quinta-feira, setembro 11, 2008

No meio do caminho...

... havia incontáveis bandas marciais, no dia de hoje. Enquanto o resto do mundo lamenta o atentado do 11 de Setembro, aqui, nesta cidadezinha, comemora-se a emancipação política do município. Com toda pompa e circunstância, como eu jamais vi. E eu cresci numa escola chiquérrima, me apresentei até no Palácio do Governo na minha época de coral, e assim vai.

Aqui não há desfile de 7 de Setembro, mas de 11 de Setembro. Apresentam-se as Forças Armadas (vinda da capital, especialmente para 'O Desfile'), TODOS os segmentos da sociedade local e TODAS as escolas municipais (com suas respectivas bandas marciais), incluindo as particulares e O colégio estadual (ganhador de prêmio nacional de integração entre deficientes e sociedade), além de escolas dos municípios vizinhos (com mais bandas marciais!). A Igreja, a Maçonaria, a Ordem das Freiras, os Hospitais... todos estão representados.

Eu nunca gostei de desfile. É sinônimo de horas em pé com o sol na cabeça, com um monte de gente que eu não conheço passando na minha frente (eu só gostava de ver a minha escola e da divisão canina da Polícia). Ou era. Aqui, o desfile começou às cinco da tarde e ainda está rolando, embora eu já tenha visto-o todo. Como? Aqui é diferente. Quem quer ficar parado, espera o desfile passar. Quem é dinâmico (pra não dizer agoniado) como a companheira de desfile, passa pelo desfile.

Aqui não tem corda de segurança. Até porque deve ter mais gente no desfile que vendo o desfile. Essa minha conhecida tem duas filhas pequenas, que desfilaram logo cedo e quiseram ir pra casa. Ela voltou pra lan house e me avisou das bandas marciais. Eu, doida por música, não lembro de ter ouvido uma banda dessas ao vivo antes, sem contar o ensaio de uma, antes de ontem, diante da Prefeitura do município. Eu larguei tudo e a segui. Através do desfile.

Todo mundo que quer pode seguir o desfile, pelo lado da calçada, não pelo meio de quem desfila (se bem, que, se você quiser atravessar a rua, não é proibido). Não, não é uma bagunça. É lindo!
A cidade é pequena, mas não minúscula. Tem de tudo (tirando cinema) e, sendo pequena, a Secretaria de Saúde é do lado do Fórum e em frente ao INSS. O Ministério Público é em frente ao Hospital, que fica bem pertinho dos Correios. A Prefeitura está na rua do Bradesco, do Banco do Brasil e da Caixa. ‘A Praça’ (até uns meses havia só uma praça de verdade aqui, tirando aquelas pequeninas) tem lanchonete, lan house, joalheira e loja religiosa e fica ao lado da Igreja, com um coreto. Dá pra andar a cidade inteira em algumas horas, porque só sobra a enorme zona rural. Os moradores dos sítios vêm à cidade para ‘A Feira’, principal acontecimento da semana. É quando tem flores pra vender (em dias como o de hoje, as flores são vendidas na funerária), barracas de frutas, plantas e toda sorte de buginganga. Nunca vi uma feira tão limpa e um povo tão educado.

Então, há mais de uma grande rua na cidade, e existe uma avenida principal onde todo esse povo vai se posicionando. Tem desfile da entrada da cidade até a Prefeitura, onde é montado um palco, com uma mesa de autoridades. Não há área de concentração. Eu simplesmente comecei da Igreja e fui até a entrada da cidade. Os soldados já haviam desfilado, e eu não fazia muita questão, a não ser que eles tivessem uma banda melhor que todas as outras que eu vi (e ouvi), juntas. Ouvi música o passeio inteiro! Quem desfilou fui eu. Comecei pelas instituições religiosas e de saúde e segui pelas escolas, que ficam andando (e se apresentando) lentamente porque... quando cada segmento da Sociedade local chega à Prefeitura (como palco) faz uma apresentação em regra, com narração de sua História, seus participantes, etc, para o prefeito e demais componentes da mesa. Então, dá tempo de andar a avenida inteira em hora e meia, ver tudo, sem ficar de castigo, esperando tudo passar diante de você. O pobrezinho do prefeito ainda está lá e eu já vi o desfile inteiro há mais de hora. Deu pra entender que coisa legal?

Cada escola (não eram menos de trinta) estava tão caprichosamente arrumada, cada banda tão elegante, que dava vontade de chorar. A cidade não é rica, mas esse é o segundo maior evento do ano (o primeiro é ‘A Vaquejada’) e as pessoas colocam as bandeiras do Brasil e do município (além dos times de futebol) nas janelas, além de estarem chiquérrimas. Cada uma das mulheres da organização do desfile estava de terninho risca de giz (e não havia menos de cem delas, com certeza) e salto alto. E eu, de tênis e jeans! Nunca imaginei que a coisa era tão formal. O povo tem um orgulho medonho de tudo que é daqui, sem ser arrogante. Eles homenageiam o Natal, o carnaval fora de época, os capoeiristas, a história da cidade, a inclusão social (como os alunos homossexuais na comissão de frente, de salto, maquiagem e peruca) e, claro, a maior vaquejada que existe.

Eu poderia morrer uma pessoa feliz, justo agora.

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