segunda-feira, dezembro 07, 2009

Distanásia ou eutanásia? Conheça a ortotanásia

SENADO APROVA PROJETO QUE LEGALIZA ORTOTANÁSIA
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou em 02/12,em caráter terminativo um projeto que estabelece limites para o tratamento de pacientes terminais, tornando lícita a ortotanásia. O termo significa deixar de realizar procedimentos que prolongariam a vida de pacientes com doenças graves e incuráveis, evitando sofrimento desnecessário. É preciso haver consentimento do paciente – ou de sua família, se ele estiver impossibilitado – e diagnóstico de dois médicos. A prática não é uma novidade nos hospitais, mas falta respaldo legal. Em 2006, o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou uma resolução que dizia que o médico poderia limitar ou suspender tratamentos, respeitando a vontade do paciente, mas a resolução foi cassada pela Justiça no ano seguinte. O novo Código de Ética Médico, que passa a valer em abril, permite que os profissionais não adotem ações terapêuticas inúteis a pacientes terminais sem chance de cura – ou seja, libera a ortotanásia. * Fonte: Jornal do Commercio (03.12.2009).

Li isso hoje, mas escrevi sobre o assunto recentemente, naquela que tem sido minha história predileta nos últimos meses. Eu não conhecia o termo 'ortotanásia', mas era exatamente isso que o cara defendia. Ou não?

Minha esposa morreu três semanas depois. Não foi súbito, nem inesperado, pra usar a definição que médicos usam pra explicar quando o coração de alguém pára de bater e eles tentam reanimar. ‘Essa parada cardíaca foi um evento súbito e inesperado?’, eles pensam em frações de segundos. Se o coração de alguém pára durante uma cirurgia, eles reanimam. A pessoa está na mesa de cirurgia porque ainda tem alguma coisa a fazer na vida que não seja vegetar, certo? Corações são como carros que às vezes só precisam de um empurrão ou um guincho, ou ambos, até que um mecânico ou um médico dê um jeito na causa da parada. Se você tem um carro velho, as chances que ele te deixe na mão aumentam. Se o carro é velho e o problema é resolvido com um empurrão, é fácil. Se você precisa trocar algumas peças e uma revisão na oficina resolve, sem problema; mas mesmo um carro bonito e elegante pode ter um problema tão sério que só trocando todo o motor. Você não troca muitas peças nas pessoas, carros não sentem dor e não adianta um coração batendo se você está tão doente que não consegue nem respirar sozinho. Quando o coração de alguém com câncer em fase terminal pára, na verdade não foi uma parada cardíaca. Não foi súbito, nem inesperado. Foi o fim da linha. Ah, esqueci de dizer: a condição do ‘carro’ tem que ser reversível para ser considerado ‘só uma parada’. A condição dela não era nem remotamente reversível.

Era sobre isso que ela e a amiga conversavam naquela manhã, aquela em que eu cheguei mais cedo da pescaria por causa da chuva. Distanásia ou eutanásia. Prolongar desnecessariamente o sofrimento de um paciente ou apressar o inevitável. É uma linha complicada de se definir, e no fim fica mais difícil pra família saber se quer encerrar o próprio sofrimento ou o do doente. Quero dizer, a gente morre um pouquinho todo dia também e chega uma hora que você só quer que aquilo acabe. Ela decidiu por todos nós: sem eutanásia, sem distanásia. Pra evitar a discussão sobre desligar aparelhos, ela pediu para não ser colocada em nenhum. ‘Nada de medidas heróicas’, ela me disse com os olhos cheios de dor e lágrimas. Repetiu isso pra mãe e pros irmãos. Minha cunhada ainda abriu a boca pra falar algo, mas viu o olhar da mãe e calou-se. Eles haviam perdido o pai recentemente (ele era cardíaco) e já bastava de sofrimento para a mãe dela também. Então, ela usava cada vez mais o botão que liberava a morfina e eu mal dormia.

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Por que eu adoro CSI

'I love you without knowing how, or when, or from where. I love you straightforwardly, without complexities or pride; so I love you because I know no other way than this: where 'I' does not exist, nor 'you', so close that your hand on my chest is my hand, so close that your eyes close as I fall asleep'

Não, isso não é Shakespeare. É Pablo Neruda. E não, Grissom nunca declamou isso. Sara Sidle sim, mas não na TV. Desde que as séries de TV foram criadas, há fãs das mesmas. Os fãs de Star Treck não apenas fazem convenções. Há verdadeiros livros, ensinando a linguagem de outras raças, mostrando a arquitetura a Enterprise e por aí vai. Da mesma forma, os fãs começaram a criar suas próprias histórias com seus personagens prediletos, as chamadas fanfictions.

Não, eu não adoro CSI por causa das fanfictions. Desse modo, eu amaria AX pelo mesmo motivo. Não é isso. CSI abriu-me as portas pra muito, muito conhecimento mesmo. Começou com a própria série, tendo a ciência como ponto principal, mas à medida que o tempo foi passando, eu estudava sobre tudo que era comentado na série e depois nas fanfictions. Uma vez que o pessoal do lab é um bando de geeks (uns nerds e tanto), os fãs são geeks também, ou pelo menos entendem o que é ser geek. Grissom e Sara são a máxima expressão disso e os autores e autoras de fics não sentem pudor em nos entupir de conhecimento sem parecer esnobes.

Foi assim que eu cheguei a esse poema de Neruda (e saí lendo Neruda), conheci Tennyson (e incumbi Vicky de rezar no túmulo do poeta, já que ela está em Westminster), estudei a Síndrome e o Transtorno de Asperge, o que é Crise de Identidade, e tanta coisa mais que não está diretamente relacionada a perícia. Porque geeks amam saber sempre mais, pelo prazer de saber, não pra se exibirem. CSI me fez estudar os sonetos de Shakespeare pelo puro prazer de identificar quais combinavam com Grissom e Sara, provou que um médico pode abandonar sua carreira e continuar sendo ele mesmo (obrigada por isso, Dr Langston), que você pode mudar suas escolhas e continuar fiel aos seus princípios (ver Grissom fora do lab foi TUDO).

Eu adoro CSI porque a série me mantém alerta. Se AX me fez entender que ninguém está acima de qualquer suspeita, CSI me mostrou que preciso conhecer a mim mesma, se eu quiser confiar nos meus instintos. AX é sobre fé e verdade, CSI encontra a verdade através da ciência. Não, eu não vivo, durmo e respiro essas séries. Bem disse Grissom: 'Não confunda fantasia com realidade'. Eu acrescentaria, 'mas se a realidade for muito dura, ou muito insípida, a fantasia pode nos manter mentalmente sãos'.

domingo, novembro 29, 2009

Por que eu amo 'Arquivo X'?

"Time passes in moments. Moments which, rushing past, define the path of a life, just a surely as they lead towards its end. How rarely do we stop to examine that path. To see the reasons why all things happen. To consider whether the path we path in life is our own making, or simple one into which we drift with eyes closed. But what if we could stop? Pause to take stock of each precious moment before it passes. Might we see the endless forks in the road that have shaped a life, and, seeing those choices, choose another path?"

Essa é, textualmente, a fala de Scully na primeira cena de 'All Things', o episódio escrito e dirigido por Gillian Anderson na sétima temporada na melhor série de todos os tempos. Não apenas ela fez isso. David Duchovny roteirizou diversos episódios, sozinho ou com o criador da série, Chris Carter. São antológicos 'O Anti Natural' e 'Hollywood D.C.', além de alguns da própria mitologia da série. William B. Davis ('O Canceroso') escreveu e dirigiu 'En Ami'. Por que isso? Em 'Arquivo X', todos viviam aquilo de coração e alma. Cada produtor escreveu pelo menos um roteiro pra série. Trabalhar pra AX passou a ser o ponto máximo no currículo de alguém. Se a pessoa tinha passado pelo altíssimo crivo de qualidade daquele pessoal (veja a quantidade de prêmios que a série colecionou em nove anos), estava pronto pra qualquer trabalho.

Engana-se quem pensa que AX só abordava histórias sobre alienígenas, teorias de conspiração e monstros. Era uma sopa primordial, de onde saíram todas as grandes séries da década seguinte. Você não concorda? Vejamos.
1) Scully vivia atrás de provas, analisando evidências, fazendo perícia: CSI, que deu origem a mais um monte de série de perícia.
2) AX mostrava como antigos casos podem ser resolvidos a partir de uma nova pista e que Mulder se envolvia emocionalmente com as vítimas por causa da perda da irmã: Cold Case.
3) A série abordava casos relacionados à paranormalidade: Supernatural.
4) Os agentes Mulder e Scully, do FBI, investigavam frequentemente pessoas que desapareciam sem deixar vestígios: Without a Trace.
5) Scully foi inspirada em Clarice Starling, que queria trabalhar com perfil de criminosos, o mesmo que Mulder fazia antes de encontrar os Arquivos X. Em Criminal Minds, fazem exatamente isso.
6) O relacionamento platônico de Mulder e Scully durou anos, pra desespero dos shippers. Vemos um envolvimento semelhante entre Booth e Brennan, de Bones, mas ali resolveram suavizar porque o que havia entre Mulder Scully era único.
Quando eu digo que AX fez história, as pessoas não entendem...

terça-feira, novembro 17, 2009

Ontem foi dia de estrela

Recentemente eu terminei uma história. Gostei tanto dela, mas tanto, que ando compartilhando a mesma com pessoas escolhidas a dedo. Tenho minhas razões pra não sair passando meu 'livro' de mão em mão, mas o que importa no momento é uma frase de um cara que diz ali: 'existe família de sangue e família de coração. Nem todo mundo merece a família de sangue, mas a de coração é 100% genuína'. Ele estava 100% certo, a meu ver. Eu adoro esse personagem, por inúmeras razões, mas essa frase dele, dita no funeral da esposa, nunca me sai da cabeça. Eu sou péssima com citações, inclusive o que escrevo, mas essa frase realmente ficou, porque eu tenho mesmo duas famílias, uma de sangue, outra de coração.

Todos da família de coração, longe ou perto geograficamente, lembraram do dia de ontem, alguns com dias de antecedência, uma com um dia de atraso (se ela tivesse telefonado ou enviado email ontem, teria sido a verdadeira surpresa porque geralmente entra em contato depois. Coisa de família e eu a amo do jeito que ela é). Teve até a turma da escola, deixando mensagem no Orkut (e eu não vejo a maioria das meninas há quase 18 anos). Minha família de coração é um presente por si só. E eu espero que cada um deles saiba disso, porque foram essas pessoas que me mantiveram de pé, nas mais tenebrosas horas.

Obrigada, família.



(Falando em citação: 'Olhai os lírios do campo ... como eles crescem; não trabalham nem fiam; e eu vos digo que nem mesmo Salomão, com toda a sua glória, se vestiu como um deles' Mt 6:28,29.)

sexta-feira, novembro 06, 2009

Saudade de um certo William

"I hate the way you talk to me and the way you cut your hair.
I hate the way you drive my car.
I hate it when you stare.
I hate your big dumb combat boots and the way you read my mind.
I hate you so much it makes me sick.
It even makes me rhyme.
I hate the way you're always right.
I hate it when you lie.
I hate it when you make me laugh.
Even worse when you make me cry.
I hate it that you're not around and the fact that you didn't call.

"But mostly I hate the way I don't hate you.
Not even close, not even a little bit, not even at all
."

Se você não lembra, em '10 things I hate about you' o professor de Literatura havia passado um trabalho baseado na obra de Shakespeare e Catherine seguiu as instruções ao pé da letra. Neste poema, ela deixa bem claro que a cada vez que cada 'I hate' pode ser facilmente substituído por 'I love'.

Séculos se passam e 'A Megera Domada' d'O Bardo continua tão divertida quanto sempre. Como há muito tempo eu desisti de entender muitas obras complexas, fico com as comédias de Shakespeare. Seja em 'A Gata e O Rato' (a primeira adaptação que vi foi naquela série de TV), seja com Julia e Heath, 'Catherine' e 'Petruchio' continuam atuais. Assim como minha citação predileta dessa peça: 'Não se bane uma afeição do coração com reprimendas'.

Mesmo porque, toda vez que eu assisto '10 things...', me dá saudade de Heath Leadger.

Do Balaio Porreta

A JORGE GUINLE FILHO
Tanussi Cardoso
em memória
[ in Viagem em torno de, 2000 ]

O que acontecerá aos céus
quando se morre um artista?
Que silêncios, que gritos
Que deuses riscam os ventos
quando se morre um artista?
O que dizer aos filhos
Aos pássaros, ao poema
quando se morre um artista?
Que pintura tão linda
Que natureza tão vil
Que fala tão amarga
quando se morre um artista?
Noiteluzsomdiapasãoharmoniavendavalfuracão?
O que sobra da vida
quando se morre um artista?

domingo, novembro 01, 2009

Eu indico: Muse!


Estou falando do álbum 'The Resistance', que me foi indicado por Vicky (ela está contando os minutos pra ir a Dublin essa semana e ouvir mais de uma dessas músicas ao vivo). 'Uprising' abre o CD criando uma expectativa e tanto. 'Undisclosed Desires' está incrível. Vem seguida de 'United States Of Eurasia' (ter Chopin executado numa faixa de rock é, no mínimo, atrevido). Uma das grandes maravilhas do CD é justamente ter piano, vocais e cordas em mais de uma faixa,, e não apenas percussão e cordas. Você já percebeu que muitas bandas de rock ou querem fazer solo com guitarra, ou melodia comercial? Essa banda parece que não. Estão fazendo arranjos!

Como eu não chego ao cúmulo de dizer que entendo de música, mas gosto do que escuto, eu digo que gosto do Muse. Pessoas que entendem de música me indicaram Muse. Vicky foi a primeira, secundada por Fernanda. Aliás, Fernanda me deu uma dica excelente: escrever ao som de Muse. Valeu, Nanda. Achei a trilha sonora da próxima história. A última foi ao som de 'Black Holes and revelations'. Vejamos o que sai com 'The resistance'. Se for algo como a última aventura (que eu cheguei a chamar de 'livro'), talvez eu pense eu imprimir. Só talvez.

(O nome da banda não é mera coincidência, portanto)

domingo, outubro 25, 2009

Presente atrasado

Passei a semana ganhando presentes. Apenas um foi declarado como 'pelo Dia do Médico': um girassol. O resto foi inesperado e por isso mesmo, mais que bem vindo. Um email do meu irmão, que não me cumprimentou pela data, mas lembrou de mim, uma encomenda de Grissom's Girl, que incluiu o livro de William Bonner no pacote (e valeu um telefonema pra Brasília, claro), pequenas e grandes coisas. A última foi essa aqui:

And the winners are:

ACTOR IN A PRINCIPAL ROLE - PLAY (Tie)
William L. Petersen - ``Blackbird'' - Victory Gardens Theater
Larry Neumann, Jr. – “A Moon for the Misbegotten” – First Folio Theatre


fonte: http://www.variety.com/article/VR1118010128.html?categoryid=15&cs=1&ref=bd_legit

Eu me esqueci que a premiação do Jefferson Award era no dia 19 de outubro. A última semana foi a Semana Nacional de Combate à Hanseníase no Brasil e isso me sobrecarregou deveras. Não tive tempo de checar metade das novidades nos sites habituais. Pra completar, o computador deu pau. Acho que foi algum programa malicioso ou vírus. A Microsoft ou o Norton resolveram em algumas horas, mas eu bem que esquentei a cabeça ontem. Fiquei até sem MSN. Ainda bem que tudo se resolveu e eu consegui falar com Vicky, finalmente de volta à internet em tempo integral, feliz da vida com o netbook novo. Foi mais um dos presentes da semana.

Eu adoro presentes de desaniversários. E você, anônimo leitor?

domingo, outubro 18, 2009

Amar é...


Amar é dizer 'não'. Amar também é dizer ‘não é da minha conta’, como me ensinou Suzi. “Como uma médica diz ‘Não é da minha conta’?”, você se pergunta. Eu respondo. Quando você tem uma saúde praticamente perfeita até entrar numa faculdade de Medicina. Exceto por uma compreensível cólica menstrual, eu era saudável até ser aprovada no vestibular de Medicina. Era mesmo! Então... Vieram rinite, sintomas de depressão, ansiedade, gastrite e meu peso? Eu entrei na faculdade tão magra que era, pelos cálculos do índice de massa corpórea, abaixo do peso ideal. Isso mesmo! O stress do vestibular me deixou tecnicamente desnutrida. Eu, com uma família obesa, que sempre tive tendência pra engordar, entrei na faculdade abaixo do peso normal. Terminei a faculdade 14 quilos mais gorda, mas estava dentro da faixa indicada. A essa altura, eu tinha rinite alérgica, doença do refluxo gastro-esofágico, tinha transtorno bipolar e havia tomado um monte de antidepressivos. Desde então, eu devo ter usado tudo que a indústria farmacêutica lançou pra tratamento de depressão, exceto os tricíclicos. Bem, faltou o eletrochoque, mas foi cogitado. Depois, descobriu-se que eu tenho uma intolerância a lactose. Como assim? Eu tomei leite a vida inteira! O pior é que tenho mesmo. O nariz coça quando eu como alguma coisa com leite, dá pra acreditar?

No ano passado, eu também tive que aprender a dizer ‘chega’. Quando eu estava no ginásio (que agora tem outro nome), eu tinha aulas de teatro. Assisti a uma peça de outra turma, em que uma médica atendia diversos pacientes. Ela curava todos, mas funcionava assim: se o paciente tinha uma tosse, saía de lá sem a tosse e a médica atendia o paciente seguinte tossindo. Se o paciente seguinte tinha uma coceira, a médica ficava se coçando. Era muito engraçado pra nós na platéia, mas relembrando, se parece muito comigo. Por que eu consegui crescer numa família com tendência a obesidade, aprendi a comer corretamente, me exercitava, e só depois de me formar e sair da casa de minha mãe eu comecei a engordar? Uma das muitas respostas está na minha profissão. Claro que resolver minha própria dieta e ter um carro ajudou, mas o estresse interferiu nisso. Os problemas dos outros passaram a ser os meus. A cada vez que alguém não queria assumir a responsabilidade pela própria saúde, era eu quem me preocupava e perdia meu sono. Eu não sabia dizer ‘não é da minha conta’. Isso se chama ‘delegar responsabilidade’ e é uma das maiores qualidades de um líder ou de um gerente. Eu não nasci pra liderar e não sou uma boa gerente. Não nasci pra trabalhar em grupo porque raramente encontro pessoas confiáveis. Quando encontro, é maravilhoso, mas é realmente difícil.

Portanto, quando a gente fica engolindo tudo calado, quando não diz o que fica atravessado na garganta, quando aceita tudo de cabeça baixa, diz ‘sim, senhor’, ‘não, senhor’, como ensinaram na escola ou porque foi a educação que nos deram, afinal ‘obedeça aos mais velhos’ e porque ‘honrar pai e mãe’ faz parte dos 10 mandamentos, algumas conseqüências virão. Comigo, a conseqüência foi engordar e adoecer seriamente. Eu nunca vou poder agradecer o suficiente ao médico do INSS que me afastou. Eu não pedi pra ser afastada, eu queria pedir demissão. Foi a prefeitura que pediu que eu me afastasse para tratamento. Esse médico disse que eu me afastasse antes que eu cometesse um erro que custasse a vida de alguém. Eu me lembro que eu estava tão mal que entrei na consulta com um livro de sonetos de Shakespeare e encontrei algo que era perfeito:

Soneto 101
(Shakespeare)

Oh! Tende dó de mim, atendei meus anseios:
Com a Fortuna ralhai, deusa que me extravia,
Que não me deparou outros melhores meios
Que esses, com que a gente, ai! boas maneiras cria.
Daí vem que o meu nome um ferrete degrada,
E a minha vida, como a mão do tintureiro,
Sob a ação do que faço anda sempre manchada.
Piedoso, me fazei ser o que era primeiro.
Não há poção, paciente enfermo, que eu não beba,
Desde que espere ser minha infecção curada.
Sofrerei o amargo pior que se conceba,
E a penitência pior, como remédio dada.
Tende dó de mim, pois, caro amigo, e sabei
Que outro meio melhor de sarar não terei.



Dessa forma, eu descobri que pra ser médico, a gente precisa também amar a si mesmo. Não é muito diferente de ‘amar ao próximo como a si mesmo’. Recentemente eu terminei um livro. Um dos escritos impublicáveis. Nele, uma mulher diz a alguém: ‘Preciso ser generosa comigo pra ser generosa com os outros, sabe? É isso que significa amar ao próximo como a si mesmo’. Se eu conseguir me lembrar disso na prática da Medicina, terá valido escrever cada uma das 356 páginas e continuar assim: sendo escritora, pra poder ser médica, honrando os juramentos, hoje e sempre.

Juramento de Hipócrates
Declaração de Genebra

Dia de Sol


A gente nunca se lembra, mas o sol é uma estrela de quinta grandeza, portanto, hoje também é dia de estrela. É dia de São Lucas. Quando me vejo numa grande complicação na profissão médica, eu me lembro desse santo. Lucano passou boa parte da vida lutando contra Deus, tentando vencê-lo na luta contra a morte no exercício da Medicina. Ele não queria ser maior que Deus. Ele queria ser mais compassivo que Deus, porque achava que Deus não era piedoso, via Deus como um ser indiferente ao amor que as pessoas sentiam umas pelas outras, que não prezava a vida dos inocentes que sequer haviam cometido qualquer pecado para merecer morrer em tenra idade, por exemplo. Dessa forma, Lucano se dedicava a manter as pessoas com saúde e fez mais de um milagre sem perceber. Tratava as pessoas de graça, libertava escravos, fazia caridade, sem perceber que fazia a obra de Deus. Não percebia que fazia milagres. Acreditava em Deus, não acreditava no amor de Deus. Lucas, como passou a ser chamado, não era judeu, mas grego. Os gregos tinham muitos deuses e um altar para o que chamavam de 'deus desconhecido', sem qualquer imagem. Era esse 'deus desconhecido' que Lucas, que nasceu e cresceu na Antioquia, combatia porque o conhecia muito bem, pois seus pais foram escravos libertos de romanos numa terra de judeus devotos a esse Deus. Muitos anos se passaram até Lucas entender como funciona o mundo, quais as razões de tudo acontecer como acontece, que ele era um instrumento de Deus e que foi preciso que ele perdesse pessoas queridas pra se dedicar totalmente a cuidar dos entes queridos de outras pessoas. Ele precisava sofrer pra entender o sofrimento alheio. É por isso que na missa de formatura, nós lemos isso:

Eclesiástico 38
O médico e as doenças
1. Honra o médico por seus serviços, pois foi o Senhor quem o criou.
2. (Toda a Medicina provém de Deus), como é do rei que se recebe um presente.
3. A ciência do médico o eleva em honra, ele é admirado na presença dos grandes.
4. O Senhor fez sair da terra os remédios, e o homem sensato não os rejeita.
5. Não foi um pedaço de madeira que tornou doce a água? Essa virtude chegou ao conhecimento dos homens.
6. O Altíssimo deu-lhes a ciência da Medicina para que pudessem glorificá-lo por suas maravilhas;
7. e dela se serve para acalmar as dores e curá-las; o farmacêutico faz misturas agradáveis, compõe unguentos agradáveis à saúde, e seu trabalho não terminará,
8. até que a paz divina se estenda sobre a face da terra.
9. Filho, ao adoeceres não te descuides: roga ao Senhor e ele te curará.
10. Evita as faltas, torna reto o agir de tuas mãos, purifica o coração de todo pecado.
11. Oferece o incenso e o memorial de flor de farinha e sacrifica vítimas gordas, como se não fosses sobreviver.
12. E recorre depois ao médico, pois também a ele o Senhor criou; e não se afaste de ti, pois dele igualmente necessitas.
13. Chega o momento em que a cura está em suas mãos;
14. pois também eles rogarão ao Senhor para que lhes conceda o dom de aliviar, e a cura para salvar uma vida.
15. Quem peca diante do seu Criador, que caia nas mãos do médico.

sexta-feira, outubro 16, 2009

Dia de estrela

Teclando com Grissom's Girl:
'Quitar uma dívida: três mil reais. Atingir a meta de perder 30 quilos: um ano e dez meses. Ser devidamente apresentada a Bones: o valor de uma amizade maravilhosa pelo fórum de CSI. Assistir a Sinfônica Jovem do Recife na sua cidade: nem um centavo. Fazer tudo isso num dia só: Não tem preço'.

quinta-feira, outubro 15, 2009

Hoje é dia de dizer 'não'!


Dia de dizer não às sacolas plásticas

Ministério do Meio Ambiente lança data hoje para incentivar população a adotar novos hábitos

Esqueça as sacolas plásticas. Pelo menos no dia de hoje recuse esse tipo de embalagem se precisar ir à farmácia, à padaria ou a outros estabelecimentos prontos para distribuir plásticos. A proposta é do Ministério do Meio Ambiente (MMA) que lança oficialmente, às 10h, o Dia do Consumidor Consciente. Junto, vai o desafio de passar um dia inteiro sem sacos para despertar a consciência ambiental nos consumidores e incentivá-los a adotar hábitos mais racionais, usando bolsas retornáveis ou outras alternativas. A reflexão sobre as embalagens serve como ponto de partida para um questionamento maior sobre consumo. Precisamos mesmo de tudo o que compramos no ritmo do que descartamos fora?

A data vem junto com o reforço da campanha Saco é um saco, desenvolvida pelo MMA e Instituto Akatu (entidade paulista que defende o consumo consciente). O próprio ministro Carlos Minc vai inaugurar a campanha, hoje, em um supermercado no Rio de Janeiro. A intenção é descartar o impacto provocado nos recursos naturais pela fabricaçãoe manutenção dos "bens de consumo". A direção do Akatu esclareceu que a entidade atua para a mudança de comportamento dos consumidores de forma a contribuir para a sustentabilidade por meio das escolhas no consumo. A inauguração da data também virá com o lançamento do hotsite www.sacoeumsaco.com.br.

Mesmo antes da data, as idas ao supermercado na família de Karla Antunes se transformam em um momento de aprendizado para Maria Luiza, 8 anos. A mãe conta que aproveita os "pedidos" para discutir sobre consumo e o que é necessário. "Se deixar, ela quer tudo. Mas sabe que não é correto nem podemos levar", disse Karla, admitindo que os "exageros" - como os queridos salgadinhos - só nos fins de semana. Ela disse que aprova a celebração de datas como a mais nova criada pelo MMA por permitir a discussão. "Precisamos pensar sobre o impacto gerado pelo consumo exagerado na sociedade e no meio ambiente", comentou.

O diretor-presidente do Akatu, Helio Mattar, ressaltou que a data fortalece a atuação da entidade. "Nosso objetivo é mobilizar os brasileiros para o consumo consciente, a partir da comunicação sobre os impactos negativos do consumo acima do necessário", disse, citando a relação entre prédios em pé, consumo de energia e água com árvores derrubadas. A empresária Luciene Menezes ressaltou que fazer compras faz parte de seu trabalho, já que possui um buffet. Mas garante que quase nunca passa pelo desperdício. "Compro o que é necessário dentro de um planejamento e sempre reaproveito. As sacolinhas, por exemplo, servem para armazenar o lixo", destacou. A característica "retornável", defende o MMA, é a mais importante das sacolas resistentes (ou ecobags), perfil que é perseguido pelo conceito de sustentabilidade que visa aumentar a vida útil dos objetos no planeta. Um caminho que pode começar hoje com um "não, obrigada".

O impacto ambiental

- Em 2008, a Consumers International criou uma mobilização, nesta mesma data, para marcar a importância da educação para o consumo sustentável. Neste ano, o MMA lançou a data no Brasil

- Estima-se que 1,5 milhão de sacolas plásticas são consumidas a cada hora no Brasil. Os cálculos indicam que, no mundo, 500 bilhões sejam descartadas inadequadamente por ano, entupindo bueiros, causando enchentes e poluindo

- O animal que mais sofre é a tartaruga-de-couro, que confunde as sacolas com águas-marinhas e ingerem o plástico. Segundo o Projeto Tamar, uma em cada três tartarugas já ingeriram o plástico e podem morrer por asfixia ou desnutrição

- Em países como Espanha, Inglaterra e Alemanha, os supermercados cobram pelo uso das sacolas plásticas, estimulando outros tipos de embalagem. A prática vem se tornando mais comum no Brasil

Fonte: MMA e Instituto Akatu


Você anda com sua sacolinha reciclável na bolsa pra alguma compra eventual? Não? Hora de começar. Eu tenho duas de pano e uma pras compras na feira há mais de um ano. Ainda assim, as sacolas de plástico não acabaram aqui em casa. Acredito que elas se reproduzem embaixo da pia por geração expontânea. Isso merece um estudo científico, portanto. Enquanto isso, eu vou ali, fazer algo de útil. E quem encontrar a sacola da foto, é favor me informar, porque achei a mensagem linda!

quinta-feira, outubro 08, 2009

Mas existe esperança pro mundo!

Da Agência de Notícia da AIDS

Vacina HIV/VIH – um bem público para corrigir um erro global

Por Michel Sidibé

A promessa de uma vacina contra o HIV/VIH está um passo mais próxima. Resultados do maior ensaio de vacina jamais conduzido mostram uma modesta, porém encorajadora eficácia de 31% na prevenção de novas infecções pelo HIV/VIH na Tailândia. Isso tem mantido milhares de cientistas e voluntários que tem tido esperanças que uma vacina anti HIV/VIH efetiva e segura é possível.

Essa notícia chega numa hora em que o movimento para alcançar o acesso universal à prevenção e assistência está ganhando força. Atualmente mais de 4 milhões de pessoas vivendo com HIV/VIH estão recebendo tratamento antiretroviral e um número menor de bebês estão nascendo com HIV/VIH. Menos da metade das pessoas que necessitam de tratamento tem acesso a ele, e a cada dia o número de pessoas que se infectam com o HIV/VIH é superior aos que iniciam o tratamento, estamos hipotecando nosso futuro. Mas estamos também expondo uma fundamental injustiça social – entre os privilegiados e os desamparados – uma divisória que podemos eliminar.

Entretanto, ainda não dispomos de uma vacina acessível, mas vamos nos preparar hoje para o amanhã. Vamos aprender com a lições que a resposta a Aids/SIDA tem nos proporcionado até então.

Diretor Executivo do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids – UNAIDS

***
Brasil recebe remédio para tuberculose que melhora adesão ao tratamento
28/09/2009 - 19h

Chegou ao Brasil o primeiro lote do novo medicamento adquirido pelo Ministério da Saúde para tratar pacientes com tuberculose. Os compridos fabricados por um laboratório indiano já estão em Brasília, onde ficarão estocados temporariamente. A distribuição do novo esquema terapêutico aos estados será em outubro. O novo tratamento é o DFC (dose fixa combinada) ou “quatro em um”, como é conhecido. A vantagem dessa terapia é que ela aumenta a efetividade e a eficacia do tratamento com a inclusão de uma quarta droga em um mesmo comprimido, o que reduz o abandono e melhora a adesão ao tratamento.

A primeira remessa contém 10 milhões de comprimidos, quantidade suficiente para tratar 100 mil novos casos da doenga. Esse montante corresponde à metade da compra de 20 milhões de comprimidos feita pelo governo brasileiro ao preço total de US$ 6 milhões. A mudança nos medicamentos que tratam a tuberculose fará o preço da terapia cair de US$ 40 para US$ 30. O próximo lote chegara ao País em fevereiro de 2010.

Cada comprimido do novo tratamento contémm Rifampicina 150mg, Isoniazida 75mg, Pyrazinamida 400mg e Etambutol 275mg, medicamentos que atuam na eliminação do bacilo de Koch, causador da tuberculose. O novo esquema terapêutico será usado nos dois primeiros meses dos novos tratamentos, a partir da implantação no Sistema Único de Saúde (SUS). Os pacientes que ja estão em tratamento deverão manter a prescrição inicial.

O restante da terapia, que dura mais quatro meses, será feita com as drogas usadas atualmente. Dessa forma, continuarão em uso duas das quatro drogas em um mesmo comprimido, conhecido como “dois em um”. Portanto, tanto os novos quanto os antigos pacientes cumprirão o mesmo esquema terapêutico nos últimos quatro meses de tratamento.

A tuberculose é causada pelo bacilo de Koch (Mycobacterium tuberculosis), que afeta vários órgãos, mas principalmente os pulmões. Os principais sintomas são tosse prolongada, cansaço, emagrecimento, febre e sudorese noturna. O bacilo é transmitido pelo ar, quando o paciente tosse, fala ou espirra. Em 1993, a OMS declarou a tuberculose como uma emergência global.

Fonte: Agência Saúde

Amanhã é dia de estrela

São Mesrob é o outro santo padroeiro dos tradutores, conforme comentado por aqui. Como amanhã vai ser um dia cheio, eu estou com paciente complicado, eu resolvi postar logo sobre São Mesrob. O interessante é que eu posto sobre esses santos, mas não costumo rezar pra eles. Ando lembrando por causa da internet, que manda os emails, avisando os aniversários das pessoas, que é dia disso e daquilo, mas só sei do dia de São Lucas e olhe lá. Sou uma pessoa de fé, mas não costumo ir à Igreja. Tenho amigos de todas as religiões. Fui criada como católica, mas discordo de certas coisas que a Igreja, com 'I' maiúsculo (como diria um personagem meu) sustenta como certas. Acho interessantes algumas premissas do Espiritismo, fascinante o judaísmo, interessante o hinduísmo, mas continuo uma católica 'de carteirinha', nas palavras de Pe Marcelo Rossi. Ele diz isso dos católicos onde consta na carteira de identificação 'católico', mas que nunca vão à missa e mal sabem rezar um terço. Mas da minha fé sabe Deus, e acho que isso basta.

Se a moda pega...

Camisinha feminina com farpas é arma contra o abuso sexual

Altos índices de violência sexual da África do Sul levaram à criação da Rape-aXe, camisinha feminina com farpas que inibe a ação de estupradores. Com a Copa do Mundo de 2010, invenção volta a ficar em evidência.

O número de estupros na África do Sul é tão alto que a sul-africana Sonette Ehlers desenvolveu um mecanismo de defesa para inibir a ação dos agressores: uma camisinha feminina especial chamada Rape-aXe.

Ehlers trabalha há anos com vítimas de abuso sexual. Certo dia, ouviu de uma dessas mulheres uma frase que não lhe saiu mais da cabeça: "Eu queria ter dentes lá embaixo".

Uma vagina que morde é uma ideia que sempre aterrorizou os homens. Bastou uma apresentação pública da invenção para reduzir a zero o número de estupros numa cidade.

"O diretor de polícia me disse: 'Sonette, depois da sua apresentação, passamos três meses sem registrar um estupro sequer. Os homens ficaram com medo de que você tivesse deixado algumas dessas camisinhas por aqui'", conta ela.

O medo dos homens tem fundamento. A possibilidade de cometer o estupro ainda existe, mas as consequências para o agressor são devastadoras. Na hora em que ele tentar tirar o pênis de dentro da vagina, centenas de farpas perfuram a pele.

Camisinha só pode ser retirada em cirurgia

"Rape-aXe é uma camisinha para mulheres que, depois de um estupro, se transforma numa camisinha para o homem. A camisinha é feita de látex e plástico, e as farpas são colocadas na parte interna de forma que o homem não consiga retirá-la sozinho", explica Ehlers.

"O homem deve procurar um hospital o mais rápido possível e retirá-la com um procedimento cirúrgico. A camisinha fica presa ao pênis, é tudo muito doloroso e ele não pode sequer urinar. Na clínica, o procedimento só pode ser realizado com anestesia local."

Isso não poderia ser considerado agressão física? – é a pergunta que as funcionárias da Terre des Femmes mais ouvem do público nas discussões promovidas na Alemanha.

A resposta da organização de defesa dos direitos da mulher é clara: é o homem quem agride a mulher, e a camisinha com farpas oferece proteção contra essa violência.

A Terre des Femmes apoia o Projeto Rape-aXe por entender que assim as mulheres podem se proteger e, principalmente, porque elas é que decidem quando usar a camisinha, diz Serap Altinisik, que também faz parte da organização.

"Consideramos muito importante que isso seja uma decisão própria. Simplesmente porque, do contrário, dirão: 'As mulheres já podem se proteger e não precisamos mais promover trabalhos de prevenção e esclarecimento'. E uma situação assim não é sustentável", comenta Altinisik.

"A camisinha é quase como uma ferramenta de autodefesa, como spray de pimenta, que se pode carregar. Por isso achamos que ela pode ser usada por mulheres de todos os lugares", diz.

Preocupação com a Copa

A ideia é que a camisinha seja oferecida no mundo todo. O preservativo já está sendo produzido na Malásia. A distribuição será coordenada a partir da Alemanha. A meta é distribuir a Rape-aXe gratuitamente para mulheres em situação social vulnerável.

A administradora de empresas Tatiana Weintraub, da Terres des Femmes, está organizando os canais de distribuição e negocia subvenções com os governos de alguns países.

A demanda é enorme, diz ela. No caso da África do Sul, principalmente em função da Copa do Mundo.

"Nós recebemos diariamente cerca de cem e-mails de maridos e esposas que têm medo de viajarem para esse país por terem ouvido a respeito dos altos índices de estupro. Eles perguntam: 'essa nova camisinha já está à venda? Podemos nos proteger?' Então é prioridade absoluta que, até a Copa, a camisinha já esteja no mercado na África do Sul".

Autora: Henriette Wrege (ff)
Revisão: Alexandre Schossler


Fonte: http://www.dw-world.de/dw/article/0,,4771122,00.html

Direito Médico

Se você ler o Código de Ética Médica (o antigo e o novo que saiu no dia 17 do mês passado), verá que o médico tem um mooooonte de deveres e quase nenhum direito. Um deles, que quase nenhum deles lembra, é esse:



Como a categoria sempre foi desorganizada, ninguém nem sabia a causa da vaga. Agora, estão começando a avisar: 'Olha, tem vaga porque fulano se demitiu por más condições de trabalho ou foi demitido. Não assuma esse emprego porque é anti-ético'. Se algum colega lê isso aqui e trabalha nessa região, não assuma nada em Cuiabá. Aproveitando, não assuma nada em Caruaru também. Eu não sou do sindicato, nem pagava aquilo. Ando até falando em colocar minhas contas em dia com o pessoal porque sou a favor de defesa dos meus direitos. A prova disso é que pago o CREMEPE, que só cobra meus deveres, acredita? Eles trabalham corretamente, merecem a anuidade. O SIMEPE anda merecendo, vou acertar com eles também.

domingo, outubro 04, 2009

Dia do Tradutor

O bom de ser multitarefa é que a gente acaba com mais de um dia pra comemorar. Como quarta-feira passada era dia de São Jerônimo, padroeiro dos tradutores, foi Dia do Tradutor e eu nem sabia. Eu sou tradutora? Se sou, foi dia meu também. Não lembram de me dar parabéns nem no meu aniversário. Aliás, poucas foram as pessoas que me desejaram 'Feliz Natal' no último Natal, nem mesmo todas a quem eu mandei cartão me devolveram a gentileza. A cada resposta, fui descobrindo qual minha verdadeira família. Eu fui entendendo, portanto, o que significa 'amar ao próximo como a si mesmo'. Não é 'primeiro eu', como dizer alguns idiotas. Não! É ter um mínimo de amor-próprio pra poder amar todo o resto, é dar um pouquinho de valor a si, sabe?

Soube hoje do Dia do Tradutor por causa da Fal. Então vamos lá. Comecei a traduzir pra valer ano passado e não parei mais. Nunca ganhei um centavo e me divirto horrores com isso porque o faço pra partilhar legendas e fanfictions de CSI. Estou, inclusive, retomando a melhor fanfic GSR de todos os tempos, temporariamente suspensa porque retomei minha atividade médica (pra pagar as contas) e veio mudança de emprego, H1N1, sem falar que Grissom se mandou pra Sorbonne e isso ativou o meu lado escritora (tem Dia do Escritor?) e o lado ruim de ser multitarefa é que eu só tenho dois hemisférios cerebrais, duas mãos e minha casa continua sem o tal botão auto-clean. Quanto às legendas, não fiz por muito tempo porque o grupo não entendeu que a intenção é aprender uma língua a sério e estudar ciência. As fics estão aí e me fazem ter contato com pessoas maravilhosas.

(Olha aqui um texto sobre São Mesrob, do Paulo Coelho, que eu encontrei no meio de uma tradução pra essas legendas. São Mesrob é outro santo padroeiro dos tradutores)

Isso me ajudou recentemente no meu trabalho médico, numa aula importantíssima sobre Tuberculose e Hanseníase, onde tive que entrar em contato com o CDC, o American Leprosy, o ILEP, a OMS, em inglês e francês. Com o Ministério da Saúde também, mas foi o único órgão que não respondeu e a mensagem foi em português. Donde concluo que, apesar de tradutora de dicionário e boa vontade, eu estou no caminho certo e o dia 30 de setembro passa a partir deste ano a acompanhar o dia 18 de outubro nas comemorações aqui em casa. Vou ali assistir o segundo episódio da décima temporada da melhor série do mundo. Com legenda em inglês, claro. E sem dicionário!

quarta-feira, setembro 30, 2009

Hoje é dia de São Jerônimo (e de estrela)



Santo Padroeiro dos Tradutores. Como tradutora de dicionário e boa vontade, fica minha lembrança ao santo natural da Dalmácia, que recebeu formação católica, mas só foi batizado aos 20 anos. Possuidor de uma cultura clássica das maiores do tempo, é considerado um dos mestres da língua latina. Aproveitou integralmente sua imensa cultura no serviço da Igreja, lutando contra as heresias e defendendo a Fé católica. Atraído pela vida isolada e recolhida, na oração e nas austeridades, nem por isso deixava de participar ativamente, desde os vários locais em que viveu como ermitão, das grandes controvérsias do mundo culto de então. Foi secretário do Papa São Dâmaso, e recebeu deste o encargo de traduzir para o latim os Livros Sagrados, de modo a haver uma única versão oficial das Escrituras, para que não fossem estas deturpadas pelos hereges dos séculos futuros. Essa foi a origem da "Vulgata". Na fase final de sua vida, permaneceu em Belém, na Palestina, onde dirigiu um mosteiro de monges e deu assistência a um mosteiro feminino. (Hagiografia, Vida de Santos)

Como ser tradutor é difícil, dia 9 de outubro é dia de São Mesrob, o outro santo padroeiro dos tradutores.

Eu andava com saudade da Fal

Citando:
Se a pessoua rompe com você e depois se dedica à nobre arte de espalhar aos quatro ventos (e faz meses) que você não faz falta, sinto informar, ela não rompeu com você. Aliás, vocês nunca foram tão próximos. :o))

Eu sei que já disse, mas não custa repetir: quando eu crescer, quero ser como a Fal.

domingo, setembro 27, 2009

Fazendo aquele balanço

Eu tinha cinco metas na vida: casa, cachorro, computador, carro e carreira. Aos 30 anos deveria tê-las alcançado. Com quase 34, continuo vivendo de aluguel, mas consegui sair da casa da minha mãe e isso é o que importa. Desisti de ter um carro (você só acumula dívidas, polui o planeta e engorda). Não tenho mais cachorro. Carreira? Desde que fui afastada pelo INSS, entendi que as pessoas sobrevivem sem mim e voltei, sim, a exercer a nobre arte da Medicina. Das oito às duas da tarde. Sobrou o computador, que agora é ‘notebook’. Pra sair da listinha de metas com ‘C’ (note que Companheiro, Casamento ou Criança nunca fizeram parte da lista), vamos mudar de letra. Eu não tenho mais metas, eu tenho tudo que quero: tenho um Abrigo, sou Autora, tenho Amigos e Acesso à rede. Como considero meus personagens reais, posso dizer que tenho um Amante. O que importa se o abrigo é alugado, se eu não sou publicada, se meus amigos estão geograficamente distantes, se o acesso à rede às vezes cai e se o amante é virtual?

Aos quase 34, eu estou dentro do peso ideal indicado pra minha altura (um dos motivos pra não ter um carro na lista de metas), tenho certeza mais que absoluta que não nasci nem pra ser casada, nem pra dividir um teto com ninguém por muito tempo. Continuo amante da música e cantando ‘na noite’ porque ainda não tenho vizinho do lado do escritório. Lembro de colocar água nas plantas, sei cuidar da minha casa e tirar manchas de quase tudo em roupas, nada me convence do valor de arear uma panela (limpar sim, arear não) e declaro profissionalmente que lavar roupa é a melhor terapia já inventada (ainda que “Amélia”, minha máquina de lavar roupa, trabalhe sempre que possível).

Aos quase 34, eu fiz dois cursos de línguas, por causa de CSI e ‘Arquivo X’ destravei meu inglês e ressuscitei meu espanhol, não estou esquecendo meu amado francês por causa de CSI e da própria Medicina e descobri que onde moro dão curso da LIBRAS (linguagem brasileira dos sinais para deficientes auditivos), mas nunca vou lá pra saber dos detalhes. De alguma maneira, minhas cólicas menstruais praticamente desapareceram, a tal depressão está supercompensada, a labirintite e a enxaqueca ameaçam e não me pegam, e minha acne está sob controle (mas isso é mérito meu, mérito profissional, afinal, eu adoro dermatologia).

Aos quase 34 anos, eu me sinto belíssima, desisti de me comparar com quem quer que seja, ainda leio os livros que gostaria de ter escrito, mas sobra pouco tempo pra eles. Hoje, eu leio e releio os livros que eu escrevo. Não faço questão de encontrar antigos conhecidos e nem me lembro quem era a melhor aluna de minha turma. Acho que desisti de sonhar e comecei a viver.




'Her Secret Life', by Jack Vettriano.

sábado, setembro 26, 2009

Hoje é dia de Cosme e Damião

Pra ser bem sincera, eu nunca me lembro dos dias dos santos. O dia de São Lucas é inesquecível porque é Dia do Médico, mas São Lucas não é o Padroeiro dos Médicos. Cosme e Damião são padroeiros de cirurgiões, físicos (aqui significando 'médicos'), farmacêuticos, faculdades de medicina, barbeiros, cabeleireiros e das crianças vítimas de violência. Fui lembrada hoje, graças a uma antiga colega da ED, me envia o 'Evangelho do dia' por email.

Como eu nunca me lembro, eu nunca distribuo os doces. Ando com a oração desses santos na carteira, mas na hora do aperto, eu sempre digo 'Valha-me São Lucas'. Deve ser porque li e reli 'Médico de Homens e de Almas', indicação da diretora da mesma Escola Doméstica onde essa colega estudou. Se houver um livro sobre Cosme e Damião, anônimo leitor, é favor indicar. Eu só conheço 'O santo de cada dia', e dei de presente. Não tenho comigo.

Da Wikipédia:

Há relatos que atestam serem originários da Arábia, de uma família nobre de pais cristãos, no século III. Seus nomes verdadeiros eram Acta e Passio.

Estudaram medicina na Síria e depois foram praticá-la em Egéia. Diziam "Nós curamos as doenças em nome de Jesus Cristo e pelo seu poder".

Exerciam a medicina na Síria, em Egéia e na Ásia Menor, sem receber qualquer pagamento. Por isso, eram chamados de anargiros, ou seja, inimigos do dinheiro.

Cosme e Damião foram martirizados na Síria, porém é desconhecida a forma exata como morreram. Perseguidos por Diocleciano, foram trucidados e muitos fiéis transportaram seus corpos para Roma.

Foram sepultados no maior templo dedicado a eles, feito pelo Papa Félix IV (526-30), na Basílica no Fórum de Roma com as iniciais SS - Cosme e Damião.

Email

Queridos,

Cheguei bem (imigracao 5 minutos), estou bem, e Londres continua linda. Nao estou dando noticias direito pq ainda nao me mudei pro flat e estou vivendo de mala (ainda mer sinto turista!), mas esta tudo correndo direitinho. Estou resolvendo as burocracias (CINCO HORAS na fila pra conseguir o registro de residencia quarta-feira), e me divertindo um pouco pq ninguem e de ferro ne? (Guinness!!!)

O show do Coldplay foi perfeito. Dess, vc tem razao, In My Place e a musica. Chris Martin e simpaticissimo no palco, fiquei impressionada. E Wembley e coisa de cinema.

Se cuidem. Saudades. Amo voces.

V


Mal chega e se esquece que acentos existem. Tsc, tsc. Com Geórgia na Inglaterra também, estou vendo que vou ter que tirar um passaporte, isso sim. Será que eu passo em apenas cinco minutos pela Imigração?

quinta-feira, setembro 24, 2009

É hoje!

E... CSI está de volta! Com Jorja Fox no elenco. O que significa Grissom sendo citado. E está confirmado, pros casamenteiros de plantão: Sara e Griss não apenas juntaram as escovas, mas também trocaram alianças. Fotos de divulgação começaram a agitar fóruns, comunidades, Facebook, Orkut e similares nesses meses de espera entre temporadas e finalmente uma promo confirmou o que muitos fãs GSR queriam (eu não fazia questão do casamento formal, mas se aconteceu, que seja). Repare na mão de Sara.



Quem quiser, tem o vídeo de Sara conversando com Catherine sobre ser casada com Grissom também, mas acho que ainda não é agora que WP aparece na temporada. Snif.

Para Vicky

Pra alguém que esteve no show do Coldplay

In My Place

In my place, in my place
Were lines that I couldn't change
I was lost, oh yeah
I was lost, I was lost
Crossed lines I shouldn't have crossed
I was lost, oh yeah

Yeah, how long must you wait for it?
Yeah, how long must you pay for it?
Yeah, how long must you wait for it?
For it

I was scared, I was scared
Tired and underprepared
But I waited for you
If you go, if you go
Then Leave me down here on my own
Then I'll wait for you, yeah

Yeah, how long must you wait for it?
Yeah, how long must you pay for it?
Yeah, how long must you wait for it?
For it, yeah

Sing it please, please, please
Come back and sing to me
To me, me
Come on and sing it out, now, now
Come on and sing it out, to me, me
Come back and sing it.

In my place, in my place
Were lines that I couldn't change
I was lost, oh yeah
Oh Yeah


Porque ela deve estar se sentindo em casa.

***
Do princecristal.blogspot.com

Oração Celta
I

Que jamais, em tempo algum,
o teu coração acalente ódio.
Que o canto da maturidade
jamais asfixie a tua criança interior.
Que o teu sorriso seja sempre verdadeiro.
Que as perdas do teu caminho
sejam sempre encaradas como lições de vida.
Que a musica seja tua companheira
de momentos secretos contigo mesmo.
Que os teus momentos de amor contenham a magia
de tua alma eterna em cada beijo.
Que os teus olhos sejam dois sóis
olhando a luz da vida em cada amanhecer.
Que cada dia seja um novo recomeço,
onde tua alma dance na luz.
Que em cada passo teu fiquem marcas luminosas
de tua passagem em cada coração.
Que em cada amigo o teu coração faça festa,
que celebre o canto da amizade profunda que liga as almas afins.
Que em teus momentos de solidão e cansaço,
esteja sempre presente em teu coração
a lembrança de que tudo passa e se transforma,
quando a alma é grande e generosa.
Que o teu coração voe contente nas asas da espiritualidade consciente,
para que tu percebas a ternura invisível,
tocando o centro do teu ser eterno.
Que um suave acalento te acompanhe, na terra ou no espaço,
e por onde quer que o imanente invisível leve o teu viver.
Que o teu coração sinta a presença secreta do inefável!
Que os teus pensamentos e os teus amores,
o teu viver e a tua passagem pela vida,
sejam sempre abençoados por aquele amor que ama sem nome.
Aquele amor que não se explica, só se sente.
Que esse amor seja o teu acalento secreto,
viajando eternamente no centro do teu ser.
Que este amor transforme os teus dramas em luz,
a tua tristeza em celebração,
e os teus passos cansados
em alegres passos de dança renovadora.
Que jamais,
em tempo algum,
tu esqueças da Presença que está em ti e em todos os seres.
Que o teu viver seja pleno de Paz e Luz!

II

Que a estrada se abra à sua frente,
Que o vento sopre levemente às suas costas,
Que o sol brilhe morno e suave em sua face,
Que a chuva caía de mansinho em seus campos...
E, até que nos encontremos de novo,
Que os Deuses lhe guardem na palma de Suas mãos.

III

Que despertes para o mistério de estar aqui
e compreendas a silenciosa imensidão da tua presença.
Que tenhas alegria e paz no templo dos teus sentidos.
Que recebas grande encorajamento quando novas fronteiras acenam.
Que respondas ao chamado do teu Dom
e encontre a coragem para seguir-lhe o caminho.
Que a chama da raiva te liberte da falsidade.
Que o ardor do coração mantenha a tua presença flamejante
e que a ansiedade jamais te ronde.
Que a tua dignidade exterior
reflita uma dignidade interior da alma.
Que tenhas vagar para celebrar os milagres silenciosos
que não buscam atenção.
Que sejas consolado na simetria secreta da tua alma.
Que sintas cada dia como uma dádiva sagrada
tecida em torno do cerne do assombro.


Porque 'Viviane' é um nome celta.

sábado, setembro 19, 2009

Precisa dizer mais?

Dess,

Cheguei bem, o show do Coldplay foi indescritivel de tao lindo, chove em Londres agora, e estou feliz.

Amor sempre,

Vicky



'Moving On', de Jack Vettriano

terça-feira, setembro 15, 2009

Time of my life

Esse cara foi o primeiro ator de Hollywood que eu fiz questão de aprender o nome. 'Dirty Dancing' foi o primeiro filme com censura que eu assisti, acredite se quiser. Continuo ouvindo (e adorando) a trilha sonora onde, inclusive, ele canta 'She's like the wind'. Eu esperava a notícia há algum tempo e soube ontem, mais de meia-noite (ou seja: hoje). Gosto de cada um dos filmes dele a que assisti e ele ganhou meu respeito de vez por ter trabalhado até o fim. Que descanse em paz, mas na minha opinião, as pessoas só morrem realmente quando deixam de ser lembradas. Pra um grupinho que ainda assiste Dirty Dancing (e sabe as falas de cor, as músicas também), Ghost e outros filmes, Patrick, portanto, continua bem vivo.



The Beast, último trabalho de Swaze.

domingo, setembro 13, 2009

A arte de ter tempo

As pessoas vivem sem tempo. Eu costumava dizer que o dia deveria ter trinta horas, como o Unibanco (eles dizem que estão 24 horas com o cliente, além das seis horas em que a agência fica aberta). Hoje em dia eu sei que o dia tem horas suficientes, assim como muita gente ganha o bastante pra viver. Não todo mundo, mas muita gente não sabe é administrar o tempo ou o dinheiro que tem. Eu tenho essa amiga. Ela é tão ocupada que quando eu vou a Recife pra consulta médica, marco um almoço com ela entre os dois turnos de trabalho dela. Como a consulta é marcada com dois meses ou mais de antecedência, o almoço é igualmente marcado na minha agenda com a mesma antecedência.

Sabe quantas vezes Vicky faltou comigo? Nenhuma. Houve uma época em minha vida em que eu, com posto de saúde, plantão, família, companheiro, cachorro e casa pra cuidar era menos ocupada que Vicky, com um monte de turmas de alunos, aulas particulares, curso de pós-graduação e vida pessoal. Acho até que ela ganhava mais que eu, ela professora de inglês, eu médica. Nunca perguntei. As horas que passamos juntas são muito valiosas pra gente perder tempo falando de quanto ganha. Vicky sempre tem tempo pra mim, seja pra tomar um café demorado ('mas agora eu tenho que ir'), seja pra um almoço de três horas, seja pra ver o penúltimo filme do Harry Potter. Fernanda é outra, ocupada e com tempo. A mãe dela também. Fal, nem se fala. Minha amada e distante Geórgia também. Eu marco meu encontro com Geórgia com um ano ou dois de antecedência, acredita? Mas quando essas pessoas estão comigo, seja pessoalmente, seja pela internet, estão comigo.

Gente ocupada tem tempo porque sabe se organizar. Isso também vale pra dinheiro. Hoje eu ganho bem menos e vivo melhor, em todos os aspectos da minha vida. Todos. Porque aprendi a viver com vagar pra não viver com remorso. Já disse isso aqui? Da vida eu quero levar tudo, menos remorso. Pronto, agora tá dito. Vicky me mandou um texto esse mês, via email. Ela não costuma me mandar textos assim, mas eu indiquei 'De ressaca', do Luís Fernando Veríssimo e ela me devolveu com esse, que aliás, é a cara dela. Se é do LFV (eu fiquei, 'o que é LFV?', quando vi o título do email), não sei, mas alguém havia me enviado isso antes do bug do HD e eu fiquei muito satisfeita em ter novamente. Deve ser dele, porque ele adora comer, adora bater papo com os amigos e o estilo é bem a cara dele (Por vias das dúvidas, se não é, perdoe o autor, e me avise pra eu dar os devidos créditos).

Por isso, eu estou me arrancando do meu interiorzinho pra ir dar um abraço em Vicky antes que ela fique tão ocupada em Londres como Geórgia em Southhampton e eu não possa vê-la novamente. As chances de me ter dentro de um avião pra qualquer lugar são pequenas. Eu viajo em espírito e Vicky sabe o quanto eu ando viajando nos últimos dois meses. Na pior época da minha vida, Vicky teve tempo pra mim (dessa vez, Geórgia não saiu de onde estava e me levou com ela, como fez antes, mas afinal, a Inglaterra não é pertinho como o Rio Grande do Norte, né? Da outra vez, Doda também tinha os compromissos dela, mas me levou pra casa dela pra me fazer companhia. Coisa de irmã de alma). E aí, professora, jantar?



'The British are coming', de Jack Vettriano.

Exigências da vida moderna - Veríssimo


Exigências da vida moderna (quem agüenta tudo isso??)
Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro.
E uma banana pelo potássio.
E também uma laranja pela vitamina C.

Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes.
Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água.
E uriná-los, o que consome o dobro do tempo.
Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão).

Cada dia uma Aspirina, previne infarto.
Uma taça de vinho tinto também.
Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso.
Um copo de cerveja, para... não lembro bem para o que, mas faz bem.
O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber.

Todos os dias deve-se comer fibra.
Muita, muitíssima fibra.
Fibra suficiente para fazer um pulôver.
Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente.
E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada.
Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia.

E não esqueça de escovar os dentes depois de comer.
Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax.
Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia.

Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma.
Sobram três, desde que você não pegue trânsito.

As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia.
Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma).

E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.

Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações.

Ah! E o sexo.
Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina.
Há que ser criativo, inovador para renovar a sedução.
Isso leva tempo e nem estou falando de sexo tântrico.

Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho de estimação.

Na minha conta são 29 horas por dia.

A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo!!!

Tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes. Chame os amigos e seus pais.
Beba o vinho, coma a maçã e dê a banana na boca da sua mulher.

Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésio.

Agora tenho que ir.

É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro.

E já que vou, levo um jornal...

Tchau....

Se sobrar um tempinho, me manda um e-mail.

Luís Fernando Veríssimo

domingo, setembro 06, 2009

Do diretor de 'Bones', Hart Hanson.

Eu não assisto 'Bones'. Uma não anônima leitora, sim. Fez-me, inclusive, o imenso favor de apresentar a série, mas como eu sou mulher de um amor por vez ainda estou me desapaixonando por 'Arquivo X' (acho que nunca vai acontecer) e adorando CSI (apesar da saída de WP). Acabo de receber um email indicando um texto realmente interessante. Faz parte de uma série de ensaios, em inglês, chamada: 'Por que nós escrevemos'. A autoria é de roteiristas de filmes e séries de TV. Esse é do diretor de Bones.

Muitas das razões dele são também as minhas. Eu quero entender o mundo. Eu quero me entender. Eu tenho em minha vida duas jornadas de trabalho distintas desde que descobri que negar o que sou estava destruindo o que eu ainda podia salvar do que eu estava sendo. Pra continuar numa profissão, tive que acrescentar outra de forma permanente em minha vida. Sempre, sempre, sempre que eu atraso o trabalho de escrita, todo o resto se desorganiza de forma pavorosa. Portanto, eu escrevo porque isso me mantém, literalmente viva.

Sabe, acaba de me ocorrer algo muito interessante. Eu perdi 29 quilos desde dezembro de 2007. Se eu imprimir tudo que escrevi de lá pra cá, talvez seja esse o peso que estava em excesso. Talvez seja por isso que toda vez que eu adio trabalho de escrita, eu engordo.


Eu escrevo porque emagrece. E você, anônimo leitor?

sexta-feira, setembro 04, 2009

Pois é

Deu-me um sono inexplicável e eu apaguei na quarta-feira, dia 2. Acordei às onze da noite. Não vi o JN. Se comentaram por lá, perdi essa. Como foi comentado por Grissom's Girl, fui conferir no Google, porque nem a newsletter do JN informou a novidade: 'Jornal Nacional, modo de fazer', escrito por William Bonner. Claro que eles aproveitaram o aniversário do jornal, como houve 'Jornal Nacional, a notícia faz história' quando o JN fez 35 anos. Aquele, eu ganhei de presente de Natal e devorei em dois dias. Esse, eu vou me dar de presente de aniversário. Não por acaso, eu e Bonner completamos anos no mesmíssimo dia do ano.

A meu ver, é um modo elegante de explicar de forma mais longa as críticas veementes que Bonner recebeu há alguns anos sobre as formas como decide o que vai ao ar no JN. Ora, anônimo leitor, milhões de pessoas assistem ao JN. Gente de todas as idades. Eu tinha onze anos quando comecei a acompanhar aquilo. Tem gente de noventa que ainda assiste. Gente com diferentes graus de instrução. Eles têm que nivelar a informação.

O JN passa na TV aberta. Quem assiste TV por assinatura é gente que tem dinheiro e, sem fazer discriminação, geralmente são pessoas com acesso a mais instrução, embora nem sempre aproveitem a oportunidade pra se instruir. Então, aquilo ali começa a ser montado horas antes. Vão recebendo as notícias e decidindo o que vai ao ar, quanto tempo vão dar pra cada notícia. Muitas vezes, uma reportagem fica pro dia seguinte porque aparece algo mais urgente. É um processo dinâmico e confuso. Em 2005, num encontro com professores universitários, Bonner comentou que pensa no telespectador no JN como um Homer Simpson, que não entende 'notícias complexas'. Explicando: um cara que não tem muito entendimento de política internacional e se interessa mais pelos problemas que afetam seu dia a dia, alguém que precisa que expliquem como o aumento do combustível aumenta o preço da sua cerveja (e Bonner faz isso muito bem, Fátima também). Pra quê? Isso saiu por aí e choveram críticas. Disseram que Bonner não coloca notícias elaboradas, de consequências sutis, porque julga os brasileiros burros, etc, etc. Lá foi Bonner se explicar as declarações numa revista semanal: "Eu, como trabalhador, pai de família protetor, meio Lineu, meio Homer', reconheço humildemente meu fracasso no desafio de ser claro e objetivo para todos os meus interlocutores daquela manhã” (William Bonner, apresentador do Jornal Nacional, explicando-se por ter comparado os telespectadores com o “preguiçoso e limitado" Hommer Simpson. Lineu, personagem da Grande Família. Fonte: Revista Isto É Gente, de 19/12/2005). A saber, esta citação veio da Wikiquote.

Anônimo leitor, eu não sei você, mas quando eu quero saber mais, eu assisto outros jornais e geralmente a notícia não varia de canal pra canal. As agências de notícias na internet, sim, mostram alguma coisa diferente. E de mais a mais, é claro que deve haver um perfil de telespectador! As pessoas que assistem o JN são trabalhadores que terminaram de chegar em casa, gente que ainda está na rua, estudantes (porque o professor mandou ou a novela da sete acabou), mães de famílias (esperando a novela das nove) ou simplesmente porque é a hora em que toda a família se encontra reunida, muitas vezes pela primeira vez no dia. Fica difícil prender a atenção de um público tão diferenciado (ainda mais se estão jantando) se você se dedica a um perfil muito complicado. Pra quem quer um canal de jornalismo mais elevado, existe o G1, que eu infelizmente não posso assinar.

Pra meu entendimento, o JN tá bom. Eu, no máximo, sou a Liza, filha do Hommer Simpson.

quinta-feira, setembro 03, 2009

Aniversário

Ontem foi aniversário da minha escola e do JN. Conheci o Jornal Nacional por causa de minha professora Ivani, de Geografia, na Escola Doméstica de Natal. O JN completou 40 anos ontem e eu o acompanho desde muito antes que William Bonner e Fátima Bernardes se tornassem regulares por lá. A ED tem 95 anos. Devo muito a ambos. Aliás, sempre disse e continuo dizendo: tenho mais lembranças de minha escola que da minha casa. Nada contra minha infância, mas conheço pelo menos outra pessoa que fala assim do colégio onde estudou: Fal Azevedo. Acho que é uma referência e tanto. E de mais a mais, eu terminei o segundo grau com uma profissão, não foi?

Presentinho pra duas instituições pra lá de significativas:


Girassol. Variedade 'Ring of Fire'.

Nós, sonhadores incompreendidos

As pessoas gostam do óbvio. Raramente entendem o que está subentendido. Não procuram sequer se conhecer, que dirá conhecer o que está por trás de tudo. Portanto, quando alguém decide 'abandonar' uma carreira aparentemente bem sucedida, um emprego que vai muito bem, pra seguir o que parece uma loucura sem sentido, esse alguém é criticado pelos outros, seja abertamente, seja pelas costas. Isso vem acontecendo com certa frequência com muitas pessoas significativas em minha vida, incluindo eu mesma. Pessoas que quero bem, que me conhecem, que não me conhecem. Amigos, amigas e pelo menos um alguém que ignora minha exístência.

Quando William Petersen disse que estava saindo de CSI, muita gente entendeu que ele estava querendo descansar. Ele disse que não! Que sentia falta do teatro e realmente, saiu do set e começou a ensaiar pra 'Blackbird' (aliás, thanks, Danie. The play is great!), peça que ganhou prêmio em 2007 de melhor do ano. Começou a ser criticado antes de abrir a cortina na pré-estréia porque o personagem é polêmico. WP ainda fez o favor de comentar que a peça é sobre uma história de amor (bom, um amor um tantinho doentio, mas ele é sarcástico, não entenderam isso). Já estavam sem entender como alguém larga mão de ganhar 600.000 dólares por episódio pra ganhar uma ninharia e desiste de uma audiência de milhões pra menos de mil assentos por noite. Bem, olha aí: 'WP indicado ao Jefferson Award por Blackbird'. Se você não está com paciência, eu resumo. Esse prêmio é o mais importante de teatro na região do Meio-Oeste Americano e WP já ganhou uma vez e foi indicado outra, em 40 anos de palco. Foi indicado novamente, na primeira produção que levou aos palcos depois de sair de CSI como ator regular.

É pra realizar um sonho que Vicky está indo pra Westminster. Isso vale pra Geórgia, Kátia, Grissom's Girl, Fal, Fernanda, eu mesma... Embora sem garantias, nós queremos realizar algum sonho. Se formos bem-sucedidos, se vamos ter um reconhecimento com um Jeff Award, não importa. Alex Furtado, o guru de Vicky, deu um conselho pra aprendiz que vale pra qualquer um que tem certeza que está no caminho certo pra ser feliz sem destruir os outros no processo: 'Você está realizando seu sonho. Não espere que as pessoas entendam'.

E você, anônimo leitor? Quer um Jefferson Award também?

quarta-feira, agosto 26, 2009

Não convidados

Olha só, anônimo leitor. Eu não sou de convidar gente pra minha casa, ok? Então alguém sabe qual a linguagem correta pra pôr um aviso pras baratas, grilos e rãs que insistem em me visitar? Eu não os convido absolutamente! Não junto lixo, não há formigas ou outros insetos que sirvam de alimentos ao nobres anfíbios, não há sequer plantas dentro da casa, só na parte externa e longe das paredes da casa!

Então, por que raios volta e meia uma barata cascuda insiste em parecer na minha limpa residência, grilos visitam-me noite sim noite também e rãzinhas e rãnzonas me obrigam a ficar pulando junto com elas até alcançá-las? Que saco! Eu sou fã do Grissom, mas não há nem participação de WP agendada ainda pra essa temporada que nem começou. Se a desculpa é a chuva, dá pra mandar o astro de CSI como brinde? Aceitamos a esposa dele junto. Só pra limpar a vista mesmo, porque homem comprometido me dá alergia.

Porque a saudade de Geórgia é eterna

E eu sempre lembro dela ao ver esse quadro de Vettriano. Amore, já disse que te amo hoje? Mesmo do outro lado do mundo: eu te amo, irmã de alma!



'Still Dreaming', by Jack Vettriano.

(A saudade de Vicky já começou e ela nem foi embora ainda.)

Do Balaio Porreta

O IMPORTANTE É NÃO PARAR DE QUESTIONAR
(Albert Einstein)

In Balaio, n° 276. Rio, 12/04/1991:


Apesar de todas as dificuldades, é preciso ousar;
apesar de todos os desencontros, é preciso amar;

apesar de todos os pesadelos, é preciso sonhar;
apesar de todas as incertezas, é preciso lutar.


* * *
A JORGE GUINLE FILHO
em memória
Tanussi Cardoso
[ in Viagem em torno de, 2000 ]

O que acontecerá aos céus
quando se morre um artista?
Que silêncios, que gritos
Que deuses riscam os ventos
quando se morre um artista?
O que dizer aos filhos
Aos pássaros, ao poema
quando se morre um artista?
Que pintura tão linda
Que natureza tão vil
Que fala tão amarga
quando se morre um artista?
Noiteluzsomdiapasãoharmoniavendavalfuracão?
O que sobra da vida
quando se morre um artista?

sábado, agosto 22, 2009

A expressão perfeita pra mim é: 'cocadinha de sal'. Se você é hipertenso, mantenha distância

Eu não chegarei ao extremo de dizer 'Vocês têm que me engolir', mas deixei de pedir desculpas ao mundo por ser como sou. Passei a vida me refreando, pedindo 'com licença', até entender que sou diferente da maioria e que meu jeito de ser sempre vai incomodar, por mais contida que eu tente ser. Dessa forma eu reduzi (e como!) o universo de pessoas que convivem comigo (física e virtualmente) e foi uma das melhores atitudes que tomei na vida. Quem continua convivendo comigo ou a) precisa muito de mim ou b) me aceita como sou. Eu não sou grossa deliberadamente, só não tenho filtro. Tenho até cursos de boas maneiras, gente! Fez parte do curso técnico de Economia Doméstica e eu estudei lá por longos e inesquecíveis 13 anos. Quem deu a nota me conheceu muito bem e sabe que eu não sou mal-educada.

Um dia desses, alguém que convive comigo entrou por aqui, só não deixou comentário porque não entendeu como funciona o blog, mas telefonou imediatamente e disse 'parece que a gente está ouvindo você falando'. De onde concluí que eu não nasci mesmo pra multidões. Meu público é seleto, muito seleto e eclético. Se você está chegando agora, foi avisado. Esse blog não é indicado para hipertensos, diabéticos, obesos, pessoas com tendência a retenção hídrica, portadores de distúrbios cardiovasculares, e todos pra quem a dieta hipossódica foi indicada.

domingo, agosto 09, 2009

Ser paciente Psiquiátrico

09.08.09
Você tem psiquiatra? Eu tenho. A maioria dos pacientes psiquiátricos alega que toma ‘remédios pros nervos’, mas eu admito: sou uma paciente psiquiátrica. Eu acredito que, se você reconhece que é um paciente psiquiátrico e segue o tratamento, essa é uma atitude responsável consigo mesmo e com seus semelhantes. Como um monte de gente coloca a vida em minhas mãos, minha responsabilidade aumenta porque sou uma paciente psiquiátrica. Eu admito aqui, mas tenho uma boa justificativa pra não fazê-lo publicamente.

Sou médica e muitos dos meus pacientes jamais entenderiam que ser uma paciente psiquiátrica não significa ser mentalmente insana. Costumo dizer aos meus pacientes portadores de doenças psiquiátricas: ‘Você toma remédios pra não ficar doido’, numa forma de incentivá-los a não pararem os famosos remédios controlados, que impedem que o paciente seja um carro desgovernado no meio do trânsito pesado. Eu passei a falar isso depois de assistir ‘Kiss the sky’, onde o personagem de WP dá uma bronca no amigo que quer fumar ópio: ‘Está doido? Você toma remédio pra não perder o juízo!’. De fato, ambos enfrentam uma depressão de meia-idade e um deles já foi até internado por causa disso. Poucas vezes eu ri tanto em minha vida como na primeira cena do filme onde os dois estão em plena sessão de massagem e discutem os prós e contras das medicações que já usaram ou estão usando. Pareciam comigo, conversando com minha médica que, não por acaso, foi minha professora de psiquiatria.

Por causa da doença, quase não termino o curso médico. ‘Descompensei’ tantas vezes que perdi a conta. Não gosto de tomar remédios e esse foi um dos motivos de demorar tanto, acho, a encontrar o que funciona pro meu caso. Precisei de alguns anos pra entender que, assim como cada paciente com hipertensão arterial é único, o mesmo se dá com pacientes psiquiátricos. O argumento que me convenceu a usar regularmente as medicações veio de um professor de psiquiatria: ‘assim como não se trata diabetes só com conversa, não dá pra tratar a verdadeira depressão só com conversa’. É verdade. O tratamento de muitas doenças se divide entre medicações, apoio psicológico e mudanças de estilo de vida. Pra cada pessoa, um desses aspectos pesa mais. Eu fui da geração Prozac, ‘a pílula da felicidade’. Usei quase tudo que existia na época, em matéria de medicação pra depressão e reconheço: foi a indústria farmacológica, em última instância, que me manteve profissionalmente ativa. Muitas pessoas sabem que eu tomo remédios controlados e por que, mas um professor muito querido aconselhou-me, há muitos e muitos anos, a não sair dizendo a todo mundo porque as pessoas rotulam muito facilmente, embora nem sempre entendam o que estão rotulando. Atualmente, uso apenas uma medicação, mas estou fazendo terapia e encontrei a melhor válvula de escape do mundo quando comecei a escrever regularmente. Não falto às consultas médicas, mas nem sempre foi assim. Hoje, mal a tempestade ameaça, eu corro atrás de uma avaliação extra.

Minha doença já teve vários nomes - ‘depressão maior’, ‘depressão endógena’, ‘Psicose Maníaco-Depressiva’ (PMD), ‘Transtorno Obsessivo-Compulsivo’, ‘Transtorno Bipolar’. A expressão Transtorno Bipolar era a moda na minha época de estudante porque a pessoa transita entre dois pólos extremos de humor, depois foi Transtorno Obsessivo-Compulsivo, do qual não gosto porque não define como me sinto quando estou abaixo do lençol freático que está sob o fundo do poço. Sabe-se lá como vão chamar na próxima revista de Psiquiatria ou edição do Código Internacional de Doenças. O nome não muda como eu me sinto, mas é bom saber o que eu tenho. O problema em psiquiatria é que as doenças têm muitos sintomas em comum. Alguns transtornos de comportamento são tão semelhantes entre si que, por muito tempo, eu não sabia bem o que tinha, além de ‘depressão’. Sempre que eu lia algo novo em psiquiatria, achava que tinha mais um diagnóstico pra lista. Não sou hipocondríaca, mas gosto das coisas às claras. Agora posso dizer: ‘sou bipolar’, mas continuo achando que PMD descreve perfeitamente a doença.

O primeiro aviso que tem algo errado, no meu caso, são aqueles dias em que eu quero bater em todo mundo, começando por mim mesma. Ser bipolar é ter TPM o mês inteiro, pelo menos quando se está com o quadro clínico descompensado. Ninguém te entende, o mundo é horrível e você é a pior pessoa do mundo, nem sempre você chora, mas briga com as paredes e tem um monte de dores físicas e psicológicas que analgésicos não resolvem muito bem e que a maioria dos médicos não entende. Ainda tem mais isso: existe dor física. Encontraram até um nome: Fibromialgia. Tem médico que diz que ‘essas dores nem existem, são psicológicas’. Nem por isso doem menos, posso garantir. Dá vontade de dizer: ‘Claro que são psicológicas, seu idiota! Ao menos, encaminhe a pessoa pra um psicólogo, um psiquiatra, alguém que saiba lidar com a cabeça dos outros!’. Eu mesma, tive períodos com dor de cabeça tão intensa, que usei até medicações pra pacientes com câncer em último estágio. A dor sumiu com meses de terapia psicológica e desde então, estou aprendendo a me conhecer para não viver tomando a farmácia inteira e me viciando em analgésicos. Mas tudo começou a melhorar quando eu reconheci que eu era bipolar e que, até o momento, não há cura pra isso, só controle. Se não tivesse feito admitido, já poderia ter cometido um erro qualquer, que custaria a vida de alguém. E ser bipolar não ajuda em nada pra se ter uma carreira bem-sucedida.

Um perfeito exemplo de como uma doença psiquiátrica atrapalha a vida está na série de TV ‘Monk’. O brilhante investigador Andrew Monk, afastado de suas funções indefinidamente depois que perdeu a esposa e piorou de suas ‘manias’: lavar as mãos, repetir gestos indefinidamente, etc. Ele faz terapia e não consegue tomar medicações. Resolve casos que a polícia, com pessoas teoricamente ‘normais’, psiquiatricamente falando, não consegue e vai levando a vida dentro dos limites possíveis. Ele até mesmo se rendeu ao uso de medicações quando se deu conta do quão limitante era a doença, mas ficou tão estranho e desconcentrado que resolveu parar. Ficou limpando as mãos e resolvendo tudo brilhantemente. Enquanto isso, o Jack Nicholson se rendeu às medicações pra ficar com Helen Hunt em ‘Melhor é impossível’. Agora, imagine uma médica bipolar.

A única vez na vida em que a doença me foi útil foi numa prova. Na época eu estava péssima, quase não termino o período e passei graças a muita gente legal da minha turma me apoiando, meus professores de psiquiatria, o tal professor muito querido e minha família, além de alguns grandes amigos não médicos. A doença ajudou quando a única questão da prova de psiquiatria prática foi ‘Comente Depressão e o tratamento com Lítio’. Eu só não sabia a dosagem do lítio, mas escrevi um minitratado sobre a psicopatologia, etiologia e fatores relacionados às causas da depressão, citei en passant que só se dosa lítio em usuários da droga (mal sabia eu quantas dosagens eu faria) e que não se diagnostica depressão solicitando dosagem de lítio em gente com sintomas de depressão. Tirei nove. O professor que aplicou a prova deve ter se sentido ótimo porque foi ele quem deu a aula (eu mal respirei ouvindo essa aula) e sabia que eu estava descompensada. Eu nunca cheguei a dizer pra ele que foi o argumento dele que me convenceu do uso regular das medicações.

Então, se você tem transtornos de humor, se você já fez acompanhamento psiquiátrico, se já foi internado numa ala psiquiátrica, não minta pra si mesmo. Pergunte francamente ao médico qual seu diagnóstico e qual o prognóstico. O que tem de paciente por aí que usa a medicação, mas nem ele, nem a família sabem que é ele é esquizofrênico, nem se conta. Saiba se você oferece algum risco pra si mesmo ou pros outros. Não se assuste se seu problema não tiver cura. A maioria das doenças não tem cura, mas tem controle e não é contagiosa. Visite seu médico regularmente pra prevenir complicações. Pergunte em quanto tempo deve voltar, porque os médicos quase nunca dizem e, quando dizem, quase nunca o paciente escuta. Se algum sintoma diferente aparecer, também é bom falar com o médico. Acredite que vai melhorar, tenha fé no tratamento e tenha um bom conselheiro: seu médico, um familiar, um amigo, qualquer pessoa que entende a doença e que possa perceber algo de diferente no seu comportamento habitual o mais cedo possível. No meu caso, eu percebo que tem algo de errado quando fico impaciente com os pacientes.

Se for a primeira vez que você apresenta sintomas, descarte uma causa física porque pode até ser que não seja uma doença psiquiátrica, mas alguma doença que dá sintomas parecidos. E atenção com as pessoas bem-intencionadas, mas que não entendem nada do assunto. Muitas doenças psiquiátricas tão transitórias, ou podem ser curadas se o tratamento for precoce, mas existe muita resistência do paciente ou da família. Durante uma aula de psiquiatria, ouvi algo muito verdadeiro: ‘Se um paciente sem histórico psiquiátrico tem um surto, é levado pra missa, depois vira evangélico, leva uns passes num centro espírita, vai pro terreiro e por último, quando já não tem mais jeito, lembram do psiquiatra’. O professor não criticava as religiões, ele se referia à negação da existência de uma doença psiquiátrica. O mesmo vale pros conselhos que ouvi como paciente com depressão: ‘Vá dar uma volta que você melhora’, ‘Você precisa de um cachorro’, ‘Você precisa se divertir mais’. Os conselhos e a religião geralmente ajudam muito, mas a pessoa precisa de bem mais que isso.

Como médica, indico pra alguns de meus pacientes a prática da religião e leitura de textos religiosos como parte do tratamento, mas presto atenção nas respostas às preces que faço por eles. Muitas vezes, a ajuda que peço vem na forma de um remédio ou de um médico que pode ajudá-los mais do que eu; outras vezes, apenas a fé da pessoa e força de vontade resolvem o problema. Respeito quando as pessoas se recusam a tomar medicações porque acreditam que sua fé pode curá-las. Muitos esperam que um anjo venha do céu, com o milagre. Pra mim, anjos nada mais são que pessoas daqui mesmo, que se permitem ser instrumentos de Deus, A Força, ou como quer que você chame. Em mais de uma situação, convenci o paciente com ‘Honra a Deus e dá lugar ao médico, porque o médico é instrumento de Deus’ e ‘O Senhor fez sair da terra os remédios, e o homem sensato não os rejeita’. (Eclesiático 38, v.1 e v.4). Como paciente, minha fé oscila de acordo com meu humor, mas eu já entendi que isso faz parte da doença e não me preocupo mais. Me convenci que preciso tomar os remédios por melhor que eu me sinta e tenha vontade de parar. Como escovo os dentes e tomo banho todo dia, tomo meus remédios todo dia, pra continuar de bem com a vida.

Sou paciente psiquiátrica. E daí?

sexta-feira, agosto 07, 2009

Do Topismos

Quinta-feira, Agosto 06, 2009

Top 5 lições que aprendi com os filmes de John Hughes
Acabei de ler a triste notícia de que John Hughes, o escritor, produtor e roteirista mais incrível (pois sim!) dos anos 80 faleceu aos 59 anos vítima de um fulminante ataque cardíaco. Devo dizer que, mesmo tendo vivido minha adolescência nos anos 90, foi graças aos filmes de Hughes (eternizados nas melhores sessões da tarde) que eu sobrevivi aos horripilantes anos de colégio e me arrisco a dizer que não fui o único. Revolucionando os chamados filmes "coming of age", John Hughes nos presenteou com uma galeria de personagens inesquecíveis que nos fizeram acreditar que jovens são mais do que estereótipos, mais do que vítimas de pais ausentes ou de sistemas educacionais falidos. Os personagens de John Hughes representavam uma nova e realista alegoria do bem e do mal que batalhava nos corredores escolares, na esperança de terem ocasionalmente seu final feliz. Seguem agora 5 lições que aprendi com o mestre dos teen-movies:

5) Você pode ter uma família disfuncional, mas eles te amam: Não interessa que sua família seja um pouco pirada, egocêntrica, ou disfuncional (palavra que provavelmente nem existe em português, mas graças a John Hughes faz parte do meu vocabulário). No final, seja você Samantha Baker em "Gatinhas e Gatões" ou Doyle Standish em "De volta para casa", seus pais muito provavelmente te amam e te consideram a coisa mais importante de suas vidas. Tudo bem, eles até podem esquecer seu aniversário ou te internar numa escola particular elitista, mas no final serão sempre eles aqueles que vão te aconselhar e te abraçar na hora em que você mais precisa.

4) Você não é definido pelo grupo ao qual pertence: Você pode ser um cérebro, um atleta, uma pirada, uma princesa ou um criminoso (citando Brian Johnson). Não é a panela a qual você pertence que definirá seu caráter, ou será que você nunca percebeu que nem todo mundo que anda com os nerds é patético e nem toda patricinha é metida? Seja num "Clube dos Cinco" ou em qualquer outro cenário colegial idealizado por Hughes, a verdade é que jamais devemos estar presos ao momentâneo estamento piramidal que a vida nos apresentar. Podemos transcender entre os andares da socialização e cumprimentarmos uns aos outros nos corredores de vez em quando. Nem os diretores, nem nossos pais e nem nossos amigos são responsáveis por nossas escolhas. Diga não a qualquer um que te categorize!

3) Você tem tudo quando tem melhores amigos: Esqueça os Steffs e foque nos Duckies! Andie Walsh de "A Garota Rosa Shocking" sabe bem que quando você tem melhores amigos, não importa que você não tenha o vestido ideal para o baile ou não namore o cara mais incrível do colégio, você sempre pode contar com o cara legal que more no seu bairro, entenda seus dramas e secretamente tenha uma quedinha por você. Ainda que o sentimento não seja exatamente recíproco, muitas vezes é com o amigo que você poderá contar quando todos os fugazes amores adolescentes se forem. Mesmo os inventados, vide o exemplo de Gary Wallace e Wyatt Donnelly em "Mulher Nota Mil".

2) Você não precisa ser o que querem que você seja: Então seu pai quer que você seja médico, que vá para a faculdade, que se case, tenha filhos e seja tão infeliz quanto ele, vivendo numa casa que mais parece um museu, onde nada pode ser tocado ou dirigido (no caso de uma eventual Ferrari estar ali parada na garagem). Se for esse seu caso, confie nos seus amigos (vide lição numero 3) e deixe-se perder bolando aula enquanto tenta se permitir descobrir o que de fato você quer da sua vida. Arrisque-se num "Curtindo a Vida Adoidado" e aprenda que existe vida fora da sala de aula ou das regras auto-impostas pelo mundo.

1) Você acha que o amor dos seus sonhos é impossível, mas não é: E por falar em não ser o que seus pais querem que você seja, faça como Keith Nelson e aposte seu futuro no improvável rumo do amor de seus sonhos, personificado na perfeita Amanda Jones. Em "Alguém Muito Especial", John Hughes desfez o erro (?) de "A Garota Rosa Shocking" para nos mostrar que - às vezes - o melhor amigo (ou nesse caso, Watts, a melhor amiga) tem sim um final feliz já que o amor ideal nem sempre é aquele que a gente tinha pensado que era. O final mais incrível dos filmes de Hughes é com certeza o que Keith descobre que o caríssimo brinco de diamantes que custou o preço de sua matrícula na faculdade pertence a ninguém menos que sua melhor amiga, motorista da noite, Watts.

Torço todos os dias que surja um novo diretor, roteirista e produtor que saiba entender uma geração tão bem quando John Hughes.

Vingança tardia

Pois então, deu saudade de William Bonner e eu estava assistindo o JN ontem quando essa matéria provou que o que eu digo há anos tem sentido.

Faltam pediatras, ginecologistas e clínicos no Brasil

Um levantamento do Ministério da Educação ajuda a explicar por que alguns especialistas médicos andam em falta no Brasil

Filho de pediatra. Marcelo Cascapera decidiu seguir a carreira do pai. Na faculdade foi um dos poucos a querer cuidar das crianças.

“Na época do meu pai, um terço da turma de cem alunos queria fazer residência de pediatria. Hoje, na minha turma, foram 11 de cem. Então é uma concorrência bem menor”, explica o médico residente.

Pediatria, ginecologia, medicina da família, clínica geral. Essas especialidades estão em baixa. Já não atraem tantos futuros médicos. A consequência é a falta de profissionais que afeta serviços de saúde e hospitais.

Em um hospital beneficente em Botucatu no interior de São Paulo, há vagas mas faltam especialistas. Há mais de um ano o quadro de médicos está incompleto.

“Os médicos preferem montar os seus consultórios e fazer o atendimento particular onde a remuneração vai ser melhor e o risco do médico também vai ser menor”, explica o diretor clínico do hospital, Marcos Guazzelli.

Enquanto especialidades básicas estão em baixa, outras que pagam bem e valorizam os profissionais estão em alta. As áreas ligadas à estética como dermatologia e endocrinologia tiveram todas as vagas de residência ocupadas. Já para pediatria e ginecologia e obstetrícia sobram vagas.

Fabiana Freitas escolheu a radiologia que evoluiu muito e atrai cada vez mais.

“Recebe muito investimento em tecnologia. Além disso, interage com as outras especialidades médicas”, afirma a médica residente.

Para o presidente da Associação Médica Brasileira não basta oferecer cursos é preciso pensar no futuro do médico e na necessidade da população.

“Eu penso que nos falta completamente políticas efetivas de gestão de recursos humanos na área de saúde. É importante criar condições de trabalho, valorizar os profissionais sobretudo nas áreas chamadas estratégicas onde mais falta”, argumenta José Luiz Gomes do Amaral, presidente da Associação Médica Brasileira.