Correndo riscos
Por Sandra Maia, em 30.03.10
Tenho abordado ultimamente muitos temas para aqueles que amam demais – aqueles que amam fora da medida e, fazem do seu relacionamento, uma fonte de prazer negativo. Falo pouco realmente para aqueles que amam de menos e, pior, não se deixam amar. Para estes, fica aqui a pergunta que não quer calar: o que falta? Qual a dúvida? O que os impede de correr riscos? O que de fato acontece para que se fechem para o mundo – para o que poderia ser, para o experimentar?
É claro que muitos viemos para viver só. Viver só, felizes, por opção, por escolha, porque assim queremos passar nossos dias. E, nesse sentido, é muito provável que já tenhamos vivido diferentes relações e que estejamos sós no momento por prazer, porque nos faz bem, porque assim desejamos! Vivemos aquele tempo que nos faz avaliar a que viemos, o que queremos ainda experimentar e, também, um tempo para projetar o que vamos fazer daqui para frente – agora, mais sábios, mais maduros, mais experientes…
O problema é que com outros alguns de nós não se dão sequer a chance de experimentar viver uma relação. Não querem correr riscos – amar e se deixar amar. Fazem isso – em muitos casos – por medos infantis. Crenças errôneas – adquiridas na infância – e que os impede de amadurecer emocionalmente. Podem ser grandes profissionais, grandes seres humanos – mas na questão emocional, continuam agindo como se tivessem 7, 8 anos de idade.
Ajuda com naturalidade
E por que escolhem isso para a vida? Por que querem? Não acredito. Mudar uma crença infantil é mesmo para poucos. Há que fazer terapia, buscar ajuda, descolar-se do que não faz bem e, para tanto, não há como se redescobrir sem o outro.
E nesse caso, sim, ajuda profissional pode ser bem vinda e deveria ser encarada com naturalidade. Dessa forma, a possibilidade de ficarmos trancafiados num mundo solitário, achando-nos os mais injustiçados, mal amados, por fim, os piores do universo diminuiria.
Autopunição
Quando agimos dessa forma, nos auto-magoando somos duplamente punidos… Primeiro, pelo próprio ser que maltrata mesmo. Depois, pela sociedade. Sem compreender bem os dilemas que vivemos, arriscamos soluções mirabolantes, a sugestão de riscos fáceis com referências no que se acredita… E isso – infelizmente – não funciona. Simplesmente nos empurra para mais dentro do nosso mundo de desilusões.
Nesse sentido, se a ordem é ajudar a quem precisa, nada melhor do que encaminhar esse companheiro para uma terapia, um trabalho em grupo – algo que o faça compreender que não é o único a sofrer e a trazer consigo para o mundo adulto crenças que fazem mal. Que congelam, paralisam e castigam…
Opção
Viver só por opção é possível. Muitos fizeram essa escolha. E viver só não quer dizer viver sem amor. Esses seres iluminados escolhem muito bem suas almas companheiras que preenchem sua vida, seu coração e sua alma com afeto, amizade, respeito e consideração e, com freqüência, retribuem à sociedade com o mesmo carinho.
Viver só, porque se sente vitimizado, inferiorizado, infeliz, etc, etc não faz bem. E pior: nos coloca em um círculo vicioso, que faz com que essa escolha não tenha começo, meio e fim. Condenamo-nos a viver da forma como não queremos ou aceitamos porque não sabemos fazer de outra forma. Então, o melhor a fazer nesses casos é exercitar a humildade e buscar apoio de quem realmente entende de comportamento.
A escolha como sempre – para o bem ou o mal – é sempre nossa…
(Sandra Maia é colunista do Yahoo! Brasil. Os grifos são meus)
Um comentário:
Opa! Conheço esse texto! :p
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