sábado, junho 12, 2010

Noite de Fogueira



Já passou das seis da noite, hora das simpatias. Quando eu era criança, buscavam a aliança de uma mulher casada pras moças saberem em quantos anos casariam. Seguravam a aliança num fio de cabelo sobre um copo com água e rezavam a Salve-Rainha, contando quantas vezes a aliança batia na borda do copo. O número de batidas era o número de anos que faltava pra pessoa casar. A aliança nunca bateu no copo quando eu fazia a simpatia. Ainda bem. Eu torcia que não batesse mesmo.

Noite de fogueira é noite de gente com asma nas emergências, gente bêbada e/ou queimada por fogos de artifício. Esse ano, a chance de queimadura aumenta por causa da Copa do mundo de futebol. Ainda bem que não trabalho mais em hospitais, mas sei que vai chegar alguém com queimadura pelo posto por esses dias.

Em noites assim, eu recomendo não lavar roupa. Fica tudo com cheiro de fumaça e você acaba tendo que lavar tudo novamente. A casa cheira a fumaça, quer você feche a janela ou não. Na minha rua não há fogueiras. Ainda assim, posso ouvir os fogos nesse momento.

Lembro-me de minha infância, quando seis horas era a hora de acender a fogueira, montada geralmente com lenha que eu havia providenciado semanas antes, podando as árvores do quintal. Nossa fogueira não era a maior da rua, mas era a que eu mais gostava. Quando finalmente havia brasas, eram transferidas com uma pá pra churrasqueira de casa, onde assávamos milho de um modo bem mais confortável.

Não soltávamos fogos, além de traques. Meu pai trabalhava, ainda trabalha, em emergências. Minha mãe foi auxiliar de enfermagem por dez anos. Não precisa dizer mais nada. Não sinto falta dos fogos de artifício que não soltei na minha infância. Se algum dia senti, essa ausência sumiu quando vi meu primeiro queimado. Há certas coisas na vida que é melhor passar sem. Pra dizer a verdade, não vejo graça nem em fogos no Ano-Novo, mas isso é opinião minha.

Noite de fogueira combina com canjica (e eu não comprei nem uma daquelas de caixa), de pamonha (que tem o ano inteiro aqui) e milho verde cozido. Lembro-me do ano em que meu irmão foi encarregado de trazer uma dúzia de espigas do supermercado e recebeu as instruções pra identificar uma boa espiga: não faltar grãos na fileira, não ter bichos, a ponta não podia estar podre, não ter muito cabelo. Estava anoitecendo, todo mundo maluco porque ele não voltava e o mercado não era longe, quando finalmente meu irmão chega. Com as mais perfeitas espigas de milho que devo ter visto em minha vida. Como eu, ele sempre foi de seguir instruções à risca. Talvez por isso, a gente não se dê tão bem na vida.

Em noites assim, as pessoas vão pra festas, pra casa de outras pessoas. Eu fico em casa. Esse ano, minha companhia é um cesto de roupa pra passar. Adoraria estar mexendo uma panela de canjica (da verdadeira), porque adoro tanto canjica que não me importo de mexer por horas a fio. Não sei por que não comprei canjica. Deve ser porque não estou fazendo questão de nada: canjica, festa, fogueira ou da TV que ainda não voltou do conserto.

De qualquer modo, feliz Dia dos Namorados, véspera de Santo Antônio.

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