terça-feira, março 28, 2006

22.03.06
Ontem foi um dia tão cheio que nem escrevi. Era dia de atendimento de Pediatria, mas o que apareceu de idoso não foi brincadeira. Tive que mandar gente voltar porque havia palestra à tarde e não ia dar tempo mesmo. Quando finalmente acabei, fui fazer a produção. Quantos atendimentos de 1 a 4 anos, de 5 a 9, de 10 a 14, quantos hipertensos e diabéticos, quantos exames solicitados, nome, data de nascimento, peso, altura, cintura, pressão arterial de cada diabético e hipertenso, qual o remédio que toma, quantos comprimidos por dia, se teve derrame, infarto... Era hora do almoço e eu fazendo esse trabalho infeliz, sem ele o município não recebe o dinheiro do Governo. Então uma mãe chega na porta e quer que eu atenda a filha que estava com febre desde a madrugada. Expliquei que era hora de almoço e que eu ainda estava trabalhando, que ia sair em quinze minutos pra palestra e nem tinha comido ainda. “Mas a senhora não está fazendo nada”. “Isso, minha senhora, é trabalho, se a sua filha teve febre desde cedo, por que não veio de manhã? Tem gente do posto me esperando na associação de moradores. Outras crianças tiveram febre esta noite e foram atendidas.” As pessoas acham que papelada não é trabalho, e que estou à disposição a qualquer momento pra atender. SE a febre tivesse começado agora tudo bem, mas foi por comodismo. A menina foi pra emergência. Ou vcs acham justo deixar os velhinhos esperando no sol quente de uma da tarde porque a mãe preferiu arrumar a casa, fazer almoço e ir ao posto na hora em que estava vazio pra não ter que esperar?
A palestra, repeteco da semana passada prum outro público, começou com pouca gente, mas terminou com 40 pessoas. O local é mais ventilado. De fato, a maioria das pressões arteriais elevadas da última reunião foram devido ao calor. Na sexta-feira seguinte àquela palestra todas as pessoas com PA elevada foram ao posto e apenas duas estavam mesmo com a PA elevada.
A pediatra da terça-feira foi pra um congresso e me deixou no lugar dela. Depois da palestra, fui pro hospital. Atendi os pacientes particulares dela e fiquei de sobreaviso pra urgências no SUS até nove da noite. Nada muito anormal. Uma paciente querida chegou com um edema angioneurótico. Tenho uma foto desta crianaça e o inchaço deixou-a irreconhecível. Depois de uma injeção de corticóide, descobrimos que o avô lhe dera um comprimido pra dor de cabeça e ela já é alérgica a aspirina. Resta saber que o comprimido continha.

PS: 'Cibalena' era o nome do comprimido, que contém claro, aspirina. Esse povo é doido ou o quê? Eu dei UMA LISTA das medicações, inclusive explicando que AAS e aspirina são a mesma coisa. OUTRA lista com tudo que é analgésico que a menina pode tomar, etc, etc.

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