segunda-feira, junho 15, 2009

'Existo porque insisto'

Li isso no Balaio Porreta, em 'Frases de caminhão'. Eu poderia parafrasear o gênio que escreveu isso e o filósofo Descartes na seguinte frase: 'Insisto, logo existo'. A recíproca também é verdadeira.

De fato, a insistência e a persistência andam de mãos dadas. É certo que existe uma linha muito tênue entre persistência e teimosia, mas fazer o quê? Cada dia me traz uma revelação, um sinal que não estou tão só nesse mundo. Acabo de descobrir William Faulkner e a vida ficou maior. Não era só Sidney Sheldon que falava com os personagens, sabe? Charles Dickens também. Faulkner baseou-se em pessoas e lugares reais para criar seu mundo imaginário e ganhou um Nobel de Literatura com isso.

Acho que está na hora de começar algo pro resto do mundo ler.

***
Eu indico: Ofício Literário. Para aspirantes a escritores, solitários que escrevem para si e autores publicados (nem que seja na internet). Eis um exemplo:

Decálogo do perfeito contista
In Conto on 27/11/2007 at 19:56
De Horacio Quiroga

I – Crê em um mestre – Poe, Maupassant, Kipling, Tchecov – como em Deus.

II – Crê que tua arte é um cume inacessível. Não sonhes alcançá-la. Quando puderes fazê-lo, conseguirás sem ao menos perceber.

III – Resiste o quando puderes à imitação, mas imite se a demanda for demasiado forte. Mais que nenhuma outra coisa, o desenvolvimento da personalidade requer muita paciência.

IV – Tem fé cega não em tua capacidade para o triunfo, mas no ardor com que o desejas. Ama tua arte como à tua namorada, de todo o coração.

V – Não comeces a escrever sem saber desde a primeira linha aonde queres chegar. Em um conto bem-feito, as três primeiras linhas têm quase a mesma importância das três últimas.

VI – Se quiseres expressar com exatidão esta circunstância: “Desde o rio soprava o vento frio”, não há na língua humana mais palavras que as apontadas para expressá-la. Uma vez dono de tuas palavras, não te preocupes em observar se apresentam consonância ou dissonância entre si.

VII – Não adjetives sem necessidade. Inúteis serão quantos apêndices coloridos aderires a um substantivo fraco. Se encontrares o perfeito, somente ele terá uma cor incomparável. Mas é preciso encontrá-lo.

VIII – Pega teus personagens pela mão e conduza-os firmemente até o fim, sem ver nada além do caminho que traçastes para eles. Não te distraias vendo o que a eles não importa ver. Não abuses do leitor. Um conto é um romance do qual se retirou as aparas. Tenha isso como uma verdade absoluta, ainda que não o seja.

IX – Não escrevas sob domínio da emoção. Deixe-a morrer e evoque-a em seguida. Se fores então capaz de revivê-la tal qual a sentiu, terás alcançado na arte a metade do caminho.

X – Não penses em teus amigos ao escrever, nem na impressão que causará tua história. Escreva como se teu relato não interessasse a mais ninguém senão ao pequeno mundo de teus personagens, dos quais poderias ter sido um. Não há outro modo de dar vida ao conto.

Este decálogo foi publicado em julho de 1927, na revista argentina Babel. No Brasil foi reproduzido num belo livrinho (Horacio Quiroga: decálogo do perfeito contista. São Leopoldo: UNISINOS, 1999), em que dez contistas brasileiros renomados se arriscam a comentar e decifrar as intenções do mestre, entre os quais Charles Kiefer, Hélio Pólvora, Roberto Gomes e Sônia Coutinho.

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