sábado, maio 22, 2010

Tudo que é bom acaba

22.05.10

Então a Oficina de Crônicas acabou. Foi, sem favor algum, o que me segurou nas semanas mais pesadas dos últimos meses. Mas, acabou. Tudo que é bom acaba. A frase lembra um refrão do Roberto: ‘será que tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda?’. Tudo que é bom tem que ter limite, tudo que é gostoso tem que ser controlado, tudo tem que ter um fim. O que importa é o que fica, a lembrança dessa coisa boa, o tempo enquanto durou. Foi assim com a Oficina.

Nos últimos dois meses e meio, a quantidade de trabalho praticamente dobrou em meu serviço, sem nenhuma razão aparente. Ainda assim, eu ia e voltava pensando na crônica da semana, por escrever, e nas crônicas das outras, da semana anterior. Pensando nos comentários das professoras para cada uma das autoras. Antes da Oficina de Crônicas, eu pensava em minhas histórias. Engraçado, desde que isso começou, meus personagens se queixam e exigem de volta o espaço que ocupavam. Agora que não tem mais Oficina, eles não reapareceram pra continuar as histórias. No mínimo, estão aborrecidos comigo, como crianças birrentas. Olha ali, não falei? Acaba de aparecer um, com uma tromba maior que a do elefante, dizendo que não é tão criança assim. Detalhe: ele tem seis anos. Tá bom, quase sete. Satisfeito? Me deixa voltar a escrever, querido. Só mais quinze minutos e eu sou toda sua.

Quem lê isso deve pensar que sou louca. Não sou. Tenho atestado médico e tudo, provando que não sou louca. Só tenho uns parafusos soltos, mas a maioria das pessoas têm, então tudo bem. Enquanto eu souber o que é realidade e o que é fantasia, tudo fica legal. Eu só bato papo com meu inconsciente enquanto estou acordada. A maioria das pessoas faz isso dormindo, através de sonhos. Eu raramente sonho. Pra quê? Sonhos são um modo do inconsciente entrar em contato com nossa consciência. Eu já faço isso durante o dia, a noite me pertence pra dormir. Quer dizer, metade da noite é pra dormir, a outra metade é pra escrever. O interessante é que eu nunca, nunca sonho com meus personagens. Eles ocupam boa parte de minha vida e minha casa, a ponto de eu ter que pensar neles quando vou me mudar.

Mais essa agora. Essa semana, olho pra pia da cozinha e percebo que ela está afastada da parede. O chão também. Conclusão: o chão está afundando e eu tenho que me mudar da casa que adoro. Toca a procurar casa numa cidade onde ninguém coloca placa de ‘aluga-se’. Você tem que conhecer alguém que quer alugar uma casa, ser indicado. Passei a manhã de hoje com a dona de várias casas, que teve a maior boa vontade possível pra me encontrar um lugar, não muito caro, e dentro das minhas exigências. Tem que ser grande porque eu tenho muitos livros e filmes, não pode ser casa conjugada, não quero apartamento, tem que ser num ponto sossegado. Ela conseguiu. Uma gracinha de casa, quase pronta. Estão terminando de colocar a cerâmica e só falta pintar. Exatamente o tempo de embalar tudo e arrumar essa daqui pra devolver.

O problema é espaço. Eu medi, medi, calculei, e concluí que na minúscula cozinha não caberá nem um dos armários, só o fogão e a geladeira. Quem cozinha assim? Sem falar no pessoal todo daqui, que não ocupa espaço físico, mas precisa ficar batendo papo comigo, enquanto lavo louça, faço faxina, e coloco a roupa lavada pra secar. Vão ficar onde? Em cima da geladeira? Tive que dizer ‘não’, com muita pena. Como também é com pena que estou saindo do lugar onde moro, mas tem que ser. Tudo que é bom acaba, e meu tempo nessa casa acabou, como acabou a Oficina, como acabou essa crônica também.


Exit Eden, by Jack Vettriano.

4 comentários:

Suzi disse...

Adoro mudar de casa, apesar da trabalheira e dor de cabeça. Depois de tudo feito, desfazer as caixas e botar tudo no lugar, pra mim, é a melhor parte.
Conta pra gente o processo, conta?
beijos

Odessa Valadares disse...

Pois é! Dava um blog legal, nos moldes do 'Putz! Reforma'. Vou me empenhar em mantê-la informada, nobre leitora.

r a c h e l disse...

ô menina, claro que a gente avisa quando a virtual voltar. e dê ordens pra você mesma se for necessário,a gente te empresta o cabeçalho das apostilas (rs). até porque a gente adora ler o que você 'devolve'.
beijo e muita sorte na casa nova, viu?

r a c h e l disse...

Claro que a gente avisa quando voltar. E ó, não pare nunca de escrever. Faz bem pra você - e pra quem lê. Você arrasa, garota. As personagens revoltosas têm o meu apoio.
Beijo e boa sorte com a casa nova!