domingo, setembro 27, 2009

Fazendo aquele balanço

Eu tinha cinco metas na vida: casa, cachorro, computador, carro e carreira. Aos 30 anos deveria tê-las alcançado. Com quase 34, continuo vivendo de aluguel, mas consegui sair da casa da minha mãe e isso é o que importa. Desisti de ter um carro (você só acumula dívidas, polui o planeta e engorda). Não tenho mais cachorro. Carreira? Desde que fui afastada pelo INSS, entendi que as pessoas sobrevivem sem mim e voltei, sim, a exercer a nobre arte da Medicina. Das oito às duas da tarde. Sobrou o computador, que agora é ‘notebook’. Pra sair da listinha de metas com ‘C’ (note que Companheiro, Casamento ou Criança nunca fizeram parte da lista), vamos mudar de letra. Eu não tenho mais metas, eu tenho tudo que quero: tenho um Abrigo, sou Autora, tenho Amigos e Acesso à rede. Como considero meus personagens reais, posso dizer que tenho um Amante. O que importa se o abrigo é alugado, se eu não sou publicada, se meus amigos estão geograficamente distantes, se o acesso à rede às vezes cai e se o amante é virtual?

Aos quase 34, eu estou dentro do peso ideal indicado pra minha altura (um dos motivos pra não ter um carro na lista de metas), tenho certeza mais que absoluta que não nasci nem pra ser casada, nem pra dividir um teto com ninguém por muito tempo. Continuo amante da música e cantando ‘na noite’ porque ainda não tenho vizinho do lado do escritório. Lembro de colocar água nas plantas, sei cuidar da minha casa e tirar manchas de quase tudo em roupas, nada me convence do valor de arear uma panela (limpar sim, arear não) e declaro profissionalmente que lavar roupa é a melhor terapia já inventada (ainda que “Amélia”, minha máquina de lavar roupa, trabalhe sempre que possível).

Aos quase 34, eu fiz dois cursos de línguas, por causa de CSI e ‘Arquivo X’ destravei meu inglês e ressuscitei meu espanhol, não estou esquecendo meu amado francês por causa de CSI e da própria Medicina e descobri que onde moro dão curso da LIBRAS (linguagem brasileira dos sinais para deficientes auditivos), mas nunca vou lá pra saber dos detalhes. De alguma maneira, minhas cólicas menstruais praticamente desapareceram, a tal depressão está supercompensada, a labirintite e a enxaqueca ameaçam e não me pegam, e minha acne está sob controle (mas isso é mérito meu, mérito profissional, afinal, eu adoro dermatologia).

Aos quase 34 anos, eu me sinto belíssima, desisti de me comparar com quem quer que seja, ainda leio os livros que gostaria de ter escrito, mas sobra pouco tempo pra eles. Hoje, eu leio e releio os livros que eu escrevo. Não faço questão de encontrar antigos conhecidos e nem me lembro quem era a melhor aluna de minha turma. Acho que desisti de sonhar e comecei a viver.




'Her Secret Life', by Jack Vettriano.

3 comentários:

Beatriz disse...

Bom, aos 55, nunca tive carro. Tive duas casas, com hipoteca bancária, claro, mas nunca me consegui safar da mãe possessiva. Logo eu, que sou filha única. Mas tenho os pets que me negaram em criança.
Mais as grandes amigas online.
Love

Mi

Suzi disse...

Bem vinda, minha linda!

Odessa Valadares disse...

Eh, eh, eh. Mi, você sabe ler nas entrelinhas. Ali onde diz 'desisti de me comparar com quem quer que seja', sabe?