Ora pois! Finalmente minha criancinha teve alta e foi para casa. Nem parece aquela criatura sem forças de quando nasceu. E com uns olhinhos tão lindos, viu? Faminta como só ela (podia ser filha minha). E eu... checando a pressão arterial da mãe, que havia subido durante a gravidez, daí a urgência de uma cesárea. Não consegui dar alta à criança sem checar a pressão da mãe (que estava ainda meio descontrolada). Ela não é minha paciente, mas é mãe da minha paciente. Se a pressão subir e ela tiver um derrame, quem cuida da recém-nascida? Como o obstetra dela não mora por aqui, eu mesma alterei a prescrição do anti-hipertensivo. Não é falta de ética e tenho certeza que o colega jamais se importaria.

Eu aprendi que o paciente não é só uma doença e que as pessoas que convivem com ele influenciam em sua saúde. Quer pessoa mais importante para uma criança que a própria mãe? É por isso que eu sou 'médica da família', uma 'especialidade' que ninguém entende, mas que vale a pena conhecer. Adoro saber da história da família do paciente, cuidar de mãe, tia, avó e neto de uma mesma casa. Dá pra prever uma porção de alergias das crianças, entender por quê a pressão do avô não baixa (com um neto malcomportado), a chance de alguém mais da família ter diabetes... É um quebra-cabeça, e eu adoro quebra-cabeças desde criança.

Nada contra quem é especialista e só cuida do dedo mindinho do pé esquerdo, por exemplo. Mas alguém tem que ver 'o todo' de uma pessoa, ou vai acabar como muita gente que tem um médico 'pro coração', outro 'pra diabetes', mais um 'pro reumatismo' e quando vai pro gastroenterologista, não sabe por quê tem gastrite. Sem falar que nenhuma dessas especialidades citadas vai lembrar de cobrar o preventivo de câncer de colo uterino e mamografia de uma mulher, ou o exame de próstata de um homem.

Deixa eu voltar pra minha licença-médica. Estou atrasada com minha tradução!