‘Eu escrevo porque emagrece’
07.05.10
De vez em quando, alguém me pergunta por que eu escrevo. Uma boa resposta já foi: ‘Eu quero entender o mundo. Eu quero me entender. Pra continuar numa profissão, tive que acrescentar outra de forma permanente em minha vida. Sempre, sempre, sempre que eu atraso o trabalho de escrita, todo o resto se desorganiza de forma pavorosa. Portanto, eu escrevo porque isso me mantém, literalmente, viva’, mas é uma explicação muito longa pra maioria das pessoas. A justificativa mais romântica é: ‘Você já amou alguém sem ser correspondido? E continuou amando mesmo sabendo que o amor era impossível? Pois é: eu amo escrever. Não me importa se alguém um dia vai ler’.
Pra ser sincera, não conheço muita gente que escreve como eu: todo dia. Comecei escrevendo pra colocar pra fora o que me incomoda, como se falasse sozinha, em voz alta, mas hoje é bem mais que isso. O que eu gosto mesmo é de contar histórias pra mim mesma, como faz Stephen King. Leio e releio minhas histórias, curto meus personagens. As pessoas perguntam se eu não me sinto só e eu acho estranho. Como eu posso estar só, cercada de ‘gente’ compartilhando suas vidas comigo? Assim como tenho livros prediletos, tenho minhas histórias prediletas e adoro as aventuras da minha turma. Os bons escritores dizem que a gente deve escrever pra si mesmo, não pro leitor e eu aprendi isso na prática. A gente sempre se censura quando escreve pra alguém. Sou da turma de Salinger, que disse "Amo escrever, mas, só escrevo para mim mesmo e para o meu prazer".
Foi escrevendo que percebi que precisava estudar mais sobre o assunto, mas minha formação não me ajudava a encontrar material sobre o assunto. Exceto livros sobre técnicas de redação, só encontrei um livro que reorganizou minha forma de escrever: 'A chave do reino interior'. Foi quando soube que uso Imaginação Ativa pra escrever. Sempre usei, só não sabia disso. Aparentemente, também uso Imaginação Criativa, mas preciso estudar mais sobre isso pra ter certeza. Preciso conversar com outras pessoas sobre processo de escrita e isso é muito difícil de encontrar. Pra isso, é preciso partilhar o que escrevo e não me senti à vontade com a maioria das reações que tive. As pessoas me viam como alguém muito superior a elas, inteligente demais, culta demais, como se não fossem capazes de fazer o mesmo, por mais que se esforçassem, ou liam meus textos por simples consideração. E, convenhamos: ‘Isso está muito bom’ ou ‘você escreve muito bem’ não acrescenta em nada à minha técnica.
Até que, certo dia, um de meus personagens foi muito direto comigo: 'Odessa, já lhe ocorreu que você está falando com o público errado?'. É, o personagem disse isso e eu comecei a prestar atenção ao que eles dizem. A sugestão de outro foi tentar escrever histórias curtas. Foi assim que eu acabei na Oficina de Crônicas. Quando me inscrevi, calculei quanto valia escrever cada texto. Não é tão barato assim, mas eu não sabia que teria acesso ao trabalho de outras pessoas e isso valeu a pena. Numa crônica sobre vícios, a autora descreveu minha relação com a escrita: eu reconheço o vício de escrever e tento me controlar, mas não posso viver sem. Noutra crônica, outra autora me instigou a continuar. Com ou sem medo, mas continuar. Sempre. Esse texto, e o curso, foram tão importantes pra mim, que comecei a questionar minha eterna resistência em compartilhar meus escritos. Continuo repetindo que o que escrevo ainda não está pronto pro público, ou eu não estou pronta pra ele. Acho que estou certa. Imaginei que no curso eu conseguiria trocar idéias com outras escritoras, mas o diálogo sobre a produção foi mínimo, exceto pelos comentários das coordenadoras. Fiquei sem saber que impressão meus textos dão pras outras leitoras. Nesse ponto, o curso foi uma decepção total.
Ainda assim, é bom escrever sobre um assunto especifico, de vez em quando. Sem dúvida, a lição mais difícil a assimilar foi controlar o tamanho do texto. Como sou prolixa, tive que cortar, cortar e reescrever. Na maioria das vezes, deu mais trabalho editar do que escrever. Além disso, estou revisando o que já escrevi. É virtualmente impossível revisar tudo, porque estou sempre escrevendo mais. No entanto, algumas histórias merecem essa atenção e espero conseguir terminar o que pretendo. Tudo isso vem acontecendo nos dois meses mais difíceis que já tive no meu emprego atual. O trabalho praticamente dobrou, e eu poderia ter desistido das crônicas, mas como eu já disse, é parar de escrever é minha vida fica uma confusão. Entendi que até a faxina pode esperar, a escrita não.
Escrever pra mim tem muitas funções: registrar o que está acontecendo comigo, coordenar o raciocínio, tornar compreensível um ponto de vista, saber o que realmente penso sobre um assunto, extravasar minha frustração e, muito de vez em quando, dissertar sobre algum tema em particular. Escrevia poesia, mas tem uns dois anos que não me vêm nada e eu não sinto falta desse tipo de literatura. Também escrevo sobre algo que tenha chamado minha atenção no dia a dia, mas não sou comentarista profissional. Não sou crítica de cinema, de teatro, de literatura ou jornalismo. Sou uma contadora de histórias, reais ou não. Ainda não encontrei o meu público, nem estou procurando-o. Percebi que quanto mais escrevo, mais guardo minhas opiniões pra mim mesma. Falo menos e penso mais. E o mais interessante: toda vez que eu adio trabalho de escrita, eu engordo.
Portanto, o maior benefício que escrever regularmente me trouxe foi recuperar minha antiga forma. Perdi 33 quilos em pouco mais de dois anos, exatamente quando comecei a escrever sem parar. Se eu imprimir tudo que escrevi nesse período, devem dar os mesmos 33 quilos. Foi por isso que o título ‘Terapia da Palavra’ me atraiu tanto. Escrever pra mim é terapia. Explico isso quando digo aos outros que o curso valeu cada centavo investido, mas no dia a dia, quando alguém me pergunta por que eu escrevo, minha resposta mais simples é ‘Eu escrevo porque emagrece’.
2 comentários:
Eu jah lhe disse que lhe amo, hoje?
:-)
Mil beijos no seu coracao lindo!
Eu já disse que te amo, sempre?
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