Semana passada, descobri por acaso que todos os médicos do PSF no município onde trabalho, só vão três dias na semana. Em teoria, o PSF deveria funcionar o dia inteiro, ou seja: 40 horas semanais. Devido à dificuldade de médicos no interior, muitas cidades começaram a aceitar que os médicos fossem quatro dias ao PSF e no quinto dia, o profissional ficaria na emergência da cidade. Seria um bom acordo pra ambos (o médico ganha mais, o município não precisa procurar mais um profissional pro hospital), mas a classe abusa. Tornou-se comum não encontrar o médico no posto de saúde. Muitos chegam tarde, atendem rápido e mal, e se mandam depois do último paciente. Chega-se ao absurdo de ter médico dando plantão em outro município no mesmo dia em que atende no PSF!
Como médica de zona rural, não posso dar oito horas diárias simplesmente porque não há transporte para a área, exceto o dispinibilizado pela prefeitura. Chego às oito em ponto no município, enfrento mais vinte ou trinta minutos de estrada e nunca passo menos de seis horas atendendo. Só almoço depois do último paciente, e raramente saio antes de duas e meia da tarde. Não há diferença de carga horária entre odontóloga, enfermeira ou médica em meu posto. Se eu falto por algum motivo, cubro a falta no meu dia extra, uma vez que não dou plantão.
Além do calor absurdo que vem fazendo, a estrada está em obras há meses, o que significa um adicional de poeira por todo lado. Então, numa reunião sobre produção, descobri esse detalhe dos três dias. Se eu me importo? Não. Isso é problema da secretaria de saúde, não meu. Se fui contratada pra quatro dias por semana, seis horas por dia, eu cumpro minha parte. Eu sei que um PSF de verdade deve funcionar os cinco dias e adoraria trabalhar assim, mas mesmo que eu quisesse ir, não há transporte regular no meu dia de folga. Os outros 'colegas' vão no próprio carro com o intuito de se mandarem quando quiserem. Quando eu tinha carro, ia no meu pra chegar cedo.
Então, eu enfrento calor, poeira por todo lado, mais calor, nada de chuva e eu sou a única da minha categoria no município que dá toda a carga horária. E hoje, descubro que os outros médicos acham que eu ganho mais que eles porque trabalho 'um dia a mais'. Pra falar a verdade, eu bem que merecia, mas me daria por satisfeita se o pagamento fosse proporcional ao número de horas trabalhado, ou à produção. Acho que num instante esse povo ia aprender a cumprir o contrato.
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