sexta-feira, maio 29, 2009

E-mail de Vicky (encaminhado para Fal)

Fal, Viviane (do 'Alta Fidelidade') mandou esse e-mail há alguns meses. Se você ainda não conhece, divirta-se. Eu destaquei (e comentei) as que se aplicam ao meu estado de espírito, trabalhando sempre contra o relógio e sendo cobrada por tudo e todos. Aliás, acabo de entender a fama da série: todos querem perder as estribeiras e não podem, por isso adoram o Jack.

Odessa


ENTRE NA CABEÇA DE JACK BAUER
DOIS ROTEIRISTAS DO SERIADO 24 HORAS REVELAM COMO FUNCIONA A MENTE DO AGENTE SECRETO MAIS CASCA-GROSSA DA TV

POR NICOLE RANADIVE E MATT MICHNOVETZ

:: Eu sou Jack Bauer, combato o terrorismo, vivo em Los Angeles.
:: Foda-se a diplomacia.
:: Ações falam mais alto que palavras. Gritos também são eficientes.
:: Se você atira no joelho da mulher de um cara, e mesmo assim ele não fala, ele é mau.
:: A vingança é o mais cruel dos truques. Vi isso acontecer aos outros, já fui vítima disso e até eu mesmo já fiz isso. Mas não muda nada, e não traz nenhum conforto.
:: A única coisa mais difícil do que correr para impedir um louco de soltar um vírus mortal que matará milhares de pessoas é fazer isso e, ao mesmo tempo, tentar injetar heroína no próprio braço.
:: Fui espancado, seqüestrado, envenenado por gás e levei tiros, mas a coisa mais aterradora que me aconteceu foi encarar minha filha depois de fazê-la acreditar que eu estava morto.
:: Eu como muitas bananas. Elas são uma ótima fonte de vitamina B e potássio. Também são fáceis de transportar.
:: Amor é um privilégio.
:: Se você tiver que confiar em alguém, que seja num gênio da computação esquisito.
:: Quando eu digo "merda", uma coisa ruim aconteceu, está prestes a acontecer, ou então vou tomar uma atitude drástica.
:: Qualquer homem pode errar. O que ele faz para consertar esse erro é que mostra seu caráter.
:: É melhor saber quem você é antes de se disfarçar. Se você não souber, pode se perder facilmente.
:: Tenha sempre pelo menos uma bateria de celular extra totalmente carregada.
:: Quantas vezes achei que o tempo tinha acabado, mas havia mais.
:: Quando interrogo um suspeito, sempre acho muito útil fazer as perguntas aos berros e repeti-las várias vezes.
:: Lembrem-se, terroristas usam o telefone tanto quanto nós.
:: No caso de precisar aterrissar numa rodovia, sempre aperte o cinto de segurança, coloque a poltrona na posição vertical e mantenha sua mesa fechada e travada.
:: Hoje em dia, tudo são chaves de carros e pen drives.
:: Se o presidente dos Estados Unidos mandar você atirar na cabeça de seu chefe a sangue-frio e à queimaroupa, respire fundo, peça perdão a Deus e o faça.
:: Sem consciência, um homem torna-se seu pior inimigo.
:: Às vezes, é necessário criar um estratagema crível, mesmo correndo o risco de os outros pensarem que você é um babaca.
:: Às vezes, um celular pode ser usado para ativar um detonador secundário no colete de um terrorista, independentemente de quantos minutos sobram no seu plano.
:: Terroristas mortos servem muito bem como escudos humanos. Terroristas vivos também.
:: Burocratas querem resultados, mas jamais querem sujar as mãos. (a maior verdade da lista e a mais compatível com nossa realidade)
:: A segurança das pessoas que eu amo vale qualquer sacrifício. Até o da confiança delas.
:: Algumas pessoas não merecem morrer, mas isso não é problema meu.
:: Sérvios têm palavras diferentes para tudo.
:: Se você não tiver uma arma Taser, os fios de uma lâmpada produzem a corrente necessária para dar um choque no seu alvo, forte o suficiente para ele abrir o bico sem ficar com danos permanentes.
:: Às vezes, você tem de fazer o errado pelas razões certas.
:: Você não pode salvar todo mundo. (meu preferido!)
:: Se você me vir correndo na rua, provavelmente é uma boa idéia se esconder.
:: Não irrite os chineses.

E-mails

Querida Grissom's Girl,
'Aquela' recém-nascida...

Está quase andando!

Lembra daquela criança que nasceu numa cesárea de urgência e que me tirou do retiro espiritual ('nunca mais eu exerço Medicina, etc')? Com uns 45 dias de nascida, teve coqueluche (eu diagnostiquei na criança e na mãe) e foi transferida para Recife. Eu não tive mais notícias. Coqueluche tem vacina (aplicada aos 2 meses de idade), mas as pessoas têm mania de ficar falando e beijando o recém-nascido, então eles pegam a doença ANTES de serem vacinados. Eu nem sabia se a criança tinha sobrevivido.

Um dia desses, a mãe ligou porque queria um atendimento para outra criança, filha de alguma amiga. Eu expliquei que ainda estou me recuperando de uma doença grave, falei que havia DOIS hospitais na cidade, que minha médica recomendou não atender casos de emergência, etc. A mãe entendeu (ou assim o disse) que em duas vezes eu fui contra as recomendações médicas e salvei a filha dela. Ofereci-me para orientar o plantonista, se ele não tiver experiência com neonatologia, mas soube dizer 'não' gentilmente. (lembra daquele texto 'A arte de dizer não'? Estou praticando).

Passando a limpo o bloco de notas que anda na minha bolsa, coloquei na primeira página: 'A vocation is NOT a life'. Isto é de Cincoflex, em 'Casa Caliente'. Aproveitei e escrevi: 'Sometimes it's not about getting ahead, it's about getting a life', enquanto não faço a tal placa pra colocar no consultório com essa frase, retirada de um trailer de um filme com Marg Helgenberger.

Neste e-mail, minha leitora percebeu e declarou:
Que chique! Nossa menininha está bem! Fico feliz por ela, pela família e por você tb, Dra. Odessa! Fico feliz tb por você estar aprendendo a deixar claros os seus limites. Quem sabe o desgaste que seu corpo e sua mente estão sofrendo, afinal das contas, é você!
Isso me deixa orgulhosa, sabia? Vc já não é mais Elizabeth do "E se fosse verdade?".


Respostinha enorme:
O problema, Grissom's Girl, é quando a família NÃO QUER entender que é impossível atender além do limite, fazer o trabalho de dois e usa de chantagem, piadinhas e ameaças veladas. Hoje, depois de explicar pela enésima vez que atendo menos pacientes na sexta-feira porque dependo do ônibus que leva os alunos do sítio para a cidade, que eu deveria ficar meia hora além do horário nos outros dias pra compensar esse acordo e estou ficando uma hora, a mulher disse 'Mas é minha mãe, uma senhora de noventa e tantos anos'. A enfermeira reinterou que o problema da idosa era um caso para o hospital e não para o posto, a mulher respondeu que 'Bom mesmo era que tivesse uma médica pra cada família'. Ao que eu respondi, olhando para os que esperavam atendimento: 'Então, minha gente, estudem, vai ser preciso muito médico pra tanta família'. A mulher se despediu, me abraçou, agradeceu a atenção e se foi.

Pois eu atendi todos os pacientes marcados, incluindo uma recém-nascida com possível pneumonia que encaminhei para a emergência. Eram 12:15h, a hora do ônibus. Quando eu saio da sala, com maleta, bolsa e o aviso pra recepcionista 'Fica de olho no ônibus que estou fazendo a produção', lá vem a irmã da mulher, 'E a minha mãe?'. Três horas depois da irmã ter ouvido que deveriam levar a idosa pra emergência. As pessoas não entendem que preencher papel é trabalho e que isso garante o dinheiro que mantém o posto. Eu expliquei (de novo), já preocupada com a hora, com o acúmulo de serviço, porque na última terça-feira ainda havia trabalho da quarta-feira anterior pra terminar (!) por causa de 'probleminhas' que surgem exatamente na hora que deveríamos estar saindo. Disse que não havia terminado ainda o serviço do dia e repassei a orientação da enfermeira, que tem experiência em plantão de emergência. A paciente nem mesmo estava na unidade de saúde, era pra fazer uma visita domiciliar. 'Eu arranjo um carro pra senhora voltar depois', foi a resposta, sem querer saber que eu tenho outros compromissos, incluindo com minha saúde. Eu terminei parte da produção (ela me atrapalhou tanto que eu comecei a confundir os números), saí atrasando o ônibus, ouvindo 'que se ela morrer...' e perdi a paciência: 'Se ela morrer, diga que a culpa é minha, mas há três horas que ela foi indicada pra uma emergência'.

É mais fácil transferir a responsabilidade para outra pessoa, simples assim. Ninguém quer reconhecer que tem fazer sua parte, cuidar do doente e procurar um médico regularmente pra evitar complicações. Deixam complicar pra pedir uma consulta. Dessa forma, eu ainda não pude conhecer todos os acamados e idosos da minha área, o que inclui essa paciente, que mora próximo ao posto. Fico presa por gente que aparece quando vê menos movimento depois do meio-dia e não entende que há menos pessoas porque eu passei a manhã trabalhando, que as pessoas que ainda estão esperando sairão de lá às duas da tarde, horário que eu deveria sair da unidade. Não querem saber que a 'produção' demora de quinze a vinte minutos pra ser feita, que médico tem que almoçar e que se eu perder a hora ali, perco minha condução pra casa. Meu trabalho é com PREVENÇÃO E PROMOÇÃO à saúde, não com emergências. O que deveria ser exceção é regra por causa do isolamento da unidade: gente com dor, com febre, passando mal e sendo socorrida ali mesmo porque não há como ir para a cidade.

(eu chego pontualmente, viu? O carro é que demora uma hora pra chegar ao posto, mas às oito em ponto eu estou à disposição da Secretaria de Saúde até duas da tarde, mas sempre saio entre duas e meia e três horas da unidade de saúde, como atesta meu livro de ponto)

No final das contas, eu disse 'não'. Atender mal e apressadamente não era a solução para o problema, a família não quis ouvir a orientação. A conduta é exatamente essa: a enfermeira faz a primeira visita domiciliar e decide se chama o médico. Geralmente, elas sabem o que fazer, mas há solicitações, prescrições e encaminhamentos que só um médico pode fazer. Hoje, estávamos sem recepcionista, que vem à tarde na sexta-feira, sem técnica de enfermagem, que dá plantão neste dia, a enfermeira também sai mais cedo neste dia e as agentes de saúde, que aparecem pra ajudar nesses casos, têm reunião na cidade em toda última sexta-feira do mês. Por isso, foi minha última sexta-feira na unidade. Já ficou resolvido que serão os dias de palestras para hipertensos e diabéticos. Enquanto isso não se organiza, vou dar palestras pelas escolas da vila para os adolescentes, pras crianças, pras professoras, mas não farei atendimento no posto. Palestras previnem doenças e suas complicações, ensinam como lidar com situações como diarréia, febre, hipoglicemia e, a longo prazo, dão mais retorno que educar um a um dentro do consultório. Esse sempre foi o objetivo do Programa de Saúde da Família: ensinar a pessoa a ser um cidadão responsável, com direitos e deveres.

Da mesma forma que quem mora perto do posto quer que o médico dali atenda emergências sem recursos para tal, outros vão direto ao hospital para 'não ter que pegar ficha no posto', sobrecarregando o plantonista. Muitas vezes, o médico está orientando sobre dieta para hipertensão no consultório da emergência, e alguém está infartando lá fora. A solução, repito, é educar a população e fazê-los entender que profissionais de saúde trabalham para cuidar dos outros, não para se matar de tanto trabalhar. Como eu li em 'Cazuza' , um de meus livros prediletos na infância: 'O direito de uma pessoa termina onde começa o de outra pessoa'.

Por e-mail.

O contrário do Amor

Martha Medeiros

O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é o ódio. Elas estão erradas. Faça uma enquete entre adultos e descubra a resposta certa: o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.

O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.

Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.

Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.

Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto.

terça-feira, maio 26, 2009

No meu tempo...

Você descobre que faz parte de uma geração quando encontra referências assim. Deixei de me 'sentir velha' e entendi que cada qual com suas lembranças. A maioria dos filmes da lista ocupa boas lembranças na minha mente e concordo com o autor: a 'Sessão da Tarde' nunca mais foi a mesma depois de 1989. Começaram a passar 'Top Gun' e esqueceram a fita cassete lá, repetiram vezes sem conta filmes bobos e esqueceram de trabalhos bons, cujos direitos pertenciam à emissora. Obrigada pela indicação, anônima leitora!

segunda-feira, maio 25, 2009

Lembrei de ligar a TV!

Eu passo meses sem assistir o JN e logo a primeira notícia que William Bonner me dá a notícia de exercício ilegal da Medicina. O melhor das notícias com ele e Fátima é o modo como ele comenta os fatos, como se estivesse batendo papo com ela em casa, junto os trigêmeos. Ahá, você pensou que eu achava esse William mais uma carinha bonita? Ledo engano. Eu gosto do trabalho dele desde antes dele começar a namorar com Fátima. Isso faz tempo!

(Falando em Bonner, o que é que Fátima fez com esse homem, mô Deus? Está cada dia melhor! Eu nem vou me perguntar o que ele faz com ela. Quando eu crescer, quero metade daquela classe e conduta profissional.)

Quando adolescente, eu assistia três telejornais. Sabia de tudo sobre todos e quase nada sobre mim. Mantive-me atualizada durante todo o curso de Medicina, estudando e deixando de viver. Quando eu me formei, desliguei. Interessante: eu perdi tudo sobre o '11 de Setembro' e só um mês depois soube que o Pentágono foi atacado. Voltei a acompanhar as notícias e certa noite eu estava aos prantos por causa de reféns láááááá em Jerusalém! Foi quando entendi que precisava ver menos TV (eu só via os jornais e 'Arquivo X' mesmo).

Não me pergunte sobre o mundo no último ano. Vicky comentou em dezembro sobre os dez maiores escândalos de 2008. Eu só sabia de dois. Em compensação, o que eu escrevi e produzi nesse período valeu meu desligamento quase total (tá, eu ainda ligava a TV pra ver CSI). Sou a favor de um meio termo, mas sempre declarei que minha TV serve pra eu ver filmes. Aliás, a TV foi presente porque havia coisas mais importantes pra comprar na hora de montar uma casa inteira. Passei a me informar por agências de notícias e descobri CSI na internet. De vez em quando, eu pergunto pras pessoas, só de brincadeira: 'Ainda é William Bonner quem apresenta o JN?'.

Não era eu quem lembrava de ligar a TV, como você pode perceber, mas quem estava por perto: companheiro, família, o pessoal do plantão. Não sei, nem quero saber qual o nome da novela das seis, nem das sete. Nada contra novelas, mas descobri que minhas histórias são tão mais interessantes, que existem outras maneiras de rir além de 'Casseta e Planeta' e que as trilhas sonoras dos filmes são boas fontes de música. Deixa a Glória Perez se divertir com a cultura indiana (ela gosta de novelas temáticas), eu me divirto (e aprendo) de outros modos. Vou e venho na condução ouvindo sobre o que está acontecendo no lugar onde eu moro e trabalho, e vivo mais em paz.

Mas semana passada falaram da nova série do Dr. Dráuzio no 'Fantástico' (vou ali acessar o site da Globo e saber mais) e ainda há pouco vi que vai passar 'Cruzada' na 'Tela Quente'. Gostaria de ser como Fal, que trabalha com a TV ligada e comenta sobre o que passa. No meu caso, eu preciso me ouvir e só consigo se apenas um falar por vez. Melhor desligar a TV. William e Fátima entendem, tenho certeza.

domingo, maio 24, 2009

Ser leitora

Vi esse cartaz e adorei. Clique em cima para ver os detalhes do 'sanduíche'.



Poucas imagens descreveram tão bem um sentimento. A palavra 'bookworm' parece-me mais precisa que a equivalente 'traça', que é como apelidam gente como eu. Como bem disse Suzi:

Bibliotecas e livrarias me provocam uma sensação conflitante. Amo tudo: as cores, os cheiros, as formas, mexo no que posso, folheio, aliso e levo o que me é possível sempre que possível.
Mas sempre me angustio em saber que jamais lerei tudo. Por outro lado me agrada e conforta o fato do "tudo" estar por ali. Ao alcance das mãos e às vezes do bolso.


Há algum tempo, Vicky comentou sobre livrarias que ela conhece em Londres e outros lugares do mundo. Talvez por isso, 'O Leitor' tenha me tocado tão profundamente. Fernanda indicou-me o filme e eu encontrei o livro. Cada um mostra uma visão da mesma história. No filme, você briga com ele, no livro, fica reclamando dela. Em ambos existe uma cena em que a mulher entra num ambiente cheio de livros. A gente sente o olhar faminto da personagem e acho que foi esse momento que deu o Oscar a Kate Winslet. Eu me sinto exatamente do mesmo jeito quando entro na Livraria Cultura (que me foi 'apresentada' pela mesma Vicky).

(Eu estou muito melhorada! Era assim com qualquer livro, em qualquer biblioteca ou livraria. Deve ser alguma doença que ainda não nomearam, essa compulsão para ler. Veríssimo tem uma crônica sobre isso e revela que chegou a ir ao banheiro do hotel, no meio da noite, para ler 'quente' e 'frio', nas torneiras. Meu tratamento para isso é escrever e ler o máximo possível em outra língua, o que me obriga a ler com atenção e mais devagar. Eu 'pulo' as palavras, na sofreguidão de saber o final da história. Acabo relendo o mesmo livro vezes sem conta e rindo das mesmas piadas, me emocionando com os mesmos fatos)

Uma das minhas prediletas


Ora (direis) ouvir estrelas
Olavo Bilac

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.


Pra quem não conhece, 'Ouvir Estrelas' é a versão musicada desse texto, gravada pelo Kid Abelha. Como eu gosto de Paula Toller, sou suspeitíssima para dizer se ficou bom. Li essa poesia quando estudava Literatura na Escola e nunca a esqueci, apesar de não ser boa decorando nada: frases, textos, versos ou o que o paciente disse há dois dias. Por isso, escrevo tudo na ficha, no bloco de notas ou no computador. No meu tempo de estudante, eu sofria porque preciso entender e não apenas decorar. Então eu lembro da conversa e do paciente assim que leio a última consulta, noutras ocasiões sei quem escreveu sobre o quê, mas não as palavras exatas. Eu daria uma péssima testemunha auricular (se tem testemunha ocular, tem testemunha auricular, certo?).

(É impressionante acompanhar o crescimento profissional de um artista. 'Como eu quero' foi a primeira música que minha melhor amiga me ensinou. Eu tinha uns seis ou sete anos. Eis-me com 33 e eis Paula Toller após ter estudado ópera. Tem algo naquela voz e naquelas letras que me toca)

Como Prince Cristal postou essa também, resolvi usar a mesma imagem, mas veio lá do blog dele.

segunda-feira, maio 18, 2009

Perceberam, foi?

80% DOS MÉDICOS DO PSF TEM CONTRATOS PRECÁRIOS
Durante audiência pública sobre Precarização do Trabalho Médico, o conselheiro do Conselho Federal de Medicina (CFM), Geraldo Guedes, chamou a atenção que 80% dos médicos que trabalham no Programa de Saúde da Família (PSF) tem contratos precários. O médico também disse que dentre dois milhões de trabalhadores da saúde, 800 mil tem trabalhos precários. “O que acaba gerando grande rotatividade e falta dos trabalhadores. Os médicos precisam de uma Carreira de Estado e um Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos, além de um salário digno e a implementação da CBHPM no SUS”, disse Geraldo Guedes. Dados referendados pelo coordenador de gestão de trabalho em saúde do Ministério da Saúde, Henrique Vitalino. O evento, promovido pela Comissão de Trabalho, de Administração e de Serviço Público (CTASP), da Câmara dos Deputados, aconteceu nesta quinta-feira, dia 14 de maio. O requerimento foi do deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), que acredita que o cenário brasileiro, desfavorável aos médicos, tem se refletido na sociedade por meio da baixa qualidade do atendimento prestado aos usuários dos serviços de saúde. Fonte:CFM. (15/05/09)

AUDIÊNCIA PÚBLICA DEBATE PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO MÉDICOS
Eleuses Paiva, ex-presidente da AMB e recém-empossado deputado federal, e Florentino Cardoso, diretor de Saúde Médica, assistiram à audiência pública realizada pela Câmara dos Deputados sobre precarização do trabalho médico (vínculo empregatício informal). O encontro foi promovido pela Comissão de Trabalho, de Administração e de Serviço Público (CTASP) e aconteceu na quinta-feira, 14 de maio. O requerimento foi feito pelo deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), que acredita que o cenário brasileiro, desfavorável aos médicos, tem se refletido na sociedade por meio da baixa qualidade do atendimento prestado aos usuários dos serviços de saúde. Fonte: CFM. (15/05/09)


Sinceramente: eu devo ser mesmo adiante dos outros. Desde que me formei que falo nisso. Há oito anos, anônimo leitor, oito anos!

sexta-feira, maio 15, 2009

Everybody Hurts

(Berry/Buck/Mills/Stipe)

When your day is long and the night, the night is yours alone,
When you're sure you've had enough of this life, well hang on
Don't let yourself go, 'cause everybody cries n everybody hurts sometimes

Sometimes everything is wrong. Now it's time to sing along
When your day is night alone, (hold on, hold on)
If you feel like letting go, (hold on)
If you think you've had too much of this life, well hang on

'Cause everybody hurts. Take comfort in your friends
Everybody hurts. Don't throw your hand. Oh, no. Don't throw your hand
If you feel like you're alone, no, no, no, you are not alone

If you're on your own in this life, the days and nights are long,
When you think you've had too much of this life to hang on

Well, everybody hurts sometimes,
Everybody hurts. You are not alone
Everybody cries. And everybody hurts sometimes
And everybody hurts sometimes. So, hold on, hold on
Hold on, hold on, hold on, hold on, hold on, hold on


Nem só de música agitada vive R.E.M., nem só de cenas sugestivas e sensuais vive Vettriano, e sim: eu preciso viver um dia de cada vez.



'A Fishergil, by Jack Vettriano (signed Hoggan)'

quinta-feira, maio 14, 2009

Dor de Cabeça e Depressão

Esse artigo do Dr. Alessandro Loiola sobre cefaléia tensional está excelente. Eu indico e acrescento:

Nome elegante pra 'dor de cabeça por causa de aperreio', a cefaléia tensional tem uma variante: a cefaléia de alta tensão. Insuportável e incapacitante. É interessante notar que pacientes poliqueixosos (múltiplas queixas importantes numa mesma consulta, que 'vivem no consultório médico') geralmente se queixam de alguma dor recorrente, que já foi investigada por mais de um médico, medicada com diversos fármacos, sem resolução ou alívio efetivo. Dessas dores, a cefaléia é a mais comum.

Na verdade, dor de cabeça não é uma doença, mas um sintoma, um aviso que algo não está certo (mesmo que seja só por ter passado da hora de comer) e eu conheço pelo menos duas pessoas próximas que sofrem de cefaléia (ambas 'têm enxaqueca' diariamente) há mais de uma década. Nenhuma das duas pessoas aceita que a causa está relacionada... a depressão!

Anônimo leitor, viver com dor de cabeça, dor nas costas, dores no corpo que os médicos não descobrem o que é e que não resolvem pode ser um sintoma de depressão. A população (e parte da classe médica) ainda associa depressão com gente triste e chorosa. Eu não sei qual a definição mais atual, mas como profissional e paciente, declaro: uma pessoa com depressão é alguém cuja qualidade de vida é insatisfatória porque todas (ou a maioria de) suas atividades diárias não causa prazer e/ou causa algum grau de desconforto, levando a crises de tristeza, ansiedade E/OU irritabilidade importantes. É alguém sem alegria de viver e que não acredita mesmo que há solução pra isso, porque acha que já tentou de tudo ou que sua personalidade é aquela e pronto.

Quando eu era estudante de Psiquiatria (isso já faz uma década), aprendi assim:
- existe depressão reativa a uma situação específica (luto, empobrecimento ou enriquecimento súbito, diagnóstico de uma doença grave,perda de emprego, aposentadoria, depressão pós-parto, etc),
- existem doenças que têm depressão como sintoma (dizemos o paciente tem 'sintomas depressivos' no hipotiroidismo, por exemplo, e não que o diagnóstico é 'ele tem depressão e hipotiroidismo'. Isso inclui as doenças psiquiátricas, como Psicose maníaco-depressiva. O paciente é maníaco-depressivo, bipolar ou como quer que chamem agora, mas ele não é 'depressivo' ou 'tem depressão'. É outra doença),
- existe a verdadeira depressão (que é mais comum em mulheres, geralmente há mais de um caso na família, é relacionada à deficiência de serotonina, etc).

A cada vez que converso com minha ex-professora de psiquiatria, tem tanta novidade sobre depressão que dá vontade de voltar pra faculdade e estudar tudo de novo, por isso devem ter mudado a classificação, mas o que importa é: depois que depressão tornou-se uma doença conhecida (graças ao PROZAC, primeira medicação efetiva, os pacientes foram melhorando e comentando com outras pessoas o que era depressão e que tinha tratamento), muitos médicos não têm como alegar que não sabem o que é isso e quais os sintomas!

Ocasionalmente eu recebo um(a) paciente no PSF cuja ficha mostra diversas consultas anteriores com os médicos que me precederam no serviço. A pessoa tem dor de cabeça (habitualmente os 'colegas' nem descrevem as características da dor, vão logo escrevendo 'Enxaqueca. Conduta: Neosaldina' ou algo semelhante), não dorme bem, tem umas dores imprecisas pelo corpo, é conhecida na família como 'chata', 'briguenta', 'reclamona', 'exigente' e briga até com as paredes ('ranzinza' não é preciso o suficiente pra um paciente com depressão descompensada). Ele/a não vive chorando, nem pensando em se matar, então os médicos não pensam em depressão.

E assim, essas pessoas vivem tomando analgésicos (há estudos sugerindo que mesmo dipirona e paracetamol causam dependência química), brigando com todo mundo e sendo evitadas pelos outros 'porque ninguém aguenta fulano/a', infelizes e tornando os outros infelizes, acordando para mais um dia de uma vida difícil e carregando um peso desnecessário. Causa-me uma satisfação impossível de descrever quando uma dessas pessoas volta e me diz que a medicação que eu prescrevi está ajudando, que a dor passou ou diminuiu, que o casamento melhorou, etc. O problema é quando a pessoa descobre que precisa usar a medicação todos os dias. Como na diabetes, hipertensão arterial ou hipotiroidismo, o tratamento da verdadeira depressão é contínuo e inclui outras medidas além da medicação, e nem todos aceitam essa mudança de vida.

A propósito:

'Just Another Day, de Jack Vettriano'

Da Fal

"Quando uma pessoa de bem não se choca com canalhice, é hora de rever o termo pessoa de bem. Porque canalhice é canalhice, leitorzinho matreiro, não se iluda jamais".

Anônimo, eu já contei sobre essa última semana? Melhor não. Lendo o 'Drops da Fal' percebo que não fui a única ultimamente com dias bons de se esquecer. Eu já disse que amo a Fal?

Tá, eu já disse. E daí? Ela está coberta de razão quando diz que a convivência rotineira com o leitor/fã destrói o mito do ídolo (ela não diz com essas palavras, mas diz). E, como Silvana comentou com ela, raramente a gente 'descobre que o ídolo é como a gente imagina ou ainda melhor' (por isso, Silvana não quer conhecer Meryl Streep ou Clint Eastwood jamais). Concordo! Melhor eu com minhas ilusões que eu completamente sozinha.

(Falando nisso, indico ou não indico a nona temporada de CSI pra Fal? Será que isso entra na classificação de 'convivência rotineira'? É no que dá ter uma família de coração: conflitos virtuais)

***

Ah, presentinho da Suzi, que conheci por causa da Fal, claro.


'Rosas do Jardim de Suzi'

Ela mesma quem plantou. Que mão artística, anônimo leitor, que mão!

quarta-feira, maio 13, 2009

Aliás,

Adorei as indicações de Dona Marta (mãe de Fernanda):

Site da Martha Stewart. Dá pra acreditar que essa rosa aí embaixo é de papel?! Eles ensinam a fazer cada flor... Lembrei das minhas irmãs de alma (e da mãe de ambas, Lúcia) que fazem esse tipo de trabalho com tal facilidade que eu fico boba.



A vida escrita a Mão, da Márcia, que mora na Inglaterra. Conta aventuras, ensina a cuidar da saúde do planeta e dá receitas carinhosas. Com Vicky indo pra Westminster, acho que D. Alice (mãe de Vicky) vai adorar o fato da filha manter um blog também, pra acompanhar tudo!

Chega de Bagunça!. Cheio de dicas pra organizar a vida, bem parecido com as aulas da Escola Doméstica de Natal, onde 'fui educada'.

(Já disse que tenho saudade de três coisas em Natal? ED, Alliance Française e a casa das minhas irmãs de alma. Desde antes de sair de lá eu sabia que seriam esses três lugares - e apenas esses - a me fazer falta)

***
Falando na Escola e nessas mães: eu não conheci minhas avós, mas essa digna senhora (diretora da ED desde 1945 e fundadora do Complexo Educacional Henrique Castriciano) é o meu referencial de figura de avó e clássica mãezona, embora nunca tenha tido um filho (natural ou adotado). Feliz Dia das Mães, D. Noilde Ramalho!



(Ou como nós nos referimos a ela: 'Tia Nó'. A maioria das alunas morria de medo dela, mas eu nunca vi razão pra ter medo, só muito respeito. Deve ser por isso que ela lembra do meu nome depois de QUINZE ANOS que eu terminei o curso)

A título de Informação

Hoje começa o Festival de Cinema em Cannes

(Aceito as passagens, a hospedagem e os assentos para as premiéres mais elegantes da Europa. Dispensaria o intérprete, mas não falo francês desde, desde... esqueci)

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Hoje é o dia de Nossa Senhora de Fátima.

(Difícil de esquecer a partir do ano passado. Após de uma festa do 'Dia das Mães', com um momento religioso, uma pessoa me fez ver, com sua atitude indiferente, que eu NUNCA vou fazer todas as pessoas entenderem que médico também é gente)

Mais um probleminha de saúde pra se conhecer

Você sabe o que é discalculia?

(Alexandre Barros, em 'O Estado de São Paulo')

Este artigo é um alerta para pais, filhos, parentes, amigos e professores. Se alguém próximo de você - filho, filha, cônjuge, parente, amigo, amiga - tem grandes dificuldades com números, contas e matemática, provavelmente sofre de discalculia. Eles ou elas podem até dar certo na vida. Eu dei, mas sempre esgueirando-me dos malditos números.
Na infância e adolescência era chamado de burro. As humilhações eram diárias. Fui empurrado, durante anos, por professores particulares de Matemática, para conseguir passar de ano. Nas matérias sem números me saia muito bem. Para ler e escrever era ótimo. Tinha notas boas. Ganhei até um concurso literário na escola.
Aos 16 anos, passei a escrever, com um amigo, uma coluna sobre escotismo no Jornal do Brasil, então no auge de sua fama. Fui foca no Correio da Manhã e escrevi durante anos para o Jornal da Tarde e para a Gazeta Mercantil. Ganhei boa parte da vida escrevendo.
A desgraça eram números, contas e fórmulas. Entendia a força centrífuga (se entrasse na curva, com o carro além de uma certa velocidade, a derrapagem era certa). Fiquei emocionado quando um colega contou-me que tensão superficial era o que permitia às lentes de contato flutuar dentro dos olhos, sem neles tocar. Não entendi isso na explicação do professor, por meio de fórmulas. Fui chamado de toupeira, aos berros, na frente da turma inteira. A humilhação foi enorme.
Mesmo para discalcúlicos, conceitos complexos são fáceis de entender, se explicados com palavras. Entendê-los por meio de fórmulas, números e cálculos é tarefa inglória e quase sempre impossível.
Entrar na faculdade foi um alívio. Estudando Sociologia livrei-me das contas. De Matemática, nada além de conversões de medidas e moedas e regra de três me serviu ao longo da vida. Ainda hoje, para fazer uma regra de três, preciso remontar o raciocínio passo a passo para conseguir saber que números tenho de multiplicar e quais tenho de dividir. Quase sempre erro.
Vivi 50 e muitos anos nessa situação. As humilhações cessaram depois que terminei os estudos. conseguia me esgueirar discretamente dos números. Evitava contas e situações que exigissem raciocínio matemático. Defendia-me eficazmente do sofrimento.
Há poucos anos, almoçando com o jornalista Márcio Moreira Alves, ele ditou-me seu novo telefone, que anotei. Vendo o que eu havia escrito, Márcio disse-me: "Você anotou os números todos trocados." Insisti que os algarismos estavam nos lugares certos. Finalmente me convenci. Estava tudo trocado mesmo. Márcio me disse: "Alexandre, você é disléxico."
O susto foi enorme. Com mais de 50 anos, Ph.D. em Ciência Política por uma das universidades mais prestigiosas dos EUA, uma tese de doutorado premiada e mais de 100 artigos publicados, fluente em três línguas, descobri que era disléxico. Não fazia sentido.
Viva o Google. Fui lá pesquisar a dislexia. Achei o atalho certo. Meu problema era parecido, mas diferente. Sofro de discalculia: uma dislexia para tudo o que se relaciona a números e Matemática. Foi um alívio, exorcizei os demônios das ofensas e humilhações de professores. Eu não era idiota, burro ou toupeira. Eu tinha uma doença. Burros eles, que não sabiam. Mas burros com muito poder.
Atualmente convivo bem com a discalculia. Professor, pró-reitor universitário e consultor empresarial, recentemente tive de fazer cálculos de custos empresariais e me atrapalhei todo. Um colega, vendo a minha confusão, tirou-me do aperto, mas não entendeu a minha dificuldade.
Expliquei: para quem sofre de discalculia, letras e palavras se comportam muito bem. Números são crianças travessas que insistem em fazer as traquinagens que bem entendem, rindo e debochando de nós.
O drama da discalculia é muito pior do que o da dislexia, porque a maior parte de nossa vida é conduzida por letras e palavras. Os números só são necessários para atividades menos frequentes. Assim, discalculia fica mais escondida e, por desconhecida, não é identificada nem tratada.
Disléxicos também sofrem, mas sobre a dislexia já há mais conhecimento, o que propicia diagnósticos, controles e tratamentos. Discalcúlicos, porque a doença é desconhecida, são tratados como burros.
Até hoje nunca sei se o troco que me dão está certo. No dia que recebi do banco um cartão de senhas, entrei em pânico ao ver todos aqueles números. Tive com a gerente uma áspera discussão: eu não iria usar o cartão. Perdi.
Sofri para aprender. Decorei tudinho. Se algo mudar, volto à estaca zero e começo tudo de novo. Copiar sequências de dígitos para pagar uma conta via internet é uma operação que tenho de repetir várias vezes. Os números insistem em trocar de lugar. Outros algarismos travessos metem-se onde não foram chamados.
Até usar um telefone de teclas é difícil. Com frequência tenho de "discar" várias vezes o número que quero, porque erro na tentativa. Quando percebo, paro no meio e recomeço. Quando vou até ao fim, espero a outra pessoa atender e peço desculpas pelo engano. E ligo de novo.
Este artigo, no entanto, tomou-me menos de uma hora e meia para escrever e rever.
Foi escrito por um impulso emocional: preciso contar a muitas pessoas que sofrem, são humilhadas, ofendidas e carregam culpas por não saber Matemática que elas não são burras, estúpidas, idiotas ou preguiçosas. São apenas doentes. Sofrem de discalculia.
Podemos viver bem e até ter sucessos na vida, desde que eles não envolvam contas. Nos damos bem até com os gráficos e com os fenômenos da Física, da Química e da Matemática, desde que explicados com palavras, e não com fórmulas. Sobretudo, não nos peçam para calculá-los.

Alexandre Barros, Ph.D. em Ciência Política pela University of Chicago, é pró-reitor do Centro Universitário Unieuro (Brasília)

E-mail: alex@eaw.com.br

Mais informações em:
http://www.neuropediatria.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=92:discalculia&catid=59:transtorno-de-aprendizagem-escolar&Itemid=147
http://www.psicopedagogiabrasil.com.br/disturbios.htm
http://www.psicopedagogia.com.br/opiniao/opiniao.asp?entrID=384
http://www.mundoeducacao.com.br/doencas/discalculia.htm


Obrigada, Dona Marta (mãe de Fernanda)! Acho que isso explica por que algumas das instruções da receita médica precisam ser 'traduzidas' para o paciente ('de seis em seis horas, seu Fulano, é às 6 da manhã, meio-dia, 6 da noite e meia-noite', e outras frases clássicas pra quem explica uma receita médica).

Eu sei que em muitos casos é pouca (ou nenhuma) de educação formal (a pessoa não sabe ler ou interpretar), mas há pessoas com ensino médio (antigo segundo grau) que se atrapalham pra saber como dar a medicação para o filho! Nesses casos, como sugere o autor do artigo, faço desenhos (do copo-medida, de uma seringa com a quantidade de mililitros prescritos, do sol, da lua) e peço que a pessoa me diga como entendeu as instruções. Geralmente eles entendem. Basta paciência.

De Estrela

terça-feira, maio 12, 2009

De lua



"Lua Branca"

Chiquinha Gonzaga

Ó, lua branca de fulgor e desencanto
Se é verdade que ao amor tu dás abrigo
Vem tirar dos olhos meus o pranto
Ai, vem matar essa paixão que anda comigo
Ai, por quem és, desce do céu, ó, lua branca
Essa amargura do meu peito, ó, vem, arranca
Dá-me o luar de tua compaixão
Ó, vem, por Deus, iluminar meu coração
E quantas vezes lá no céu me aparecias
A brilhar em noite calma e constelada
E em tua luz então me surpreendias
Ajoelhado junto aos pés da minha amada
E ela a chorar, a soluçar, cheia de pejo
Vinha em seus lábios me ofertar um doce beijo
Ela partiu, me abandonou assim
Ó, lua branca, por quem és, tem dó de mim

sábado, maio 09, 2009

Pregando

Então as Testemunhas de Jeová ali da esquina resolveram bater por aqui. Eu não discuto religião, elas dizem também que não, que apenas 'estão pregando a palavra de Deus', mas querem sempre me convencer que o modo como eu penso não me garante um lugar numerado na versão deles de Paraíso.

Portanto, eu vou avisando que sou católica (ou assim fui criada) e que respeito todas as religiões (pelo menos as pacíficas), mas não, obrigada. Vou continuar lendo a Bíblia sozinha e no meu caminho à procura da felicidade. Acho louvável a atitude dessas pessoas religiosas que saem de porta em porta oferecendo conforto, mas quando trazem como bônus a promessa de salvação, eu dispenso.

Sempre que alguém aparece assim na minha casa, eu lembro de uma tia por afinidade (casada com um tio meu), às portas da morte e desenganada, muito, muito jovem, que estava internada no hospital onde eu estudei. Era hora das visitas e eu, como estudante de Medicina, tinha livre trânsito a qualquer hora, mas minha mãe não. Então, lá estávamos eu e minha mãe, fazendo companhia pra minha tia, quando chegaram umas vizinhas da mesma, de alguma igreja, pedindo que ela se arrependesse dos pecados, que aceitasse Jesus no coração e que ela ficaria curada. Ocuparam um bom tempo da hora de visita com casos de pessoas que haviam feito o mesmo e estavam bem de saúde por causa disso. Até que minha tia, quase sem ar, com um cateter de oxigênio e tudo, conseguiu fôlego pra murmurar: 'Eu já aceitei Jesus e ele está comigo há muito tempo'. Só faltou dizem 'me deixem morrer me paz', mas estava implícito. Ninguém havia dito o diagnóstico, ou que ela não ia voltar viva pra casa. Ela faleceu em menos de uma semana e durante todo o velório, a imagem dela dizendo isso foi o que me confortou.

Essa tia foi minha primeira paciente naquele hospital. Aprendi muito ali e naquela mesma enfermaria, onde não podia entrar sem me lembrar dela quando ainda grávida do meu primo, feliz ao lado do meu tio (hoje também falecido). Uma das maiores lições veio do modo tranquilo (e não resignado) com que ela disse 'Jesus está comigo há muito tempo'. Isso me mostrou que visitas de religiosos são bem-vindas, mas não pra trazerem mais dúvidas e angústia para o doente.

Aliás, obrigada a cada pessoa religiosa que passou em minha existência e que me ofereceu conforto, sem questionar meus motivos. Deve ser por isso que eu tenho amigos espíritas, adventistas do sétimo dia, batistas, católicos, umbandistas, mórmons...

Anônimo leitor

Brinde comigo à perda de redondos vinte e cinco quilos. Começou porque adoeci, continuou porque retomei hábitos saudáveis de vida, manteve-se porque prometi que perderia peso como um presente de casamento a alguém que se importava com minha saúde.

Qualquer que seja o 'como' ou 'por que', consegui provar que é possível. Sem redução de estômago, sem passar fome, sem dietas milagrosas, sem exercícios físicos extenuantes, sem cirurgia plástica.

Não desejo a ninguém passar o que passei (e passo) pra conseguir tal resultado, uma vez que minha doença contribuiu significativamente para o ganho e perda de tanto peso, mas é importante registrar tal fato e está feito.

sábado, maio 02, 2009

Só porque...

Algo bom SEMPRE existe, por pior que pareça a situação. O tal 'acidente' com minha saia nova rendeu uma série de emails, escritos durante uma crise de enxaqueca. Infelizmente, o poema de Ivone só faz sentido mesmo com meu 'nome real' e mas vou copiá-lo, pra resposta fazer sentido. Há muito tempo que eu não fazia um verso (nem lembro se já fiz um verso cômico antes!). Deve ser a convivência (ou a enxaqueca).

De Ivone para 'Odessa':

Sua saia preta achei linda
com a blusa verde combinando
uma sandalia alta bege
o chapéu igual ao meu
vc mais magra, mais jovem, mais leve
ia pra fila e arranjou outro comprô

e agora uma enxaqueca por causa da saia

remédio pra sua enxaqueca: VINGA-SE, NUNCA MAIS SAIA COM AQUELA SAIA

o que Dra Valadares recomenda pra enxaqueca?
anis "estrelado"?
que Deus tenha misericordia da nossa alma
talvez seja a vespera de uma lua cheia
e a Odessa vem junto de quebra

Urgente: Receite-se Srta Dess


De 'Odessa' para Ivone:

Tanta gente me disse que eu estava bonita naquele dia,
que me faz pensar em mal-olhado
anis estrelado?
Minha cunhada é quem nisso confia.

Eu, amante de chás e naturais medicações ,
tenho que me render à triste sina:
Pra essa dor e pra insônia, não funciona mezinha
Por mais potentes que sejam as poções.

Antinflamatório e tranquilizante,
com a devida prescrição
(Nada de auto-medicação!)
Eis a vida errante

De alguém que ainda acredita
Que, um dia, vai relaxar
E aproveitar a vida
Sem com tudo se preocupar.

Srta Dess (indo pra cama quando deveria estar escrevendo)

PS: Já resolvi o que fazer com a saia. Ela será bordada com miçangas e canutilhos, cobrindo os pontos acidentados. Resta renovar a receita dos óculos. É uma excelente desculpa pra voltar a assistir o JN. William Bonner e Fátima Bernardes não são uma companhia maravilhosa?

Ser mulher moderna

Se você acha que um diploma universitário vai automaticamente livrá-la da infinita labuta a que estão condenadas as rainhas do lar, sinto decepcioná-la. Fazendo jus ao feriadão por causa do 'Dia do Trabalho', de quinta até hoje eu já tirei todas as cortinas das janelas, coloquei pra lavar (o diploma me permitiu comprar uma máquina de lavar roupa, pelo menos), pra secar e pendurei-as de volta. Lavei todas as florzinhas de mentira que enfeitam a casa (eu não gosto de flores artificiais, mas sempre esqueço de pôr água nas flores de verdade), limpei todos os móveis, varri a casa, matei uma baratona cascuda que ousou entrar em casa (Grissom que me desculpe, mas barata cascuda não merece perdão), debulhei um saco de feijão verde, lavei louça, rearranjei os móveis da sala (obrigada ao curso Técnico de Economia Doméstica, que teve aulas de decoração), pintei a cadeira da escrivaninha que estava descascando (obrigada às aulas de Educação Artística), coloquei roupa pra lavar, recolhi a roupa seca e bolei um jeito de salvar minha saia preta novinha que ficou perdida por causa de um acidentezinho urbano. Ah, lembrei e coloquei água nas plantas, pus o lixo pra fora, coloquei o feijão pra cozinhar junto com os maxixes que ganhei no posto onde trabalho (médico em zona rural ganha presentes hortifrutigranjeiros), fui aos bancos (não, eu não tenho dinheiro suficiente pra duas contas, são as prefeituras que obrigam o contratado a ter conta no banco X ou Y), paguei luz, plano de saúde e fatura do cartão...

(Claro que em meio a isso tudo, eu encontrei Grissom's Girl no MSN com hora marcada, encomendei umas peças da Suzi, continuei a releitura de 'Minúsculos Assasinatos...', da Fal, e 'À Espera de Um Milagre', do Stephen King, escrevi mais algumas cenas, terminei uma de minhas histórias impublicáveis, reencontrei Ivone pessoalmente, que faz um verso no tempo que a gente leva pra verificar a frequência cardíaca, e tive uma enxaqueca por causa da saia)

Quando eu digo 'não' à manicure, que insiste que 'unha de doutora tem que ser comprida e vermelhona', ela não entende. Se eu fizesse como ela quer, o trabalho dela não duraria nem dois dias. Deixa eu ir passar roupa. Ainda tenho que estudar Hanseníase (diagnostiquei um caso essa semana).

E as pessoas ainda me perguntam por que eu não quero filhos! Cadê tempo?

Falando em doença familiar...

MAMOGRAFIA NO SUS AJUDARÁ A REDUZIR CÂNCER DE MAMA NO PAÍS
Rio de Janeiro - O diretor da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), RobertoVieira, disse que a entrada em vigor da lei que estabelece a realização de exames de mamografia pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para mulheres acima de 40 anos vai ajudar a mudar o quadro brasileiro de câncer de mama. Para ele, o quadro de tantas mulheres morrendo da doença "é vergonhoso". A Lei 11.664/08 começou a vigorar nessa quarta-feira (29). Segundo Vieira, a cidade do Rio de Janeiro quase não apresentava casos de câncer de mama. Hoje, o município lidera o quadro no país, com cerca de 4 mil casos, desbancando Porto Alegre. A capital gaúcha era a primeira do ranking até há bem pouco tempo e agora registra somente 800 casos. De acordo com o médico, é preciso reverter isso, sensibilizando as entidades públicas e privadas e também as mulheres a fazer a mamografia, para que, em vez de a paciente descobrir um câncer avançado, ela possa detectar ainda em estágio inicial, com possibilidade de cura. Roberto Vieira esclareceu que o câncer é impalpável. E quando uma mulher, por meio do exame manual, constata a presença de algum nódulo, “ele talvez já exista há 15 anos”. Fonte: Agência Brasil. (30/04/09)



'The Opening Gambit', de Jack Vettriano.

Por esses dias, enviaram-me um email onde o Hospital do Câncer de Pernambuco relatava que apenas 3% das mulheres com câncer de mama que são atendidas ali, chegam no estágio inicial da doença. E que a principal causa é (pasme, anônimo leitor!) porque os médicos NÃO pedem a mamografia como exame de rotina. Eu não sei se é porque eu perdi minha tia paterna predileta com câncer de mama (e ela não foi a única mulher da família a morrer da doença), porque tive mais de uma paciente em estado terminal por causa da doença ou porque eu faço como manda o livro, mas o fato é: eu peço Mamografia Bilateral anualmente a TODAS as mulheres com mais de 40 anos. Se há casos em parentes de 1o grau, peço a partir dos 35. Muitas dizem que não precisa, que não estão sentindo nada. Eu escrevo no prontuário: 'Paciente recusa a solicitação de mamografia', da mesma forma quando recusam o exame de prevenção do câncer de colo uterino ou a aplicação da vacina de tétano ou a endoscopia digestiva.

O segundo problema (a meu ver, não tenho dados sobre o assunto) é que existe um número limitado de exames autorizados para o serviço público. 16 mamografias por mês é a cota pra cidade onde eu trabalho. Ora, 16 eu chego a pedir numa única semana! E só no meu posto. Existem mais cinco USFs no município. Essa é a realidade: não há vagas para o exame, o que desestimula os médicos a pedirem como rotina.

Se você não acredita, veja minha situação em relação aos homens com mais de 40: o PSA (exame de sangue que faz parte da investigação de câncer de próstata) é caro e nem sempre é disponível pelo serviço público. O diagnóstico do câncer de próstata é feito por uma tríade: toque retal, PSA e ultrassonografia da próstata. Se um desses exames estiver normal, não se exclui o diagnóstico. Ora, os homens não aceitam ser examinados fisicamente (eu trabalho numa zona rural, imagina!), há poucas vagas para ultrassom de próstata e o PSA está 'suspenso, por enquanto'. Essas pessoas NÃO TÊM condições de pagar os exames. Eu fico constrangida, sim, quando um paciente diz que fez um sacrifício, mas que fez todos os exames que eu pedi (alguns não têm paciência de aguardar meses para a realização dos exames de rotina e vendem uma vaca, uma cabra, pra bancar o custo).

Droga! Eu peço um monte de exames de rastreio, a maioria é considerada desnecessária porque o paciente é assintomático, mas eu trabalho com PREVENÇÃO e PROMOÇÃO à saúde, não apenas com CURA e REABILITAÇÃO. Eu sou EDUCADORA EM SAÚDE, algo que a maioria da população médica não se dá conta, mas é. Logo, eu DEVO dosar o colesterol de uma criança magrinha que tem pai, mãe ou algum parente com hipercolesterolemia. Foi assim que descobriram a hipertrigliceridemia de meus primos com menos de dez anos de idade, prevenindo uma diabetes em idade precoce. Quando o serviço público dificulta (ou inviabiliza) o acesso a exames complementares mais sofisticados (e mesmo a alguns básicos, um pouco mais caros que um hemograma), o próprio médico se vê num dilema horrível: tirar COMIDA do prato do paciente pra que o mesmo custeie um exame que pode diagnosticar uma doença que mata. Ninguém deveria fazer essa escolha.

(E antes que alguém questione o custo desses exames de rastreio, saiba que eu tenho noção do valor desses exames e sei que sai mais barato dosar colesterol que pagar a medicação pra baixá-lo, quando dieta e exercícios físicos não são suficientes, além de pagar a diária numa UTI por causa de um infarto, o cateterismo diagnóstico, o pagamento do benefício do INSS porque o paciente não pode trabalhar depois do infarto, etc. Eu li em algum lugar que cada 1 real que você gasta em prevenção de doença equivale a 3 reais gastos em tratamento da mesma doença e suas complicações)

Então, eu diariamente escrevo em prontuários: 'O paciente ainda não fez o exame tal', 'o paciente não pode realizar tal exame, tomar tal medicação, por razões de custo'. Mas eu peço, sim, os exames. E nunca tive uma mamografia com nódulo que se revelou maligno. Isso significa que os tais 3% foram enviados por outros colegas previdentes. Talvez eles também tenham perdido alguém e se lembrem de pedir a mamografia. Só espero que realmente aumentem as cotas e que não seja preciso que cada médico veja uma familiar ou uma paciente querida com câncer de mama pra se lembrar que mamografia anual é rotina.

Em tempo:
A pintura de Vettriano é só pra chamar atenção pro post. Raramente ele explicita, como nesse quadro, prefere sugerir, daí a genialidade de seu trabalho.

Ah, é?

MINISTRO DA SAÚDE QUER DISCUTIR SITUAÇÃO DO MÉDICO NO BRASIL
O ministro da Saúde quer discutir com os dirigentes das entidades médicas nacionais a situação do médico no Brasil. Depois de apresentar um painel sobre a experiência do Sistema Único de Saúde (SUS) no 12º Congresso Mundial de Saúde Pública, que acontece em Istambul, na Turquia, José Gomes Temporão procurou os representantes da FENAM no evento e, através do secretário executivo do ministério, Francisco Campos, manifestou o interesse de marcar audiência com as diretorias da Federação Nacional dos Médicos, da Associação Médica Brasileira e do Conselho Federal de Medicina.
O vice-presidente da FENAM, José Erivalder Guimarães de Oliveira, que participou da reunião informal com José Gomes Temporão e com o secretário executivo do Ministério da Saúde, Francisco Campos, disse que a audiência dará ênfase à questão da dificuldade de fixação de médicos em cidades do interior, em regiões de difícil acesso e em locais que apresentem situação de violência, um dos problemas mais graves do setor de saúde no Brasil e que é abordado como prioridade no Plano de Carreiras, Cargos e Vencimentos – PCCV, que a FENAM lançará no dia três de junho. Os principais pontos do PCCV, segundo José Erivalder, serão apresentados ao ministro na audiência. * Fonte: Fenam – 29.04.09

(Fonte: Boletim Médico 268, do SIMEPE)


Finalmente o Sindicato dos Médicos começa a mostrar serviço. Há anos que eu falo sobre as condições desumanas de trabalho neste blog e no anterior. Ano passado, quando entrei em completo esgotamento, soube que não fui a única. Sucessivos protestos públicos, apoiados pelos Conselhos Regionais de Medicina e Sindicatos da classe, revelam a precariedade a que estamos expostos. Violência em postos de saúde e emergências, ausência de estabilidade no emprego, não pagamento dos direitos básicos (como férias e décimo terceiro), não recolhimento da contribuição pro INSS...

Quem sabe dessa vez, algo é aprovado e cumprido. Se o ministro quiser minha opinião só precisa ler meu antigo blog e os posts desse aqui com o marcador 'ser médica'. De minha parte, eu mantenho a frase: 'Eu agora só sou doutora pra pagar as contas'. Já é impressionante que eu tenha voltado a exercer depois de quase morrer. Eu sou Técnica em Economia Doméstica, escritora e tradutora! E tenho dito.

E hoje é...

02 DE MAIO - DIA MUNDIAL DE COMBATE À ASMA
A asma é uma inflamação crônica das vias aéreas, especialmente brônquios e bronquíolos, os quais se tornam hipersensíveis a diversos estímulos, desencadeando crises de tosse, chiado, falta de ar e aperto no peito. É responsável por cerca de 350.000 internações no país, anualmente, sendo a quarta causa de hospitalizações pelo SUS (Sistema Único de Saúde), conforme adverte do dr. José Eduardo Delfini Cançado, presidente Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT). A mortalidade por asma aumentou gradativamente nos países em desenvolvimento nos últimos dez anos, correspondendo a 5% a 10% dos óbitos por causa respiratória. No Brasil, dados de 2000 revelam que a taxa de mortalidade foi de 2,29 a cada 100.000 habitantes. Em 2006, os custos do SUS com internações chegaram a 96 milhões de reais, o equivalente a 1,4% do gasto total anual com todas as doenças. O diagnóstico da asma é baseado na história do paciente e no exame clínico, associados à avaliação da alergia e a prova de função pulmonar, também conhecida como espirometria, que mede a capacidade pulmonar. Sintomas como tosse, chiado e falta de ar, principalmente à noite e pela manhã ao despertar, são indícios da doença.

(Fonte: Boletim Médico 268, do SIMEPE)


Como disse o professor que deu a aula sobre o assunto: 'A asma é uma doença que é tratada parca e porcamente em nosso país'. Eu não sei quanto à realidade do resto do mundo, mas esse cara estava 100% certo.

Anônimo leitor, asma mata. Eu perdi avô paterno, tio paterno e pacientes por causa da doença. Não, asma não tem cura, mas tem controle. Mesmo se os sintomas são leves e as crises raras, o portador deve fazer acompanhamento médico e saber como proceder numa crise. A doença pode deformar as vias respiratórias e incapacitar a pessoa para as tarefas mais banais.

Fico revoltada ao consultar asmáticos com ANOS de sintomas e que só vêm ao médico quando estão em crise. A maioria dos médicos trata a crise e não explica quais as medidas pra MELHORAR a qualidade de vida do doente (em parte porque o paciente NÃO VOLTA pra fazer a reavaliação em alguns dias). Algumas pessoas PRECISAM de uso diário de medicação, outras têm que tratar problemas gástricos que exacerbam os sintomas e alguns nem mesmo sabem que tem asma! É só 'eu tenho cansaço', 'esse menino cansa de vez em quando','eu tive puxado' (alguns chamam assim), 'mas não é asma não doutora, ele só tosse muito de noite'. Se é leve, moderada ou grave, não importa. ASMA MATA.

sexta-feira, maio 01, 2009

Indicações

Alguns meses antes, eu comentei sobre o texto de Thoreau 'Andar a pé'. Então, uma anônima leitora encontrou em ebook e enviou-me o link. Ótimo, porque eu li um condensado dos textos do autor, publicado pela Martin Claret. O texto tem 59 páginas com um tipo gigante, ou seja, é bem mais curto do que parece e vale a leitura. Muito obrigada pela indicação!

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Falando em indicações, o tal site de Jack Vettriano é ma-ra-vi-lho-so. Acho que a expressão correta para o que sinto ao ver aqueles quadros é 'cupidez'. E 'vejo' a imagem que criei para este pseudônimo (Odessa Valadares) em muitas das obras do artista.

'Table for One, de Jack Vettriano'