Fazer feira foi a pena de Eva e Adão pelo pecado original. Pensa comigo: eles tinham tudo, do bom e do melhor no Paraíso, e fizeram besteira. Desde então, as pessoas precisam procurar, escolher, e finalmente pagar pelo que consomem. Eu não me importo de pagar, mas detesto fazer feira, ainda mais em tempo de mudança.
Aliás, eu estou exausta e queria eu que o motivo fosse a mudança. O trabalho está absurdo. Hoje, foi tão pesado que eu fiz algo inédito em dez anos de profissão: avisei que não trabalho amanhã. Fiz questão de esclarecer que não tenho nenhum compromisso, que não tem nada a ver com a mudança. É que as pessoas abusam. Os outros médicos vivem faltando, vão em três dos quatro dias combinados, só atendem um número 'x' de fichas, e eu trabalho os quatro dias, chego na hora, saio depois do horário... Chega!
Sim, eu vou cumprir os prazos. Percebi que não estou desmontando um cômodo por vez e isso está atrasando o serviço. A desculpa é que preciso de determinados itens de cada cômodo. Ora! Quando me mudei pra essa cidade, eu sobrevivi dias e dias com um único cômodo com o essencial. Posso fazer isso novamente.
Então, eu não empacotei nada hoje, nem conferi o que mandei pro conserto, e nem lembro quando escrevi algo que não fosse um email ou um post. Amanhã seria um bom dia pra tirar o atraso, mas eu vou é dormir. Se me der coragem, eu vou consertar as panelas e fazer o declutter, nome chique pra 'bota-fora'. Excluir de minha vida tudo que é desnecessário. Você sabe, já dizia um de meus Davids: "eu fui à Floresta porque queria viver livre. Eu queria viver profundamente, e sugar a própria essência da vida... expurgar tudo o que não fosse vida; e não, ao morrer, descobrir que não havia vivido".
(Walden, or life in the woods, 1854, por H. David Thoreau)
Vou aproveitar a mudança e expurgar TUDO de mim que não seja vida. Se a profissão estiver na lista, adeus. Sem saudade.
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