Pessoalmente, acho que a Creuza-cuidado-senão-quebra devia ir pra maiâme pra boate de las hermanitas, a May-vada DEVIA se apaixonar por um daqueles peões de berradeiros(porque paixão não se escolhe e ela ia pagar a língua, morando no interior do Brasil, de preferência bem pobrezinha e achando tudo lindo porque está apaixonada) , Chatobá ia ser descobrir a cura pro câncer (já que faz mais coisa que nós tudinho juntas), a Nega que grita ia ter um infarto quando descobrisse a nora que tem e ia prum convento pra pagar penitência pela língua (ou então virava repórter dessa programas de fofoca e barraco que passam à tarde), iam descobrir que o Alex/Roberto/Sinval é o pai da Flor, Carninha de Sol seria pega por uma corrente e parava em Cuba (onde ficaria presa pelo regime de Castro) e chorava, chorava... O resto do elenco se dividiria entre uma festa em berradeiros e o batidão (chamado pelo meu ex-idolatrado-marido de “pancadão”).
Isso é tudo, pessoal!
sexta-feira, outubro 28, 2005
quarta-feira, outubro 26, 2005
Do Uh, baby!
Em tempos de dor é conveniente evitar certas (ou quase todas) músicas, alguns filmes, lugares, certos cheiros, ler estritamente o necessário, evitar os melhores amigos que tem as melhores intenções e que sempre te levam para afogar as mágoas, é conveniente não beber, não usar substâncias alucinógenas e nem ouvir rádio, ir dormir cedo, mudar itinerários, pois tudo faz doer mais, tudo provoca aquela náusea que te derruba no chão de joelhos, tudo faz embaçar seus olhos, tudo descompassa seu coração, feito isso é contar com o tempo, o senhor da razão, o melhor remédio.
Ontem, por exemplo, estava ouvindo rádio, coisa que ando fazendo muito ultimamente, quando toca “aquela” música, deu uma dorzinha lááááá no fundo do coração e do estômago, um nó na garganta e senti os olhos molhados e a gente suspira pra ver se expurga todos esses sintomas, mas não muda de estação mesmo porque não adianta, seu dia acabou ali, naqueles acordes, naquelas notas. A gente até pode ouvir “aquela” música, quando acha que melhorou um pouquinho baque, mas propositadamente, pois de surpresa é cruel, é como uma punhalada pelas costas ou um machucado mesmo, quando você faz curativo pode até doer um pouco, mas é você que está mexendo, cuidando, sabe onde tocar e como tocar, mas se você leva um esbarrão no machucado ou dá uma topada em algum lugar, aí não, aí dói demais.
Em suma, ainda não estou de alta, ainda estou em observação e todo cuidado é pouco...
Ontem, por exemplo, estava ouvindo rádio, coisa que ando fazendo muito ultimamente, quando toca “aquela” música, deu uma dorzinha lááááá no fundo do coração e do estômago, um nó na garganta e senti os olhos molhados e a gente suspira pra ver se expurga todos esses sintomas, mas não muda de estação mesmo porque não adianta, seu dia acabou ali, naqueles acordes, naquelas notas. A gente até pode ouvir “aquela” música, quando acha que melhorou um pouquinho baque, mas propositadamente, pois de surpresa é cruel, é como uma punhalada pelas costas ou um machucado mesmo, quando você faz curativo pode até doer um pouco, mas é você que está mexendo, cuidando, sabe onde tocar e como tocar, mas se você leva um esbarrão no machucado ou dá uma topada em algum lugar, aí não, aí dói demais.
Em suma, ainda não estou de alta, ainda estou em observação e todo cuidado é pouco...
domingo, outubro 23, 2005
Eu queria ser pipoqueira
Então, depois de um dia ruim, continuando a me sentir mal de tão doente que ando, meu ex-namorido-pode-ser-que-volte-a-ser-namorado me leva pra casa da irmã porque está preocupado comigo, resolve que eu preciso sair um pouco, ver o mar.
Menos de meia hora de brisa marinha e conversa ininteligível sobre RPG com a turma dele, escutamos pneus guinchando e vimos um acidente acontecer há vinte metros de onde estávamos. Quer dizer, ver mesmo, eu só vi a batida. Foi tão automático que enquanto o povo chegava pra ver o que estava acontecendo eu já estava lá. Ainda bem. Tinha um homem debaixo do carro.
Calma, ele não morreu, não estava cheio de sangue nem nada. Mas foi preciso uma turma pra suspender o carro e puxar. O interessante era ver eu tentando chegar perto pra socorrer e o povo não deixava. Eu falava "eu sou médica, eu sou médica" e aquela barulheira tamanha não deixava ninguém ouvir. Depois que eu vi o trauma, que identifiquei a fratura, no meio da gritaria "não mexe, moça", "ela é médica", outra luta pra convencer o povo, gritando,(mania que todo mundo tem de falar ao mesmo tempo nessas horas) que eu TINHA que mover o rapaz senão ele ia perder a perna ou a vida porque o fêmur quebrado estava comprimindo a artéria, o pé estava sem circulação. Foram minutos de agonia, até eu perder a paciência e berrar também, no meio de um bando de macho "eu sou médica, porra!" Aí eles escutaram.
Meia hora entre ligar pro SAMU e o homem seguir pro hospital (o SAMU é rápido, mas demorou pra imobilizar a perna, de tão feia a fratura) e eu voltei pra conversa da turma.
Repouso? Passeio pra espairecer?
Menos de meia hora de brisa marinha e conversa ininteligível sobre RPG com a turma dele, escutamos pneus guinchando e vimos um acidente acontecer há vinte metros de onde estávamos. Quer dizer, ver mesmo, eu só vi a batida. Foi tão automático que enquanto o povo chegava pra ver o que estava acontecendo eu já estava lá. Ainda bem. Tinha um homem debaixo do carro.
Calma, ele não morreu, não estava cheio de sangue nem nada. Mas foi preciso uma turma pra suspender o carro e puxar. O interessante era ver eu tentando chegar perto pra socorrer e o povo não deixava. Eu falava "eu sou médica, eu sou médica" e aquela barulheira tamanha não deixava ninguém ouvir. Depois que eu vi o trauma, que identifiquei a fratura, no meio da gritaria "não mexe, moça", "ela é médica", outra luta pra convencer o povo, gritando,(mania que todo mundo tem de falar ao mesmo tempo nessas horas) que eu TINHA que mover o rapaz senão ele ia perder a perna ou a vida porque o fêmur quebrado estava comprimindo a artéria, o pé estava sem circulação. Foram minutos de agonia, até eu perder a paciência e berrar também, no meio de um bando de macho "eu sou médica, porra!" Aí eles escutaram.
Meia hora entre ligar pro SAMU e o homem seguir pro hospital (o SAMU é rápido, mas demorou pra imobilizar a perna, de tão feia a fratura) e eu voltei pra conversa da turma.
Repouso? Passeio pra espairecer?
Às vezes tudo que eu queria era uma profissão normal. Uma colega acaba de me mandar um e-mail onde declara que está aceitando qualquer emprego concursado, "Qualquer vaga para pipoqueira na praça, de segunda a sexta, com direito a 13o e férias, tá valendo!"
Eu pensava que o problema era comigo, que depois de cinco anos de formada, não tenho carro (roubado, o seguro só deu pra quitar o financiamento), nem casa própria, nem DVD (só compro se for à vista, criei horror a cartão de crédito). Eu não sou consumista, nem descontrolada com dinheiro, mas trabalho prestando serviços pra prefeituras, que não pagam em dia ou nem pagam. Uma prefeitura chegou a ficar com as primeiras férias e décimo terceiro que eu teria na vida. Apegou-se a uma tecnicalidade no contrato e adeus dinheiro. Entre isso, doença de mãe, de sogro, não consegui fazer Residência ou especialização, e sempre achei que estava nessa situação por minha culpa. E essa colega? Ela fez Residência, é especialista, tem emprego fixo e anda pra lá de desiludida com a profissão.
Pra você que não é da área, deixa explicar que plano de saúde não paga em dia. Trabalhei numa clínica administrada por um médico com especialização em Administração hospitalar e ex-secretário de saúde. O plano resolve quando e SE vai pagar. Decide se aquela consulta era ou não uma urgência. Vá você dizer ao usuário que não vai atendê-lo por que aquela coceira que não o deixa dormir não é uma urgência! Diga a ele que emergência não é lugar de pedir exames de rotina! Caberia ao plano educar o usuário, que não quer esperar um mês por uma consulta ambulatorial e vai à emergência porque é mais rápido, sem saber que aquela consulta de urgência é mais cara. E pagam pouco, muito pouco ao médico.
O SUS paga, por consulta ambulatorial R$ 1,47, por emergência R$ 4,00. Isso mesmo, quatro reais. Independente do paciente gastar uma dipirona em comprimido ou fizer uma porção de exames de urgência, além de gastar metade da farmácia do hospital. Em média, pagam aqui em Pernambuco, 400 reais por 24 horas de plantão.
Agora me diga: é ou não pra desiludir? Depois de seis anos de faculdade, mais dois de Residência, ganhar quatro reais pra atender um politraumatizado entre a vida e a morte, em muitos locais sem estrutura e ainda ouvir toda sorte de desaforo tanto dos pacientes quanto dos acompanhantes quando você é o único médico da única emergência da cidade e tem que dar prioridade pro mais grave, mesmo que tenha chegado depois?
Eu pensava que o problema era comigo, que depois de cinco anos de formada, não tenho carro (roubado, o seguro só deu pra quitar o financiamento), nem casa própria, nem DVD (só compro se for à vista, criei horror a cartão de crédito). Eu não sou consumista, nem descontrolada com dinheiro, mas trabalho prestando serviços pra prefeituras, que não pagam em dia ou nem pagam. Uma prefeitura chegou a ficar com as primeiras férias e décimo terceiro que eu teria na vida. Apegou-se a uma tecnicalidade no contrato e adeus dinheiro. Entre isso, doença de mãe, de sogro, não consegui fazer Residência ou especialização, e sempre achei que estava nessa situação por minha culpa. E essa colega? Ela fez Residência, é especialista, tem emprego fixo e anda pra lá de desiludida com a profissão.
Pra você que não é da área, deixa explicar que plano de saúde não paga em dia. Trabalhei numa clínica administrada por um médico com especialização em Administração hospitalar e ex-secretário de saúde. O plano resolve quando e SE vai pagar. Decide se aquela consulta era ou não uma urgência. Vá você dizer ao usuário que não vai atendê-lo por que aquela coceira que não o deixa dormir não é uma urgência! Diga a ele que emergência não é lugar de pedir exames de rotina! Caberia ao plano educar o usuário, que não quer esperar um mês por uma consulta ambulatorial e vai à emergência porque é mais rápido, sem saber que aquela consulta de urgência é mais cara. E pagam pouco, muito pouco ao médico.
O SUS paga, por consulta ambulatorial R$ 1,47, por emergência R$ 4,00. Isso mesmo, quatro reais. Independente do paciente gastar uma dipirona em comprimido ou fizer uma porção de exames de urgência, além de gastar metade da farmácia do hospital. Em média, pagam aqui em Pernambuco, 400 reais por 24 horas de plantão.
Agora me diga: é ou não pra desiludir? Depois de seis anos de faculdade, mais dois de Residência, ganhar quatro reais pra atender um politraumatizado entre a vida e a morte, em muitos locais sem estrutura e ainda ouvir toda sorte de desaforo tanto dos pacientes quanto dos acompanhantes quando você é o único médico da única emergência da cidade e tem que dar prioridade pro mais grave, mesmo que tenha chegado depois?
sexta-feira, outubro 21, 2005
Relembrando o antigo blog
Cinema
Antes que eu virasse mais uma dos muitos brasileiros que andam falando maravilhas de "Dois filhos de Francisco" sem ter visto, fui assistir, né?
Sem querer entrar na discussão se o filme está fazendo sucesso por causa da dupla, eu gostei. E muito. Cinema pra mim é saber contar uma boa história, já vi muitas boas histórias sendo mal-contadas, e vice-versa. Gosto de cinema nacional, sim. Gosto de cinema, ponto. Seja pra ver animação digital, curtas, longas, propaganda e trailers. Até certo tempo, eu curtia mais os trailers que o filme. Quer capacidade maior que contar uma história em menos de um minuto? Só a vinheta dos intervalos da Globo. Aliás, nada como desenho animado na grande tela. Fui assistir Pocahontas sozinha porque ninguém quis ir e fui premiada com uma das mais belas canções já compostas pra um filme. Um dos melhores curtas que já assisti foi de graça, naquele projeto da Petrobrás, "Curta às seis". Chamava-se "O chifre do camaleão", hilário. Sem falar que tem filme que SÓ na grande tela. Jurassic Park perdeu metade do pavor que senti quando passou na TV. Até hoje lamento não ter visto "O resgate do soldado Ryan" na telona.
Vc deve estar se perguntando se eu não vou falar de "Dois filhos...". Não, eu não vou. Pessoas melhores já resenharam o filme. Só vou comentar uma coisa: dá vontade de ter um pai daquele. Só não queria trocar com o meu porque a história dele é tão bonita e sofrida, ou mais, que a deles. Dava um senhor filme.
Antes que eu virasse mais uma dos muitos brasileiros que andam falando maravilhas de "Dois filhos de Francisco" sem ter visto, fui assistir, né?
Sem querer entrar na discussão se o filme está fazendo sucesso por causa da dupla, eu gostei. E muito. Cinema pra mim é saber contar uma boa história, já vi muitas boas histórias sendo mal-contadas, e vice-versa. Gosto de cinema nacional, sim. Gosto de cinema, ponto. Seja pra ver animação digital, curtas, longas, propaganda e trailers. Até certo tempo, eu curtia mais os trailers que o filme. Quer capacidade maior que contar uma história em menos de um minuto? Só a vinheta dos intervalos da Globo. Aliás, nada como desenho animado na grande tela. Fui assistir Pocahontas sozinha porque ninguém quis ir e fui premiada com uma das mais belas canções já compostas pra um filme. Um dos melhores curtas que já assisti foi de graça, naquele projeto da Petrobrás, "Curta às seis". Chamava-se "O chifre do camaleão", hilário. Sem falar que tem filme que SÓ na grande tela. Jurassic Park perdeu metade do pavor que senti quando passou na TV. Até hoje lamento não ter visto "O resgate do soldado Ryan" na telona.
Vc deve estar se perguntando se eu não vou falar de "Dois filhos...". Não, eu não vou. Pessoas melhores já resenharam o filme. Só vou comentar uma coisa: dá vontade de ter um pai daquele. Só não queria trocar com o meu porque a história dele é tão bonita e sofrida, ou mais, que a deles. Dava um senhor filme.
Do All things
Ciclo da Vida
Nossas vidas são uma caixa de surpresas,
ora amargas, ora amenas,
mas nem tudo se acabou.
Continua havendo um respeito, um carinho,
um sorriso mesmo que triste
e um brilho no olhar que só se acaba com o morrer.
Então, que se siga em frente,
que deixe chorar lágrimas num filme triste,
que caia na gargalhada, se tiveres vontade.
E assim, a vida continua
como num jardim florido,
que um dia nasce uma bela rosa,
noutra um espinho, um broto, outra rosa.
No fim, uma morre, outra ao lado nasce.
E assim renasce o ciclo,
renasce o viver.
E cada um de nós, todos os dias está renascendo,
sobrepondo momentos,
sendo infeliz ou imensamente feliz.
Mas aprendendo com cada erro,
pra no final, conseguir apenas sorrir e ser feliz.
RL., 2:46 am, 06 outubro 2005.
Nossas vidas são uma caixa de surpresas,
ora amargas, ora amenas,
mas nem tudo se acabou.
Continua havendo um respeito, um carinho,
um sorriso mesmo que triste
e um brilho no olhar que só se acaba com o morrer.
Então, que se siga em frente,
que deixe chorar lágrimas num filme triste,
que caia na gargalhada, se tiveres vontade.
E assim, a vida continua
como num jardim florido,
que um dia nasce uma bela rosa,
noutra um espinho, um broto, outra rosa.
No fim, uma morre, outra ao lado nasce.
E assim renasce o ciclo,
renasce o viver.
E cada um de nós, todos os dias está renascendo,
sobrepondo momentos,
sendo infeliz ou imensamente feliz.
Mas aprendendo com cada erro,
pra no final, conseguir apenas sorrir e ser feliz.
RL., 2:46 am, 06 outubro 2005.
Sobre pacientes e plantões
Inspirada numa comunidade do Orkut, resolvi escrever esse manual para orientar os leigos a se comportarem num hospital, tratar humanamente os médicos (e a equipe em geral) de uma emergência.
Vale salientar que as respostas não expressam minha opinião, mas evidenciam que os médicos não são bonzinhos e podem ser vingativos. Minha opinião está nos comentários, ok?
Capítulo I- Paciente chato
Sobre a pergunta “Para vocês o que mais faz um paciente ser chato?”, as respostas de médicos e outros profissionais de saúde foram pouco variadas, o que me faz pensar que chatice de paciente é mais falta de educação que outra coisa. Claro que existe gente antipática. Em geral o que o médico considera chato é a falta de consideração com o profissional e seu tempo disponível.
Uma das respostas
“Vão me desculpar mas Paciente Chato é Pleonasmo.”
Sinceramente, esse não devia estar exercendo Medicina.
Atestado
“Duas síndromes caracterizam 90% dos pacientes chatos:
- Atestadite, seja crônica ou aguda, associada ou não a encostadite, são síndromes que fazem qualquer paciente irritar qualquer médico, sendo que ela passa após o médico escrever uma palavra em uma folha branca carimbada: ATESTADO.
- Poliqueixosismo, característica de hipocondríacos, é caracterizada pelo paciente conseguir referir cada aspecto de sua sintomatologia e até relacioná-la com eventos do cotidiano, com frases como: "me dói o peito quando eu cheiro flores" ou "me dá dor de cabeça quando eu vou aos pés". A única cura é ser extremamente gentil com o paciente e fingir que está escutando. Se for paciente do SUS, a principal conduta é receitar anti-depressivo em doses baixas”
“Paciente que pergunta do atestado enquanto a gente faz a anamnese (história da doença).”
"Será que o senhor podia me dar um atestado de 15 dias atras quando eu tive que viajar e perdi aulas na faculdade? Eu não tava sentindo nada não e só pra eu não perder a frequencia"
“Sem contar o que pede atestado, você dá uns 2 dias e ele responde: "Mas, é desde a semana passada"... "E porque não veio antes, quando ficou doente?"... "Ah... é porque eu achei que fosse melhorar"
“Bem, uma vez um paciente pediu um atestado médico DURANTE A CIRURGIA!!!!!!!!!! Ele estava sob sedação apenas é claro!
Mas vocês já viram alguém tão rápido assim?”
O atestado explicita a incapacidade do paciente em exercer sua atividade habitual. O que varia de acordo com a atividade. Pé torcido não atesta falta de operador de telemarketing, por exemplo, exceto no dia da entorse, quando ele foi ao hospital pra ser socorrido.
Atestado quem decide se precisa é o médico, não cabe ao paciente pedir, insistir ou ameaçar. É suspeito aquele paciente que ainda está no balcão fazendo a ficha e já pergunta “esse doutor dá atestado?”. Sugere que o mesmo não quer saber o que tem ou como ficar bom, ele quer é o atestado pra não trabalhar. Plantões de sábado e domingo são conhecidos por pacientes que chegam cedo muito limpos, arrumados e bem acompanhados com queixas vagas como vômitos (que já pararam), diarréia, dor de cabeça, que recusam a medicação, mas pedem atestado.
O plantão de segunda-feira é notório em qualquer parte do Brasil pela grande quantidade de atestados solicitados, com queixas de há pelo menos dois dias (suspeita-se de grandes farras e ressacas). Claro que o final de semana facilita adoecer devido às comidas de rua, às peladas etc. Mas sabe-se que há um exagero de solicitações.
Dependendo do caso, eu mesma ofereço o atestado. A gente VÊ quando a pessoa está mal e pergunta se precisa de justificativa no trabalho.
Atestado falso é crime. Se você tem um amigo médico não o constranja pedindo um. Como trabalho numa cidade diferente da que moro, me livro fácil. Médico também não pode dar atestado dos dias anteriores que o paciente faltou.
Só mais uma coisa
“É quando você faz a anamnese (história da doença), faz as perguntas necessárias e pra tirar dúvida, ainda pergunta: "mais alguma coisa que, por acaso, eu esqueci de perguntar?”. ele responde que não. Depois de ter examinado, discuto com o preceptor e ter feito a receita, o paciente vira e diz: só mais uma coisinha que eu deixei pra falar no final..."
”Ou então aquele que quando você já tá liberando, que você acabou de entregar a receita e ele pede uma vitaminazinha”
“Tem aquele paciente que relata dor abdominal e que, depois de uma anamnese, exame físico, prescrição... na hora em que você acaba de bater o carimbo, ele pergunta: "Doutor, mas, e minha dor de cabeça?"
Quando o médico pergunta ‘ Mais alguma coisa?’ é hora de dizer, mesmo se você acha que a queixa não se relaciona com a doença. Nada de deixar para o final da consulta. Quando você conta o que sente o médico já está pensando no que pode ser. Muitas vezes ele já pensou, escreveu, solicitou os exames pra investigar, quando o paciente fala: "só mais uma coisinha que eu deixei pra falar no final..." uma coisinha QUE MUDA TODO O RACIOCÍNIO DO MÉDICO!
Sem falar que TEMPO é algo muito valioso pro médico numa emergência.
Quando a consulta é ambulatorial, oriento meus pacientes a anotarem tudo que precisam falar comigo na próxima vez, inclusive curiosidades, exames a pedir, efeitos do tratamento, pra não esquecerem.
Medicação controlada
“Paciente que aparece somente para pedir receita de controlado e nem quer falar nada, e vai embora sem dar tchau.”
“Pedir receita de remédio controlado.”
Evite, com todas as suas forças, ir a uma emergência, pública ou particular, pra pedir uma receita de medicação controlada. O termo ‘controlado’ significa que alguém deve ter um controle de por que o paciente usa a medicação, se está funcionando, há quanto tempo usa. Muitas dessas medicações causam dependência física e/ou psicológica. Medicação controlada é para ser prescrita pelo médico que indicou a medicação. Tenha cuidado pra não deixar faltar.
Exames
“Paciente que leva aquele catatau de exames da prima/irmã/vizinha/colega para você dar uma "olhadinha".
Entenda bem: médicos NÃO gostam de ver exames de gente que eles nunca consultaram. O que as pessoas chamam de exames apenas, são chamados pelos médicos de ‘exames complementares’. O que significa que eles complementam a história da doença e o exame físico do paciente. Um exame com resultado normal NÃO significa que pessoa não tem problema. Se você pediu um exame de sangue pra investigar anemia e ele deu normal, você não tem anemia. Você pode ter até um tumor no cérebro que isso não vai aparecer no exame de sangue.
A única exceção a essa regra são exames de casos clínicos muito interessantes. Um raio X muito diferente como um coração do lado direito do tórax é um exemplo. Se você tem algo assim, comente com o médico, se ele der um pulo de interesse e PEDIR que você traga o exame é porque ele está interessado.
Aqueles seus exames feitos há vários meses geralmente não têm valor nenhum na emergência. Na dúvida, leve tudo que tiver e diga que os trouxe caso seja necessário. Se o médico não quiser ver não fique ofendido, embora eu, pessoalmente, sempre dê uma vista (nunca se sabe). Só não vou explicar os resultados antigos, né?
Opinião da vizinha, da comadre, da avó...
“Outro grande chato é aquele que não aceita indicação cirúrgica porque a comadre disse que “é perigoso operar isso.”
Sua vizinha/comadre/avó não fez faculdade de Medicina, mas tem experiência de vida. Ouviu falar de um caso que parece parecido e acha que é a mesma coisa. Tudo bem. O que não se pode aceitar é já chegar com a opinião fechada baseado no palpite de um leigo. Se você não entendeu o tratamento, a cirurgia recomendada, tem medo de complicações ou chances de sobrevivência tem TODO DIREITO de perguntar ao médico e de receber respostas compreensíveis.
É comum receber pacientes que iniciaram o uso de antibióticos errados e intoxicados com medicações diversas indicadas pelos conhecidos, crianças que abandonaram o aleitamento materno porque a avó começou a dar um “chazinho” achando o leite da mãe muito ralo. Auto-medicação se confunde com crendices populares e é espinhoso pro médico separar as duas coisas. Falarei mais sobre crendices depois, mas entenda que medicação não é pra ser prescrita por quem não é médico. Tenho um bom caso sobre isso.
A paciente veio ao posto, vermelha da cabeça aos pés, como uma queimadura. Tinha tido uma forte dor nas costas e a vizinha ensinou um remédio “muito bom”. Por isso o vermelho. Seria por causa do remédio? Ela ainda me perguntou. Uma reação alérgica séria que a levara à emergência no dia anterior e que, se complicasse a levaria à morte, chamada Steven-Jonhson. Dei um carão pela auto-medicação (‘sua vizinha é médica? Eu tinha colega aqui e não sabia!’), suspendi o antiinflamatório, passei outro analgésico pras costas e um antialérgico. Recomendei expressamente que não usasse nada sem falar comigo e não tomasse sol de jeito nenhum. Não seria difícil me encontrar já que eu estava todo dia no posto e ela morava na mesma rua. Voltou dois dias depois, melhor. Reforcei as orientações. Voltou no dia seguinte toda vermelha. A mesma vizinha indicara “uma pomadinha” pra coceira que sentia. Novo carão. Dois dias depois, nova piora. Varrendo a frente da casa de manhã cedo (tomando sol) e conversando com a vizinha! Ou seja, a vizinha colocou-a em risco de vida três vezes em dez dias. Três vezes! Pense nisso.
Pressão
“Depois de você terminar toda a consulta de uma odinofagia (dor de garganta), ele levanta e pede pra você "tirar" a pressão...”
Pressão não se tira, se verifica. Você não está errado que querer saber a sua pressão, embora o médico que está atendendo esteja achando que a pressão arterial (provavelmente) não tem nada a ver com sua dor de garganta. Ele pode achar uma perda de tempo se tem muita gente pra atender, mas não é errado pedir. Como muita gente nunca vai ao médico sem estar doente pode ser a chance de se descobrir hipertenso. Deixe que ele faça cara feia, mas verifique a pressão.
Se o plantão estiver pegando fogo (epidemia, acidente, pacientes graves) e você não tem diabetes ou pressão alta, seja compreeensivo e peça à auxiliar de enfermagem ou marque uma consulta ambulatorial.
Na consulta ambulatorial, verificar a pressão faz parte do exame físico. Exija.
Sintomas
“o melhor são os pacientes que dizem uma coisa pra ti e dizem outra pro teu professor.”
”O especial é a melena (fezes pretas devido a sangramento). Tu aponta pra uma borracha, pede se o coco é preto que nem carvão, o paciente diz que sim, e chega o professor e o paciente diz: "não é tão escuro assim não dotô..."
Falta de atenção e falta de paciência
“perguntar mais de três vezes o que tinha acabado de explicar há minutos atrás...”
É certo que termos médicos são difíceis, que muitas pessoas têm pouco estudo, dificuldade de compreensão. Não estou falando disso. Estou falando de falta de atenção. Também existe falta de paciência, tanto do médico quanto do paciente.
Se você não entendeu, pergunte. Se for muito difícil, peça pra explicar de outro jeito. Pacientes idosos, quase surdos costumam fingir convincentemente que entenderam instruções de tratamento. Eu costumo pegá-los pedindo que repitam o que eu acabei de dizer. Um detalhe pode inutilizar o tratamento. O uso de remédio pra pressão alta sem seguir a dieta com pouco sal não funciona. E por aí vai.
“besteiras”
“só aqueles que vão ao PS lotado com dor no dedo do pé há 3 semanas e xingam a equipe porque passam um infartado na frente... É pra acabar!!!!!”
Eu pretendo escrever muito mais sobre esse tema, mas só pra esclarecer. Salas de emergências não seguem ordem de chegada, atendem primeiro quem estiver pior. E nem tudo que incomoda o paciente significa uma emergência. Mais esclarecimentos nos próximos capítulos.
No ambulatório
“Como Irritar Seu Médico em 12 Passos:
1.Comece a consulta reclamando da demora, mesmo que tenha sido atendido rapidamente. Depois, diga ao médico que ele é o terceiro que você procura pelo mesmo motivo, e que você só quer mais uma opinião, pois não confia muito em médico. Diga também aquela frase clássica:Cada médico fala uma coisa!
2. Nunca responda diretamente às perguntas. Se ele perguntar se você teve febre, diga que teve tosse. Conte tudo detalhadamente, começando, se possível, desde quando você ainda era criança ...
3. Leve sempre 3 crianças com você (nem precisam ser seus filhos), especialmente aquelas que mexem em tudo, sobem nos móveis e ficam fazendo perguntas no meio da consulta. Combine, previamente, com uma delas, para quebrar o termômetro do médico.
4. Peça receita de um medicamento controlado. Diga que não é para você, mas para uma vizinha muito amiga sua. Não esqueça de dizer que ela toma esses remédios há anos e que não fica sem eles, e que você quer retribuir um favor dela.
5. Quando o médico estiver se despedindo de você, já na sala de espera, diga bem alto, para os outros ouvirem também: "Vamos ver se agora o senhor acerta!"
6. No retorno da consulta, inicie com: "Estou pior que antes". Aproveite para incluir, no relato, novas queixas. Diga que você passou por um farmacêutico, muito antigo e muito conceituado no bairro que a sua tia mora, e ele resolveu trocar os remédios.
7. Insista para que o médico tente descobrir a causa daquela cólica que você teve há seis meses, e que desapareceu misteriosamente. Insista em contar os sintomas com riqueza de detalhes.
8. Traga os exames solicitados por médicos de outras especialidades. Se ele for clínico geral, consiga um eletroencefalograma para ele dar o laudo. Pergunte se ele faria o favor de ver a mamografia da sua vizinha (outra).
9. Descubra onde seu médico dá plantão à noite, e só passe a procurá-lo lá. Dê preferência a hospitais públicos, onde ele não ganha por ficha de cliente.
10. No final da consulta, pergunte se ele não faria o favor de dar um atestado, pois você não "teve condições de trabalhar hoje", ou, então, diga que você tinha que resolver uns probleminhas pessoais e não deu prá ir trabalhar.
11-Ao sair da consulta avise-lhe que seu cheque só deverá ser depositado quinze ou vinte dias após a mesma pois no momento sua conta está sem fundos. Ah! Não esqueça de telefonar no prazo marcado para pedir que adie o depósito...
12-Finalmente, complete a irritação dele, mandando-lhe este pequeno manual...”
Um único comentário: procurar vários médicos pra um mesmo problema não significa necessariamente que os médicos são ruins. É bem possível que o paciente seja ruim. Um mau paciente, que não seguiu o tratamento, não fez todos os exames solicitamos ou simplesmente, um impaciente. Algumas doenças são difíceis de diagnosticar e outras muitas são dificílimas de tratar. Se o primeiro tratamento não deu certo, é comum o paciente procurar outro médico e mais outro, ao invés de voltar pro primeiro. Se for conveniado de um plano de saúde, vai seguir a lista de especialistas por ordem alfabética. Insista algumas vezes com o mesmo médico, dê uma chance.
Acompanhantes
“às vezes não é o paciente, é o parente”
“Existem 3 tipos de acompanhantes em um hospital, a saber:
a) O ACOMPANHANTE GENUINO= Aquele q fornece as informações necessárias, sempre disposto a ajudar o paciente e a equipe. Nunca perturba o médico e a enfermagem. São 2% dos casos.
b) O ATRAPALHANTE= Aquele que responde qdo não lhé é perguntado nada. Que gosta de pressionar o médico. A toda hora fica dizendo: "ta acabando o soro". São 95% dos casos.
c) O ABELHUDANTE= É o acompanhante de um OUTRO paciente,que quer saber porque aquele paciente que a ambulância trouxe está sangrando pela cabeça.
Ao fazer isso, abelhudante largou o seu parente e o mesmo caiu da maca, batendo a cabeça. Os estudos mostram uma variação de 3 a 5%, dependendo do hospital.”
Cuide do SEU paciente. Ajude mais alguém se preciso, mas NUNCA abandone SEU paciente. Simples assim.
Colega
“Paciente chato é aquele que é da área da saúde....ninguém merece”
Pelos mais diversos motivos, médicos não gostam de tratar de outros profissionais de saúde. Falarei mais depois sobre isso. Só pra saber, geralmente o conhecimento na área acaba atrapalhando mais que ajudando. Provavelmente o que esse comentário quer dizer é: paciente da área de saúde tem mais facilidade de acesso ao médico e quase sempre abusa disso.
Sobrecarga médica
“vários pais ao mesmo tempo querendo saber se as crianças tiveram alta ou não e você tendo que atender mais 100 crianças lá fora...além das revisoes q você tem de fazer, ver exames, isso tudo ao mesmo tempo, é claro...”
Pra um profissional sobrecarregado, todo paciente é chato.
Vale salientar que as respostas não expressam minha opinião, mas evidenciam que os médicos não são bonzinhos e podem ser vingativos. Minha opinião está nos comentários, ok?
Capítulo I- Paciente chato
Sobre a pergunta “Para vocês o que mais faz um paciente ser chato?”, as respostas de médicos e outros profissionais de saúde foram pouco variadas, o que me faz pensar que chatice de paciente é mais falta de educação que outra coisa. Claro que existe gente antipática. Em geral o que o médico considera chato é a falta de consideração com o profissional e seu tempo disponível.
Uma das respostas
“Vão me desculpar mas Paciente Chato é Pleonasmo.”
Sinceramente, esse não devia estar exercendo Medicina.
Atestado
“Duas síndromes caracterizam 90% dos pacientes chatos:
- Atestadite, seja crônica ou aguda, associada ou não a encostadite, são síndromes que fazem qualquer paciente irritar qualquer médico, sendo que ela passa após o médico escrever uma palavra em uma folha branca carimbada: ATESTADO.
- Poliqueixosismo, característica de hipocondríacos, é caracterizada pelo paciente conseguir referir cada aspecto de sua sintomatologia e até relacioná-la com eventos do cotidiano, com frases como: "me dói o peito quando eu cheiro flores" ou "me dá dor de cabeça quando eu vou aos pés". A única cura é ser extremamente gentil com o paciente e fingir que está escutando. Se for paciente do SUS, a principal conduta é receitar anti-depressivo em doses baixas”
“Paciente que pergunta do atestado enquanto a gente faz a anamnese (história da doença).”
"Será que o senhor podia me dar um atestado de 15 dias atras quando eu tive que viajar e perdi aulas na faculdade? Eu não tava sentindo nada não e só pra eu não perder a frequencia"
“Sem contar o que pede atestado, você dá uns 2 dias e ele responde: "Mas, é desde a semana passada"... "E porque não veio antes, quando ficou doente?"... "Ah... é porque eu achei que fosse melhorar"
“Bem, uma vez um paciente pediu um atestado médico DURANTE A CIRURGIA!!!!!!!!!! Ele estava sob sedação apenas é claro!
Mas vocês já viram alguém tão rápido assim?”
O atestado explicita a incapacidade do paciente em exercer sua atividade habitual. O que varia de acordo com a atividade. Pé torcido não atesta falta de operador de telemarketing, por exemplo, exceto no dia da entorse, quando ele foi ao hospital pra ser socorrido.
Atestado quem decide se precisa é o médico, não cabe ao paciente pedir, insistir ou ameaçar. É suspeito aquele paciente que ainda está no balcão fazendo a ficha e já pergunta “esse doutor dá atestado?”. Sugere que o mesmo não quer saber o que tem ou como ficar bom, ele quer é o atestado pra não trabalhar. Plantões de sábado e domingo são conhecidos por pacientes que chegam cedo muito limpos, arrumados e bem acompanhados com queixas vagas como vômitos (que já pararam), diarréia, dor de cabeça, que recusam a medicação, mas pedem atestado.
O plantão de segunda-feira é notório em qualquer parte do Brasil pela grande quantidade de atestados solicitados, com queixas de há pelo menos dois dias (suspeita-se de grandes farras e ressacas). Claro que o final de semana facilita adoecer devido às comidas de rua, às peladas etc. Mas sabe-se que há um exagero de solicitações.
Dependendo do caso, eu mesma ofereço o atestado. A gente VÊ quando a pessoa está mal e pergunta se precisa de justificativa no trabalho.
Atestado falso é crime. Se você tem um amigo médico não o constranja pedindo um. Como trabalho numa cidade diferente da que moro, me livro fácil. Médico também não pode dar atestado dos dias anteriores que o paciente faltou.
Só mais uma coisa
“É quando você faz a anamnese (história da doença), faz as perguntas necessárias e pra tirar dúvida, ainda pergunta: "mais alguma coisa que, por acaso, eu esqueci de perguntar?”. ele responde que não. Depois de ter examinado, discuto com o preceptor e ter feito a receita, o paciente vira e diz: só mais uma coisinha que eu deixei pra falar no final..."
”Ou então aquele que quando você já tá liberando, que você acabou de entregar a receita e ele pede uma vitaminazinha”
“Tem aquele paciente que relata dor abdominal e que, depois de uma anamnese, exame físico, prescrição... na hora em que você acaba de bater o carimbo, ele pergunta: "Doutor, mas, e minha dor de cabeça?"
Quando o médico pergunta ‘ Mais alguma coisa?’ é hora de dizer, mesmo se você acha que a queixa não se relaciona com a doença. Nada de deixar para o final da consulta. Quando você conta o que sente o médico já está pensando no que pode ser. Muitas vezes ele já pensou, escreveu, solicitou os exames pra investigar, quando o paciente fala: "só mais uma coisinha que eu deixei pra falar no final..." uma coisinha QUE MUDA TODO O RACIOCÍNIO DO MÉDICO!
Sem falar que TEMPO é algo muito valioso pro médico numa emergência.
Quando a consulta é ambulatorial, oriento meus pacientes a anotarem tudo que precisam falar comigo na próxima vez, inclusive curiosidades, exames a pedir, efeitos do tratamento, pra não esquecerem.
Medicação controlada
“Paciente que aparece somente para pedir receita de controlado e nem quer falar nada, e vai embora sem dar tchau.”
“Pedir receita de remédio controlado.”
Evite, com todas as suas forças, ir a uma emergência, pública ou particular, pra pedir uma receita de medicação controlada. O termo ‘controlado’ significa que alguém deve ter um controle de por que o paciente usa a medicação, se está funcionando, há quanto tempo usa. Muitas dessas medicações causam dependência física e/ou psicológica. Medicação controlada é para ser prescrita pelo médico que indicou a medicação. Tenha cuidado pra não deixar faltar.
Exames
“Paciente que leva aquele catatau de exames da prima/irmã/vizinha/colega para você dar uma "olhadinha".
Entenda bem: médicos NÃO gostam de ver exames de gente que eles nunca consultaram. O que as pessoas chamam de exames apenas, são chamados pelos médicos de ‘exames complementares’. O que significa que eles complementam a história da doença e o exame físico do paciente. Um exame com resultado normal NÃO significa que pessoa não tem problema. Se você pediu um exame de sangue pra investigar anemia e ele deu normal, você não tem anemia. Você pode ter até um tumor no cérebro que isso não vai aparecer no exame de sangue.
A única exceção a essa regra são exames de casos clínicos muito interessantes. Um raio X muito diferente como um coração do lado direito do tórax é um exemplo. Se você tem algo assim, comente com o médico, se ele der um pulo de interesse e PEDIR que você traga o exame é porque ele está interessado.
Aqueles seus exames feitos há vários meses geralmente não têm valor nenhum na emergência. Na dúvida, leve tudo que tiver e diga que os trouxe caso seja necessário. Se o médico não quiser ver não fique ofendido, embora eu, pessoalmente, sempre dê uma vista (nunca se sabe). Só não vou explicar os resultados antigos, né?
Opinião da vizinha, da comadre, da avó...
“Outro grande chato é aquele que não aceita indicação cirúrgica porque a comadre disse que “é perigoso operar isso.”
Sua vizinha/comadre/avó não fez faculdade de Medicina, mas tem experiência de vida. Ouviu falar de um caso que parece parecido e acha que é a mesma coisa. Tudo bem. O que não se pode aceitar é já chegar com a opinião fechada baseado no palpite de um leigo. Se você não entendeu o tratamento, a cirurgia recomendada, tem medo de complicações ou chances de sobrevivência tem TODO DIREITO de perguntar ao médico e de receber respostas compreensíveis.
É comum receber pacientes que iniciaram o uso de antibióticos errados e intoxicados com medicações diversas indicadas pelos conhecidos, crianças que abandonaram o aleitamento materno porque a avó começou a dar um “chazinho” achando o leite da mãe muito ralo. Auto-medicação se confunde com crendices populares e é espinhoso pro médico separar as duas coisas. Falarei mais sobre crendices depois, mas entenda que medicação não é pra ser prescrita por quem não é médico. Tenho um bom caso sobre isso.
A paciente veio ao posto, vermelha da cabeça aos pés, como uma queimadura. Tinha tido uma forte dor nas costas e a vizinha ensinou um remédio “muito bom”. Por isso o vermelho. Seria por causa do remédio? Ela ainda me perguntou. Uma reação alérgica séria que a levara à emergência no dia anterior e que, se complicasse a levaria à morte, chamada Steven-Jonhson. Dei um carão pela auto-medicação (‘sua vizinha é médica? Eu tinha colega aqui e não sabia!’), suspendi o antiinflamatório, passei outro analgésico pras costas e um antialérgico. Recomendei expressamente que não usasse nada sem falar comigo e não tomasse sol de jeito nenhum. Não seria difícil me encontrar já que eu estava todo dia no posto e ela morava na mesma rua. Voltou dois dias depois, melhor. Reforcei as orientações. Voltou no dia seguinte toda vermelha. A mesma vizinha indicara “uma pomadinha” pra coceira que sentia. Novo carão. Dois dias depois, nova piora. Varrendo a frente da casa de manhã cedo (tomando sol) e conversando com a vizinha! Ou seja, a vizinha colocou-a em risco de vida três vezes em dez dias. Três vezes! Pense nisso.
Pressão
“Depois de você terminar toda a consulta de uma odinofagia (dor de garganta), ele levanta e pede pra você "tirar" a pressão...”
Pressão não se tira, se verifica. Você não está errado que querer saber a sua pressão, embora o médico que está atendendo esteja achando que a pressão arterial (provavelmente) não tem nada a ver com sua dor de garganta. Ele pode achar uma perda de tempo se tem muita gente pra atender, mas não é errado pedir. Como muita gente nunca vai ao médico sem estar doente pode ser a chance de se descobrir hipertenso. Deixe que ele faça cara feia, mas verifique a pressão.
Se o plantão estiver pegando fogo (epidemia, acidente, pacientes graves) e você não tem diabetes ou pressão alta, seja compreeensivo e peça à auxiliar de enfermagem ou marque uma consulta ambulatorial.
Na consulta ambulatorial, verificar a pressão faz parte do exame físico. Exija.
Sintomas
“o melhor são os pacientes que dizem uma coisa pra ti e dizem outra pro teu professor.”
”O especial é a melena (fezes pretas devido a sangramento). Tu aponta pra uma borracha, pede se o coco é preto que nem carvão, o paciente diz que sim, e chega o professor e o paciente diz: "não é tão escuro assim não dotô..."
Falta de atenção e falta de paciência
“perguntar mais de três vezes o que tinha acabado de explicar há minutos atrás...”
É certo que termos médicos são difíceis, que muitas pessoas têm pouco estudo, dificuldade de compreensão. Não estou falando disso. Estou falando de falta de atenção. Também existe falta de paciência, tanto do médico quanto do paciente.
Se você não entendeu, pergunte. Se for muito difícil, peça pra explicar de outro jeito. Pacientes idosos, quase surdos costumam fingir convincentemente que entenderam instruções de tratamento. Eu costumo pegá-los pedindo que repitam o que eu acabei de dizer. Um detalhe pode inutilizar o tratamento. O uso de remédio pra pressão alta sem seguir a dieta com pouco sal não funciona. E por aí vai.
“besteiras”
“só aqueles que vão ao PS lotado com dor no dedo do pé há 3 semanas e xingam a equipe porque passam um infartado na frente... É pra acabar!!!!!”
Eu pretendo escrever muito mais sobre esse tema, mas só pra esclarecer. Salas de emergências não seguem ordem de chegada, atendem primeiro quem estiver pior. E nem tudo que incomoda o paciente significa uma emergência. Mais esclarecimentos nos próximos capítulos.
No ambulatório
“Como Irritar Seu Médico em 12 Passos:
1.Comece a consulta reclamando da demora, mesmo que tenha sido atendido rapidamente. Depois, diga ao médico que ele é o terceiro que você procura pelo mesmo motivo, e que você só quer mais uma opinião, pois não confia muito em médico. Diga também aquela frase clássica:Cada médico fala uma coisa!
2. Nunca responda diretamente às perguntas. Se ele perguntar se você teve febre, diga que teve tosse. Conte tudo detalhadamente, começando, se possível, desde quando você ainda era criança ...
3. Leve sempre 3 crianças com você (nem precisam ser seus filhos), especialmente aquelas que mexem em tudo, sobem nos móveis e ficam fazendo perguntas no meio da consulta. Combine, previamente, com uma delas, para quebrar o termômetro do médico.
4. Peça receita de um medicamento controlado. Diga que não é para você, mas para uma vizinha muito amiga sua. Não esqueça de dizer que ela toma esses remédios há anos e que não fica sem eles, e que você quer retribuir um favor dela.
5. Quando o médico estiver se despedindo de você, já na sala de espera, diga bem alto, para os outros ouvirem também: "Vamos ver se agora o senhor acerta!"
6. No retorno da consulta, inicie com: "Estou pior que antes". Aproveite para incluir, no relato, novas queixas. Diga que você passou por um farmacêutico, muito antigo e muito conceituado no bairro que a sua tia mora, e ele resolveu trocar os remédios.
7. Insista para que o médico tente descobrir a causa daquela cólica que você teve há seis meses, e que desapareceu misteriosamente. Insista em contar os sintomas com riqueza de detalhes.
8. Traga os exames solicitados por médicos de outras especialidades. Se ele for clínico geral, consiga um eletroencefalograma para ele dar o laudo. Pergunte se ele faria o favor de ver a mamografia da sua vizinha (outra).
9. Descubra onde seu médico dá plantão à noite, e só passe a procurá-lo lá. Dê preferência a hospitais públicos, onde ele não ganha por ficha de cliente.
10. No final da consulta, pergunte se ele não faria o favor de dar um atestado, pois você não "teve condições de trabalhar hoje", ou, então, diga que você tinha que resolver uns probleminhas pessoais e não deu prá ir trabalhar.
11-Ao sair da consulta avise-lhe que seu cheque só deverá ser depositado quinze ou vinte dias após a mesma pois no momento sua conta está sem fundos. Ah! Não esqueça de telefonar no prazo marcado para pedir que adie o depósito...
12-Finalmente, complete a irritação dele, mandando-lhe este pequeno manual...”
Um único comentário: procurar vários médicos pra um mesmo problema não significa necessariamente que os médicos são ruins. É bem possível que o paciente seja ruim. Um mau paciente, que não seguiu o tratamento, não fez todos os exames solicitamos ou simplesmente, um impaciente. Algumas doenças são difíceis de diagnosticar e outras muitas são dificílimas de tratar. Se o primeiro tratamento não deu certo, é comum o paciente procurar outro médico e mais outro, ao invés de voltar pro primeiro. Se for conveniado de um plano de saúde, vai seguir a lista de especialistas por ordem alfabética. Insista algumas vezes com o mesmo médico, dê uma chance.
Acompanhantes
“às vezes não é o paciente, é o parente”
“Existem 3 tipos de acompanhantes em um hospital, a saber:
a) O ACOMPANHANTE GENUINO= Aquele q fornece as informações necessárias, sempre disposto a ajudar o paciente e a equipe. Nunca perturba o médico e a enfermagem. São 2% dos casos.
b) O ATRAPALHANTE= Aquele que responde qdo não lhé é perguntado nada. Que gosta de pressionar o médico. A toda hora fica dizendo: "ta acabando o soro". São 95% dos casos.
c) O ABELHUDANTE= É o acompanhante de um OUTRO paciente,que quer saber porque aquele paciente que a ambulância trouxe está sangrando pela cabeça.
Ao fazer isso, abelhudante largou o seu parente e o mesmo caiu da maca, batendo a cabeça. Os estudos mostram uma variação de 3 a 5%, dependendo do hospital.”
Cuide do SEU paciente. Ajude mais alguém se preciso, mas NUNCA abandone SEU paciente. Simples assim.
Colega
“Paciente chato é aquele que é da área da saúde....ninguém merece”
Pelos mais diversos motivos, médicos não gostam de tratar de outros profissionais de saúde. Falarei mais depois sobre isso. Só pra saber, geralmente o conhecimento na área acaba atrapalhando mais que ajudando. Provavelmente o que esse comentário quer dizer é: paciente da área de saúde tem mais facilidade de acesso ao médico e quase sempre abusa disso.
Sobrecarga médica
“vários pais ao mesmo tempo querendo saber se as crianças tiveram alta ou não e você tendo que atender mais 100 crianças lá fora...além das revisoes q você tem de fazer, ver exames, isso tudo ao mesmo tempo, é claro...”
Pra um profissional sobrecarregado, todo paciente é chato.
quinta-feira, outubro 20, 2005
Pelo direito de adoecer
Talvez você não saiba, mas médico adoece. Tem gente que ainda pensa no médico com um semi-deus. Semi-deus era Asclépio. Eu sou humana e muito. A saber, a própria rotina médica é considerada um risco para a saúde.
Eu sou médica e adoeço. Eu sou médica e tenho sobrepeso. Eu sou médica e tomo remédios diariamente para depressão. Preciso sair do trabalho pra me consultar com meu médico como todo mundo. Eu tenho gastroenterologista e clínico geral, psiquiatra, oftalmologista e ginecologista. Ou por acaso você pensou que eu seria capaz de fazer minha própria endoscopia, meu exame anual de visão e minha colposcopia? Não tenho obrigação de saber de tudo que há de mais moderno em todas as especialidades médicas.
Tenho adoecido com freqüência nos últimos tempos. O fato de não tirar férias há uns seis anos ajuda. Esse ano tive inúmeras crises de labirintite, duas ou três gastroenterites, gripei pela primeira vez em dois anos, tive uma sinusite pela primeira vez na vida, uma pneumonia atípica pela segunda vez . Só este ano e estamos em outubro.
Estou doente há uns 10 dias. Faltei ao trabalho no domingo, fui me arrastando essa semana pra ser destratada pelo chefe que disse hoje, pela segunda vez essa semana, que “desse um jeito e atendesse”. Um jeito eu dei há dois dias, prestando assistência a um recém-nascido enquanto respirava fundo pra não vomitar em cima dele. E era Dia do Médico. Hoje não deu. Eu não abandonei os pacientes sem assistência: havia um clínico e uma pediatra no plantão. Eu ainda atendi três crianças que estavam piores pra não esperarem pela colega. Ainda levei dois pacientes numa transferência pra cidade vizinha, um dos quais tão grave que chegou morto. Então fui socorrer a mulher dele antes que os médicos (da outra emergência onde estávamos) chegassem. Ou seja, eu trabalho até cair. E ainda escuto por isso.
Sabe o interessante disso? Quando eu atendi o telefonema do chefe, havia uma mãe com o filho comigo no consultório. Um filho que estava tão doente que mesmo me sentindo muito mal, achei que ele estava pior que eu e não dava pra esperar. Ela ouviu o meu lado da conversa, esperou eu desligar e disse, como que se desculpando por se intrometer: “A gente que precisa do emprego...”
É, eu não tenho férias. Por que? Porque médico não tem carteira assinada. Nem férias, nem décimo terceiro. Quem tem é porque prestou concurso. Trabalho por prestação de serviço, por contrato, como quase todos os médicos. É ilegal? Devia ser.
Eu sou médica e adoeço. Eu sou médica e tenho sobrepeso. Eu sou médica e tomo remédios diariamente para depressão. Preciso sair do trabalho pra me consultar com meu médico como todo mundo. Eu tenho gastroenterologista e clínico geral, psiquiatra, oftalmologista e ginecologista. Ou por acaso você pensou que eu seria capaz de fazer minha própria endoscopia, meu exame anual de visão e minha colposcopia? Não tenho obrigação de saber de tudo que há de mais moderno em todas as especialidades médicas.
Tenho adoecido com freqüência nos últimos tempos. O fato de não tirar férias há uns seis anos ajuda. Esse ano tive inúmeras crises de labirintite, duas ou três gastroenterites, gripei pela primeira vez em dois anos, tive uma sinusite pela primeira vez na vida, uma pneumonia atípica pela segunda vez . Só este ano e estamos em outubro.
Estou doente há uns 10 dias. Faltei ao trabalho no domingo, fui me arrastando essa semana pra ser destratada pelo chefe que disse hoje, pela segunda vez essa semana, que “desse um jeito e atendesse”. Um jeito eu dei há dois dias, prestando assistência a um recém-nascido enquanto respirava fundo pra não vomitar em cima dele. E era Dia do Médico. Hoje não deu. Eu não abandonei os pacientes sem assistência: havia um clínico e uma pediatra no plantão. Eu ainda atendi três crianças que estavam piores pra não esperarem pela colega. Ainda levei dois pacientes numa transferência pra cidade vizinha, um dos quais tão grave que chegou morto. Então fui socorrer a mulher dele antes que os médicos (da outra emergência onde estávamos) chegassem. Ou seja, eu trabalho até cair. E ainda escuto por isso.
Sabe o interessante disso? Quando eu atendi o telefonema do chefe, havia uma mãe com o filho comigo no consultório. Um filho que estava tão doente que mesmo me sentindo muito mal, achei que ele estava pior que eu e não dava pra esperar. Ela ouviu o meu lado da conversa, esperou eu desligar e disse, como que se desculpando por se intrometer: “A gente que precisa do emprego...”
É, eu não tenho férias. Por que? Porque médico não tem carteira assinada. Nem férias, nem décimo terceiro. Quem tem é porque prestou concurso. Trabalho por prestação de serviço, por contrato, como quase todos os médicos. É ilegal? Devia ser.
"Campanha da Mamografia Digital Gratuita".
O seu clique solidário não custará nada.
Digam a 10 amigos para dizerem a outras 10 pessoas ainda hoje!
O Site de câncer de mama e o Instituto Neo Mama de Prevenção e Combate ao Câncer de Mama estão iniciando uma campanha que necessita de cliques para alcançar quotas que lhes permitam oferecer mamografias gratuitas a mulheres brasileiras necessitadas.
Demora menos de 5 segundos, mas fará uma grande diferença acessar o site e clicar no botão cor de rosa que diz:
"Campanha da Mamografia Digital Gratuita".
Acesse agora e sempre o Website:
http://www.cancerdemama.com.br
Não demora e não custa nada, ajudem a detectar precocemente o câncer de mama. Ele tem cura.
Observação:
Caso você ainda não saiba, 1% dos casos de câncer de mama acontece com os homens.
Obrigada.
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Obrigada.
Memória
Isso é meu. Só porque mudei de blog, não significa que não sou mais. Nem porque mudei de nome, deixei de assinar meus textos. Se eu descobrir que alguém publicou sem me pedir licença, tá ferrado!
A memória é um desses mistérios da fisiologia humana que a ciência ainda não conseguiu explicar. Tanta coisa importante que eu precisava saber, e já li, li e não aprendi, e tanta informação inútil que se enfiou cabeça adentro e não consigo tirar. Só Deus sabe por que não gravo os critérios maiores e menores da febre reumática, mas não esqueço da primeira vez que provei sorvete de nata-goiaba, por que sempre me atrapalho pra dizer meu CPF, mas sei a ordem dos pecados capitais em Seven, por que sempre tenho que anotar a data da última menstruação, mas lembro que o Tom Cruise foi casado com a Mimi rogers (e não com a Minnie Driver).
A gente devia poder fazer faxina da mente de vez em quando, organizar a informação por pastas igual a um HD, deletar antigos namorados, salvar com cópia aquele truque pra tirar mancha de batom da camisa branca de seda, ter um arquivo-morto, poder atualizar os dados.
Cada dia que vivo e envelheço, esqueço mais. E são sempre os fatos novos, os mais importantes. Lembro do meu primeiro sorvete de pistache, da primeira dose de uísque e de um remédio de gosto horrível que tomei há mais de 20 anos.
Não lembro da dose máxima de AAS indicada pra crianças, sempre tenho que conferir. Talvez eu precise ser reciclada, talvez meu modelo tenha passado da validade. Talvez a memória só sirva pra isso mesmo, relembrar o que se viveu, e o que ninguém mais lembraria porque não está nos livros. Porque é importante demais só pra nós mesmos.
A memória é um desses mistérios da fisiologia humana que a ciência ainda não conseguiu explicar. Tanta coisa importante que eu precisava saber, e já li, li e não aprendi, e tanta informação inútil que se enfiou cabeça adentro e não consigo tirar. Só Deus sabe por que não gravo os critérios maiores e menores da febre reumática, mas não esqueço da primeira vez que provei sorvete de nata-goiaba, por que sempre me atrapalho pra dizer meu CPF, mas sei a ordem dos pecados capitais em Seven, por que sempre tenho que anotar a data da última menstruação, mas lembro que o Tom Cruise foi casado com a Mimi rogers (e não com a Minnie Driver).
A gente devia poder fazer faxina da mente de vez em quando, organizar a informação por pastas igual a um HD, deletar antigos namorados, salvar com cópia aquele truque pra tirar mancha de batom da camisa branca de seda, ter um arquivo-morto, poder atualizar os dados.
Cada dia que vivo e envelheço, esqueço mais. E são sempre os fatos novos, os mais importantes. Lembro do meu primeiro sorvete de pistache, da primeira dose de uísque e de um remédio de gosto horrível que tomei há mais de 20 anos.
Não lembro da dose máxima de AAS indicada pra crianças, sempre tenho que conferir. Talvez eu precise ser reciclada, talvez meu modelo tenha passado da validade. Talvez a memória só sirva pra isso mesmo, relembrar o que se viveu, e o que ninguém mais lembraria porque não está nos livros. Porque é importante demais só pra nós mesmos.
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terça-feira, outubro 18, 2005
Declaração de Genebra
Na hora de ser admitido como um membro na profissão médica:
Eu, solenemente, juro consagrar minha vida a serviço da humanidade.
Darei como reconhecimento a meus mestres, meu respeito e minha gratidão.
Praticarei minha profissão com consciência e dignidade.
A saúde dos meus pacientes será a minha primeira preocupação.
Respeitarei os segredos a mim confiados.
Manterei, a todo custo, no máximo possível, a honra e a tradição da profissão médica.
Meus colegas serão meus irmãos.
Não permitirei que concepções religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou sociais, intervenham entre meu dever e meus pacientes.
Manterei o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção. Mesmo sob ameaça, não usarei meu conhecimento médico em princípios contrários à leis da natureza.
Faço essas promessas, solene e livremente, pela minha própria honra.
Eu, solenemente, juro consagrar minha vida a serviço da humanidade.
Darei como reconhecimento a meus mestres, meu respeito e minha gratidão.
Praticarei minha profissão com consciência e dignidade.
A saúde dos meus pacientes será a minha primeira preocupação.
Respeitarei os segredos a mim confiados.
Manterei, a todo custo, no máximo possível, a honra e a tradição da profissão médica.
Meus colegas serão meus irmãos.
Não permitirei que concepções religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou sociais, intervenham entre meu dever e meus pacientes.
Manterei o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção. Mesmo sob ameaça, não usarei meu conhecimento médico em princípios contrários à leis da natureza.
Faço essas promessas, solene e livremente, pela minha própria honra.
JURAMENTO DE HIPÓCRATES
Juro, por Apolo, o médico e Asclépio e Higéia e Panacéia e todos os deuses e deusas que, segundo minha capacidade e julgamento cumprirei este juramento e o estipulado:
Respeitarei quem me ensinou esta arte como se fossem meus pais; repartirei com ele meus bens e atenderei as suas necessidades, se for preciso; considerarei seus descendentes como se fossem meus irmãos, e ensinar-lhe-ei esta arte se quiserem aprende-la,sem pagamento e sem condições e por preceito, lição ou qualquer outro modo de instrução; transmitirei o conhecimento da arte a meus filhos e aos meus mestres, e a discípulos ligados por um compromisso e juramento, conforme a lei de medicina, mas a ninguém mais.
Seguirei o método de tratamento que, de acordo com a minha capacidade e julgamento, considerar benéfico a meus pacientes, e abster-me-ei de tudo mais que seja deletério ou daninho. Não me deixarei induzir por súplicas de quem quer que seja a propinar veneno ou ensinar como se envenena. Na vagina de nenhuma mulher jamais introduzirei qualquer aparelho para impedir a concepção ou interromper a gravidez.
Passarei a vida e praticarei a minha arte com pureza e santidade. Não farei incisão em quem sofra de pedra, mas deixarei que o operem os que sejam práticos no ofício.
Seja qual for a casa em que entre, fá-lo-ei em beneficio do enfermo e me absterei de qualquer ato voluntário de maldade e corrupção, e, ademais, de sedução de mulheres ou homens, escravos ou libertos.
Tudo o que, relacionado ou não com a minha prática profissional, veja ou ouça nas vidas dos homens e que não deve ser contado alhures, não divulgarei, por considerar que tais coisas devem ser mantidas em segredo.
Enquanto mantiver inviolado este juramento, que me seja concedido gozar a vida e exercer a arte, respeitado por todos os homens em todos os tempos, mas que se eu transgredir e violar este juramento, que outro seja o meu destino.
Respeitarei quem me ensinou esta arte como se fossem meus pais; repartirei com ele meus bens e atenderei as suas necessidades, se for preciso; considerarei seus descendentes como se fossem meus irmãos, e ensinar-lhe-ei esta arte se quiserem aprende-la,sem pagamento e sem condições e por preceito, lição ou qualquer outro modo de instrução; transmitirei o conhecimento da arte a meus filhos e aos meus mestres, e a discípulos ligados por um compromisso e juramento, conforme a lei de medicina, mas a ninguém mais.
Seguirei o método de tratamento que, de acordo com a minha capacidade e julgamento, considerar benéfico a meus pacientes, e abster-me-ei de tudo mais que seja deletério ou daninho. Não me deixarei induzir por súplicas de quem quer que seja a propinar veneno ou ensinar como se envenena. Na vagina de nenhuma mulher jamais introduzirei qualquer aparelho para impedir a concepção ou interromper a gravidez.
Passarei a vida e praticarei a minha arte com pureza e santidade. Não farei incisão em quem sofra de pedra, mas deixarei que o operem os que sejam práticos no ofício.
Seja qual for a casa em que entre, fá-lo-ei em beneficio do enfermo e me absterei de qualquer ato voluntário de maldade e corrupção, e, ademais, de sedução de mulheres ou homens, escravos ou libertos.
Tudo o que, relacionado ou não com a minha prática profissional, veja ou ouça nas vidas dos homens e que não deve ser contado alhures, não divulgarei, por considerar que tais coisas devem ser mantidas em segredo.
Enquanto mantiver inviolado este juramento, que me seja concedido gozar a vida e exercer a arte, respeitado por todos os homens em todos os tempos, mas que se eu transgredir e violar este juramento, que outro seja o meu destino.
Feliz Dia do Médico
Você também jurou “ por Apolo, o médico e Asclépio e Higéia e Panacéia e todos os deuses” ou quando se formou já lhe disseram que o famoso juramento era considerado politicamente incorreto? Não me permitiram fazer o Juramento de Hipócrates, me fizeram ler a Declaração de Genebra na minha colação de grau.
Nunca entendi muito bem qual a diferença entre o sentido de ambos. Sei que é mais lógico manter “o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção” que prometer não interromper a gravidez, não impedir a concepção ou ensinar como se envenena. Mas pessoalmente acho que Hipócrates não era nada vago e gosto das coisas às claras. Embora os tempos tenham mudado, as escolhas não mudaram tanto assim.
A bem da verdade, sempre achei aquela última parte (Enquanto mantiver inviolado este juramento, que me seja concedido gozar a vida e exercer a arte, respeitado por todos os homens em todos os tempos, mas que se eu transgredir e violar este juramento, que outro seja o meu destino.) com cara de praga. Tipo, faça ou te danarás pela eternidade. Quem sabe por isso os médicos de antigamente fossem mais éticos. Com medo da maldição.
Ainda considero poética a expressão “passarei a vida e praticarei a minha arte com pureza e santidade”, embora nem sempre o tenha feito e que o arrependimento que me sobreveio a cada vez, um castigo pouco para o tamanho do mal praticado. A maior parte das vezes foi perder a paciência e elevar a voz para alguém que viera pedir minha ajuda. O fato de estar cansada quando isso aconteceu não abona a falta.
Aos meus verdadeiros mestres-e não são muitos, apesar da imensa quantidade de professores que tive- continuo respeitando-os como meus pais (talvez até mais) e disponho-me a atender qualquer pedido honesto deles. Acredite ou não, costumo rezar por eles com certa freqüência.
A mais bela das promessas é não se aproveitar da posição que se tem. Nisso, o Juramento é perfeito (Seja qual for a casa em que entre, fá-lo-ei em beneficio do enfermo e me absterei de qualquer ato voluntário de maldade e corrupção, e, ademais, de sedução de mulheres ou homens, escravos ou libertos). Cada vez que entrei na casa de um paciente em minha vida lembrei dessa frase. Todas as vezes.
Não sou cirurgiã, portanto jamais realizarei a operação da pedra, mas sei que se o autor do Juramento vivesse nestes tempos a faria sem hesitar, graças ao advento da assepsia e dos antibióticos. Também não sou ginecologista-obstetra, o que me livra do dilema de “na vagina de nenhuma mulher jamais introduzirei qualquer aparelho para impedir a concepção ou interromper a gravidez”. Pessoalmente, se eu gerasse um anencéfalo, levaria a gravidez a termo e doaria seus órgãos para alívio do sofrimento de outras crianças. Mas nunca, nunca, critiquei uma mulher que provocou um aborto. Em desespero o ser humano é capaz de tudo.
Já ofereci, sim, a opção de abortamento para uma vítima de estupro e depois fui me aconselhar com um padre. Hoje entendo que a decisão era da paciente. Naquela época, eu era estudante e não sabia que um dia prometeria não permitir “que concepções religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou sociais” interviessem “entre meu dever e meus pacientes”. Sinceramente, espero que Deus me perdoe e entenda.
Mas a mais difícil das promessas ainda é guardar segredo. Não os grandes segredos, mas aqueles detalhes tão pequenos que você poderia comentar a outrem sem saber do mal que faz. Espero que meu bom-senso se mantenha nos anos vindouros e que uma eventual senilidade não me faça descumprir essa parte. Sim, porque é impressionante o quanto me contam de segredos não relacionados com as doenças. Costumo dizer que me acham com cara de padre pra me contarem tanta coisa só porque confiam em mim.
Hoje mesmo, depois de 48 horas de trabalho, eu ainda entrei numa cesárea de emergência e lamentei não ser duas para socorrer um recém-nascido prematuro que nascia ao mesmo tempo na sala de parto. Não, eu não sou viciada em trabalho. Eu estava exausta, com dor de cabeça e nauseada. Eu estou doente. Mas eu prometi.
A todo custo, no máximo possível. Pela minha própria honra.
Nunca entendi muito bem qual a diferença entre o sentido de ambos. Sei que é mais lógico manter “o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção” que prometer não interromper a gravidez, não impedir a concepção ou ensinar como se envenena. Mas pessoalmente acho que Hipócrates não era nada vago e gosto das coisas às claras. Embora os tempos tenham mudado, as escolhas não mudaram tanto assim.
A bem da verdade, sempre achei aquela última parte (Enquanto mantiver inviolado este juramento, que me seja concedido gozar a vida e exercer a arte, respeitado por todos os homens em todos os tempos, mas que se eu transgredir e violar este juramento, que outro seja o meu destino.) com cara de praga. Tipo, faça ou te danarás pela eternidade. Quem sabe por isso os médicos de antigamente fossem mais éticos. Com medo da maldição.
Ainda considero poética a expressão “passarei a vida e praticarei a minha arte com pureza e santidade”, embora nem sempre o tenha feito e que o arrependimento que me sobreveio a cada vez, um castigo pouco para o tamanho do mal praticado. A maior parte das vezes foi perder a paciência e elevar a voz para alguém que viera pedir minha ajuda. O fato de estar cansada quando isso aconteceu não abona a falta.
Aos meus verdadeiros mestres-e não são muitos, apesar da imensa quantidade de professores que tive- continuo respeitando-os como meus pais (talvez até mais) e disponho-me a atender qualquer pedido honesto deles. Acredite ou não, costumo rezar por eles com certa freqüência.
A mais bela das promessas é não se aproveitar da posição que se tem. Nisso, o Juramento é perfeito (Seja qual for a casa em que entre, fá-lo-ei em beneficio do enfermo e me absterei de qualquer ato voluntário de maldade e corrupção, e, ademais, de sedução de mulheres ou homens, escravos ou libertos). Cada vez que entrei na casa de um paciente em minha vida lembrei dessa frase. Todas as vezes.
Não sou cirurgiã, portanto jamais realizarei a operação da pedra, mas sei que se o autor do Juramento vivesse nestes tempos a faria sem hesitar, graças ao advento da assepsia e dos antibióticos. Também não sou ginecologista-obstetra, o que me livra do dilema de “na vagina de nenhuma mulher jamais introduzirei qualquer aparelho para impedir a concepção ou interromper a gravidez”. Pessoalmente, se eu gerasse um anencéfalo, levaria a gravidez a termo e doaria seus órgãos para alívio do sofrimento de outras crianças. Mas nunca, nunca, critiquei uma mulher que provocou um aborto. Em desespero o ser humano é capaz de tudo.
Já ofereci, sim, a opção de abortamento para uma vítima de estupro e depois fui me aconselhar com um padre. Hoje entendo que a decisão era da paciente. Naquela época, eu era estudante e não sabia que um dia prometeria não permitir “que concepções religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou sociais” interviessem “entre meu dever e meus pacientes”. Sinceramente, espero que Deus me perdoe e entenda.
Mas a mais difícil das promessas ainda é guardar segredo. Não os grandes segredos, mas aqueles detalhes tão pequenos que você poderia comentar a outrem sem saber do mal que faz. Espero que meu bom-senso se mantenha nos anos vindouros e que uma eventual senilidade não me faça descumprir essa parte. Sim, porque é impressionante o quanto me contam de segredos não relacionados com as doenças. Costumo dizer que me acham com cara de padre pra me contarem tanta coisa só porque confiam em mim.
Hoje mesmo, depois de 48 horas de trabalho, eu ainda entrei numa cesárea de emergência e lamentei não ser duas para socorrer um recém-nascido prematuro que nascia ao mesmo tempo na sala de parto. Não, eu não sou viciada em trabalho. Eu estava exausta, com dor de cabeça e nauseada. Eu estou doente. Mas eu prometi.
A todo custo, no máximo possível. Pela minha própria honra.
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