sábado, fevereiro 25, 2006

Sobre Bono Vox, jovens e a "Atoladinha"

Não sei se todos vocês assistiram o show realizado essa semana pelo grupo Irlandês U2, no Morumbi, transmitido pela Globo e pelo Multishow.Quisera eu estar lá, não só pelo show em si, mas pela qualidade das músicas do U2, sobretudo suas letras, que versam bem a situação da Irlanda na época do surgimento do grupo, mas como também, da situação atual do mundo nos diversos conflitos em andamento no globo.

Mais uma vez U2 deu seu recado de paz a todos. No telão foi mostrada desde a declaração dos direitos humanos até mensagens aos povos em guerra,. Ao sair Bono Vox, inclusive, deixou um terço pendurado ao microfone quando da finalização do show. Sem dúvida alguma um espetáculo à parte, vez que essas mensagens colocadas em um telão no palco, vão de encontro preciso às letras inteligentes das músicas do U2,como Miss Sarajevo, Sunday Bloody Sunday, New Year's Day, Where The Streets Have No Name, etc.

Fui dormir e acordei feliz com o show. De alma lavada. Um grupo dando uma mensagem destas aos nossos jovens é excelente. Mas minha felicidade durou pouco. Em pleno almoço, no self-service que constumo freqüentar, tive a infelicidade de ouvir dois jovens conversando: "Você viu o show do U2 ontem?""Beleza!véio, muito massa!" "Aquele Bono é doido de mais no palco, véi! Você viu? Ele tava usando uma faixa na cabeça com uns símbolos bem doidos!" "Vi! Depois ele saiu andando com a faixa nos olhos..." "Só... Depois ele deixou um terço no microfone... Muito maluco..."

Foi aí que percebi, para minha maior desilusão, que esses dois infelizes não tinham entendido nada das mensagens que foram passadas no Show. Foi quando minha ficha caiu que, deploravelmente, hoje, a maioria dos nossos jovens e até alguns adultos, não tem exercitado o seu raciocínio a tempos e, desta forma, sequer possuem capacidade suficiente para entender as mensagens de Bono e o que aquela "faixa com uns símbolos bem doidos" queria dizer. Afinal, para uma geração que escuta "Poderosa, rainha do Funk", "To ficando atoladinha", "Eguinha Pocotó" e outras músicas do gênero, com letras riquíssimas que exigem um raciocínio acima do comum, não poderiam mesmo entender uma mensagem como a que Bono quis passar. Talvez por falta de raciocínio, talvez até mesmo pela falta de cultura atual de nossa população que não têm conhecimento suficiente para entender os símbolos da faixa do Bono, que eu, na minha adolescência, e acredito que todos da minha geração
conseguiriam entender...

Notei que hoje a qualidade da cultura de nossos jovens, esses só permitem entender as letras de músicas básicas, que falem dos instintos, mas nada de mais apurado. Qualquer coisa que exija raciocínio então, nem pensar! É por isso que hoje as músicas que fazem sucesso são o que são em matéria de ritmo. Letras e harmonia pobres. Bono, em seu show, usou uma faixa na testa com o texto "Coexist" (coexista em inglês), escrito de modo bem peculiar para dar o recado a Palestinos e Judeus: o "C" era a meia-lua presente na bandeira da Palestina enquanto o X era simbolizado pela Estrela de Davi, da bandeira de Israel e o T, era a cruz de Jesus. Interessante que, no telão do show, ainda puderam escrever o texto em português, acrescentando o "A" ao final.

Era uma mensagem aos jovens do mundo para coexistirem sem guerras. Bono inclusive andou "às cegas" pela pista que levava ao palco a fim chamar a atenção para a confiança cega que deve haver entre os povos irmãos. Jonis Joplin, Joan Baez, Bob Dylan, Bob Marley e John Lennon fizeram isso com muita dignidade nos anos 70. Aliás, derrubaram barreiras na Mídia, uma vez que a liberdade era azul... Entretanto essa mensagem, pelo menos à maioria dos jovens brasileiros, nem sequer entrou na cabeça, para poder sair por outro orifício qualquer. Foi, infelizmente, um desperdício, assim como várias outras mensagens que ele passou no show e que devem ter caído na vala comum. Eles estão surdos e perdidos no espaço!

Acredito que nem se ele escrevesse em português claro, alguns ainda não entenderiam, uma vez que a maioria hoje não sabe nem ler e escrever corretamente...E assim que, após assistirem a um show deste naipe, os jovens ainda continuarão, brigando por nada, se matando por nada, se drogando por nada... Para variar, a escalada de violência vai explodir neste Carnaval, apesar da "armação ilimitada" do Governo do Estado.

É triste ver que a nossa juventude, face ao que demonstra o seu raciocínio, sua forma de escrever, seu gosto musical e sua forma de conversar, tende a levar o Brasil para eras de "tenebrosas tentações" em que a inteligência e a lógica de raciocínio vão ser algo muito, muito raros. Deste jeito o futuro de nosso país vai, cada vez mais, ficando "atoladinho"...


Chico Carlos é jornalista/radialista

Fonte: SIMEPE

2 comentários:

Lylian disse...

Concordo em gênero, número e grau com o artigo publicado. Nossa quando lembro que foi sugerido em curso para formação de professores que participei e foi sugerido uma música de Tati Quebra Barraco para fechar com chave de ouro a primeira semana de aulas, onde pudéssemos ter a integração entre alunos e professor dentro da sala de aula, pode isso?

Tenho que respeitar o gosot musical de determinados amigos, mas não consigo compreender como eles conseguem gostar das músicas, das letras (se é que podemos chamá - las assim).

Anônimo disse...

estranho é o cara só ter percebido isso agora, já tem mais de uma década que a MPB pode ter no M significados como meleca (pra nao dizer outra coisa) e nunca Música.