona bem tanto nas pistas de dança como no Ipod.
"No Line on the Horizon" --com 11 faixas-- está previsto para ser lançado no dia 27 de fevereiro na Irlanda e no dia 3 de março no resto do mundo.
'Moment of Surrender' já está na lista das 'músicas GSR'. E 'Stand up Comedy', lembra: 'We’re made of stars'.
Isso é Carnaval. Carnaval com Oscar! Que idéia maravilhosa. Alternativa decente aos desfiles de escola de samba (como espetáculo, tudo bem, mas quem gosta de carnaval vai pular, sambar, não ficar numa arquibancada vendo os outros brincando). Será que vão manter o Oscar em fevereiro? Era sempre no final de março, não sei o que aconteceu.
Aliás, se não fosse por Fernanda, eu nem saberia do Oscar. E eu era tão informada sobre as notícias do mundo...
sexta-feira, fevereiro 20, 2009
Ah, o Google...
" E quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não te metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio e ouve o teu coração.
Quando ele te falar, levanta-te e vai para onde ele te levar."
Susanna Tamaro, in "Vá Aonde o seu Coração mandar".
A gente sai procurando uma coisa boa no Google e acha outra melhor. O blog do Wahdi foi uma delas. Se você gostou desse texto postado, procure o livro ou o filme "Vá aonde o seu coração mandar". Eu A-DO-RO o livro. O filme me apresentou a autora, e é uma adaptação excelente. Foi, talvez, o primeiro filme italiano que vi na grande tela, numa tarde preguiçosa, num cinema de arte que nem sei se ainda existe. Super-recomendados: o blog, o livro e o filme.
Quando ele te falar, levanta-te e vai para onde ele te levar."
Susanna Tamaro, in "Vá Aonde o seu Coração mandar".
A gente sai procurando uma coisa boa no Google e acha outra melhor. O blog do Wahdi foi uma delas. Se você gostou desse texto postado, procure o livro ou o filme "Vá aonde o seu coração mandar". Eu A-DO-RO o livro. O filme me apresentou a autora, e é uma adaptação excelente. Foi, talvez, o primeiro filme italiano que vi na grande tela, numa tarde preguiçosa, num cinema de arte que nem sei se ainda existe. Super-recomendados: o blog, o livro e o filme.
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simplesmente ser
Enquanto não sou andarilha plena...
PERDER PAÍSES...
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa
20-9-1933
A DREAM
In visions of the dark night
I have dreamed of joy departed-
But a waking dream of life and light
Hath left me broken-hearted.
Ah! what is not a dream by day
To him whose eyes are cast
On things around him with a ray
Turned back upon the past?
That holy dream- that holy dream,
While all the world were chiding,
Hath cheered me as a lovely beam
A lonely spirit guiding.
What though that light,
thro' storm and night,
So trembled from afar-
What could there be more purely bright
In Truth's day-star?
Edgar Allan Poe (1827)
A DREAM WITHIN A DREAM
Take this kiss upon the brow!
And, in parting from you now,
Thus much let me avow-
You are not wrong, who deem
That my days have been a dream;
Yet if hope has flown away
In a night, or in a day,
In a vision, or in none,
Is it therefore the less gone?
All that we see or seem
Is but a dream within a dream.
I stand amid the roar
Of a surf-tormented shore,
And I hold within my hand
Grains of the golden sand-
How few! yet how they creep
Through my fingers to the deep,
While I weep- while I weep!
O God! can I not grasp
Them with a tighter clasp?
O God! can I not save
One from the pitiless wave?
Is all that we see or seem
But a dream within a dream?
Edgar Allan Poe (1827)
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa
20-9-1933
A DREAM
In visions of the dark night
I have dreamed of joy departed-
But a waking dream of life and light
Hath left me broken-hearted.
Ah! what is not a dream by day
To him whose eyes are cast
On things around him with a ray
Turned back upon the past?
That holy dream- that holy dream,
While all the world were chiding,
Hath cheered me as a lovely beam
A lonely spirit guiding.
What though that light,
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So trembled from afar-
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Thus much let me avow-
You are not wrong, who deem
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Yet if hope has flown away
In a night, or in a day,
In a vision, or in none,
Is it therefore the less gone?
All that we see or seem
Is but a dream within a dream.
I stand amid the roar
Of a surf-tormented shore,
And I hold within my hand
Grains of the golden sand-
How few! yet how they creep
Through my fingers to the deep,
While I weep- while I weep!
O God! can I not grasp
Them with a tighter clasp?
O God! can I not save
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quinta-feira, fevereiro 19, 2009
Ainda lendo Thoreau e curtindo CSI.
"eu fui à Floresta porque queria viver livre. Eu queria viver profundamente, e sugar a própria essência da vida... expurgar tudo o que não fosse vida; e não, ao morrer, descobrir que não havia vivido".
(Walden, or life in the woods, 1854, por H. David Thoreau)
Deus abençoe Bruckenheimer por produzir CSI e convencer William Petersen a participar do projeto. Gilbert Grissom e sua turma mantiveram minha sanidade, provando que é possível, sim, fazer as coisas da maneira certa e conseguir bons resultados. Claro, Ecklie provou que ser político é a melhor maneira de obter reconhecimento, ainda que seu trabalho seja medíocre (amei aquilo que Sara disse em 'Nesting Dolls', ainda que rendesse uma suspensão pra ela). Maaaaaas, duvido que Conrad Ecklie faça a falta que Gil Grissom faz. Ele pode até ter festa de despedida com bolo (coisa que Grissom não teve), mas no dia seguinte ninguém lembraria dele.
Grissom me apresentou Thoreau, Shakespeare e ópera, além de outras coisas boas. E me fez expurgar tudo que não fosse vida. Tudo mesmo.
***
Descobri que retornei ao meu estado de andarilha e não apenas pela ausência do carro. Considerando que 'aqueles que se deixam permanecer em casa, quietos, sempre e sempre podem ser os maiores errantes de todos', bem entendido. Em 'Andar a pé', H. David Thoreau discorre sobre a arte de andar. E defende que o 'saunterer (um peregrino que vai à Terra Santa, mas que aqui seria o real andarilho) verdadeiro não é mais errante que o rio sinuoso, cujo propósito contínuo é encontrar o caminho mais adequado para o mar'. Então, quem sabe onde estará meu mar? Qual será minha 'Terra Santa'?
É verdade que 'os andarilhos modernos não perseveram e nunca terminam suas iniciativas', mas como a verdadeira liberdade é responsável, é importante lembrar: 'Caso se encontrem preparados para deixar pai e mãe, irmão e irmã, esposa e filho, e amigos, e a nunca mais vê-los - caso haveis liquidado vossas dívidas, deixado pronto vosso testamento, posto em ordem os negócios e se sois um homem livre, nesse caso estais pronto para uma caminhada'.
Não se auto-intitule andarilho apenas beleza de ser, anônimo leitor. 'Ambulatur nascitur, non fit' ('Nasce-se andarilho, não torna-se um', se meu latim de igreja entendeu bem). Mas eu, que sempre me senti andarilha, apenas peço, como Thoreau: 'Deixai-me viver onde me aprouver', pois isso me faz rica. E 'os requisitos lazer, liberdade e independência, nenhuma fortuna é capaz de comprar'.
(Walden, or life in the woods, 1854, por H. David Thoreau)
Deus abençoe Bruckenheimer por produzir CSI e convencer William Petersen a participar do projeto. Gilbert Grissom e sua turma mantiveram minha sanidade, provando que é possível, sim, fazer as coisas da maneira certa e conseguir bons resultados. Claro, Ecklie provou que ser político é a melhor maneira de obter reconhecimento, ainda que seu trabalho seja medíocre (amei aquilo que Sara disse em 'Nesting Dolls', ainda que rendesse uma suspensão pra ela). Maaaaaas, duvido que Conrad Ecklie faça a falta que Gil Grissom faz. Ele pode até ter festa de despedida com bolo (coisa que Grissom não teve), mas no dia seguinte ninguém lembraria dele.
Grissom me apresentou Thoreau, Shakespeare e ópera, além de outras coisas boas. E me fez expurgar tudo que não fosse vida. Tudo mesmo.
***
Descobri que retornei ao meu estado de andarilha e não apenas pela ausência do carro. Considerando que 'aqueles que se deixam permanecer em casa, quietos, sempre e sempre podem ser os maiores errantes de todos', bem entendido. Em 'Andar a pé', H. David Thoreau discorre sobre a arte de andar. E defende que o 'saunterer (um peregrino que vai à Terra Santa, mas que aqui seria o real andarilho) verdadeiro não é mais errante que o rio sinuoso, cujo propósito contínuo é encontrar o caminho mais adequado para o mar'. Então, quem sabe onde estará meu mar? Qual será minha 'Terra Santa'?
É verdade que 'os andarilhos modernos não perseveram e nunca terminam suas iniciativas', mas como a verdadeira liberdade é responsável, é importante lembrar: 'Caso se encontrem preparados para deixar pai e mãe, irmão e irmã, esposa e filho, e amigos, e a nunca mais vê-los - caso haveis liquidado vossas dívidas, deixado pronto vosso testamento, posto em ordem os negócios e se sois um homem livre, nesse caso estais pronto para uma caminhada'.
Não se auto-intitule andarilho apenas beleza de ser, anônimo leitor. 'Ambulatur nascitur, non fit' ('Nasce-se andarilho, não torna-se um', se meu latim de igreja entendeu bem). Mas eu, que sempre me senti andarilha, apenas peço, como Thoreau: 'Deixai-me viver onde me aprouver', pois isso me faz rica. E 'os requisitos lazer, liberdade e independência, nenhuma fortuna é capaz de comprar'.
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232 anos e ninguém entendeu nada
Há alguns anos, mesmo quem nunca estudou história seriamente, teve um vislumbre dos altos ideais que guiaram um grupo de pessoas a tornar a primeira colônia independente de um país através de ato revolucionário. O filme é 'National Treasure', com Nicholas Cage, evidentemente produzido pelo meu reverenciado Jerry Brukenheimer.
Eu já havia lido o texto integral da Declaração de Independência dos EUA (eu acabara de ler 'América', livro-texto adotado na faculdade do ex, que faz História), mas de tanto ver e rever o filme, um trecho se fixou.
Talvez seja a leitura de Thoreau nesses últimos dias, mas em face a esse impasse profissional em que me encontro (eu não tenho nem a quem comunicar que estou saindo do emprego porque até o prefeito eu não acho nessa cidade pequenina), eu ando meio política por esses dias. Logo eu, que sempre fui apartidária.
Thoreau inspirou Ghandi a uma revolução pacífica, quem sabe me inspire também. por via das dúvidas, aí vai meu trecho preferido da Declaração de independência.
'Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna necessário um povo dissolver laços políticos que o ligavam a outro, e assumir, entre os poderes da Terra, posição igual e separada, a que lhe dão direito as leis da natureza e as do Deus da natureza, o respeito digno às opiniões dos homens exige que se declarem as causas que os levam a essa separação.
Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens foram criados iguais, foram dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade.
Que a fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o em tais princípios e organizando-lhe os poderes pela forma que lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade. Na realidade, a prudência recomenda que não se mudem os governos instituídos há muito tempo por motivos leves e passageiros; e, assim sendo, toda experiência tem mostrado que os homens estão mais dispostos a sofrer, enquanto os males são suportáveis, do que a se desagravar, abolindo as formas a que se acostumaram. Mas quando uma longa série de abusos e usurpações, perseguindo invariavelmente o mesmo objeto, indica o desígnio de reduzi-los ao despotismo absoluto, assistem-lhes o direito, bem como o dever, de abolir tais governos e instituir novos-Guardas para sua futura segurança'.
(4 de julho de 1776, Declaração Unânime dos Treze Estados Unidos da América)
Reconheço que o problema não é a prefeitura. Também não é a secretaria de saúde do município. É um modelo, e as pessoas que seguem esse modelo não entendem a necessidade de reavaliar a situação. Eu tentei e tentei explicar e sugerir, e ensinar, que as coisas podem funcionar de forma mais fácil, que conheci diversos modelos de gestão na área de saúde, mas não há quem queira ouvir. Como não posso opinar num governo que não elegi (embora, como cidadã consciente das minhas obrigações, tenha tentado mudar meu título para cá, uma vez que moro aqui há três anos),resta-me seguir um ditado antigo e muito certo: 'Os incomodados que se mudem'.
Eu já havia lido o texto integral da Declaração de Independência dos EUA (eu acabara de ler 'América', livro-texto adotado na faculdade do ex, que faz História), mas de tanto ver e rever o filme, um trecho se fixou.
Talvez seja a leitura de Thoreau nesses últimos dias, mas em face a esse impasse profissional em que me encontro (eu não tenho nem a quem comunicar que estou saindo do emprego porque até o prefeito eu não acho nessa cidade pequenina), eu ando meio política por esses dias. Logo eu, que sempre fui apartidária.
Thoreau inspirou Ghandi a uma revolução pacífica, quem sabe me inspire também. por via das dúvidas, aí vai meu trecho preferido da Declaração de independência.
'Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna necessário um povo dissolver laços políticos que o ligavam a outro, e assumir, entre os poderes da Terra, posição igual e separada, a que lhe dão direito as leis da natureza e as do Deus da natureza, o respeito digno às opiniões dos homens exige que se declarem as causas que os levam a essa separação.
Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens foram criados iguais, foram dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade.
Que a fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o em tais princípios e organizando-lhe os poderes pela forma que lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade. Na realidade, a prudência recomenda que não se mudem os governos instituídos há muito tempo por motivos leves e passageiros; e, assim sendo, toda experiência tem mostrado que os homens estão mais dispostos a sofrer, enquanto os males são suportáveis, do que a se desagravar, abolindo as formas a que se acostumaram. Mas quando uma longa série de abusos e usurpações, perseguindo invariavelmente o mesmo objeto, indica o desígnio de reduzi-los ao despotismo absoluto, assistem-lhes o direito, bem como o dever, de abolir tais governos e instituir novos-Guardas para sua futura segurança'.
(4 de julho de 1776, Declaração Unânime dos Treze Estados Unidos da América)
Reconheço que o problema não é a prefeitura. Também não é a secretaria de saúde do município. É um modelo, e as pessoas que seguem esse modelo não entendem a necessidade de reavaliar a situação. Eu tentei e tentei explicar e sugerir, e ensinar, que as coisas podem funcionar de forma mais fácil, que conheci diversos modelos de gestão na área de saúde, mas não há quem queira ouvir. Como não posso opinar num governo que não elegi (embora, como cidadã consciente das minhas obrigações, tenha tentado mudar meu título para cá, uma vez que moro aqui há três anos),resta-me seguir um ditado antigo e muito certo: 'Os incomodados que se mudem'.
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segunda-feira, fevereiro 16, 2009
Agora me diga:
O que pode se esperar de um ser humano perdido?
Que ele viva como nunca fosse morrer?
Ou que ele morra como nunca tivesse vivido?
O que pode se esperar de uma pessoa que não pode
sonhar
(Be myself, Charlie Brown Jr.)
Que ele viva como nunca fosse morrer?
Ou que ele morra como nunca tivesse vivido?
O que pode se esperar de uma pessoa que não pode
sonhar
(Be myself, Charlie Brown Jr.)
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quinta-feira, fevereiro 12, 2009
Porque tem dias que...
Disparada
(Geraldo Vandré)
Prepare o seu coração prás coisas que eu vou contar
Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar
Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo, a morte e o destino, tudo
Estava fora do lugar, eu vivo prá consertar
Na boiada já fui boi, mas um dia me montei
Não por um motivo meu, ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse, porém por necessidade
Do dono de uma boiada cujo vaqueiro morreu
Boiadeiro muito tempo, laço firme e braço forte
Muito gado, muita gente, pela vida segurei
Seguia como num sonho, e boiadeiro era um rei
Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
E nos sonhos que fui sonhando, as visões se clareando
As visões se clareando, até que um dia acordei
Então não pude seguir valente em lugar tenente
E dono de gado e gente, porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente
Se você não concordar não posso me desculpar
Não canto prá enganar, vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar
Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém, que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu querer ir mais longe do que eu
Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte num reino que não tem rei
(Geraldo Vandré)
Prepare o seu coração prás coisas que eu vou contar
Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar
Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo, a morte e o destino, tudo
Estava fora do lugar, eu vivo prá consertar
Na boiada já fui boi, mas um dia me montei
Não por um motivo meu, ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse, porém por necessidade
Do dono de uma boiada cujo vaqueiro morreu
Boiadeiro muito tempo, laço firme e braço forte
Muito gado, muita gente, pela vida segurei
Seguia como num sonho, e boiadeiro era um rei
Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
E nos sonhos que fui sonhando, as visões se clareando
As visões se clareando, até que um dia acordei
Então não pude seguir valente em lugar tenente
E dono de gado e gente, porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente
Se você não concordar não posso me desculpar
Não canto prá enganar, vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar
Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém, que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu querer ir mais longe do que eu
Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte num reino que não tem rei
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segunda-feira, fevereiro 09, 2009
Conforme prometido
Eu falei tanto das análises cômicas da Fal a respeito das novelas da Glória Perez que é justo fazer propaganda de 'Caminho da Roça'. A novela deve ter umas três semanas (nem adianta se horrorizar, anônimo leitor, eu só liguei a TV essa semana pra ver 'Espanglês' na Globo e porque a Paz Vega, bem, é tudo que eu queria ser em matéria de beleza) e Fal está engatinhando na sátira, mas engatinhando firme.
Segundo ela, falta o Alexandre (marido dela, falecido há algum tempo) para dar os apelidos legais pros personagens, mas o que já temos é bem promissor:
"Pelo que eu entendi da nobela, a India é um lugar lindo e feliz e colorido, onde todo mundo passa o dia todo dançando no meio da rua ao som de Raul Seixas. Eu não vou lá nem amarrada."
"É um chavão atrás do outro, a moçada dos treinamentos inspiracionais deve de tar nadando de braçada. "Abraçar a incerteza", "ser feliz fazendo feliz", "o deus que moram em vc mora nele" (é? e o deus que mora ni mim não paga aluguel, é um perdulário), "onde vc vê problemas eu vejo desafios" (essa é de nanar)."
"Depois que a missão dessa novela é resumir 6 mil anos de história em 50 minutos então todas as personagens passam o tempo todo dando lições umas pras outra, pro mó de instruir a platéia. O que é um porre."
E outras pérolas assim, intercaladas com a descrição hilária da trama.
Como eu disse pra Fal, "nem me dei ao trabalho de assistir à novela propriamente dita, uma vez que é sempre assim no primeiro mês: ela vai explicar a 'cultura' onde se ambienta a história. Em 'Explode Coração', eu aguentei na boa, porque minha bisavó era cigana, mas aí era um caso de família".
Bom, anônimo leitor, vai se acostumando com 'Peri, o Batman', 'Shazam', 'Jupira Maria', 'Indiiiiiira', 'Toni Uepa' e outros tantos, porque como diz a própria Fal, 'é personagem demais. Eu fico zonza.'
Pra se ter uma idéia, 'Toni Uepa é o comerciante mau. Ele é preconceituoso, odeia pobre, enfim, mas a gente deixa, porque ele usa as mudinha mais lindas do mundo. lindas. E toca sininhos. Tamos aí. Ele tem um monte de filhos, Rá-gincana, Amistad, Reive e Xande e é casado com a Indiiiiiiiira.'
Se você acessar o blog dela, começa de baixo pra cima (os posts mais recentes vêm primeiro) e procura os posts da novela. Fal, como eu, não separa os posts por assunto, então tem 'Caminho da Roça', conversas no MSN com os amigos, recados para os leitores, as aventuras dos gatos e cachorro que estão na casa dela e assim vai. Aliás, a Fal não mede palavras. Pensando bem, não mede nada.
"Então que inventamos a roda, o telégrafo, o telefone, o celular, os foguetes, as vacinas, o asfalto, o fax e a prótese peniana e as pessoas ainda aparecem na casa alheia sem avisar antes como faziam há 200 anos atrás. Nada, nada, nada me tira mais do sério do que gente que “dá uma passada”, pqp. E os amigos da minha mãe parecem ter essa tendência bastante acentuada. Daí, ela viaja e eu fico aqui, sendo tirada da cama nos horários mais improváveis. Nossa, como eu odeio isso. Liga antes, caraio, combina".
É por isso que quando tocam a campainha e eu não estou com saco pra atender (ou lá numa de minhas realidades alternativas, escrevendo pra aguentar ESSA realidade aqui), fico lembrando que quem sabe onde eu moro (não é muita gente) tem meu telefone. Se for o carteiro, o cara da companhia de energia elétrica, ele volta quando eu estiver disposta a falar com o mundo (o agente comunitário de saúde aparece aqui a cada seis meses, viu? E nunca me cadastrou no Programa de Saúde da Família. Não é incrível, anônimo leitor? Eu, médica do PSF, não sou cadastrada no programa).
A propósito, metade da cidade deve ter meu telefone (sabe como é médico), se for uma emergência, no mínimo vão berrar do outro lado do muro: 'doutooooooora!'. Interessante é que os pacientes só ligam em caso grave mesmo, o pessoal do hospital também. O que prova que quem toca a campainha da minha casa sem se fazer anunciar ou é o carteiro (com uma improvável encomenda), ou é o cara da luz (que vem dia 12 ou 13 de cada mês), ou é mal-educado mesmo. As Testemunhas de Jeová da igreja ali na esquina já se convenceram que eu não discuto religião, embora aprove todas que não fazem mal pra ninguém.
Segundo ela, falta o Alexandre (marido dela, falecido há algum tempo) para dar os apelidos legais pros personagens, mas o que já temos é bem promissor:
"Pelo que eu entendi da nobela, a India é um lugar lindo e feliz e colorido, onde todo mundo passa o dia todo dançando no meio da rua ao som de Raul Seixas. Eu não vou lá nem amarrada."
"É um chavão atrás do outro, a moçada dos treinamentos inspiracionais deve de tar nadando de braçada. "Abraçar a incerteza", "ser feliz fazendo feliz", "o deus que moram em vc mora nele" (é? e o deus que mora ni mim não paga aluguel, é um perdulário), "onde vc vê problemas eu vejo desafios" (essa é de nanar)."
"Depois que a missão dessa novela é resumir 6 mil anos de história em 50 minutos então todas as personagens passam o tempo todo dando lições umas pras outra, pro mó de instruir a platéia. O que é um porre."
E outras pérolas assim, intercaladas com a descrição hilária da trama.
Como eu disse pra Fal, "nem me dei ao trabalho de assistir à novela propriamente dita, uma vez que é sempre assim no primeiro mês: ela vai explicar a 'cultura' onde se ambienta a história. Em 'Explode Coração', eu aguentei na boa, porque minha bisavó era cigana, mas aí era um caso de família".
Bom, anônimo leitor, vai se acostumando com 'Peri, o Batman', 'Shazam', 'Jupira Maria', 'Indiiiiiira', 'Toni Uepa' e outros tantos, porque como diz a própria Fal, 'é personagem demais. Eu fico zonza.'
Pra se ter uma idéia, 'Toni Uepa é o comerciante mau. Ele é preconceituoso, odeia pobre, enfim, mas a gente deixa, porque ele usa as mudinha mais lindas do mundo. lindas. E toca sininhos. Tamos aí. Ele tem um monte de filhos, Rá-gincana, Amistad, Reive e Xande e é casado com a Indiiiiiiiira.'
Se você acessar o blog dela, começa de baixo pra cima (os posts mais recentes vêm primeiro) e procura os posts da novela. Fal, como eu, não separa os posts por assunto, então tem 'Caminho da Roça', conversas no MSN com os amigos, recados para os leitores, as aventuras dos gatos e cachorro que estão na casa dela e assim vai. Aliás, a Fal não mede palavras. Pensando bem, não mede nada.
"Então que inventamos a roda, o telégrafo, o telefone, o celular, os foguetes, as vacinas, o asfalto, o fax e a prótese peniana e as pessoas ainda aparecem na casa alheia sem avisar antes como faziam há 200 anos atrás. Nada, nada, nada me tira mais do sério do que gente que “dá uma passada”, pqp. E os amigos da minha mãe parecem ter essa tendência bastante acentuada. Daí, ela viaja e eu fico aqui, sendo tirada da cama nos horários mais improváveis. Nossa, como eu odeio isso. Liga antes, caraio, combina".
É por isso que quando tocam a campainha e eu não estou com saco pra atender (ou lá numa de minhas realidades alternativas, escrevendo pra aguentar ESSA realidade aqui), fico lembrando que quem sabe onde eu moro (não é muita gente) tem meu telefone. Se for o carteiro, o cara da companhia de energia elétrica, ele volta quando eu estiver disposta a falar com o mundo (o agente comunitário de saúde aparece aqui a cada seis meses, viu? E nunca me cadastrou no Programa de Saúde da Família. Não é incrível, anônimo leitor? Eu, médica do PSF, não sou cadastrada no programa).
A propósito, metade da cidade deve ter meu telefone (sabe como é médico), se for uma emergência, no mínimo vão berrar do outro lado do muro: 'doutooooooora!'. Interessante é que os pacientes só ligam em caso grave mesmo, o pessoal do hospital também. O que prova que quem toca a campainha da minha casa sem se fazer anunciar ou é o carteiro (com uma improvável encomenda), ou é o cara da luz (que vem dia 12 ou 13 de cada mês), ou é mal-educado mesmo. As Testemunhas de Jeová da igreja ali na esquina já se convenceram que eu não discuto religião, embora aprove todas que não fazem mal pra ninguém.
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Como dizia um sábio (ou dois)
Meio (pra não dizer 'muito') danada da vida em ser um (mal utilizado) instrumento político, eu dei de cara com 'A desobediência Civil', de Henry David Thoreau, na banca de revistas da cidade. Ele escreveu o manifesto por causa da abolição da escravatura nos Estados Unidos e protestando contra o abuso de impostos que o Governo impõe. Se não tivesse lido antes de quando datava o texto, teria pensado que ele escreveu pra o último presidente Bush.
'...quando todo um país é injustamente assaltado e conquistado por um exército estrangeiro e submetido à lei marcial, posso afirmar que não é precipitada a rebelião e a revolução dos homens honestos. Esse dever se torna mais imediato à medida que o país assaltado não é o nosso, e para piorar, o exército invasor é o nosso'.
Ele estava falando da guerra dos EUA contra o México (1846-1848), que deu Texas, Novo México e Califórnia para os Estados Unidos, aumentando o território onde a escravidão negra era considerada legal. Mas a associação com o Iraque é imediata.
Embora o texto fale principalmente sobre Governo, é sobre liberdade e como viver em sociedade. E tem tantos pensamentos geniais, que não dá pra citar todos aqui. O livro é pequeno e o texto fácil. A respeito de citações, anônimo leitor, repito a que encontrei na 'Desobediência':
"Minha origem é nobre demais para que eu seja
propriedade de alguém
Para que eu seja o segundo no comando
ou um útil serviçal ou instrumento
de qualquer Estado soberano deste mundo".
(Shakespeare, King John, parte V)
Como é habitual, ultimamente, eu fui apresentada a Thoreau por CSI(o episódio é 'Happenstance').
'...quando todo um país é injustamente assaltado e conquistado por um exército estrangeiro e submetido à lei marcial, posso afirmar que não é precipitada a rebelião e a revolução dos homens honestos. Esse dever se torna mais imediato à medida que o país assaltado não é o nosso, e para piorar, o exército invasor é o nosso'.
Ele estava falando da guerra dos EUA contra o México (1846-1848), que deu Texas, Novo México e Califórnia para os Estados Unidos, aumentando o território onde a escravidão negra era considerada legal. Mas a associação com o Iraque é imediata.
Embora o texto fale principalmente sobre Governo, é sobre liberdade e como viver em sociedade. E tem tantos pensamentos geniais, que não dá pra citar todos aqui. O livro é pequeno e o texto fácil. A respeito de citações, anônimo leitor, repito a que encontrei na 'Desobediência':
"Minha origem é nobre demais para que eu seja
propriedade de alguém
Para que eu seja o segundo no comando
ou um útil serviçal ou instrumento
de qualquer Estado soberano deste mundo".
(Shakespeare, King John, parte V)
Como é habitual, ultimamente, eu fui apresentada a Thoreau por CSI(o episódio é 'Happenstance').
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Trilha Sonora
'Imitation of life' (R.E.M.) define como passei o último mês. Algo, ou alguém, repete infindavelmente em minha mente 'Butterflies and Hurricanes' (Muse), para que eu não desista. E eu gostaria de dizer simplesmente 'Leave out all the rest' (Linkin Park) em resposta a isto. Talvez 'Bizarre Love Triangle' (Frente!) seja precisamente como vivo com a profissão que me escolheu.
'Eu sinto passar por mim
Um raio de tristeza
Não é um problema meu
Mas é é um problema que eu achei
Vivendo esta vida que não posso deixar para trás
(...)
Mas é assim que as coisas são
E é o que ninguém sabe
E a cada dia que passa minha confusão cresce
(...)
Eu fico de joelhos e rezo
Estou esperando pelo momento final'
'Eu sinto passar por mim
Um raio de tristeza
Não é um problema meu
Mas é é um problema que eu achei
Vivendo esta vida que não posso deixar para trás
(...)
Mas é assim que as coisas são
E é o que ninguém sabe
E a cada dia que passa minha confusão cresce
(...)
Eu fico de joelhos e rezo
Estou esperando pelo momento final'
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sábado, fevereiro 07, 2009
Do portal do CREMEPE
(os grifos são meus)
Cidades sem médicos
(em 03/02/2009)
Por José Luiz Gomes do Amaral*
Há muito que se fala em interiorização de médicos no Brasil. É certo que o País tem um número excessivo de médicos em relação à capacidade do sistema de saúde pública em absorvê-lo, o que faz com que esses profissionais se concentrem nas áreas de maior desenvolvimento, deixando vastas regiões desprovidas de assistência.
São várias as razões que determinam essa distribuição iníqua. A primeira é a falta de resolutividade nas estruturas de saúde encontradas nas regiões hoje desassistidas. Isto faz com que o médico ali instalado não tenha condições de ver tornadas efetivas suas ações. Falta-lhe toda a sorte de recursos para diagnosticar e tratar adequadamente os pacientes sob seus cuidados. Não há tampouco organização do sistema de saúde que lhe permita referenciar os pacientes que precisem de especialidades diferentes da sua.
Em segundo lugar, para que um médico (ou qualquer outro profissional) se fixe é necessário que haja ambiente de trabalho adequado. Pressões, sejam elas associadas ao excesso de demanda, à insuficiência de recursos ou mesmo ao uso político do médico por autoridades e gestores locais, tornam insustentável a permanência do médico em certos municípios.
O terceiro ponto é a impossibilidade de desenvolvimento profissional, que faz do médico um exilado em seu próprio País. No Sistema Único de Saúde não existe carreira que permita ao médico desenvolver-se e eventualmente qualificar-se para postos que sejam, ao longo de sua vida pessoal e familiar, compatíveis com a sua atividade profissional.
A mobilidade é absolutamente essencial na carreira, quando se pensa em prover com médicos áreas remotas. Isso só seria possível dentro de um plano de carreira federal. As carreiras municipais isolam os que dela fazem parte, impedindo deslocamentos para outros municípios.
O salário é um aspecto certamente importante, mas não está entre os primordiais do ponto de vista da fixação dos médicos. O que nos surpreende é que todas essas causas de fixação ou migração são bastante conhecidas e estudadas. Os que gerenciam a saúde, porém, insistem em ignorá-las. Perdem-se em alternativas periféricas que, longe de corrigir os desvios determinantes do problema, apenas acrescentam-lhe distorções, degradando a profissão médica e ampliando o fosso que nos aparta do mundo desenvolvido.
*José Luiz Gomes do Amaral é presidente da AMB.
Da Assessoria de Comunicação do Cremepe.
Fonte: AMB (Associação Médica Brasileira).
Agora me diga, anônimo leitor: sou eu?
Cidades sem médicos
(em 03/02/2009)
Por José Luiz Gomes do Amaral*
Há muito que se fala em interiorização de médicos no Brasil. É certo que o País tem um número excessivo de médicos em relação à capacidade do sistema de saúde pública em absorvê-lo, o que faz com que esses profissionais se concentrem nas áreas de maior desenvolvimento, deixando vastas regiões desprovidas de assistência.
São várias as razões que determinam essa distribuição iníqua. A primeira é a falta de resolutividade nas estruturas de saúde encontradas nas regiões hoje desassistidas. Isto faz com que o médico ali instalado não tenha condições de ver tornadas efetivas suas ações. Falta-lhe toda a sorte de recursos para diagnosticar e tratar adequadamente os pacientes sob seus cuidados. Não há tampouco organização do sistema de saúde que lhe permita referenciar os pacientes que precisem de especialidades diferentes da sua.
Em segundo lugar, para que um médico (ou qualquer outro profissional) se fixe é necessário que haja ambiente de trabalho adequado. Pressões, sejam elas associadas ao excesso de demanda, à insuficiência de recursos ou mesmo ao uso político do médico por autoridades e gestores locais, tornam insustentável a permanência do médico em certos municípios.
O terceiro ponto é a impossibilidade de desenvolvimento profissional, que faz do médico um exilado em seu próprio País. No Sistema Único de Saúde não existe carreira que permita ao médico desenvolver-se e eventualmente qualificar-se para postos que sejam, ao longo de sua vida pessoal e familiar, compatíveis com a sua atividade profissional.
A mobilidade é absolutamente essencial na carreira, quando se pensa em prover com médicos áreas remotas. Isso só seria possível dentro de um plano de carreira federal. As carreiras municipais isolam os que dela fazem parte, impedindo deslocamentos para outros municípios.
O salário é um aspecto certamente importante, mas não está entre os primordiais do ponto de vista da fixação dos médicos. O que nos surpreende é que todas essas causas de fixação ou migração são bastante conhecidas e estudadas. Os que gerenciam a saúde, porém, insistem em ignorá-las. Perdem-se em alternativas periféricas que, longe de corrigir os desvios determinantes do problema, apenas acrescentam-lhe distorções, degradando a profissão médica e ampliando o fosso que nos aparta do mundo desenvolvido.
*José Luiz Gomes do Amaral é presidente da AMB.
Da Assessoria de Comunicação do Cremepe.
Fonte: AMB (Associação Médica Brasileira).
Agora me diga, anônimo leitor: sou eu?
'O que eu sou?'
É o que o robô pergunta a Will Smith em 'I,robot'. Robin Williams refere a si mesmo como 'isto' até obter a liberdade em 'O homem bicentenário'. E eu?
Desde a saída de minha enfermeira tenho trabalhado por duas (o pré-natal das gestantes tem ainda mais papéis que o acompanhamento de hipertensos e diabéticos). Até aí, tudo bem. Já fiquei sem enfermeira antes e sobrevivi. Tirando um certo atrapalho com a burocracia, sei todo o serviço, do agente de saúde, da técnica de enfermagem, da enfermeira e o meu. Todo mesmo. Mas acrescente-se a isso um retorno ao trabalho depois de muito tempo afastada, consciente que há um limite possível de stress a que posso se submetida sem voltar às antigas condições de saúde. Some-se à rotina diária de: 'não sei a que horas e se teremos um carro para levar a equipe', 'não há medicação', inúmeras mensagens díspares dos que trabalham na Secretaria Municipal de Saúde, 'tem concurso, não tem concurso', 'os contratos estão prontos, eu já assinei o meu, ainda não chamaram você?', 'será que eu tenho emprego, será que não?'; e até hoje (ou, ontem, pois são duas e meia da madrugada) eu fui levando.
'Levando', em termos, pois disse a mais de um paciente que ando seriamente inclinada a deixar de vez a Medicina. Eu sei, anônimo leitor, você já conhece essa história. É que eu trabalho com gente decente, minha equipe é possivelmente a melhor que tive em uns 15 postos de saúde que trabalhei desde que me formei e parte do mérito é meu, sim. Talvez eles nem sejam os melhores, mas eu sei como trabalhar com cada um.
É desanimador quando seu público-alvo não entende suas boas intenções (o que não é o caso), mas é totalmente frustrante quando quem deveria ser suporte- pra orientar, supervisionar, acolher críticas - fala uma língua diferente da sua. Não, eles não falam inglês, nem francês. Eles não escrevem em espanhol e decididamente não estão interessados em aprender a linguagem dos sinais. E eu cansei.
Oh, eu falei 'supervisionar'? Quem é mesmo o supervisor disso? Com quem eu falo quando eu tenho alguma complicação? Uma secretaria de saúde que não sabia nem que eu estava de licença-médica (e eles que me enviaram pro INSS)! Que esqueceu de me incluir na folha de pagamento! Onde o 'responsável' pelos transportes determina quando chego e quando saio do meu local de trabalho!
(eu ficava das oito às dezesseis ou catorze, dependendo do dia. Agora eu chego às nove e saio às catorze, ou chego às onze, saio à uma. Fazendo as contas, estou fazendo o meu trabalho na metade do tempo e o da enfermeira também! Fazendo o trabalho de duas, recebendo por uma e na metade do tempo, logo, deveria receber por quatro, ou pelo menos por duas. Ou simplesmente receber meu salário sem ter que ir atrás.)
Desde que eu voltei, não fiz uma palestra, não tive um dia de visita domiciliar, não cadastrei um novo hipertenso nem atualizei a lista dos antigos. Não me pergunte o que meus diabéticos e hipertensos estão tomando como medicação, eu não sei mais, simplesmente porque não tenho tempo de registrar! Eu, que sei até os apelidos de quase 400 pessoas, que sei onde moram, se faziam a dieta, se sabiam ler. Já não sei mais. Não tenho tempo de registrar minhas consultas. Tive que marcar uma quantidade menor de pacientes hoje pra conseguir terminar o trabalho de segunda-feira!
Não nasci para 'tocar serviço'. Nasci para fazer a diferença, qualquer que seja a área onde eu atue. Se eu tivesse condições, estaria cancelando minha inscrição primária no Conselho Regional de Medicina o mais rápido possível. Mas eu tenho contas para pagar e, ao contrário de há alguns meses, agora eu tenho uma razão para viver. Então, eu reassisti 'Goodbye and Good Luck' (quando Sara diz adeus ao amor da vida dela, mas que tem que sair dali ou vai se destruir), que foi o que me manteve a sanidade em junho passado. E estou seguido a ordem dos episódios até chegar a 'One to go'.
Assim como Grissom, chegou a hora de partir.
Odessa Valadares: Escritora, tradutora e 'doutora' só pra pagar as contas.
Desde a saída de minha enfermeira tenho trabalhado por duas (o pré-natal das gestantes tem ainda mais papéis que o acompanhamento de hipertensos e diabéticos). Até aí, tudo bem. Já fiquei sem enfermeira antes e sobrevivi. Tirando um certo atrapalho com a burocracia, sei todo o serviço, do agente de saúde, da técnica de enfermagem, da enfermeira e o meu. Todo mesmo. Mas acrescente-se a isso um retorno ao trabalho depois de muito tempo afastada, consciente que há um limite possível de stress a que posso se submetida sem voltar às antigas condições de saúde. Some-se à rotina diária de: 'não sei a que horas e se teremos um carro para levar a equipe', 'não há medicação', inúmeras mensagens díspares dos que trabalham na Secretaria Municipal de Saúde, 'tem concurso, não tem concurso', 'os contratos estão prontos, eu já assinei o meu, ainda não chamaram você?', 'será que eu tenho emprego, será que não?'; e até hoje (ou, ontem, pois são duas e meia da madrugada) eu fui levando.
'Levando', em termos, pois disse a mais de um paciente que ando seriamente inclinada a deixar de vez a Medicina. Eu sei, anônimo leitor, você já conhece essa história. É que eu trabalho com gente decente, minha equipe é possivelmente a melhor que tive em uns 15 postos de saúde que trabalhei desde que me formei e parte do mérito é meu, sim. Talvez eles nem sejam os melhores, mas eu sei como trabalhar com cada um.
É desanimador quando seu público-alvo não entende suas boas intenções (o que não é o caso), mas é totalmente frustrante quando quem deveria ser suporte- pra orientar, supervisionar, acolher críticas - fala uma língua diferente da sua. Não, eles não falam inglês, nem francês. Eles não escrevem em espanhol e decididamente não estão interessados em aprender a linguagem dos sinais. E eu cansei.
Oh, eu falei 'supervisionar'? Quem é mesmo o supervisor disso? Com quem eu falo quando eu tenho alguma complicação? Uma secretaria de saúde que não sabia nem que eu estava de licença-médica (e eles que me enviaram pro INSS)! Que esqueceu de me incluir na folha de pagamento! Onde o 'responsável' pelos transportes determina quando chego e quando saio do meu local de trabalho!
(eu ficava das oito às dezesseis ou catorze, dependendo do dia. Agora eu chego às nove e saio às catorze, ou chego às onze, saio à uma. Fazendo as contas, estou fazendo o meu trabalho na metade do tempo e o da enfermeira também! Fazendo o trabalho de duas, recebendo por uma e na metade do tempo, logo, deveria receber por quatro, ou pelo menos por duas. Ou simplesmente receber meu salário sem ter que ir atrás.)
Desde que eu voltei, não fiz uma palestra, não tive um dia de visita domiciliar, não cadastrei um novo hipertenso nem atualizei a lista dos antigos. Não me pergunte o que meus diabéticos e hipertensos estão tomando como medicação, eu não sei mais, simplesmente porque não tenho tempo de registrar! Eu, que sei até os apelidos de quase 400 pessoas, que sei onde moram, se faziam a dieta, se sabiam ler. Já não sei mais. Não tenho tempo de registrar minhas consultas. Tive que marcar uma quantidade menor de pacientes hoje pra conseguir terminar o trabalho de segunda-feira!
Não nasci para 'tocar serviço'. Nasci para fazer a diferença, qualquer que seja a área onde eu atue. Se eu tivesse condições, estaria cancelando minha inscrição primária no Conselho Regional de Medicina o mais rápido possível. Mas eu tenho contas para pagar e, ao contrário de há alguns meses, agora eu tenho uma razão para viver. Então, eu reassisti 'Goodbye and Good Luck' (quando Sara diz adeus ao amor da vida dela, mas que tem que sair dali ou vai se destruir), que foi o que me manteve a sanidade em junho passado. E estou seguido a ordem dos episódios até chegar a 'One to go'.
Assim como Grissom, chegou a hora de partir.
Odessa Valadares: Escritora, tradutora e 'doutora' só pra pagar as contas.
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