Então as Testemunhas de Jeová ali da esquina resolveram bater por aqui. Eu não discuto religião, elas dizem também que não, que apenas 'estão pregando a palavra de Deus', mas querem sempre me convencer que o modo como eu penso não me garante um lugar numerado na versão deles de Paraíso.
Portanto, eu vou avisando que sou católica (ou assim fui criada) e que respeito todas as religiões (pelo menos as pacíficas), mas não, obrigada. Vou continuar lendo a Bíblia sozinha e no meu caminho à procura da felicidade. Acho louvável a atitude dessas pessoas religiosas que saem de porta em porta oferecendo conforto, mas quando trazem como bônus a promessa de salvação, eu dispenso.
Sempre que alguém aparece assim na minha casa, eu lembro de uma tia por afinidade (casada com um tio meu), às portas da morte e desenganada, muito, muito jovem, que estava internada no hospital onde eu estudei. Era hora das visitas e eu, como estudante de Medicina, tinha livre trânsito a qualquer hora, mas minha mãe não. Então, lá estávamos eu e minha mãe, fazendo companhia pra minha tia, quando chegaram umas vizinhas da mesma, de alguma igreja, pedindo que ela se arrependesse dos pecados, que aceitasse Jesus no coração e que ela ficaria curada. Ocuparam um bom tempo da hora de visita com casos de pessoas que haviam feito o mesmo e estavam bem de saúde por causa disso. Até que minha tia, quase sem ar, com um cateter de oxigênio e tudo, conseguiu fôlego pra murmurar: 'Eu já aceitei Jesus e ele está comigo há muito tempo'. Só faltou dizem 'me deixem morrer me paz', mas estava implícito. Ninguém havia dito o diagnóstico, ou que ela não ia voltar viva pra casa. Ela faleceu em menos de uma semana e durante todo o velório, a imagem dela dizendo isso foi o que me confortou.
Essa tia foi minha primeira paciente naquele hospital. Aprendi muito ali e naquela mesma enfermaria, onde não podia entrar sem me lembrar dela quando ainda grávida do meu primo, feliz ao lado do meu tio (hoje também falecido). Uma das maiores lições veio do modo tranquilo (e não resignado) com que ela disse 'Jesus está comigo há muito tempo'. Isso me mostrou que visitas de religiosos são bem-vindas, mas não pra trazerem mais dúvidas e angústia para o doente.
Aliás, obrigada a cada pessoa religiosa que passou em minha existência e que me ofereceu conforto, sem questionar meus motivos. Deve ser por isso que eu tenho amigos espíritas, adventistas do sétimo dia, batistas, católicos, umbandistas, mórmons...
3 comentários:
Sabe o que aconteceu depois que a gente conversou na sexta? Pedi a Deus que mandasse alguem para falar da Palavra para você. Infelizmente não foi do jeito que eu queria, mas pelo menos te fez resgatar algo.
Espero fazer parte das pessoas do último parágrafo. E fico feliz que você lê a Bíblia. Eu costumo chamá-la de "meu manual de instrução". ;)
Claro que está, 'gal'!
Tremendo testemunho, magnífica descrição. Dá até para visualizar todos os quadros que você pintou com letras nesse belo post. Obrigado pela partilha!
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