O início de minhas noites, durante a semana, é quase sempre o mesmo. Eu entro em casa, cumprimento a turma invisível pro resto do mundo, e acesso a internet, na esperança de ainda encontrar minha correspondente habitual online. Como a maioria das mulheres, quando falamos, fazemos um balanço do dia e começamos a ter idéias. Não sei quanto a ela, mas enquanto teclamos, já encontrei soluções impossíveis pra histórias que eu escrevia no momento, conflitos no trabalho e agora é a vez ter idéias pra casa nova.
Pensar na mudança me distrai de uma fase bem pesada no trabalho, onde uma pessoa está partindo aos pouquinhos, consciente, e com o bom humor praticamente intacto. É bom ter algo pra desviar minha atenção. Hoje, são as seasons finales de Bones (segundo a correspondente, ‘de partir o coração’) e CSI (com um serial Killer com habilidades médicas e cirúrgicas, apelidado de Dr Jeckyll).
Enquanto isso, estou me preparando pra hercúlea tarefa de embalar tudo. O problema são aqueles objetos e papéis que você nunca usa, mas sabe que se jogar fora, vai precisar deles. É um desperdício de espaço, isso sim! Percebi isso nesse fim de semana, estudando pros pacientes graves. Estou fortemente inclinada a jogar fora toda a papelada da faculdade e revistas médicas que guardo há dez anos e nunca uso. Percebo que, ao longo dos anos, consultei mais as poucas 'Casa Cláudia' que possuo que as revistas médicas. Pra tudo, eu corro pra internet, pros sites dos laboratórios. É assim que eu nunca leio os livros-texto, onde está a verdadeira ciência. Tem mais informação de manejo de dor grave no meu livro de Clínica Médica do que no último curso que fiz por correspondência! No curso, havia muita ciência, claro, mas pra aliviar a dor do povo, está tudo no livro que tenho há uns 9 anos. Por outro lado, as únicas roupas que eu não uso e continuo guardando, são os vestidos da festa de formatura, mas estou cabendo em quase todos eles!
Eu nunca gostei de juntar coisa. Se meu irmão não encontrar um interessado pelas revistas do Batman, eu vou doar pra biblioteca. Na verdade, eu queria passar pra alguém que desse valor à coleção. Meu irmão pediu uma lista atualizada pra fazer isso, mas cadê tempo? Se desfazer de bens pode parecer desperdício, mas pode ser um ganho de tempo e de dinheiro. Ainda assim, estou controlando cada centavo. A correspondente ainda fez a maldade de me mostrar que a Submarino está vendendo 6 temporadas de CSI por 600 reais, mas ainda não é dessa vez que eu retribuo o bem que aquelas pessoas me fizeram.
Eu ia na casa tirar umas fotos e postar aqui, mas o carregador de pilha cismou de novo comigo. Amanhã, compro umas pilhas alcalinas, seja o que for. Talvez consiga um cabo pra substituir o do carregador. Quero fotografar e medir a casa, planejar a decoração, mas vou contratar logo um pintor. Ele pode começar a pintar a casa onde estou morando por fora, enquanto ainda estou aqui, e terminar quando eu sair.
Aliás, ainda não disse à dona dessa casa aqui que estou saindo. Depois da maneira como fui tratada, sendo repreendida pelo que não fiz, como se não tivesse direito de sair do imóvel desde que pagasse a multa e deixasse tudo como encontrei, entendi que posso esperar mais uns dias pra ter esse aborrecimento extra. Ontem tive uma enxaqueca. Fazia tanto tempo que não tinha, que não reconheci logo o que estava sentindo. Achei que era a história da casa, mas concluí que é preocupação com minha paciente que está partindo. A palavra ‘casa’ agora tornou-se sinônimo de muito trabalho e diversão. Como será que vai minha casa nova?
'Bye, Bye, Baby II', by Jack Vettriano.
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